14
de abril de 2024
Terceiro
Domingo de Páscoa
Salmo
4; Atos 3.11-21; 1João 3.1-7; Lucas 24.36-49
Texto: Salmo 4
Tema: Oração em tempos
de crise.
Sob o tema: Deus, meu defensor recebemos o Salmo De Davi. Escrito para o regente
do coro – para instrumento de cordas.
A expressão “mestre de canto” ou “regente do coro” aparece em 53 dos 150 Salmos.
O Salmo 4 e o Salmo 3 são de Davi. Os títulos são idênticos. Só há uma
mudança no final do Salmo.
Percebe-se como o salmista se dirige a Deus com
intimidade e ousadia.
O regente do coro era o “ministro de louvor” encarregado de preservar os salmos no templo ou
Tabernáculo (1Cr 6.31,32; 15.16-22; 25.1-7).
Robert Hawker (anglicano, 1803-1875) destacou que a palavra hebraica é traduzida
por “mestre de canto”, a
Septuaginta (tradução do hebraico para o grego) optou por Lamenetz em vez de Lamentzoth “para o fim”.
Por esse motivo, os pais gregos e latinos passaram a destacar que todos
os salmos que têm essa inscrição referem-se ao Messias, “o grande final”. Dessa
forma, este salmo é endereçado a Cristo.
A expressão hebraica “negîynâh”
significa “acompanhado por instrumentos de corda”,
referindo-se à harpa e à lira (1Cr 23.5; 25.1,3,6).
Na tradição judaica, a
intensidade da alegria era tal que recorriam à música para expressar os
sentimentos mais profundos de suas almas. O uso da harpa e da lira visa
destacar a adoração a Deus e não apenas uma manifestação emocional.
A referência a instrumentos de cordas com as mãos visa evocar a imagem
poética de que somos instrumentos nas mãos divinas. Como afirmava Gregório de
Nazianzo: “Senhor, sou um
instrumento para tu tocares”.
Davi, autor do salmo, estava enfrentando uma situação delicadíssima em
sua vida: adversidades e ansiedade. E, dessa forma, Davi busca pela justiça de
Deus. Davi busca paz em Deus.
“Ó Deus, defensor dos meus direitos, responde-me quando eu te chamar!
Eu estava em dificuldade, mas tu me ajudaste. Tem misericórdia de mim e ouve a
minha oração” (Sl
4.1).
Um clamor ardente e aflito de Davi: “responde-me”.
“Deus, defensor dos meus direitos” – é uma recordação dos muitos
livramentos de Deus.
“dificuldade, angústia” – situação sem saída. Era como se Davi
estivesse num lugar encurralado. Ideia de uma pessoa num lugar apertado e sem
saída. Isso contrasta com a palavra “alívio” “ajudaste” que traduz um termo
hebraico que transmite o sentido de “lugar espaçoso”. Davi é uma testemunha de Deus em meio a intimidação.
“Homens poderosos, até quando vocês vão me insultar? Até quando amarão
o que não tem valor e andarão atrás de falsidade?” (Sl 4.2)
Palavra dirigida aos que se rebelaram,
proclamando Absalão como rei.
“Homens poderosos” – são os líderes corrompidos por Absalão que desviaram o
povo. Davi conhecia a artimanha de Absalão para enganá-los.
Davi está descontente com o fato de pessoas
terem trocado a verdade de Deus pela mentira. Pessoas que passaram a gostar de
“coisas vazias”.
“Lembrem que o Senhor Deus trata com cuidado especial aqueles que são
fiéis e ele; o Senhor me ouve quando eu o chamo” (Sl 4.3).
Deus cuida de modo especial dos seus. O apostolo
Paulo chega a destacar na carta aos Romanos que da maldade tira o bem para
favorecer os que ama.
“Tremam de medo e parem de pecar. Sozinhos e quietos nos seus quartos,
examinem a sua própria consciência” (Sl
4.4)
Devido as intensas emoções, muitos dos que
seguiam Davi estavam à beira de perder o controle. Por isso, as palavras de
Davi oferecem instruções aplicáveis às situações contemporâneas em que a raiva
nos ameaça.
“Parem de pecar” – cuidado, afinal, a raiva pode levar a palavras e ações
pecaminosas, inclusive homicídio (Mt 5.21-26).
Na carta aos Efésios (Ef 4.26) o apostolo Paulo
cita as palavras idênticas a esse versículo, ressaltando que nem toda ira,
raiva, é pecaminosa. Qual
raiva não é pecado? A chamada raiva santa. A raiva contra o pecado.
“Examinem a sua própria consciência” – é fácil apontar o pecado do
outro e ficar indignado. E os
nossos?
