segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Carta para um Cristão!

06/09/2015
15º Domingo após Pentecostes
Salmo 146; Isaías 35.4-7ª; Tiago 2.1-10;14-18; Marcos 7.31-37
Tema: Carta para um cristão!

         Uma mera aceitação passiva de certas verdades justifica e salva diante de Deus? A fé justifica e salva porque produz amor e transforma a vida das pessoas?
         Lutero descobriu pela Palavra de Deus que somente a fé salva. Lutero, a luz da Palavra de Deus, deixou claro que aqueles que são salvos, o são pela fé, e essa fé produz amor espontaneamente e frutifica em boas obras. Todo aquele que crê não precisa ser exortado à prática das boas obras, elas são automáticas. Àquele que crê não deixa de viver na fé e na prática de boas obras. Não como senso de dever, mas como algo natural e espontâneo.
         Quando há falta de amor, o problema não é a falta ou a necessidade de coerção à prática do amor. Alguns solicitam que o pastor faça apelos a prática das boas obras. O problema não pode ser encarado e resolvido assim, afinal, onde não há amor e prática de boas obras, se deve ao fato da fé ser apenas uma aceitação passiva de certas verdades. É falta de fé verdadeira!
         Alguém já viu uma árvore produzir frutos porque alguém mandou? Ela produz frutos por ser frutífera. Assim é a fé! O sol brilha e continuará brilhando. Fé é assim!
         Todo aquele que confessa com a boca que considera verdadeira as doutrinas de sua igreja, mas, permanece no estado original, possuído de amor ao pecado, se ainda peca em sua consciência, a fé não passa de simulação. A fé genuína, a verdadeira, purifica o coração.
         Toda pessoa que crê não busca glória para si mesma. Um dos frutos da fé é dar glórias a Deus e fazer com que outros deem glórias a Deus. Ainda temos entre nós, milhares de pessoas que, assim como eram os fariseus, gostam de receber glórias pelas suas ações “vindas da fé”. A fé toma conta do coração humano a ponto de tornar a pessoa humilde diante de Deus e das pessoas.
         O apóstolo Tiago em sua carta aos cristãos diz que todo aquele que considera o rico por ser rico e despreza o pobre por ser pobre, leva em conta a aparência da pessoa, e isso, a fé não tolera. Todo verdadeiro cristão considera a outra pessoa do ponto de vista do seu relacionamento com Deus. No tratamento cristão, um mendigo perdoado por Cristo é tão digno quanto um imperador.  
         Infelizmente há pessoas que confessam com a boca um cristianismo e em seu interior vivem outro “cristianismo”. Há aqueles que meramente e passivamente aceitam certas verdades e dizem estar justificadas e salvas diante de Deus.
    Nos relacionamentos diário, muitas pessoas são julgadas por um único critério: “Fizeram 100 atos, cometeram apenas um deslize, e são mal vistos por esse único deslize”. Essa é a lógica do texto bíblico, da carta aos cristãos: “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10).
         Diante de Deus, o que faz o cristão um verdadeiro cristão é o reconhecimento do seu pecado, sua miserabilidade e maldição por causa da sua natureza pecaminosa. O verdadeiro cristão reconhece que sem Cristo está eternamente perdido.
         Jesus Cristo veio para redimir todo pecador. Por mais que se esforce, o cristão não consegue cumprir a lei por completo. O pecado é algo terrível, é uma “anomia” - um ato fora da lei.
         O verdadeiro cristão não anda de cabeça erguida como um criminoso descarado. Quando sua consciência é alarmada por qualquer desvio da lei de Deus, imediatamente reconhece seu pecado e suplica por perdão. E é para esse cristão que o apóstolo Tiago escreve sua carta. Amém!


M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Armadura de Deus!

30 de agosto de 2015
14º Domingo após Pentecostes
Salmo 119.129-136; Deuteronômio 4.1-2,6-9; Efésios 6.10-20; Marcos 7.14-23
Tema: Armadura de Deus!

