sábado, 2 de julho de 2016

Como eu era antes de você!

Como eu era antes de você!

O filme “Como eu era antes de você” estrelado por Emilia Clarke e Sam Claflin traz para o debate não apenas as emoções vividas durante a apresentação do filme. Eu chorei três vezes enquanto assistia o mesmo na sala 2 do Catuaí shopping Maringá no dia 26 de junho de 2016.
Após as fortes emoções vem a reflexão com respeito ao final do filme. E se fosse diferente? Porque não foi diferente?
Bem! Sem querer ser psicólogo, afinal, não é essa a minha área de atuação. No entanto, como teólogo quero dar uma contribuição sobre a minha visão sobre o filme.
Acredito que o filme deseja narrar muito mais que uma bela história de amor. Ele (Will Traynor) que era tão cheio de vida e de sonhos sofre um terrível acidente, decorrente do descuido e pressa do dia-a-dia. Ela, (Louisa) sem muitas ambições, ainda morando com os pais, sua irmã solteira, um sobrinho e seu avó que havia sofrido um derrame. Namora um triatleta que parece mais interessado em seus treinos e conquistas do que na própria Louisa.
Duas vidas que se cruzam por causa da tragédia ocorrida na vida de Will e da necessidade de Louisa em ajudar seus pais financeiramente.
Após o acidente, Will que era um jovem de 35 anos e cheio de vida, tornou-se uma pessoa mal-humorada que apenas esperava a hora da morte. Para ele, o dia do acidente que o levou a ocupar uma cadeira de rodas e sem nenhuma chance clínica de voltar a ter uma dita vida normal, tratava de uma maneira todos que se aproximava dele.
Tudo havia se tornado pequeno e sem graça. Assim, havia resolvido como acabar com isso – pedir ao governo Suíço a realização da eutanásia.
Quando Louisa, moça de uma família tradicional, começa seu trabalho que de acordo com contrato era de apenas seis meses, nem sequer sabe a razão de ser apenas seis meses. Inicialmente pensa que se deve ao mal humor de Will. No entanto, ao descobrir que esse era o tempo que Will havia dado aos seus pais para após o mesmo realizar a eutanásia, Louisa busca de todas maneiras fazer com que Will mude de atitude.
Mas, o que dizer diante de uma pessoa que não está disposta a mudar de ideia? Will já havia resolvido em seu coração e em sua mente que a morte era a melhor alternativa. Louise diz que ainda há tempo e espaço para a vida, para uma boa vida com amor, mesmo em meio ao sofrimento.
A discussão pode tomar contornos diversos. No entanto, quero apenas destacar duas linhas de raciocínio:
- a não aceitação do sofrimento;
- o preconceito que há no próprio sofredor;
O ser humano não aceita o sofrimento desde aquele fatídico dia em que Eva e Adão resolveram querer ser iguais a Deus e o desobedeceram comendo o fruto do conhecimento do bem e do mal.
A igreja cristã proclama que desde a queda em pecado o ser humano sofre as mais variadas consequências do pecado.
O ser humano não aceita o pecado. Assim, não aceita o sofrimento!
O ser humano busca a perfeição, mas não sabe o que é ser perfeito. Perdeu seu estado de perfeição, por isso: pode se questionar, o que é ser ou viver uma vida perfeita?
Será que Will, riquíssimo, podendo viajar para onde quisesse, não tinha uma vida perfeita, apesar de limitada fisicamente? Será que Louisa apesar de ter que trabalhar para ajudar seus pais mas sem posses financeiras não tinha uma vida perfeita? O que será uma vida perfeita?
Essas questões já trazem inúmeras divergências de opiniões.
Quando se busca responder questões intrigantes, principalmente com respeito aos que sofrem e sua possibilidade de poder decidir poder tirar ou não a sua vida, muitos o fazem tendo uma base filosófica ou teológica.
O que vi no filme com muita atenção foi justamente o seu final. O que na verdade implica numa visão filosófica ou teológica da própria autora. Se Will justificou ter direito a tirar sua vida e resolveu deixar uma boa quantia em dinheiro para independência de Louisa, implica que uma vida perfeita é uma vida sã, sem nenhuma deficiência e com poder aquisitivo. E assim, pode-se retornar a questão sobre a real vida perfeita.