“Consultai com o coração”:
É fácil indignar-se com os pecados alheios enquanto ignoramos os nossos
próprios (Mt 7.1-5). Davi mesmo havia caído nessa armadilha (2Sm 12.1-7). Em
vez de ser consumido pelas atitudes dos outros, devemos fazer uma introspecção,
examinando se há pecados em nosso próprio coração que precisamos confessar.
“Calai-vos”: A
reflexão sincera sobre o nosso coração não deve gerar inquietação, mas sim
levar-nos a confessar nossos pecados ao Senhor.
Ofereçam
sacrifícios como o Senhor exige e ponham a sua confiança nele (Sl
4.5)
Os
sacrifícios não podiam ser oferecidos no deserto, mas era possível fazer
promessas para oferecê-los quando retornassem a Jerusalém. Em contraste,
Absalão ofereceu sacrifícios hipócritas para impressionar o povo, mas Deus não
os aceitou (1Sm 15.12; Salmo 50.14, 15).
A
mensagem de confiança no Senhor (5b) destaca-se. Absalão confiava em sua
liderança, exército, estratégias astutas e popularidade. Essa falta de
confiança condenou seu plano ao fracasso.
Davi,
além de ser um grande rei e estrategista militar, era um pastor amoroso
preocupado com seu povo. Ele desejava que andassem com o Senhor, reconhecendo
que a situação espiritual era mais crucial do que habilidades militares. Sabia
que o Senhor concede vitória àqueles que confiam e obedecem (Salmo 51.16-19).
Há
muitas pessoas que oram assim: “Dá-nos mais bênçãos, ó Senhor Deus, e olha para
nós com bondade” (Sl 4.6)
Os
líderes de Davi comunicaram ao rei as preocupações e desânimo evidentes entre o
povo. A pergunta recorrente era: “Quem nos mostrará o bem?”
Isso expressava o anseio por algo positivo em meio à situação difícil. Davi
percebe a repetição constante dessas palavras de desânimo, criando uma
atmosfera tensa.
Davi
tem uma perspectiva diferente do “bem” desejado. Ele busca o resplendor do
sorriso de Deus sobre ele e seu povo, algo mais profundo do que meras
circunstâncias externas. A referência à bênção sacerdotal em Números 6.24-26
destaca a busca de Davi pelo favor divino.
Mesmo
sem um sacerdote presente, Davi confia que Deus responderá às súplicas do seu
coração. Ele almeja que o Senhor transforme as trevas em luz, substituindo não
apenas a escuridão ao seu redor, mas também o desânimo por alegria.
Esse
desejo reflete, portanto, a compreensão profunda de Davi sobre o que
verdadeiramente constitui um “bem” duradouro.
Mas
a felicidade que pões no meu coração é muito maior do que a daqueles que têm
comida com fartura (Sl 4.7)
É
interessante notar que a alegria experimentada por Davi supera até mesmo a
exuberância associada a ocasiões de festa, como casamentos e colheitas
abundantes entre os israelitas. Isso ressalta que a alegria oriunda da resposta
divina transcende as alegrias terrenas.
Aprendemos
na Bíblia que a alegria proporcionada por Deus é mais profunda e duradoura do
que qualquer contentamento derivado de circunstâncias temporais.
Essa
alegria divina é um tema recorrente nas Escrituras, destacando a riqueza
espiritual que Deus concede àqueles que confiam Nele. Essa alegria representa
não apenas uma mudança nas circunstâncias, mas uma reviravolta no próprio
estado emocional e espiritual de Davi.
Quando
me deito, durmo em paz, pois só tu, ó Senhor, me fazes viver em segurança (Sl
4.8)
Neste
versículo final, Davi expressa seu louvor a Deus pela paz que antecede a
batalha, uma tranquilidade que Deus depositou em seu coração antes mesmo da
luta. Essa paz não é apenas a ausência de conflitos, mas representa uma
plenitude de vida e confiança. Davi reconhece que essa paz é um dom divino, um
descanso proporcionado por Deus, seu escudo protetor.
A
referência ao Senhor como escudo remete à imagem de proteção divina que
acompanha Davi desde os tempos difíceis descritos em outros salmos. Aqui, antes
da batalha, ele encontra repouso sabendo que Deus é seu defensor e guardião. A
paz que antecede a luta é uma evidência da presença e cuidado contínuos de Deus
na vida de Davi.
A
relação próxima entre Davi e Deus é simbolizada por esse sentimento de paz,
onde o coração do salmista está ancorado na confiança do Senhor,
independentemente das circunstâncias externas.
Essa
paz divina é, portanto, um tema recorrente na experiência espiritual de Davi,
destacando a profunda conexão que ele mantém com o seu Deus.
Edson Ronaldo Tressmann
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