segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Conserve vivo o dom de Deus (2Tm 1.6)

 05 de outubro de 2025

Décimo sétimo domingo após Pentecostes

Salmo 62; Habacuque 1.1-4; 2.1-4; 2Timóteo 1.1-14; Lucas 17.1-10

Texto: 2Timóteo 1.6

Tema: Conserve vivo o dom de Deus

 

Por isso quero que você lembre de conservar vivo o dom de Deus que você recebeu...” (2Tm 1.6)

 

Embora seja uma conotação tipicamente cristã, a palavra reavivamento (despertar espiritual) aparece nas cinco grandes religiões: cristianismo, hinduísmo, budismo, islamismo e judaísmo.

Muito se fala, quer seja em palestras, reuniões, redes sociais, sobre o despertar espiritual, ou, reavivar algo.

Casais querem reavivar seu relacionamento!

Igrejas buscam reavivar os congregados!

Empresas buscam reavivar seus colaboradores!

Reavivar é uma palavra que está na moda.

O apóstolo Paulo escreveu para o pastor Timóteo “reavivar a chama do dom de Deus” (2Timóteo 1.6). Esse não é apenas um conselho pastoral, mas uma chave para entender a vida cristã e o ministério sob a ótica da justificação pela graça mediante a fé.

O “dom de Deus” que Timóteo recebeu não era uma habilidade ou um talento humano, mas a própria fé e a vocação para o ministério. O dom é a graça de Deus que o elegeu e o capacitou, e essa graça não é algo que ele conquistou. O dom é puramente uma dádiva divina, um presente que não pode ser merecido por obras, busca ou esforço.

O dom ao qual o apóstolo Paulo se refere aqui pode ser vista como uma união de dois elementos: o ofício pastoral e a fé genuína. O evangelho o capacitou para cumprir esse ofício pastoral e lhe concedeu a fé.

A exortação para “reavivar” traduzido como “conservar vivo” na nova tradução na linguagem de hoje (NTLH) decorre de uma palavra grega anazōpyrein que significa “atiçar o fogo” e não significa fazer algo para ser aceito por Deus. É um chamado para que Timóteo se apegue e utilize o dom que já lhe foi dado pela graça. Reavivar ou conservar vivo significa que há algo vivo nele. Algo que lhe foi dado.

A Palavra de Deus é a lenha que alimenta o fogo que ela mesma acendeu.

Exegetas destacam que a exortação do apóstolo Paulo é uma resposta direta para Timóteo diante dos seus medos, tal como a timidez o podia sucumbir. Reavivar o dom nesse sentido significa confiar no dom que Deus concedeu, ou melhor, pare de olhar para si mesmo. A obra é divina, e foi Deus quem acendeu e mantém acessa esse dom.

O “dom de Deusem si é a fé em Cristo e o ofício pastoral concedido pela graça de Deus. Isso é algo que o cristão recebe.

Acredito que muitos de vocês já ouviram a frase atribuída a Martinho Lutero: “oração, meditação e tentação fazem um teólogo”. Pensamento capturado da famosa frase em latim: Oratio, Meditatio, Tentatio faciunt Theologum.

Um verdadeiro teólogo não é apenas alguém com conhecimento acadêmico. Teologia não é uma ciência abstrata, mas uma disciplina vivida, moldada pela experiência pessoal e espiritual.

A oração é o primeiro pilar. Oração não é uma formalidade, mas um diálogo constante com Deus. Por mais que estudemos, não podemos entender as verdades espirituais por nossa própria força. A Bíblia, por si só, pode ser um livro fechado sem a iluminação do Espírito Santo.

A oração abre o coração e a mente para a voz de Deus, permitindo que sua Palavra ressoe para nós e não seja apenas um texto morto. É na oração que o estudo se torna uma experiência de adoração. Por essa razão, Jesus ensinou a orar: santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a sua vontade assim na terra como no céu...

Oração, meditação e tentação fazem um teólogo”.

Meditação não é esvaziar a mente, mas enchê-la com a Palavra de Deus. Meditar sobre as Escrituras significa ir além da leitura superficial: é mastigar, digerir e refletir sobre cada palavra. É um processo de ruminação onde a verdade bíblica se infiltra em nosso ser, transformando nossos pensamentos e ações.

Oração, meditação e tentação fazem um teólogo”.

É surpreendente saber que a tentação, provação, aflição faz parte do processo do reavivamento do dom. As provações da vida, as dúvidas, os sofrimentos, as perseguições e os conflitos espirituais, são essenciais para o amadurecimento teológico.

Na tentação a fé é testada. A tentação se dá quando o conhecimento acadêmico se mostra frágil diante da dor real. Na luta se é forçado a se apegar à Palavra de Deus não como uma teoria, mas como a única rocha sólida. Na tentação aprendemos a depender totalmente de Deus, revelando nossa própria fraqueza e sua fidelidade inabalável.

Reavivar o dom de Deus não é um exercício meramente intelectual, é uma jornada espiritual e existencial. Se é forjado no fogo da oração, enraizado na meditação da Palavra e amadurecido nas provações da vida.

Reavivar o dom é um convite para ser mais do que um mero estudioso da Bíblia; é um desafio para viver a fé que se professa. A vida cristã autêntica não está nos livros, mas numa vida vivida diante de Deus e de suas promessas.

Reavivar o dom de Deus não é uma busca para ganhar a aprovação de Deus. É um lembrete para Timóteo de que se apegue firmemente à fonte de toda sua força e dom: se apague a graça de Deus que é manifestada e nutrida através da Palavra de Deus, tanto na pregação, estudo e nos sacramentos.

O “reavivar a chama” é a vida de fé ativa que se sustenta na Palavra de Deus e se manifesta na pregação e no ministério fiel.

