terça-feira, 27 de junho de 2017

Entre a cruz e a espada!

02 de julho de 2017
4º Domingo após Pentecostes
Sl 119.153-160; Jr 28.5-9; Rm 7.1-13; Mt 10.34-42
Tema: Entre a cruz e a espada!

        Os versículos16 ao 42 do evangelista Mateus é uma seção com muitos temas. Todos os temas conduzem a preparação dos discípulos para o futuro ministério. Afinal, o ministério da misericórdia, graça e fé só seria efetivado após a crucificação e ressurreição de Jesus.
Entre a cruz e a espada!
1 – a paz da cruz
        Entre esses muitos temas encontramos discípulos surpresos com as palavras de Jesus que ressaltou que “não veio trazer paz, ... mas a espada” (Mt 10.34). Foi surpreendente porque, afinal, as profecias anunciavam um príncipe da paz (Is 9.6). A paz fazia parte dos ensinamentos de Jesus (Mt 5.9, 10.13; Mc 9.50). E de repente escutam Jesus proibindo até mesmo de pensar sobre essa hipótese, “Não penseis ...” (Mt 10.34).
        Como não pensar, se ansiosamente esperávamos por um Messias que trouxesse a paz? As Escrituras fazem referência ao príncipe da paz (Is 9.6). Os pastores nas campinas em Belém ouviram a boa nova dos anjos que disseram “glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem” (Lc 2.14).
        Como é possível, o príncipe da paz proclamar que haverá espada e não paz? Jesus na verdade não está desqualificando sua missão. Ele está advertindo sobre a oposição e perseguição que os apóstolos e discípulos sofreriam por causa do nome dele, “Pois vim causar divisão entre homem e seu pai; ...” (Mt 10.35).
Os ensinos resumidos no capítulo 10 de Mateus foram lições dadas em vários dias. Os versículos 9 a 15 se encontram em partes no evangelho de Marcos e Lucas. Ecos dos versículos 17 a 25 se encontram na parte escatológica de Marcos 13 e Lucas 21. Os ensinos dos versículos 26 a 30 se encontram dispersos em Lucas. Os versículos 40 a 42 são particulares de Mateus.
O capítulo 10 de Mateus se caracteriza a comissão e a missão dos apóstolos. Jesus fala da natureza da sua missão e a resposta que os discípulos iriam receber. Alguns receberiam a mensagem e o príncipe da paz, outros infelizmente rejeitariam. Entre esses dois grupos não há possibilidade de paz. A maior parte do capítulo 10 de Mateus aponta para o lado negativo da atividade missionária. A violência e a oposição ao evangelho.
        A oposição ao evangelho pode ser apresentada de maneira simples de acordo com as palavras do apóstolo Paulo na suas duas cartas aos coríntios. Na segunda carta Paulo disse: “...que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2Co 5.19). A mensagem da cruz, a obra de Cristo é o meio pelo qual o pecador é reconciliado com Deus. No entanto, em sua primeira carta aos Coríntios Paulo disse que “...pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os judeus” (1Co 1.23).
        A oposição ao evangelho está no fato do ser humano pecador não aceitar o jeito de Deus em agir e salvar. Na obra de Jesus, na cruz de Jesus, está a paz de Deus. Essa paz é oferecida gratuitamente. No entanto, é oferecida pela cruz, pela obra de Cristo. E essa obra tem causado desespero aos ignorantes que continuam presos no rigor da lei.
        Assim como não há Jesus sem cruz, não há um discípulo sem cruz!
Entre a cruz e a espada!
2 – o discípulo