         Há intensos conflitos em várias regiões do Planeta, oriundos de vários motivos. Luta por territórios, Independência, questões religiosas, recursos minerais.
         A paz mundial corre risco!
         O continente Europeu busca resolver conflitos a respeito do povo Basco e sobre a península balcânica. Esses conflitos envolvem elementos nacionalistas e étnicos.
         No continente africano a origem dos conflitos é o modo pelo qual o continente foi dividido pelos europeus. Na colonização europeia, uma conferência reunida em Berlim, resolveu definir a divisão africana para beneficiar a exploração por parte dos países envolvidos na conferência. Os grupos étnicos aliados foram separados e os rivais unidos numa mesma área geográfica, e aí, reside o problema dos conflitos em todo o continente africano.
         Na Ásia o principal ponto de conflito está localizado no Oriente Médio. No confronto entre árabes e israelenses. Há questões territoriais e ideais separatistas. No território afegão, a instabilidade política promovida pelas diferenças religiosas torna os conflitos mais intensos.
       Na América do Sul a área com uma certa instabilidade é a Colômbia com o movimento guerrilheiro denominado FARC e o Exército da Libertação Nacional (ELN).
         Os conflitos de natureza humana buscam resoluções humanas através de armas e acordos de paz que na maioria das vezes não pacificam, apenas, adiam conflitos mais intensos para o futuro.
         O apóstolo Paulo na sua carta aos cristãos da Ásia Menor (Efésios), escreve para uma igreja que está vivendo em luta. No entanto, não é uma luta contra pessoas, mas, contra o diabo. O apóstolo diz que a igreja cheia de vida luta contra os dominadores do mundo sem vida.
      Para enfrentar essa luta, (o ser humano pecador e mesmo quando cristão, não consegue lutar sozinho) Deus concede aos seus as suas armas para a luta (Is 11.4-5; 59.16-18). Ele concede “a verdade, a justiça, o evangelho da paz, a fé, a salvação e o Espírito”. 
         O diabo, inimigo do cristão, de muitas maneiras visa afastar os combatentes das armas proporcionadas por Deus. Sem as armas concedidas por Deus, o pecador não sairá vitorioso do combate. Sem a armadura de Deus, o diabo conseguirá derrotar os filhos de Deus. A armadura que Deus coloca à disposição do cristão não serve apenas para que o cristão vença a luta, mas, para encorajamento para que se permaneça na luta.
         Se o armamento anima o cristão a permanecer na luta, entende-se que estar na luta não é uma opção de escolha. Cada cristão foi inserido no combate por meio do batismo.
         Muitos pais guardam a roupa com a qual seu filho foi batizado. No entanto, vale ressaltar que, a roupa, ou armadura disponibilizada por Deus por ocasião do batismo não é uma roupa apenas para mostruário, é uma armadura com a qual se luta e sai vitorioso do combate.
         A armadura de Deus, concedida ao cristão, traz as seguintes peças: “a verdade, a justiça, o evangelho da paz, a fé, a salvação e o Espírito”. O apóstolo Paulo escreve: “cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus; ...” (Ef 6.14-17).
         As armas disponibilizadas por Deus são para nossa defesa, proteção e vitória no combate “...contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12).
         O cingir-se com a verdade é a figura de linguagem adotada pelo apóstolo Paulo para dizer que todo soldado cingido, tem seu abdômen protegido. Se o soldado não está cingido, toda sua armadura está prestes a cair. Sem a verdade, toda armadura está prestes a cair.
         O vestir-se da couraça da justiça é ter todos seus órgãos vitais protegidos. Couraça é um coleta de couro que protege os órgãos vitais do soldado no combate. Por isso, o apóstolo Paulo escreve: “visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17).
         Calçar os pés com a preparação do evangelho da paz é estar estável e protegido. Sem a revelação do evangelho nenhum soldado seguirá sua caminhada.
         Embraçar o escudo da fé é estar totalmente protegido. Antes da batalha, o escudo era mergulhado na água para que as marcas dos dardos no combate anterior não aparecessem no combate seguinte. Embraçar o escudo da fé é como se o soldado não tivesse recebido nenhuma marca na batalha anterior. Embraçar o escudo da fé é o mesmo que estar limpo. Essa verdade é escrita pelo apóstolo João na sua carta às igrejas: “...São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão porque se acham diante do trono de Deus...” (Ap 7.14-15).
         A é o escudo que protege o cristão diante da dúvida, do medo e da insegurança, “...esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5.4). A na obra redentora de Jesus Cristo é o escudo que nos defende do pavor que o diabo lança quando alguém comete algum pecado.
         Tomar o capacete da salvação e a espada do Espírito é poder tranquilizar-se. Tranquilidade essa que se têm em Jesus. “...nisto conheceremos que somos da verdade, bem como, perante ele, tranquilizaremos o nosso coração; pois, se o nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que nosso coração e conhece todas as coisas” (1Jo 3.19-20).
         Desde o dia do batismo, cada cristão foi inserido na luta. Pelo Batismo cada cristão recebeu a armadura de Deus para a vitória e o ânimo para a batalha. Amém!