O dom é a capacitação do Espírito Santo para o ministério. Reavivar o dom, significa voltar-se para a graça de Deus diante dos desafios do ministério. Na época da escrita, Timóteo poderia incorrer na vergonha do apóstolo Paulo que estava preso e se tornar ainda mais tímido diante da pregação.

O fato é que na sociedade greco-romana valorizava-se a honra e abolia a vergonha. Dessa forma, Timóteo poderia se envergonhar da prisão de Paulo, haja visto ele Timóteo ser filho de pai grego.

Levando isso em consideração, o apóstolo Paulo lembra sobre o sofrimento na perspectiva do evangelho, onde o sofrimento deixa de ser desgraça e passa a ser participação no poder de Deus que traz vida da morte (2Tm 1.10).

Evangelho não é apenas uma mensagem. Evangelho é a manifestação do poder de Deus.

O apóstolo Paulo ao escrever essa carta para Timóteo, deseja encorajá-lo para que continue apesar dos pesares, ser um ministro fiel e destemido enraizado na graça de Deus em Jesus.

Eis uma exortação muito importante para nossos dias, afinal, quantas situações decorrentes da atividade pastoral que envergonham e intimidam muitos na proclamação. “Por isso quero que você lembre de conservar vivo o dom de Deus que você recebeu...” (2Tm 1.6).

Recorde-se, que: conservar vivo indica que há algo vivo em você. Algo lhe foi dado para o exercício do ministério. E o ministério está nas mãos de Jesus (Ap 1.18-20). Amém

Edson Ronaldo Tressmann

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Em quem confiar? (Sl 146)

 28 de setembro de 2025

Décimo sexto domingo após Pentecostes

Salmo 146; Amós 6.1-7; 1Timóteo 6.6-19; Lucas 16.19-31

Texto: Salmo 146

Tema: Em quem confiar?

 

Você já depositou confiança em alguém e essa pessoa te decepcionou?

Com toda a certeza a resposta é sim!

Seres humanos, por causa da sua pecaminosidade, são instáveis e decepcionam e algumas não são de confiança nenhuma.

As palavras do salmista “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 143.3) é um convite para uma reflexão profunda sobre onde se deposita a fé e a esperança. A Bíblia, em sua totalidade, reforça essa ideia de diversas maneiras, mostrando a fragilidade humana e a fidelidade divina.

A Bíblia está repleta de exemplos que ilustram por que a confiança em seres humanos é vã. Pessoas, por mais poderosas, ricas ou influentes que sejam, estão sujeitas a falhas, doenças e, por fim, à morte. A passagem de Isaías 2.22 ressoa: “Parem de confiar no homem, cuja vida não passa de um sopro em suas narinas. Que valor ele realmente tem?”. A história do rei Saul, que depositou sua confiança na força de seu exército em vez de em Deus, e a de Herodes Agripa I, que aceitou a adulação divina de seu povo e foi castigado por não dar glória a Deus, são exemplos claros da fragilidade humana.

O contraste do Salmo 146.3 é a confiança em Deus, tanto que no verso 5, o salmista escreveu: “Feliz aquele que tem o Deus de Jacó por seu ajudador; aquele cuja esperança está no Senhor, o seu Deus” (Sl 146.5). Enquanto os seres humanos são mortais e limitados, Deus é eterno, onipotente e fiel. Sua capacidade de ajudar não tem limites, e sua natureza não muda.

A confiança em Deus não é uma questão de otimismo cego, mas de fé naquilo que é imutável. Confiar em Deus é reconhecer que somente Ele pode dar a verdadeira paz, esperança e salvação. O profeta Jeremias resume essa dualidade: “Assim diz o Senhor: 'Maldito é o homem que confia nos homens... Bendito é o homem que confia no Senhor” (Jeremias 17.5, 7).

A mensagem do Salmo 146.3 não nos proíbe de pedir ajuda ou de valorizar as pessoas em nossas vidas. Pelo contrário, ela nos adverte a não colocarmos nossa segurança total e final em nenhuma pessoa. O conselho bíblico é para que nossas expectativas de salvação, segurança e propósito eterno sejam baseadas exclusivamente em Deus.

Isso nos liberta da decepção que inevitavelmente vem quando colocamos nossa fé em pessoas imperfeitas. Ao direcionarmos nossa confiança para Deus, podemos interagir com as pessoas de forma mais saudável, amando-as e servindo-as sem a pressão de que elas supram todas as nossas necessidades. A verdadeira paz vem de saber que, no final das contas, nossa esperança não está nas mãos de seres humanos, mas nas mãos do Criador.

As palavras “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 146.3), faz parte da história da nossa igreja.

C.F.C. Walther, Fundador e Primeiro Presidente do Sínodo de Missouri, teve uma grande decepção com a liderança humana. Isso o levou a reafirmar a única fonte de confiança: Deus.

Da mesma forma como o salmista se sentia “esmagado” e “prostrado”, Walther e sua comunidade estavam à beira do desespero após a queda de seu líder. O socorro não veio de um novo “homem importante”, mas do reconhecimento de que a fé não depende da perfeição de nenhum líder, e sim da fidelidade de Deus.

A situação histórica é conhecida como a “Crise de Stephan” ou o “Escândalo de Stephan”. Evento que marcou profundamente a vida dos imigrantes luteranos alemães que se estabeleceram em Missouri, EUA, em 1839.

Tudo começou quando um grupo de luteranos alemães, liderados por um carismático pastor chamado Martin Stephan, decidiu fugir da perseguição religiosa na Alemanha. Eles desejavam viver a sua fé sem a interferência do Estado e da Igreja oficial, que consideravam corrompida pelo racionalismo. Stephan era visto por eles como um profeta e um líder ungido, um “bispo” que os guiaria para a liberdade na América.