        Jesus adverte quanto ao preço do discipulado. A espada não se refere apenas a violência em si. Por espada pode se entender as divisões que a mensagem de Cristo causa. Enquanto há os que afirmam, ensinam e confessam que “o justo vive pela fé” (Rm 1.17), há aqueles que acrescentam outros elementos adicionais a fé.
        Jesus disse que sua mensagem, mensagem de paz para com Deus, seria uma mensagem que iria dividir. A divisão é visível. E será real e realizada quando Jesus voltar para julgar os vivos e os mortos.
        A igreja deixa de pregar corretamente para tentar agradar e buscar uma paz entre desiguais que não existe.
        O evangelista (Mt 10. 26-33) ressalta que Jesus fala sobre quem os discípulos devem temer. “...; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28). Um discípulo de Cristo, não deve se preocupar sobre os desagrados que a mensagem da cruz irá lhe causar, pois é uma ovelha enviada para estar no meio dos lobos (Mt 10.16) para que a mensagem da paz transforme os lobos em ovelhas.
        Qual é o preço a se pagar no discipulado? Qual é a tarefa mais árdua para um discípulo? O preço é ser perseguido, injustiçado. A tarefa é proclamar a doutrina pura do evangelho de Jesus Cristo. Expor, refutar e rejeitar ensinamentos que são contrários ao evangelho de Jesus Cristo.
        Tentemos imaginar como seria se Atanásio tivesse se calado diante dos ataques de Ario. Atanásio não se calou, ele expôs, refutou e rejeitou o ensino contrário que Ario estava disseminando. Atanásio defendeu a fé verdadeira. Se caso tivesse se calado com medo da divisão, o arianismo teria influenciado muito mais do que já influencia e, muitos outros estragos teriam atingido a igreja cristã.
        Luteranos, tentem imaginar se Lutero tivesse seguido o conselho do seu superior João Staupitz e ficasse em silêncio e silenciosamente pregasse sobre a obra salvadora de Jesus Cristo somente aos monges. Talvez ainda hoje a Reforma não teria ocorrido. Se Lutero tivesse se calado, não teria acontecido tantas coisas maravilhosas ao cristianismo como ocorreram nesses quase 500 anos após a Reforma. Se a Reforma Protestante tivesse sido calada, a Bíblia não estaria ao alcance do povo simples. A liturgia ainda seria em latim. O povo continuaria preso nas suas superstições e principalmente estaria comprando a salvação com as cartas de indulgências.
        Se esses e tantos outros homens tivessem se calado, nós estaríamos sem o conhecimento do verdadeiro evangelho.
        Atanásio, Lutero e tantos outros pais da igreja não queriam ter inimigos, não queriam ser odiados, muito menos perseguidos, mas tudo isso é bem melhor do se calar sobre a verdade. É melhor o ódio, a perseguição e inimigos do que deixar de confessar a verdade e destruir o erro. Esses homens e tantos outros conheciam, entediam e aplicavam em suas vidas as palavras de Jesus: “Vós sois a luz do mundo, vós sois o sal da terra”.
        Ser sal é fazer arder a ferida do erro. Ser luz e elucidar coisas obscuras aos olhos dos simples. Fazer arder a ferida do erro e dar luz ao entendimento é fazer cumprir as palavras de Jesus: “não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10.34).
Entre a cruz e a espada!
3 – a promessa
        Jesus transmite a mensagem escrita pelo evangelista Mateus para que os seus discípulos diante de tudo isso nem começassem a se assustar ou ficar com medo. Jesus garante que “...até os fios dos seus cabelos estão todos contados...” (Mt 10.30). Antes de subir aos céus, Jesus garante aos seus discípulos: “...estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28.20).