Todo ser humano ao lidar com uma questão intrigante leva em consideração o materialismo que prega que o universo é um produto de uma sorte evolucionária; ou se analisa a questão com olhar panteísta com o qual se enxerga o universo como permeado pela energia divina; ou também de maneira deísta, onde se aceita um Criador, porém se nega que este Deus governa ativamente e sustenta a obra de suas mãos.
Além de romântico, o livro ou mesmo o filme: “Como eu era antes de você” nos inquieta espiritualmente e existencialmente.
Diferentemente das visões apesentadas acima, ressalto que em contraste com as mesmas, prefiro permanecer na verdade de que Deus é o que fez o céu e a terra e ser sua criatura é ser dependente dele por toda a vida, seja perfeita ou imperfeita aos nossos olhos, afinal, o que é ter uma vida perfeita? De acordo com o que creio, a vida perfeita está em Cristo, pois para mim “viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1.21).
Se o morrer é Cristo, Will não fez o certo? Daí surge outra questão inquietante.
No entanto, gostaria de destacar conforme o que creio e prego que tudo aquilo que Deus colocou em nossa vida corporal é um presente de Deus. O Deus que abre sua mão para satisfazer os desejos de toda criatura viva (Salmo 145.15-16) é o Senhor de cuja bondade nós dependemos para a própria vida. Deus concede o pão diário, pois sem ele nós morremos. Ele nos usa para sermos “pães diários uns aos outros” (Lutero) e essa foi Louisa na história de Jojo Moyes. Todo cristão esta ciente de que Deus usa seres humanos para prorrogar a morte e estender a vida.
O ponto é que o ser humano ao não aceitar o sofrimento, argumenta que “não quer ser um peso para ninguém.” No entanto, se Deus coloca pessoas como sua máscara para atuar na vida de outras pessoas, ninguém é um peso para ninguém.
Para aqueles que se sentem um peso para outros convém lembrar duas coisas: primeiro: Deus a ama e coloca pessoas em sua vida para que o peso seja amenizado; segundo: cabe ao sofredor, seja deficiente ou não, rebaixar-se a ponto de receber o socorro que lhe é estendido.
Will mostrou seu egoísmo pensando apenas nele mesmo e não nas outras pessoas que desejavam viver ao seu lado até quando de fato não houvesse mais a possibilidade.
Deus só permite haver pessoas que se julgam ser pesos para os outros justamente para dar oportunidade para que outros socorram e apresentem o amor de Deus ao mundo. Afinal, o ser humano é um sem o amor de Deus e outro quando atingido pelo amor de Deus. O cristão, no título do filme pode fazer uma confissão de fé: “Como eu era antes de você”.
A história apresentado no livro por Jojo Moyes e transformado em filme mostra que o mundo tal como está carece de resgate.
É necessário resgatar o amor! Não o amor de uma pessoa para com a outra. O amor próprio. O mandamento de Deus, a segunda tábua composta pelo quarto ao décimo mandamento, diz sobre amar ao próximo como ama-se a si mesmo.
Para isso convém responder: onde está o preconceito? Está na própria pessoa que se diz vítima de preconceito.
Sempre me disse que alguém pobre, feio, não tão inteligente, nascido de sete meses, no interior do Brasil, não poderia chegar a lugar nenhum. Esse era é muitas vezes é o meu preconceito. Não são todos que pensam assim! Mas, meu preconceito me paralisou em muitas ações no passado. Foi preciso superar meu preconceito para poder superar a mim mesmo. Anos mais tarde escrevi no livro da minha autoria “Na Companhia do Sucesso” (Editora Koinonia), que o sucesso está quando não se deixa vencer pelo preconceito pessoal.
Em muitas situações o sofredor não se aceita como de fato é e por não aceitar o sofrimento também não se rebaixa para aceitar aquele que lhe foi enviado por Deus para estender-lhe a mão.
Quando o ser humano considera a vida como pertencendo a si mesmo, então a pessoa agirá como Will Trayner, “é melhor que eu não exista.”
Um ponto a ser considerado é que um defunto não pode escolher viver! Só escolhe viver quem está vivo! E para que todos vivam, Deus em seu amor e misericórdia enviou seu Filho Jesus e continua enviado pessoas para socorrem os necessitados para que o mesmos vivam.

Edson Ronaldo Tressmann

Pastor, Teólogo e palestrante

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