C.F.W. Walther, que na época era um jovem e promissor pastor, era um dos mais fervorosos seguidores de Stephan. Ele e outros pastores confiaram plenamente na liderança de Stephan, que os havia convencido a venderem seus bens e a seguirem-no para a América.

No entanto, logo após chegarem a Saint Louis, Missouri, a comunidade foi abalada por graves acusações contra Stephan. Descobriu-se que, enquanto eles viajavam e se estabeleciam na nova terra, Stephan estava envolvido em escândalos de má conduta sexual e financeira, além de exercer um poder autoritário sobre o grupo.

A revelação foi um choque devastador. A comunidade, que havia sacrificado tudo para seguir um líder que se mostrou um falso profeta, se sentiu desorientada e traída. Eles estavam em um país estrangeiro, sem recursos, e sua fé estava abalada. Era a beira do desespero.

Nesse momento de crise, C.F.W. Walther se destacou. Ele não negou o problema, mas, com base em sua fé, procurou uma solução. Walther convocou uma reunião histórica em Altenburg, Missouri, na qual confrontou a comunidade com a pergunta: “Afinal, o que nos faz uma igreja? O nosso líder humano ou a Palavra de Deus?

Essa crise serviu como um catalisador para a teologia de Walther. A partir dessa experiência amarga, ele enfatizou a importância de confiar apenas em Cristo e na sua Palavra, e não em líderes humanos. Foi a partir dessa crise que o Sínodo de Missouri se formou, com a clara convicção de que a verdadeira autoridade da Igreja reside nas Escrituras, e não na figura de um homem.

Ninguém, por mais importante ou talentoso que seja, está imune ao erro ou ao fracasso. A dependência excessiva de líderes, políticos ou figuras públicas pode levar à desilusão.

A fé genuína não se deposita em um ser humano, mas em Deus, que é o único que não falha e que tem o poder de nos salvar e guiar.

A resposta para o desespero e a decepção não está em procurar um novo “herói”, mas em voltar-se para o Evangelho, a única fonte de esperança e segurança, pois Jesus Cristo não é apenas um homem, mas o Deus que nos salva.

As palavras: “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 146.3) visa alertar para que não se confunda a fé em Deus com a confiança em seres humanos, por mais admiráveis que possam parecer. Amém.

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Deus não é indiferente! (Lc 16.19-31)

 28 de setembro de 2025

Décimo sexto domingo após Pentecostes

Salmo 146; Amós 6.1-7; 1Timóteo 6.6-19; Lucas 16.19-31

Texto: Lucas 16.19-21

Tema: Deus não é indiferente!

 

Havia um homem rico que vestia roupas muito caras e todos os dias dava uma grande festa. Havia também um homem pobre, chamado Lázaro, que tinha o corpo coberto de feridas, e que costumavam largar perto da casa do rico. Lázaro ficava ali, procurando matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do homem rico. E até os cachorros vinham lamber as suas feridas” (Lc 16.19-21).

 

Essa parábola decorre do amor de Jesus que diante da zombaria dos fariseus que amavam o dinheiro e desprezavam Jesus (Lc 16.14), o cumprimento da mensagem de Moisés e dos profetas, a contou para fazê-los refletir o estado de suas almas.

A parábola do rico e Lázaro é uma história que, embora curta, carrega profundas reflexões sobre a vida, a morte, a justiça e a nossa relação com o próximo.

Nessa parábola temos a descrição da realidade de dois homens em vida:

O homem rico: vive em completa abundância, desfrutando de luxo e banquetes diários. Sua riqueza é tão grande que suas roupas são descritas como as de um rei e um sacerdote, e suas festas, uma celebração contínua e diária. Sua vida é um ciclo de prazer e autossatisfação.

Lázaro: um total contraste do rico. Aqui precisamos registrar é mencionado o nome de Lázaro, ao contrário do rico que não tem seu nome mencionado. Aliás, é a única vez em que o nome de uma pessoa é mencionado nas parábolas contadas por Jesus. Lázaro é o retrato da miséria e do abandono. Pelo que se deduz, Lázaro não podia se movimentar livremente e foi deixado ali, pois, num lugar com banquetes diários, receberia o que comer. Esse homem deveria ter recebido auxílio do rico, mas apenas os cães aliviam lambendo suas férias. Os cães tinham mais compaixão do que àquele homem rico. Aliás, do rico não recebia nada, Lázaro é que aproveitava as migalhas, os restos que eram jogados fora.

Lázaro deriva de Lo-eser e Ele-azar. Lo-eser significa “sem ajuda”, alguém destituído de auxílio, sozinho, abandonado. Ele-azar significa “Deus é ajuda”, ou seja, sem ajuda só Deus é meu socorro.

A parábola não quer ensinar que o rico era mau por causa de sua riqueza e nem que Lázaro era bom por ser pobre. O ponto central dessa parábola é destacar a indiferença. A indiferença diante de duas coisas: o próximo e a Palavra de Deus.

O homem rico viveu sua vida ignorando completamente a dor e o sofrimento de Lázaro, que estava literalmente na sua porta. O rico era indiferente a situação de Lázaro. A situação exposta diante dos seus olhos não tocou seu coração.

Essa história, ao lado da parábola do administrador serve como uma sirena onde somos alertados sobre as nossas prioridades e a forma como usamos os recursos que temos. Qual é a finalidade dos nossos recursos? Muitos apenas ostentam e ignoram socorro ao necessitado, mesmo que bata a sua porta. O que se possui visa ser uma resposta ao sofrimento alheio.

Essa parábola nos convida a uma autoanálise profunda:

Lázaro “sem ajuda”, alguém destituído de auxílio, sozinho, abandonado. Onde estão os nossos “Lázaros”? Há muitas pessoas passando por dificuldades silenciosas. Se está atento aos Lázaros? Ou, se está indiferente devido a absorção da nossa própria vida?