        O discípulo de Cristo, é enviado para pregar a verdade. Jesus proclama aos seus discípulos, antes de irem proclamar o evangelho da chegada do Salvador na Palestina. Essa mensagem além de conforto, consolo e paz de espírito, era uma mensagem que traria divisão, ódio, perseguição. Jesus em seu sermão dirigido aos seus discípulos lhes anuncia para que o medo não interfira na pregação do evangelho.
        Ser pregador do evangelho envolve uma grande responsabilidade! Não é apenas um trabalho de coragem, haja visto envolver tanto perigo. A responsabilidade envolve pregar a verdade do evangelho. Mesmo que isso custe a própria vida nesse mundo. Pois, a vida eterna com Cristo é garantida pela obra de Jesus.
        O enviado da parte de Jesus para proclamar o evangelho sabe da oposição, do ódio, da perseguição, mas também sabe que terá muitos irmãos, irmãs, pais e mães. Jesus ama tanto seus pregadores que “quem os receber, recebe a Jesus ... Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá recompensa de profeta ...E quem der de beber a um destes meus pequeninos um copo de água fresca por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não há de perder sua recompensa” (Mt 10. 40-42).
Entre a cruz e a espada!
4 – a responsabilidade
        Como está a relação entre você e aquele que Deus lhe enviou através de um chamado? Lembre-se: a relação congregado e pastor é uma evidência visível de uma relação salvífica. Ambos são amados por Deus. Deus enviou um pregador por saber da necessidade espiritual da igreja, dos congregados. Ele também dá a oportunidade para que o congregado ofereça o melhor para seu pastor, e ainda lhe garante a uma recompensa. Ambos, congregados e pastor tem responsabilidades.
        A responsabilidade do pastor é pregar a verdade, mesmo que isso cause divisão entre os membros da família. Os congregados tem a responsabilidade de manter aquele que prega a verdade sem se importar com as dolorosas consequências.
        Jesus está pregando para seus discípulos. O texto base para seu sermão é do profeta Miquéias 7.6. As palavras do profeta foram esplendidamente resumidas na frase: “não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10.34).
        O homem busca a paz! Seu desejo por paz é tanto que para isso une falsos e verdadeiros ensinos, bons e maus costumes. Lembre-se, os homens que querem paz são conforme o profeta Miquéias. Ou seja, muitos desses buscam apenas a paz humana. No entanto, a verdadeira paz não aceita traição, suborno e nem ambiciona poder. Mas, quando há ambição, intriga por poder e a paz de Jesus atrapalha, bem, o resultado é conhecido por muitos. Paz, só há uma, e essa por sua vez é desprezada e tida como causadora da discórdia entre os homens: “Deixo-vos a paz, eu vos dou a minha paz. Não como o mundo dá, eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se intimide” (Jo 14.27). Não se intimide, pois ao dizer que “não veio para trazer paz à terra, mas espada” (Mt 10.34), Jesus refere-se a essas coisas para que tenhais paz nele, pois “no mundo tereis aflições. Mas coragem! Pois eu venci o mundo” (Jo 16.33).
        A correta pregação do evangelho divide a própria igreja, divide famílias, separa amigos, traz ódio, perseguição, calúnia, mas, continuemos firmes na fé e confessemos junto com o apóstolo Paulo: “Cristo é a nossa paz...” (Ef 2.14). Amém!

