segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Entre lógicas: do mundo e do Reino de Deus! (Lc 16.1-15)

 21 de setembro de 2025

Décimo quinto domingo após Pentecostes

Salmo 113; Amós 8.4-7; 1Timóteo 2.1-15; Lucas 16.1-15

Texto: Lucas 16.1 - 15

Tema: Entre lógicas: do mundo e do Reino de Deus!

 

Alex era um analista financeiro de grande sucesso. Ele geria as fortunas de seus clientes com uma eficiência impressionante. No entanto, sua vida pessoal era uma bagunça, e ele vivia em constante tensão. Sua ambição desmedida o levou a tomar algumas decisões questionáveis, e a auditoria de sua empresa descobriu que ele havia usado fundos de um cliente para cobrir uma perda pessoal.

A notícia de sua “demissão” iminente foi um choque. Ele sabia que perderia tudo: sua reputação, seu emprego e sua vida de luxo. Em desespero, Alex se lembrou das palavras de seu pai, um homem de fé simples: “A verdadeira riqueza não se mede em dinheiro, meu filho, mas nas amizades que fazemos com a generosidade”.

Com a sua saída da empresa já decidida, Alex agiu com a esperteza que o fez rico. Ele sabia que alguns de seus clientes mais antigos estavam em apuros. Um deles, um pequeno empreendedor, devia uma quantia considerável. Em vez de cobrar a dívida, Alex o procurou e disse: “Sei que sua empresa está em crise. Não se preocupe com a dívida. Esqueça-a”. O empreendedor, em choque, agradeceu a Alex, que já esperava um favor em troca. No entanto, Alex apenas sorriu e disse: “Não precisa me retribuir. Apenas use o que eu te dei para ajudar outra pessoa”.

Ele fez o mesmo com outro cliente, um fazendeiro, perdoando parte de sua dívida em trigo. Em um último ato de sua antiga vida, Alex usou o que lhe restava de poder para agir com uma generosidade inesperada. Seus colegas e a concorrência não entenderam sua atitude. Por que ele perdoou os débitos em vez de tentar recuperar o que podia?

A resposta se revelou meses depois. Alex perdeu tudo o que tinha, mas, para sua surpresa, o fazendeiro e o empreendedor, que haviam sido poupados, o procuraram. Eles não queriam pagá-lo; queriam ajudá-lo. O empreendedor lhe ofereceu uma sociedade em sua nova empresa, e o fazendeiro lhe deu parte de sua colheita para ajudá-lo a recomeçar.

Alex, que antes pensava apenas em lucros, agora entendia a verdadeira lição da parábola. Ele havia usado o que lhe restava de poder e usou a “riqueza injusta” não para se autopreservar com mais dinheiro, mas para fazer amigos para a vida. Ele havia agido com a sabedoria que o mundo usa para bens passageiros e aplicou em algo eterno: a compaixão e o serviço ao próximo.

A história de Alex nos lembra que a verdadeira esperteza não está em acumular, mas em liberar. É usar os recursos passageiros deste mundo para construir relacionamentos.

A parábola do Administrador Infiel (Lucas 16.1-15) é um dos textos mais complexos do Novo Testamento, e por isso, não se pode ficar preso a uma interpretação simplista ou moralista. Essa parábola não é um elogio à desonestidade, mas um contraste radical entre a lógica do mundo e a lógica do Reino de Deus.

O administrador, ao ser confrontado com a iminente perda de seu cargo, age com astúcia para garantir seu futuro material. Passa a usar o que lhe resta de poder para fazer “amigos” em troca de favores. Essa situação, na verdade, representa a humanidade diante da Lei de Deus. Ao ser confrontado com a sua própria falência, destacado pela incapacidade de cumprir a vontade divina, o pecador precisa encontrar uma solução.

O administrador age com esperteza (phronesis). Contudo, essa astúcia é voltada para o “reino deste mundo”. O administrador usa a riqueza injusta para fazer amigos e assegurar seu futuro. Por essa razão, Jesus convida a refletir: se as pessoas deste mundo são tão sagazes para garantir seu futuro material, quanto mais os cristãos deveriam ser, mas em relação às coisas espirituais!

A “esperteza” cristã não é uma astúcia moral. É a sabedoria de se desapegar das riquezas. A parábola não condena o dinheiro em si, mas o chama de “Mamom da injustiça”, ou seja, uma força perigosa que tem o poder de desviar o coração humano de Deus. Usar o dinheiro para fazer “amigos” significa reconhecer que toda riqueza pertence a Deus e que a única forma de redimi-la é usá-la para o serviço ao próximo.

Um ponto nevrálgico nessa parábola é que enfatiza que a salvação não se dá pelas boas obras. Afinal, a astúcia do administrador, no final das contas, o justifica apenas diante dos homens. A verdadeira salvação não vem da gestão habilidosa de bens, mas da total dependência da misericórdia de Deus. O administrador, ao ser despojado de tudo, é um tipo daquele que, ao ser despojado da própria justiça, se apega à graça de Deus.

A conclusão da parábola traz um estridente clímax: “não se pode servir a Deus e ao dinheiro”. O dinheiro não é apenas um objeto, mas um senhor rival de Deus. A pessoa que confia na riqueza para sua segurança material ou espiritual (através de boas obras) serve ao dinheiro. A liberdade cristã, portanto, está em reconhecer Deus como o único Senhor e usar tudo, inclusive a riqueza, como simples instrumento para o serviço, sem jamais lhes dar o status de salvador.

Lucas 16.1-15 é tal como um espelho que revela o nosso estado de pecado e a nossa inclinação para a autopreservação. Enquanto o administrador busca a salvação terrena pela esperteza, o cristão verdadeiro entende que não há salvação em si mesmo, nem em suas posses.

A parábola é um convite para que larguemos a confiança nas riquezas e nas próprias obras, e nos apegamos à salvação gratuita que vem pela fé em Cristo. A moral da história não é “seja esperto como o administrador”, mas, reconheça sua falência e assim, confie na graça de Deus, usando o que o mundo te oferece para servir ao próximo e demonstrar que você não é mais escravo do dinheiro. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

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