Querido irmão e irmã em Jesus. Cada um de nós possui um banquete diário. Qual o nosso banquete diário? Tempo? Recursos? Dons?

E os Lázaros estão por aí precisando de algo que podemos oferecer.

Nesse sentido, conseguimos visualizar o perigo que corremos de nos tornar indiferentes.

O pecado do homem rico não foi ter dinheiro. Seu pecado foi ignorar a necessidade diante de seus olhos, podendo ajudar. A indiferença cega pessoas que enxergam bem.

O homem rico não era apenas um indivíduo egoísta, ele é o retrato da humanidade que, em suas posses, falha em cumprir a Lei de Deus, socorrer o próximo.

O rico, vivendo em sua bolha de prazeres, transgrediu a Lei por omissão. Ele tinha a oportunidade de servir, de demonstrar amor e compaixão, mas falhou completamente. Tal como os fariseus estavam fazendo. Ignoravam os Lázaros (ovelha perdida, moeda perdida).

A história do rico e Lázaro é um convite para ação, empatia e responsabilidade. Aos olhos de Deus, importa a maneira como nos relacionamos com àqueles que estão em necessidade. A verdadeira fé se manifesta em obras de amor e compaixão.

Lázaro é a representação do cristão. Muitas vezes abandonado, jogado, mas que espera tão somente em Deus, pois “feliz aquele que recebe ajuda do Deus de Jacó, aquele que põe a sua esperança no Senhor, seu Deus, o Criador do céu, da terra e do mar e de tudo o que neles existe!” (Sl 146.5).

A condição de Lázaro, coberto de feridas e dependendo das migalhas, é uma imagem da total dependência de Deus. Lázaro era dependente e não tinha nada para oferecer. Esse é o retrato do cristão, dependente de Deus, sem ada para lhe oferecer.

A parábola não sugere que a pobreza seja a chave para o céu. Nada disso. É salutar destacar que a vida desses dois homens não foi diferente apenas em sua forma de viver, mas também no momento da morte. Sobre Lázaro é apenas dito que morreu e que os anjos o levaram. Sobre o rico é dito que foi sepultado. Possivelmente com toda a pompa de um enterro cheio de honrarias e luxo.

Jesus frisa que Lázaro é levado para o seio de Abraão. Nesse ponto Jesus quer mostrar algo de extrema importância para os fariseus. Na teologia judaica, o seio de Abraão é a designação para a comunhão dos devotos falecidos, é um estado de felicidade máxima. E o rico não esteva lá. O pensamento para os fariseus era de que a riqueza aqui na terra representava a bênção de Deus para àqueles que estavam em comunhão com Deus. Todavia, lá no inferno, o rico descobriu que sua indiferença com o Lázaro advinha da sua indiferença com a Palavra de Deus.

Volto a repetir: o ponto central dessa parábola é destacar a indiferença diante do próximo e da Palavra de Deus.

Observe que àquele rico tão ocupado em oferecer banquete para seus irmãos e amigos, descobriu no inferno o valor de uma alma.

O rico, no tormento, pede que Lázaro vá e advirta seus irmãos e a resposta de Abraão é crucial: “Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc 16.31).

Eles têm a quem ouvir, assim como você também teve.

No tormento foi que o rico “olhou e viu” (Lc 16.23) e observe que reconheceu Lázaro. Isso significa que àquele rico via Lázaro em vida, mas foi indiferente. E preocupou-se com o estado da alma dos seus irmãos. Será que os banquetes não os deixariam cegos? Se eles permanecessem cegos, terminariam assim como ele?

A resposta de Abraão confirma que a salvação vem unicamente pela Palavra de Deus (Rm 10.17).

Milagres, aparições, revelações, testemunhos, experiências extraordinárias, nada disso leva o homem a se arrepender e crer. A Palavra de Deus ainda é necessária. A entrada no Reino de Deus se dá pela fé genuína na Palavra de Deus.

Só a Palavra de Deus é capaz de persuadir um pecador, conduzi-lo ao arrependimento e a fé em Jesus.

Caríssimo Lázaro, saiba que Deus é o meu socorro em Jesus Cristo. Amém

 

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Entre lógicas: do mundo e do Reino de Deus! (Lc 16.1-15)

 21 de setembro de 2025

Décimo quinto domingo após Pentecostes

Salmo 113; Amós 8.4-7; 1Timóteo 2.1-15; Lucas 16.1-15

Texto: Lucas 16.1 - 15

Tema: Entre lógicas: do mundo e do Reino de Deus!

 

Alex era um analista financeiro de grande sucesso. Ele geria as fortunas de seus clientes com uma eficiência impressionante. No entanto, sua vida pessoal era uma bagunça, e ele vivia em constante tensão. Sua ambição desmedida o levou a tomar algumas decisões questionáveis, e a auditoria de sua empresa descobriu que ele havia usado fundos de um cliente para cobrir uma perda pessoal.

A notícia de sua “demissão” iminente foi um choque. Ele sabia que perderia tudo: sua reputação, seu emprego e sua vida de luxo. Em desespero, Alex se lembrou das palavras de seu pai, um homem de fé simples: “A verdadeira riqueza não se mede em dinheiro, meu filho, mas nas amizades que fazemos com a generosidade”.

Com a sua saída da empresa já decidida, Alex agiu com a esperteza que o fez rico. Ele sabia que alguns de seus clientes mais antigos estavam em apuros. Um deles, um pequeno empreendedor, devia uma quantia considerável. Em vez de cobrar a dívida, Alex o procurou e disse: “Sei que sua empresa está em crise. Não se preocupe com a dívida. Esqueça-a”. O empreendedor, em choque, agradeceu a Alex, que já esperava um favor em troca. No entanto, Alex apenas sorriu e disse: “Não precisa me retribuir. Apenas use o que eu te dei para ajudar outra pessoa”.