Edson Ronaldo Tressmann

domingo, 18 de junho de 2017

Ministério da Misericórdia

25 de junho de 2017
3º Domingo após Pentecostes
Sl 91.1-10; Jr 20.7-13; Rm 6.12-23; Mt 10.5,21-33
Tema: Ministério da Misericórdia

Os versículos 16 ao 42 do evangelista Mateus é uma seção com muitos temas. Mas, todos os temas conduzem a preparação dos discípulos para o futuro ministério: o ministério da misericórdia. Esse por sua vez só seria efetivado após a crucificação e ressurreição de Jesus.
Jesus adverte sobre a oposição e perseguição que os apóstolos e discípulos sofreriam por causa do nome de Jesus.
Há quem diga que os ensinamentos resumidos no capítulo 10 por Mateus foram muitas lições dadas em vários dias. Os versículos 9 a 15 são encontrados em partes do evangelho de Marcos e Lucas. Ecos dos versículos 17 a 25 se encontram na parte escatológica de Marcos 13 e Lucas 21. Os ensinos dos versículos 26 a 30 são encontrados dispersos no evangelho de Lucas. Os versículos 40 a 42 são particulares do evangelho de Mateus.
Mateus capítulo 10 caracteriza a comissão e a missão dos apóstolos. Jesus fala da natureza da missão e a resposta dos que iriam receber a missão da misericórdia, graça e fé. Alguns receberiam e outros rejeitariam. A maior parte desse capítulo 10 aponta o lado negativo da missão, ou seja, a violência e a oposição ao evangelho.
Jesus não engana ninguém diante do chamado, da capacitação e do envio. De maneira muitos honesta, Jesus fala sobre as consequências para aqueles que estão no reino, principalmente os apóstolos, ou seja, os que aprenderam e receberam autoridade de Jesus para ensinar, curar e expelir demônios.
Os versículos 16 a 25 apontam as três fontes da perseguição
Não espantem, mas a primeira é da própria igreja; segundo, do governo desse mundo e terceiro, da família.
Como reagir?quem ficar firme até o fim será salvo”.
Permaneça assim como é enviado, ou seja, como ovelha. A ovelha é um animal dócil, frágil e sem defesas próprias e precisa do grupo e do pastor.
Não se preocupe com os lobos que atacam sem dó nem piedade os discípulos e apóstolos de Cristo. O não preocupar-se está no fato de que Jesus é o bom pastor. E sendo ovelha do bom pastor, mesmo que eu ande por um vale escuro como a sombra da morte, não temerei, pois ele está comigo. Essa foi a promessa do Senhor ressuscitado: “estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.
Sempre houve, há e haverá àqueles que emplacam maldades para destruir os mensageiros de Cristo. Mas, graças a Deus, não são todos assim.
Não comentarei hoje sobre a perseguição eclesiástica e política ao evangelho e pregadores do evangelho. Quero destacar as palavras do versículo 21 que fala sobre a perseguição que há na própria família.
A conversão dos primeiros gentios ao cristianismo nos auxilia na compreensão dessas palavras de Jesus. Muitos dos ex gentios tiveram que abandonar toda a tradição religiosa familiar e assim passaram a ser odiados e detestados pela própria família.
Na transição entre a idade média e a moderna, Lutero foi excomungado numa época em que poderia ter sido morto como um cachorro de rua, isso por ter virado as costas a tudo aquilo que estava contra a Palavra de Deus.
É natural, mesmo em pleno século 21, pessoas que ao abandonar sua tradição religiosa, passam a ser odiados e detestados pelo restante da família.
Jesus anunciou pelo apóstolo João em Apocalipse: “quem ficar firme até o fim será salvo” (Ap 2.10).
O conselho de Jesus sobre ser astuto como as serpentes e manso como os pombos é para que os apóstolos diante da perseguição saibam que é preciso refugiar-se. Jesus praticou esse critério (Mt 4.12; Lc 4.29-30). Observe que não há mérito nenhum na busca do martírio e da perseguição. As pessoas não querem ser perseguidas, isso acontece tão somente por causa do evangelho.
Os versículos 26 a 33 é dirigido aos apóstolos que estavam temorosos diante da inevitável perseguição por causa da fé em Jesus. Diante do temor, Jesus diz que os homens tem medo dos homens pelo simples fato dos mesmos serem capazes de tirar a vida. Assim, Jesus convida: “não tenham medo de ninguém...”, afinal, os perseguidores só podem atingir o corpo.
A expressão “não os temais...” é a tradução do verbo grego que está no tempo pretérito indefinido. Assim, ao dizer “não os temais...”, Jesus estava dizendo: nem comecem a sentir medo. Fiquem tranquilos! 

No verso 28, o verbo “Não temam” está no tempo presente. É o mesmo que dizer, vocês estão proibidos de continuar a ter medo. Não há nada a temer.
Os perseguidores estão limitados em seu poder, o máximo que podem é tirar a vida. Deus, ao contrário, tem em suas mãos o destino do corpo e da alma (At 5.29).
Não tenham medo, pois, os perseguidores só procuram destruir, mas, alguém superior a eles cuida e protege (Mt 10. 29-31). Deus tem um cuidado todo especial com seus mensageiros.
Jesus não quer que o medo humano cale os apóstolos no testemunho sobre esse Deus amoroso e misericordioso. Amém!