M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Regimentos, Estatuto e Escritura!

23 de agosto de 2015
13º domingos após Pentecostes
Salmo 14; Isaias 29.11-19; Efésios 5.22-33; Marcos 7.1-13
Tema: Regimentos, Estatutos e Escritura!

        O mundo está atravessando uma verdadeira tempestade. Essa tempestade é dada pelo perda e desapego de valores. Sem medir as consequências, grupos das mais variadas siglas buscam resgatar ou eliminar valores humanos e éticos adquiridos ao longo dos anos.
         Em minha opinião é urgente o resgate de valores, não apenas humanos, mas especialmente espirituais.
         Jesus visa resgatar valores espirituais que os fariseus e escribas haviam perdido devido a suas falsas interpretações, ou excessiva valorização das tradições e regimentos humanos.
         Os fariseus e escribas haviam observado uma perda de valor cerimonial por parte dos discípulos de Jesus. Os discípulos de Jesus estavam comendo sem lavar as mãos.
         Ao observarem essa perda de valor cerimonial, os fariseus e escribas perguntam ao mestre Jesus, pois segundo os fariseus e escribas o mestre Jesus devia estar ensinando errado aos seus discípulos. Isso não podia acontecer, alguém precisava ensinar Jesus. Assim, se aproximam de Jesus e dizem: “Por que é que os seus discípulos não obedecem aos ensinamentos dos antigos e comem sem lavar as mãos?” (Mc 7.5).
         Ser repreendido por uma pessoa mais velha é constrangedor, ainda mais, quando se trata de perda de valores. Os discípulos de Jesus estavam escandalizando os fariseus e escribas.
    Os fariseus viviam sob a autoridade de tradições passadas de geração à geração. As tradições, ou seja, as interpretações feitas sobre a lei mosaica valiam mais que as próprias Escrituras. Esse choque, a Escritura e suas interpretações de acordo com a tradição judaica é confrontada por Jesus com as palavras: “Vocês arranjam sempre um jeito de pôr de lado o mandamento de Deus, para seguir os seus próprios ensinamentos” (Mc 7.9).
         Jesus não critica a Escritura, Jesus quer que os fariseus revejam se sua interpretação escriturística vem de fato das Escrituras Sagradas ou visam apenas ressaltar suas tradições e costumes.
         As interpretações apresentadas nas tradições dos fariseus, escribas e essênios sufocavam a Escritura Sagrada. Jesus desejava e deseja que as Escrituras reformassem e reformem as tradições, os costumes, os valores.
         Todas as instituições, sejam eclesiásticas ou seculares, precisam de regimentos e estatutos. No entanto, uma pergunta é necessária: Qual é o limite das instituições com seus estatutos e regimentos?
         Se os fariseus contemplavam em demasia os seus costumes através de uma interpretação equivocada das Escrituras, pode-se dizer que na igreja o mesmo se deu por ocasião da Idade Média. O catolicismo medieval asfixiou a Palavra de Deus dentro do escolasticismo, que era uma tentativa de conciliar o pensamento racional platônico aristotélico com as Escrituras. Diante disso, Deus levantou Lutero que voltou seu olhar a verdadeira exegese bíblica. As Escrituras voltaram a ser o centro e o limite dos estatutos e regimentos. As Escrituras sempre estão acima, mesmo quando a tradição, os valores e a razão entrem em choque.
         Quando se fala sobre valores humanos, é necessário lembrar que a igreja cristã está cercada pelo desejo de imposição de novos valores e tradições. O valor e a tradição que está sendo constantemente bombardeada é a família. Nesse bombardeio, a crítica é para que as pessoas deixem de pensar na família como o modelo tido tradicional, composto por homem e mulher. Lembre-se: a união entre homem e mulher não é tradição ou costume, é, vontade de Deus.
         Para se proteger das ameaças impostas pela lei humana, a igreja, precisa se precaver através de Estatutos e Regimentos. Mas, esses estatutos e regimentos não podem superar a barreira da Escritura Sagrada. É a Escritura, o Evangelho que precisa dar a última palavra, por isso, somos “evangélicos”.
         Assim como foi na época de Jesus, ainda hoje, muitas instituições eclesiásticas não tem mais a Escritura Sagrada como autoridade suprema. Muitas ações dessas ditas instituições eclesiásticas estão baseadas em seu falsa interpretação das Escrituras.