Ele fez o mesmo com outro cliente, um fazendeiro, perdoando parte de sua dívida em trigo. Em um último ato de sua antiga vida, Alex usou o que lhe restava de poder para agir com uma generosidade inesperada. Seus colegas e a concorrência não entenderam sua atitude. Por que ele perdoou os débitos em vez de tentar recuperar o que podia?

A resposta se revelou meses depois. Alex perdeu tudo o que tinha, mas, para sua surpresa, o fazendeiro e o empreendedor, que haviam sido poupados, o procuraram. Eles não queriam pagá-lo; queriam ajudá-lo. O empreendedor lhe ofereceu uma sociedade em sua nova empresa, e o fazendeiro lhe deu parte de sua colheita para ajudá-lo a recomeçar.

Alex, que antes pensava apenas em lucros, agora entendia a verdadeira lição da parábola. Ele havia usado o que lhe restava de poder e usou a “riqueza injusta” não para se autopreservar com mais dinheiro, mas para fazer amigos para a vida. Ele havia agido com a sabedoria que o mundo usa para bens passageiros e aplicou em algo eterno: a compaixão e o serviço ao próximo.

A história de Alex nos lembra que a verdadeira esperteza não está em acumular, mas em liberar. É usar os recursos passageiros deste mundo para construir relacionamentos.

A parábola do Administrador Infiel (Lucas 16.1-15) é um dos textos mais complexos do Novo Testamento, e por isso, não se pode ficar preso a uma interpretação simplista ou moralista. Essa parábola não é um elogio à desonestidade, mas um contraste radical entre a lógica do mundo e a lógica do Reino de Deus.

O administrador, ao ser confrontado com a iminente perda de seu cargo, age com astúcia para garantir seu futuro material. Passa a usar o que lhe resta de poder para fazer “amigos” em troca de favores. Essa situação, na verdade, representa a humanidade diante da Lei de Deus. Ao ser confrontado com a sua própria falência, destacado pela incapacidade de cumprir a vontade divina, o pecador precisa encontrar uma solução.

O administrador age com esperteza (phronesis). Contudo, essa astúcia é voltada para o “reino deste mundo”. O administrador usa a riqueza injusta para fazer amigos e assegurar seu futuro. Por essa razão, Jesus convida a refletir: se as pessoas deste mundo são tão sagazes para garantir seu futuro material, quanto mais os cristãos deveriam ser, mas em relação às coisas espirituais!

A “esperteza” cristã não é uma astúcia moral. É a sabedoria de se desapegar das riquezas. A parábola não condena o dinheiro em si, mas o chama de “Mamom da injustiça”, ou seja, uma força perigosa que tem o poder de desviar o coração humano de Deus. Usar o dinheiro para fazer “amigos” significa reconhecer que toda riqueza pertence a Deus e que a única forma de redimi-la é usá-la para o serviço ao próximo.

Um ponto nevrálgico nessa parábola é que enfatiza que a salvação não se dá pelas boas obras. Afinal, a astúcia do administrador, no final das contas, o justifica apenas diante dos homens. A verdadeira salvação não vem da gestão habilidosa de bens, mas da total dependência da misericórdia de Deus. O administrador, ao ser despojado de tudo, é um tipo daquele que, ao ser despojado da própria justiça, se apega à graça de Deus.

A conclusão da parábola traz um estridente clímax: “não se pode servir a Deus e ao dinheiro”. O dinheiro não é apenas um objeto, mas um senhor rival de Deus. A pessoa que confia na riqueza para sua segurança material ou espiritual (através de boas obras) serve ao dinheiro. A liberdade cristã, portanto, está em reconhecer Deus como o único Senhor e usar tudo, inclusive a riqueza, como simples instrumento para o serviço, sem jamais lhes dar o status de salvador.

Lucas 16.1-15 é tal como um espelho que revela o nosso estado de pecado e a nossa inclinação para a autopreservação. Enquanto o administrador busca a salvação terrena pela esperteza, o cristão verdadeiro entende que não há salvação em si mesmo, nem em suas posses.

A parábola é um convite para que larguemos a confiança nas riquezas e nas próprias obras, e nos apegamos à salvação gratuita que vem pela fé em Cristo. A moral da história não é “seja esperto como o administrador”, mas, reconheça sua falência e assim, confie na graça de Deus, usando o que o mundo te oferece para servir ao próximo e demonstrar que você não é mais escravo do dinheiro. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

Deus, os olhos dos oprimidos! (Am 8.4-7)

 21 de setembro de 2025

Décimo quinto domingo após Pentecostes

Salmo 113; Amós 8.4-7; 1Timóteo 2.1-15; Lucas 16.1-15

Texto: Amós 8.4-7

Tema: Deus, os olhos dos oprimidos!

 

O profeta Amós, em um tempo de aparente prosperidade e rituais religiosos, denunciava a dura realidade da injustiça social e da exploração. Em Amós, especificamente Amós 8.4-7, a mensagem é direta e chocante: Deus condena veementemente àqueles que, em nome do lucro, oprimem os mais vulneráveis.

Essa passagem é assustadoramente atual. Os versículos mostram uma mentalidade que, embora antiga, semelhante ao que acompanhamos em nossos dias: a ganância que transforma tradições e celebrações religiosas e dias de descanso em obstáculos para os negócios.

Os supostos religiosos da época do profeta Amós estavam mais ansiosos pelo fim das celebrações para voltar à prática de seus negócios do que em participar das festas religiosas.