Edson Ronaldo Tressmann

terça-feira, 13 de junho de 2017

A chegada da Misericórdia!

18 de junho de 2016
2º Domingo após Pentecostes
Sl 100; Ex 19.2-8; Rm 5.6-15; Mt 9.35.10.8
Tema: A chegada da misericórdia!

As turnês de artistas de são muito concorrida. Quando o público fica sabendo da turnê de algum cantor ou banda de sucesso, em poucos minutos os ingressos se esgotam. Para mim é uma pena que as turnês desses artistas são realizadas apenas em cidades populosas.
Os relatos bíblicos mostram que Jesus esteve numa turnê em toda a região da Galiléia (nas cidades, aldeias e vilas). A região da Galiléia era composta por mais de 200 cidades e vilas. A turnê de Jesus era um verdadeiro espetáculo: composto por ensino (proclamação), pregação e cura. Se esse espetáculo pudesse receber um nome, o nome seria: a chegada da misericórdia.
Numa dessas cidadezinhas, a reação de Jesus foi surpreendente, ou seja, além do normal. Jesus contemplou a condição de uma multidão. A contemplação não foi por causa da pobreza material ou por serem maltrapilhos. Nada disso. Jesus contemplou a condição espiritual. A multidão era composta por “ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36).
Nos capítulos 8 e 9 do evangelho de Mateus, observamos Jesus contemplando as necessidades físicas, ou seja, as enfermidades das pessoas. A partir do capítulo 10, a preocupação de Jesus se concentra nas necessidades espirituais. Por isso, as palavras dos versículos 35-38 do capítulo 9, narram a necessidade da expansão da igreja.
Qual é o motivo para a expansão da igreja? As multidões estão aflitas e exaustas. Os termos gregos nos revelam que as multidões estavam assediadas e desamparadas. Conforme registra o evangelista Mateus, as multidões era “ovelhas sem um guia pelo caminho e sem proteção”. Essa continua sendo a motivação para a expansão da igreja. E para que essa expansão da igreja ocorra é necessário ter a mesma reação de Jesus. Qual? Jesus sentiu “compaixão”.
Compaixão é um termo que aparece 5 vezes em Mateus e 12 vezes em todo o Novo Testamento. Compaixão significa “a torção dos intestinos”. É o mesmo sentimento do pai do filho pródigo ao vê-lo voltar ainda longe.
O intento de Jesus é que seus discípulos sintam o mesmo pelas multidões. Por isso, primeiro, chamou a atenção para a necessidade de trabalhadores para a colheita; segundo, pediu que orassem por mais obreiros; terceiro, comissionou e preparou os discípulos para sair e ministrar a multidões necessitadas.
Para que os discípulos ministrem adequadamente é necessário que vejam a necessidade espiritual da multidão. É preciso amar os ouvintes. Precisam sentir uma compaixão genuína e profunda pela multidão. E preciso perceber que sozinho não dá conta de toda a missão, por isso, ora todos os dias para que haja mais e mais obreiros.
Jesus recomenda: Rogai (v. 38). O verbo grego é deomai e significa ter falta ou necessidade. Ou seja, Jesus ao dizer rogai está dizendo, sintam falta de trabalhadores e roguem pelos mesmos. Eu sinto tanto a falta de mais um colega, afinal, temos tantos desafios, falta tantos pastores à IELB. Roguemos.
Lembre-se: Nossa tarefa é orar a de Deus é enviar.
A falta de obreiros não se deve a indisposição de Deus em chamar e enviar.
Interessante é que Jesus fala sobre a falta de obreiros num período em que havia muitos líderes religiosos em Israel (verifique Ezequiel 34.2). Mas, os mesmos não estavam agindo como enviados de Deus. Não anunciavam o que de fato Deus anunciava.
Vamos continuar no relato bíblico.
Mateus 10.1-4.
Durante muitos meses, Jesus escolheu seus discípulos.
Os primeiros foram os discípulos de João Batista (Jo 1.35-51).