        Talvez pensemos e quem sabe até oramos: “graças a Deus que não somos como essas instituições”. No entanto, não há motivo para glorificação pessoal. Ao constatar a realidade e o perigo de que podemos destacar e valorizar os estatutos e regimentos, precisamos sempre de novo, voltar as Escrituras Sagradas. Esse é o desafio! Essa é a constante urgência! Disse Jesus: “Vocês arranjam sempre um jeito de pôr de lado o mandamento de Deus, para seguir os seus próprios ensinamentos” (Mc 7.9).
         A questão não é apenas requerer o título de verdadeiro intérprete das Escrituras, afinal, todos irão requerer o título. O fato e a verdade é que a Escritura tem toda autoridade, pois, a Escritura interpreta a si mesma.
         A Escritura Sagrada é a nossa autoridade máxima. Que a mesma sempre elucide nossos valores, nossas tradições, nossos costumes, regimentos e estatutos. Amém!



M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Pão de Deus que alimenta!

16 de agosto de 2015
12º domingo após Pentecostes
Salmo 34.12-22; Provérbios 9.1-10; Efésios 5.6-21; João 6.51-69
Tema: Pão de Deus que alimenta!

         Nas últimas duas semanas estivemos ocupados no estudo do evangelho de João 6. Um texto riquíssimo em detalhes e ensinamentos. É um texto tão rico que temos a graça de podermos estudá-lo a cada novo ano novamente e sempre receber um ensinamento atual, necessário e impactante.
         Relembro a pergunta feita na mensagem das duas semanas anteriores, por que muitos cristão passam fome e sede espiritual?  
         Jesus declara: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.35). Mas, muitos cristãos ainda sentem fome e sede espiritual porque buscam um Jesus que satisfaça seus desejos carnais e terrenos.
         Jesus se declara e se põe como alimento para os famintos de comida e água espiritual: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. ...Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do é a minha carne” (Jo 6.35, 51,52).
         Muitos dos discípulos e seguidores de Jesus acharam esse discurso duro e insaciável (Jo 6.60). Jesus sabe que a multidão o havia acompanhado na intenção de fazê-lo rei. Muitos deixaram de seguir Jesus devido a descrença (Jo 6.66). Eram poucos os que de fato, acreditavam em Jesus como Salvador, como o pão que havia descido do céu para saciar a fome espiritual (Jo 6.64). A esses poucos que restaram por crerem em Jesus, foi perguntado: “...quereis também vós outros retirar-vos?” (Jo 6.67).
         Querido irmão e irmão no Senhor Jesus: Quantos problemas há na sua vida e Deus preferiu não resolver? Quantos orações tens feito e Deus não atendeu? Diante disso repito a pergunta de Jesus: “...quereis também vós outros retirar-vos?” (Jo 6.67).
         Essa pergunta foi feita por Jesus para um grupo que havia permanecido após um grande diálogo. Diálogo entre Jesus, uma multidão e muitos seguidores. Jesus se apresentou como “Pão que havia descido do céu” enviado por Deus para saciar espiritualmente as pessoas. No entanto, por estarem buscando apenas saciar sua fome e sede carnal, preferiram abandonar Jesus e alimentar-se da comida e da água que perece.
         Essa pergunta continua sendo feita: “...quereis também vós outros retirar-vos?” (Jo 6.67). Aconselhar a vós outros para que respondam como o apóstolo Pedro: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo 6.68-69). Amém!

M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Pão de Deus! Parte II

09 de agosto de 2015
11º domingo após Pentecostes
Salmo 34.1-8; 1Reis 19.1-8; Efésios 4. 17 – 5.2; João 6.35 – 51
Tema: O Pão de Deus! Parte II

         Diante do texto do evangelho de João 6.35-51 a frase a seguir diz muito:

O cliente nunca compra um produto. Por definição, ele compra a satisfação de um desejo”. (Peter F. Drucker, 1975).