A ganância era tão grande que o desejo era ver os pobres endividados e, por fim, por um “um par de sandálias” (Am 8.6) se tornarem escravos. No intento de alcançar esse objetivo, os comerciantes usavam “pesos e medidas falsas” (Am 8.5) vendendo “trigo que não presta” (Am 8.6).

Ante a essa exploração, a resposta de Deus é clara e severa. Deus se coloca na posição de defensor dos oprimidos e faz um juramento: “Nunca esquecerei aquilo que o meu povo tem feito” (Am 8.7). Esse juramento não é uma simples ameaça; é a manifestação da própria justiça de Deus e Deus, que é justo, não ignora a dor dos que sofrem. Ele é, de fato, os olhos dos oprimidos.

A mensagem de Amós, anunciada há milhares de anos, continua relevante, desafiando-nos a examinar nossas atitudes e a realidade ao nosso redor. Acompanhamos aterrados o usa de “pesos e medidas falsas” (Am 8.5) de uma forma ainda mais sofisticada. Noticiários mostram carros de luxo, relógios sofisticados, coleção de obras de arte, e tudo isso com o peso e a medida falsa de fraudes e roubo, através de descontos de aposentadorias de trabalhadores. A ganância e a exploração corrompem não apenas a sociedade, mas também a alma do indivíduo (Lutero). Os ladrões de hoje usam roupas finas e roubam sem armas, explorando os que já estão de mãos vazias.

Amós dirigia sua mensagem para pessoas que, embora observassem os ritos religiosos, tinham seus corações distantes de Deus. A religiosidade era apenas uma fachada para acobertar a prática da injustiça.

O profeta nos ensina que a fé verdadeira se manifesta em ações de justiça e compaixão. A exploração descrita em Amós é a evidência de uma fé morta, de um coração que ainda está preso à escravidão do pecado e do dinheiro.

Deus vê e se importa com as injustiças. Deus, os olhos dos oprimidos! Por menores que pareçam aos olhos humanos, cada injustiça tem Deus como defensor e juiz dos opressores.

O texto de Amós 8.4-7 é um convite para reflexão profunda sobre nosso papel na sociedade. Sou instrumento de justiça e compaixão ou estou contribuindo para exploração e opressão?

Em tempos de evangelho da glória e prosperidade, muitas pessoas estão vivendo numa ilusão religiosa. Muitos religiosos classificam a riqueza, a prosperidade, os bens, as posses, como um sinal de bênção de Deus ante sua fidelidade. Pessoas estão em busca da retribuição divina, por isso, pobres lotam igrejas, fazem das “tripas coração” para alcançar uma vida econômica melhor. E, muitos iludidos por uma falsa retribuição divina acabam se tornando exploradores usando um suposto escudo da fé.

Líderes religiosos e leigos religiosos, quando a prosperidade não vem, quando a riqueza não surge, aceitam a culpa de uma infidelidade para com Deus ou até mesmo um pecado cometido. A teologia da glória e da prosperidade disseminou e dissemina uma mentira que aos poucos se torna uma verdade: quando alguém não prospera ou perde o que possui, ou é uma pessoa sem fé ou está pagando por algum pecado cometido.

Caríssimos irmãos, o sistema social e econômico, é insuportável e desonestamente está levando muitas pessoas ao endividamento e até a escravidão moderna.

O texto de Amós 8.4-7 é um flagrante desrespeito à lei de Deus e a justiça social. Infelizmente, ainda se usa pesos e medidas falsas e se vende produtos de má qualidade como sendo de boa qualidade.

A fé verdadeira não é um mero cumprimento de rituais, mas, uma transformação interior que se manifesta em boas obras. A verdadeira fé, a sola fide, não anula a necessidade de boas obras; ao contrário, a fé é a fonte dessas boas obras que coloca o próximo em primeiro lugar. A exploração descrita em Amós 8.4-7 é a evidência de uma fé morta, de um coração que ainda está preso à escravidão do pecado e do dinheiro.

Amós 8.4-7, além da injustiça, ataca o anseio que os comerciantes tinham quanto a opressão, advinda da ganância. A própria Palavra de Deus transmite que o amor ao dinheiro é capaz de corromper tudo, até a fé (1Tm 6.10).

Precisamos recordar que Deus anseia por justiça e essa justiça ansiada por Deus não está em nós mesmos. A nossa justiça está em Cristo. Jesus Cristo me coloca numa nova relação com Deus e com o próximo, em Cristo eu busco cada vez melhorar minha justiça com meu próximo.

Deus, os olhos dos oprimidos! Ele conhece nossa situação a luz da natureza pecaminosa e para nossa salvação enviou Jesus Cristo. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Um Deus que busca e encontra! (Lc 15.1-10)

 14 de setembro de 2025

Décimo quarto domingo após Pentecostes

Salmo 119.169-176; Ezequiel 34.11-24; 1Timóteo 1.12-17; Lucas 15.1-10

Texto: Lucas 15.1-10

Tema: Um Deus que busca e encontra!

 

Introdução

Em nosso mundo, o valor de algo é muitas vezes medido por sua utilidade, por sua raridade ou por sua quantidade. Uma única ovelha, de um rebanho de cem, parece insignificante. Se você perguntasse para um empresário: você pararia toda a sua produção para procurar uma única peça que vale muito pouco? A resposta provavelmente seria não. É a economia da maioria.

A parábola de Jesus vira essa lógica de cabeça para baixo. Jesus não se preocupa com a matemática da maioria; Jesus se preocupa com a matemática do amor. Ele nos ensina que, aos olhos de Deus, o valor de cada indivíduo é tão grande que Ele está disposto a deixar o que é “seguro” para ir atrás do que é “perdido”. O foco não é as 99 ovelhas que estão no curral, seguras, mas naquela que se perdeu. Dessa forma, vamos refletir no motivo dessa ovelha ser tão preciosa e sobre o coração do Bom Pastor Jesus.