Jesus dedicou-se uma noite em oração e escolheu de entre seus seguidores os 12 que estariam intimamente associados com ele (Lc 6.12-16).
Jesus passou a lhes ensinar com exemplos e preceitos. Eles aprenderam do próprio Jesus a respeito da missão de Deus. E assim, após um longo período de preparação, inclusive a do reconhecimento das necessidades espirituais das pessoas e sentir compaixão por elas, os enviou sob sua supervisão.
O capítulo 10 é o desfecho do método de Jesus.
Ele chamou, preparou, autorizou e delegou homens para representa-lo no mundo. Como representar Jesus nesse mundo? Jesus deu autoridade” (Mt 10.1). “toda autoridade me foi dada, vão” (Mt 28.19-20). A igreja, os discípulos, agem e servem sob a autoridade de Jesus. Sob essa autoridade realizamos a mesma missão daquele que nos enviou Jesus. Sob a autoridade de Jesus, a igreja e os discípulos: proclamam, pregam e curam. A proclamação e a pregação não está especificada nessa texto, mas fica evidente em Mt 28.18-20.
Após chamar e enviar seus discípulos, no verso 2, os discípulos são caracterizados de apóstolos. Essa é a única vez em que Mateus emprega esse termo. Qual é o objetivo de Mateus em apresentar essa mudança de nomenclatura (discípulo – apóstolo)? Discípulos são aprendizes sem autoridade recebida para efetuar algo. Apóstolo implica ter aprendido e ter sido enviado sob autoridade de Jesus.
O termo apóstolo deriva do verbo apostéllo, e significa alguém enviado e com a autoridade para representar outro como um embaixador.
O Novo Testamento usa o termo apóstolo em dois sentidos: particular e geral. Em sentido particular só houve 12 apóstolos, se contarmos o apóstolo Paulo (2Co 11.5; 12.11), são 13. Em sentido Geral pode-se acrescentar a lista de apóstolos, Barnabé (Atos 14.13-14); Matias (Atos 1.26); os irmãos de Jesus (1Co 9.5; Gl 1.19); Andrônico e Júnia (Rm 16.7). O próprio Jesus foi chamado de apóstolo (Hb 3.1).
No Novo Testamento a lista com 12 apóstolos aparece quatro vezes (Mt 10.2-4; Mc 3.16-18; Lc 6.14-16; At 1.13). Geralmente Pedro aparece primeiro não por ser infalível (Mt 16.23; Gl 2.11) ou estar acima dos demais (1Pe 5.1). Judas é sempre o ultimo e nem aparece na lista de Lucas em Atos.
Após delegar os discípulos para agir em nome de Jesus sob sua autoridade e os nomear como apóstolos. Jesus apresentam a série de instruções aos novos apóstolos quanto a missão de devem realizar (Mt 10. 5-15). A missão de graça, misericórdia e fé. Recebida por uns e ignorada por outros.
O que chama atenção é o fato de Jesus limitar o alcance da missão dos apóstolos (Mt 10.5). Um alcance temporário (Mt 28.18-20).
É preciso e convém ressaltar que primeiro o evangelho deveria ser pregado aos judeus e depois aos gentios (Rm 1.16). Isso pelo fato de, se porventura Jesus e os discípulos tivessem ido primeiro aos gentios, os judeus teriam argumentos para rejeitá-lo. A missão aos gentios só foi direcionada após a rejeição dos judeus. A missão deveria iniciar-se por algum lugar e começou na localidade mais próxima e no meio de um povo que lhes era comum. As “ovelhas perdidas da casa de Israel” – um povo com necessidade do evangelho. A missão era de misericórdia (At 9.36-43; 20.9-10; 16.18).
Conforme Mt 10.8, a missão era de graça. Aqui não se trata de valores em dinheiro. O texto refere-se a mordomia completa do ministério. Ninguém pagou para entrar no reino, não cobrem para que outros entrem no reino. O serviço cristão não é realizado por dinheiro, mas pela misericórdia. Afinal, a turnê de Jesus se caracterizou pelo ensino (proclamação), pregação e cura. Com Jesus, eis que chegou a misericórdia. Amém!
Edson Ronaldo Tressmann

terça-feira, 6 de junho de 2017

Batismo - Une e Separa, Promove e Questiona a unidade existente.