         Convém lembrar que a multidão havia procurado Jesus por desejo de o proclamar rei. Essa constatação é feita por Jesus: “Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho para o monte” (Jo 6.15). A multidão buscava Jesus apenas por interesse pessoal, o objetivo era a satisfação do seu desejo.
         Sabendo que é o interesse pessoal que leva as pessoas a buscarem o produto desejado, surgiu o marketing religioso. O pioneiro sobre o tema religião e marketing é Philip Kotler (1976). A religião institucionalizada estava em crise nos Estados Unidos e, Kotler buscou justificar o emprego do marketing na montagem de estratégias para resgate da mesma. Muitos eram contra o uso do marketing na esfera religiosa, devido aos seguintes motivos: produto, troca, mercado, público, macro-ambiente, metas, segmentação, mensuração, demanda, ciclo de vida de produtos, canais de distribuição, promoção e outros mais.
         Seguindo o pensamento de Kotler, George Barna (1994) especialista em marketing aplicado a religião, ressaltou que o principal problema que estava afetando as Igrejas Protestantes dos Estados Unidos é o fato de não adotarem um apoio de marketing. Era preciso abandonar o espírito de aversão e de objeções ao uso do marketing. Assim convencionou-se buscar no universo do marketing, princípios, técnicas e estratégias, para que houvesse melhora na performance das organizações no ranking do mercado religioso. No Brasil, a mentalidade sobre o marketing religioso foi explorada por Douglas Teixeira Monteiro (1979). Ele mostrou que as novas seitas pentecostais, instituições umbandistas e católicas, se tornaram “agências de serviço”. A diferença dos mesmos eram apenas seus rótulos e embalagens dos produtos que ofereciam. Na nova sociedade onde estava predominando a hegemonia do mercado, da competitividade, atrevidamente e com sucesso atrelou-se “religiosidade e marketing”.
         O marketing provoca o surgimento de teorias explicativas dos fatos sociais envolvidos numa troca. O marketing é um conjunto de técnicas empregadas não somente para agir sobre os mecanismos de troca, como também para explicar as ações humanas nesse processo. O marketing mostra a realidade social. Ela apresenta as interpretações do comportamento humano.
         O marketing foi elaborado sob as bases das ciências humanas, psicologia, sociologia e antropologia. No entanto, seu discurso que sempre priorizou articular o conjunto de respostas para problemas vinculados às relações de troca estabelecidas pelos seres humanos, que o tornou um apetitoso prato em que a religiosidade, principalmente os neopentecostais se debruçassem e o saboreassem.
         Marketing traz gravado consigo a história da economia, da administração, da cultura capitalista dominante no mundo. O marketing facilita a intervenção nos processos de troca, influenciando e alterando o comportamento dos seres humanos envolvidos nessa situação.
         O marketing tem por objetivo alcançar algum propósito num mundo exterior. O marketing oferece o produto e a mudança que esse produto fará na vida cotidiana. O produto gera renda, converte-se em serviços e ideias, e é oferecido aos vários tipos de consumidores. Observe que o marketing caracteriza uma ação tipicamente humana, ou seja, está voltada à valorização de objetos, bens e serviços.