Parte 1

A passagem é uma defesa de Jesus contra a crítica dos fariseus e escribas.

É preciso destacar a importância do verbo grego aproximavam-se” (ἐγγίζοντες). Jesus nota que a multidão de publicanos e pecadores estava ativamente buscando Jesus. Isso é um contraponto direto à atitude de desprezo dos fariseus e escribas. A palavra, murmuravam (διεγόγγυζον), implica num murmúrio contínuo e interno de desaprovação.

A crítica dos fariseus (“este recebe pecadores e come com eles”) é a chave para entender as duas parábolas que se seguem. Jesus não está apenas contando histórias, está se justificando suas ações.

O verbo grego “perdeu” é ἀπολέσας e ressalta que essa “perda” é real e que a ovelha perdida não está apenas temporariamente ausente; ela está em perigo mortal.

O número 100 não é literal; é uma imagem de totalidade. O pastor, ao deixar as 99 ovelhas para buscar a que se perdeu, demonstra a alta prioridade que Deus dá a cada indivíduo. A ovelha perdida, aos olhos do pastor, não é menos valiosa do que as 99.

O verbo grego para “procura” é ζητέω e significa uma busca diligente e persistente. O pastor a busca até encontrar. Essa busca representa o ministério de Jesus em relação aos pecadores.

A parábola culmina com a alegria (χαρὰν) no céu. A alegria de Deus por um único pecador que se arrepende é maior do que a alegria pelos “noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”. Ele interpreta os “justos” como as pessoas que, como os fariseus, se consideravam justas e não viam a necessidade de se arrepender. A ironia é que a parábola não elogia os “justos”, mas sublinha o valor do pecador arrependido.

A segunda parábola (Lc 15.8-10) é um complemento da primeira, mas com algumas diferenças significativas: a mulher, ao procurar sua moeda, simboliza a busca de Deus pela alma perdida. A moeda, ao contrário da ovelha, não pode se mover e está “perdida” por inatividade, o que pode representar pessoas que estão espiritualmente perdidas, mas não ativamente rebeldes.

O número 10, assim como o 100, é simbólico. Indica a totalidade das posses. A mulher se esforça ao máximo, acendendo uma lâmpada e varrendo a casa, para encontrar a moeda, mostrando o quão valiosa cada alma é para Deus.

A alegria da mulher, de suas amigas e vizinhas, representa a alegria (χαρὰν) dos anjos no céu por um pecador que se arrepende.

Parte 2

A alegria mencionada nas parábolas não é pelo pecador em si, mas pelo arrependimento (metanoia).

O arrependimento é a resposta humana à busca divina. Ele não é uma obra que se faz para ganhar a salvação, mas a fé que se manifesta na volta para Deus. A alegria no céu é a celebração do dom da salvação que é recebido pelo pecador arrependido.

O propósito das parábolas é revelar o coração de Deus. Ele não é um juiz distante que apenas condena, mas um Pai Amoroso que busca o filho perdido. As parábolas são um convite para os fariseus e para todos que se consideram justos para reconhecerem sua própria necessidade de arrependimento e a se unirem à alegria do céu.

As parábolas em si são a manifestação do Evangelho. Elas revelam que Deus age de forma contrária à lógica da Lei e à justiça humana. A ovelha e a moeda perdida representam os pecadores que, por natureza, estão separados de Deus. A iniciativa de busca pertence unicamente a Deus. O pastor busca a ovelha e a mulher procura a moeda. Isso sublinha que a salvação não é o resultado da busca humana por Deus, mas sim da busca incansável de Deus pelo pecador.

Para Deus, cada indivíduo perdido tem um valor incalculável. A lógica humana, que daria preferência aos noventa e nove, é subvertida pela lógica do amor de Deus. A ovelha perdida e a moeda perdida são os objetos da graça divina. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Salvação é por graça! (1Tm 1.15)

 14 de setembro de 2025

Décimo quarto domingo após Pentecostes

Salmo 119.169-176; Ezequiel 34.11-24; 1Timóteo 1.12-17; Lucas 15.1-10

Texto: 1Tm 1.12-17

Tema: Salvação é por graça!

 

O ensinamento verdadeiro e que deve ser crido e aceito de todo o coração é este: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior” (1Tm 1.15).

 

Ensinamento verdadeiro” (πιστὸς ὁ λόγος) é uma expressão de Paulo usada várias vezes nas epístolas pastorais (1Tm 3.1; 4.9; 2Tm 2.11; Tt 3.8). Ela serve para introduzir uma declaração de suma importância e autoridade, um ditado que já era possivelmente bem conhecido nas primeiras comunidades cristãs. O termo indica que o que está sendo dito é digno de total confiança e crença.

Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores” é a essência do Evangelho. Paulo não está apresentando uma ideia nova, mas sim a base da fé cristã. A vinda de Cristo tem um propósito claro e singular: salvar. O objeto de sua salvação são os pecadores, e não os justos ou os que se consideram dignos.

dos quais eu sou o pior” (ὧν πρῶτος ἐγώ εἰμι) é a parte mais poderosa da afirmação de Paulo. Ele se coloca no topo da lista dos pecadores. A palavra grega prōtos significa “o primeiro”, “o principal” ou “o pior”. Ao invés de se gabar de seu apostolado, Paulo se humilha, lembrando de seu passado como perseguidor e blasfemador (1Tm 1.13). Essa confissão de sua própria pecaminosidade radical serve a dois propósitos:

Credibilidade: sua própria vida é a prova viva da verdade que ele prega. Se Cristo pode salvar o “pior dos pecadores” como ele, então a salvação é realmente para todos.