11 de junho de 2017
Santíssima Trindade
Sl 8; Gn 1.1-2,4ª; At 2.14ª,22-36; Mt 28.16-20
Tema: Batismo - Une e Separa, Promove e Questiona a unidade existente.

         Jesus disse:
         “Deus me deu todo o poder no céu e na terra. Portanto, vão a todos os povos do mundo e façam com sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho ordenado a vocês. E lembrem disto: eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28.18-20).
         Refletir sobre o batismo me faz questionar sobre efeitos contraditórios: Unir e Separar, Promover a Unidade e Questionar a Unidade existente.
         Lidar com a doutrina do batismo não é uma matéria fácil, principalmente num diálogo inter-religioso. Quem já dialogou sobre batismo com uma pessoa que não aceita o batismo infantil? Como terminou o diálogo?
         Dialogar sobre batismo não é fácil. Mesmo reconhecendo a dificuldade, desejo nessa mensagem trazer o assunto para que juntos reflitamos sobre o mesmo.
         Conforme registrado pelo evangelista Mateus, a igreja batiza com base na comissão do Senhor Jesus (Mt 28.19).
         Observe que ao comissionar à igreja o batismo, Jesus fala como exaltado. É o Jesus vencedor da morte, do diabo e do inferno. O batismo ocorre sob autoridade de Jesus. Eis que aí surge o problema. Muitos não reconhecem essa autoridade, por isso, o batismo também é questionado.
         O batismo é realizado sob “toda autoridade” do Jesus ressuscitado. O batismo só é batismo por causa da palavra e autoridade de Jesus. O batismo não é institucional. O batismo é o meio pelo qual as pessoas são feitas discípulos de Jesus Cristo.
         Todos aqueles que foram feitos discípulos, mostram seu discipulado simplesmente porque se dirigem para fazer outros discípulos. Como o discípulo faz discípulos de Cristo?
         O tempo dos verbos, ou seja, os particípios gregos, enfatizam a sequência: batizando - ensinando. O batismo acontece em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não é em nomes, mas em o nome. E o ensino envolve “tudo, todas as coisas”.
         Tanto batismo quanto ensino tem um tempo determinado para acontecer. Qual?Até a consumação dos séculos”. Todos os discípulos que por batizarem e ensinarem sofrerão todo tipo de perseguição. A esses, Jesus lhes faz uma promessa: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. Sendo assim, não deixem de batizar e ensinar.
         Durante o seu ministério terreno, Jesus ressaltou aos discípulos que aqueles que ouvissem os discípulos de Jesus, feitos pelo batismo e ensino, estariam ouvindo o próprio Jesus. Quem recebesse os discípulos estariam recebendo Jesus. E ao subir aos céus, Jesus completa o ensino dizendo que não importa se as pessoas irão ouvi-los ou não, se irão recebe-los ou não. O importante e necessário era saber que Jesus, o vencedor do inferno, da morte e do diabo, estaria com eles até o fim. Essa promessa motiva a igreja a continuar batizando e ensinando.
         O Espírito Santo, a água viva que corre para gerar vida (Jo 7.37-39), não é apenas o atuador no Batismo. Ele é instrumento, ator, dom, doador. É aquele que é enviado e envia. O Espírito Santo implanta pessoas em Cristo e faz delas filhos de Deus. O batismo é um momento em que Deus age. Pelo batismo Deus justifica, santifica, salva e revive.
         O dia do teu batismo, quando criança ou adulto, foi um momento especial. Foi um momento em que Deus te justificou, santificou e reviveu. O batismo foi o momento mais especial da tua vida, afinal, diante do altar do Senhor, pais e padrinhos trouxeram uma criança morta e desgraçada. Pelo batismo retornaram para casa com uma criança cheia de vida e abençoada.