         Todos buscam coisas desejadas e valorizadas. O interesse e a cobiça acompanham o processo de troca. Max Weber descreve a troca como um compromisso de interesses entre os participantes pelo qual entregam seus bens ou possibilidades como retribuição recíproca. O marketing religioso que altera comportamentos sociais está intrinsecamente ligado ao fator necessidade.
         O povo na época de Jesus tinha a necessidade de libertar-se da hegemonia política dos Romanos. A carga de impostos era altíssima. Assim, ao perceberem que Jesus poderia ser o rei que lhes podia multiplicar pães e peixes, curar enfermos, etc, fascinou lhes a opção de fazê-lo rei e acabar com a hegemonia romana.
         Jesus disse que a multidão o havia procurado para satisfazer seu desejo pessoal (Jo 6.27). E essa busca pelo desejo pessoal é que os levaria a perdição, pois deixariam de reconhecer Jesus como Messias Salvador (Jo 6.36).
         A multidão que havia presenciado a multiplicação dos pães e dos peixes, que havia ouvido de Jesus que a verdadeira obra diante de Deus era crer nEle naquele que o Pai havia enviado, pediu um sinal para crer.
         Pediram um sinal, justamente por que estava equivocada na sua busca por Jesus. O Jesus que buscavam era apenas para satisfazer suas necessidades terrenas. E Jesus lhes oferece a si mesmo dizendo que era “o pão da vida” para saciar a fome espiritual.
         Mesmo a multidão rejeitando Jesus, de maneira nenhuma Jesus lhes julga, porém com muita ênfase afirma: “todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.40).
         Jesus era o sinal visível de Deus, é o “pão que desceu do céu” (Jo 6.41). Um sinal rejeitado e que estava sendo buscado não pelo que de fato deveria ser buscado, mas apenas por interesse pessoal. Assim, infelizmente, muitos ainda hoje, usam o marketing religioso para oferecer um Jesus que agrade as pessoas e as satisfaça carnalmente e terrenamente.
         Jesus declara: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.35). Então porque tantos cristãos carecem de comida e água?
         A resposta é simples, mas direta, é porque buscam um Jesus apenas para satisfazer seus desejos carnais e terrenos.
         Jesus se declara e se põe como alimento para os famintos de comida e água espiritual: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. ...Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do é a minha carne” (Jo 6.35, 51,52). Amém!


M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

Bibliografia
Sociologia e Antropologia da Religião. Rogério de Morais Silva. AVM: Faculdade Integrada. Brasília, 2011.

BARNA, George. O marketing na Igreja. JUERP, RJ, 2º Edição.


CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado. Organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Co-edição, Petrópolis, RJ: Vozes, SP, Simpósio Editora e Universidade Metodista de São Paulo, 1999. 2º Edição.

Não creia em todo espírito (1Jo 4.1)

  27 de abril de 2024 Salmo 150; Atos 8.26-40; 1João 4.1-21; João 15.1-8 Texto: 1João 4.1-21 Tema: Não creia em todo espírito (v.1) ...