Exemplo: A atitude de Paulo serve de modelo para todos os crentes, mostrando que a salvação não se baseia em méritos, mas na graça imerecida de Deus.

A confissão de Paulo: “dos quais eu sou o pior” não é apenas uma demonstração de humildade, mas um pilar da teologia cristã. Ela desmascara a ideia de que a salvação é uma recompensa por méritos. Se a salvação fosse por obras, um homem como Paulo, com seu passado de perseguição e violência contra a igreja, jamais poderia ser salvo. Ao se colocar como o maior dos pecadores, ele não está apenas se humilhando; ele está elevando a graça de Cristo a um patamar inalcançável por qualquer esforço humano.

A lógica humana sugere que Deus escolheria e escolhe os mais justos, os mais puros. A escolha de Paulo, e sua subsequente confissão, mostra que a graça divina transcende a lógica e a justiça humanas. Deus salva não porque o pecador merece, mas porque Ele é misericordioso.

A confissão de Paulo torna o Evangelho acessível a todos. Se um homem que perseguiu e blasfemou pode ser salvo, então a salvação é possível para o viciado, para o arrogante, para o traidor, e para qualquer pessoa que se sinta indigna. A humildade de Paulo se torna um convite para que todos os pecadores se identifiquem com ele e se voltem para a mesma fonte de misericórdia.

Quem escreveu? Para quem e por quê foi escrita essa carta? Qual era a situação da época?

A carta foi escrita por Paulo a Timóteo. Timóteo era um jovem líder que Paulo deixou em Éfeso para supervisionar a igreja.

A Primeira Epístola a Timóteo é uma das “epístolas pastorais” (junto com 2 Timóteo e Tito). O propósito principal é instruir Timóteo sobre como liderar a igreja, combater falsos ensinamentos, organizar a vida eclesiástica e manter a doutrina correta.

O contexto imediato de 1Timóteo 1.15 é o combate às falsas doutrinas (1Tm 1.3-4). Paulo argumenta contra aqueles que se desviavam do “verdadeiro propósito da Lei” (1Tm 1.5-11), que é expor o pecado. O versículo 15, portanto, é a antítese a esses falsos ensinamentos. Enquanto eles se perdiam em genealogias e “fábulas” (1Tm 1.4), Paulo reafirma a centralidade da mensagem de salvação. Ele prova a verdade do Evangelho com sua própria vida, que é um testemunho da graça de Deus que perdoa os maiores pecadores.

No contexto da igreja de Éfeso, os falsos mestres provavelmente se consideravam mais “espirituais” ou “conhecedores” do que os outros. A mensagem de Paulo é um antídoto direto a essa presunção.

Paulo argumenta que o propósito da Lei é nos mostrar o pecado. Quando alguém tenta viver apenas pela Lei, o resultado é a justiça própria. Essas pessoas se tornam cegas para suas próprias falhas e acabam se perdendo em detalhes secundários (como “fábulas e genealogias”). O versículo 15, em contraste, força o leitor a reconhecer a verdadeira condição humana: somos todos pecadores.

O apóstolo Paulo não está apenas refutando um argumento; ele está oferecendo o caminho da vida. Em vez de uma vida de constante esforço para provar a si mesmo, ele propõe uma vida de confiança e descanso na obra completa de Cristo. A salvação vem pela confiança em Cristo, e não pelo desempenho de obras, por mais nobres que pareçam.

Como este texto se aplica a nós hoje?

O versículo 15 nos desafia a adotar a mesma atitude de Paulo. Em vez de nos compararmos com os outros e nos considerarmos “melhores”, devemos nos reconhecer como pecadores diante de Deus. A salvação não é para aqueles que se consideram dignos, mas para os que, como Paulo, reconhecem sua necessidade desesperada de um Salvador.

A declaração de Paulo de que ele é o “pior dos pecadores” é uma prova poderosa de que a salvação de Cristo é para todos. Ninguém está além do alcance da graça de Deus, não importa quão grande seja o seu pecado. Isso nos encoraja a compartilhar o Evangelho sem medo, sabendo que a salvação de Cristo é suficiente para qualquer um.

O ponto principal do texto é a mensagem cristã sobre Cristo Jesus. Ele é o centro, a razão, o meio e o propósito de toda a nossa fé. O nosso foco não deve estar nas nossas obras, na nossa moralidade ou na nossa justiça própria, mas unicamente na pessoa e na obra de Cristo.

Em resumo, 1Timóteo 1.15 é um dos versículos mais importantes do Novo Testamento. Pois, resume a essência da fé cristã: a salvação é para os pecadores, a graça é demonstrada no perdão do pior deles e a única razão para a nossa esperança é Cristo.

Em um mundo que valoriza a perfeição e o sucesso, é fácil cair na armadilha de fingir que somos mais justos do que somos. A confissão de Paulo nos encoraja a sermos autênticos, a reconhecer nossas fraquezas e a encontrar nossa identidade não em nosso desempenho, mas na graça de Cristo.

Quando reconhecemos que somos tão pecadores quanto qualquer outra pessoa, nossa atitude para com os outros muda. Em vez de julgar, somos levados à compaixão e ao amor. O Evangelho que nos salvou é o mesmo que pode salvar os outros.

A igreja moderna muitas vezes se perde em debates secundários, desviando-se da mensagem principal. Paulo nos lembra que a tarefa central da igreja é proclamar o Evangelho: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”. Esta é a mensagem que transforma vidas e dá esperança.

 

Edson Ronaldo Tressmann

O Reino de Deus nos é oferecido sem merecimento (Lc 18.16-17)

  26 de outubro de 2025 Vigésimo domingo após Pentecostes Salmo 5; Gênesis 4.1-15; 2Timóteo 4.6-8,16-18; Lucas 18.9-17 Texto: Lucas 18...