         O batismo pode ser comparado a criação do mundo. Afinal, Deus por sua Palavra cria uma nova pessoa.
         Infelizmente muitas pessoas estão buscando o batismo apenas como algo ritualístico. Como se fosse uma obra necessária. Outros apenas batizam como mero costume, uma tradição de família. Há os que tem o batismo como um mero dever a ser cumprido, por isso só buscam a igreja para batizar. Lembre-se: a necessidade do batismo está no fato do batismo ser uma ação salvífica de Deus.
         Quando Jesus disse: “Vão a todos os povos do mundo...” (Mt 28.19) não estava simplesmente dando uma ordem. Ele estava e continua fazendo uma convocação para que assim como nós, outros recebam a sua graça através desse meio da graça: BATISMO.
         Trazer uma criança ou um adulto ao batismo não é apenas o cumprimento de uma obrigação religiosa. No Batismo, pais, padrinhos e toda a congregação vê a ação graciosa de Deus. Pelo batismo, o ser humano nascido morto para Deus, é alcançado pela graça de Deus.
         A graça dispensada no batismo continua sendo oferecida na pregação da Palavra. Por isso, Deus continua convidando todos para que constantemente o ouça.
         Por isso eu não posso terminar essa mensagem sem deixar de dizer uma coisa. Sendo que a graça de Deus é dispensada também pelo ouvir da pregação da Palavra de Deus, não é correto afirmar que aqueles que morreram sem o batismo, por falta de oportunidade não foram salvos. Será condenado aquele que rejeita o batismo por rejeitar a Palavra de Deus. A rejeição é que condena. Quer seja a rejeição do batismo ou da Palavra de Deus.
         Deus é gracioso para com seus filhos e filhas. Deus age tão somente pela sua Palavra. Através do sermão, a pessoa recebe a graça de Deus pela audição. No batismo, a pessoa recebe a graça pela audição e pelos poros, quer tenha sido imersa ou apenas tenho sido borrifado água sobre. Na ceia, a pessoa recebe a graça por meio da audição e da boca. No sermão, Deus mostra a sua graça através da promessa a respeito da morte e ressurreição de Jesus. No batismo, Deus mostra sua graça te resgatando das trevas e escrevendo seu nome no livro da vida. Pela santa ceia, Deus mostra a sua graça através do corpo e sangue, o cumprimento da promessa de Deus. De acordo com Gênesis 1, quando Deus fala, eis que tudo acontece.
         Quer seja na pregação, quer no batismo ou na santa ceia, o próprio Cristo é proclamado, dando-nos perdão dos pecados, vida e salvação. Na pregação, no batismo e na santa ceia, o pecador é justificado, santificado e renovado. Pregação, Batismo e Santa Ceia é uma unidade da graciosa ação de Deus. Os sacramentos (batismo e santa ceia) são Palavra visível e a Palavra pregada é o sacramento audível. Pregação, Batismo e Ceia são formas diferentes da mesma ação salvífica de Deus.
         Jesus, ao enviar sua a igreja, composta pelos discípulos para que batizasse em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, na verdade estava esclarecendo o que de fato é batismo. A invocação da santíssima trindade é que faz da água batismo. A Palavra de Deus é que torna o batismo cristão distintivo de outros ritos semelhantes. Ser batizado na santíssima trindade é ser batizado por Deus mesmo.
         No ato batismal, em nome da santíssima trindade, Deus age para com a igreja. Pelo batismo, Deus não apenas recruta membros para sua igreja, mas confia o batizado a igreja para o resto da vida. Amém!


Rev. Edson Ronaldo Tressmann

Não creia em todo espírito (1Jo 4.1)

  27 de abril de 2024 Salmo 150; Atos 8.26-40; 1João 4.1-21; João 15.1-8 Texto: 1João 4.1-21 Tema: Não creia em todo espírito (v.1) ...