10/07/2016
8º
Domingo após Pentecostes
Sl 41; Lv (18.1-5) 19.9-18;
Cl 1.1-14; Lc 10.25-37
Tema: Jesus, o Bom Samaritano.
O
texto do evangelho de Lucas 10.25-37 traz um diálogo entre um metre da lei e
Jesus. Um diálogo onde se aprende pela postura do mestre da lei, o quanto o ser
humano é mesquinho, soberbo e ignorante na questão da salvação.
O
mestre da lei perguntou a Jesus: - Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
Ao
que Jesus respondeu com outra pergunta: - Que está escrito na lei? Como interpretas?
O
mestre da lei, conhecedor de toda a lei, respondeu: - Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu
entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Jesus,
conhecedor do coração humano, respondeu: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.
O
mestre da lei, que havia sido atingido em seu egoísmo e orgulho, perguntou: Quem é o meu
próximo?
Nesse
diálogo me chama a atenção que o intérprete da lei conhece a lei, mas, não sabe
da prática da lei. “Quem é o meu próximo?”
Essa
pergunta revela toda a soberba do mestre da lei. Ele responde que a lei
prescreve o amor a Deus e ao próximo. No entanto, sua pergunta é somente sobre
“Quem é próximo?”
Como mestre da lei julgava-se alguém conhecedor de quem era Deus. A pergunta
sobre quem era o seu próximo parece indicar que o mestre da lei sabia quem era
Deus. Sua pergunta não foi “Quem é Deus?”
ou “Como é Deus?”
Mas,
o mestre da lei não sabia quem era Deus, no sentido de como era Deus. O mestre
da lei não conhecia a misericórdia e o amor de Deus. O intérprete da lei, bem
como todos os intérpretes da lei, cometem o mesmo equívoco, imaginam obter a
vida eterna por meio do cumprimento da lei. E pela de acordo com a lei, aquele
intérprete queria saber quem era o seu próximo. Ele não queria falhar de
maneira nenhuma no cumprimento da lei.
O diálogo entre o intérprete da lei e Jesus
é riquíssimo. Traz muitos ensinamentos e num sermão apenas não se consegue
esgotar o assunto. Mas, o pouco que aprender, já será em si, um enorme
aprendizado.
Um dos objetivos de Lucas era
apresentar Jesus, sua vida, suas atividades, as características pessoais, em
meio à multiplicidade de situações religiosas, políticas e sociais em que se
desenvolve o drama humano.
E
todo drama humano é justamente saber “o que fazer para herdar a vida eterna?”
A
pergunta de Jesus “o que está escrito na lei? Como interpretas?”
visa uma reflexão para que o intérprete chegue a uma resposta satisfatória.
Afinal, saber o que está escrito na lei, muitos sabem, mas a questão chave é: “como
interpretas?”
Bem,
os intérpretes da lei afirmam que, viverá aquele que viver segundo
a lei. Durante o mês de junho, tivemos o privilégio de ouvir e
acompanhar a interpretação da epístola de Paulo aos Gálatas. Essa epístola
ensina que “todos
quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está
escrito: Maldito aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro
da lei, para praticá-las. É evidente que, pela lei, ninguém é justificado
diante de Deus, porque o
justo viverá pela fé” (Gl 3.10-11).
Ninguém
consegue cumprir a lei! Ao observar essa verdade, o intérprete que dialogou
com Jesus, querendo se justificar, pergunta: “Quem é o meu próximo?” Uma
pergunta que expressa, “perdoe-me Senhor, se eu estou equivocado, mas, se estão
agindo contra a lei é porque ela não me diz quem é o meu próximo”.
Os
samaritanos é um povo cuja origem é uma mistura de povos da Assíria e outras
regiões com os israelitas. Essa mistura, os samaritanos, desejaram se unir aos
judeus quando esses voltaram do exilio babilônico, mas Zorobabel e Neemias não
concordaram (Ed 4.2-3; Ne 2.19-20). Desse exato momento em diante a inimizade
entre os samaritanos, mistura de israelitas com povos da Assíria e outras
regiões, e os judeus se tornou evidente.
Jesus
também sentiu na própria pele a rejeição. Foi rejeitado pelos samaritanos seis
meses antes de sua crucificação (Lc 9.52-53). Uma inimizade entre povos que
ultrapassou séculos. Há um dito popular que reza: “Rejeição gera rejeição!”
Notícias de terrorismo revelam a rejeição retribuída com rejeição.
Jesus
foi rejeitado, por samaritanos (Lc 9.52-53) e por judeus (Jo 1.11). Mas, não
agiu com indiferença e rejeição.
A
pergunta de Jesus “o que está escrito na lei? Como interpretas?”
era conhecida por Jesus. Ele sabia que tanto a interpretação dos judeus de amor
ao próximo bem como a prática desse amor se estendia apenas aos israelitas e
estrangeiros estabelecidos em Israel. Mesmo assim se vangloriavam de cumprir a
lei.
A
pergunta de Jesus “o que está escrito na lei? Como interpretas?”
visa revelar a todos que o rigor e a hipocrisia do supostamente cumprimento da
lei apenas os estava afastando de Deus. A pergunta sobre quem seria seu próximo
já mostrava o não cumprimento da lei. Mas, acima disso, revela que no seu
íntimo, não conheciam a Deus.
Enquanto
que o intérprete da lei tinha como objetivo apenas se vangloriar, Jesus o
conduz a reflexão de que não cumpriam a lei de fato e de verdade. O mestre da
lei desejava ser elogiado por Jesus como alguém que de fato conhecia e vivia de
acordo com a lei. Mas, a sua interpretação estava equivocada e Jesus mostrou a
ele que estava sendo maldito, pois “...Maldito aquele que não permanece em todas as
coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las...” (Gl 3.10).
Lucas,
o médico, ao apresentar Jesus para Teófilo deseja mostrar que o Salvador veio
para resolver o maior drama humano: “O que fazer para herdar a vida eterna?”.
Essa
pergunta continua sendo feita por milhares de pessoas. Para essas, Jesus
responde com outra pergunta: “O que está escrito na Lei? Como interpretas?”
E o livro da lei responde: “Santo sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”
(Lv 19.2). Explico:
só pode ser santo quem conhece o Deus santo. Sem ser filho ou filha de Deus,
não há possibilidade de ser santo. As palavras da Lei são ditas aos filhos
redimidos de Deus. Ou seja, aqueles que haviam passado pela libertação da
escravidão do Egito. Como filhos livres, viveriam sua liberdade em todos os
lugares e em todas as situações e com qualquer pessoa.
A
lei não me salva, a lei me conduz a minha real situação: Pecador perdido e condenado. Diante dessa
constatação é preciso que a boa notícia do evangelho a qual anuncia que “Cristo nos
resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar”
(Gl 3.13), seja proclamada.
Jesus é o bom samaritano que veio ao nosso encontro. A lei
pronunciada pelo sacerdote e pelo levita não foram capazes de levá-los a
socorrer o necessitado que fazia parte do seu povo e que conforme a lei deveria
ser socorrido. Veio alguém odiado, rejeitado que cumpriu lei em lugar daqueles
que a deveriam cumprir.
Em
Jesus fomos socorridos por Deus, “...Deus amou o mundo de tal maneira que deu o
seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna” (Jo 3.16). Amém!
M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann
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