segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Honrados em administrar as coisas de Deus!


Décimo quinto domingo após Pentecostes!
Salmo 113; Amós 8.4-7; 1Timóteo 2.1-15; Lucas 16.1-15
Texto para prédica: Lucas 16.1-5
Tema para prédica: Honrados em administrar as coisas de Deus!
  
Jesus é um verdadeiro contador de histórias. Histórias que ensinam e instruem. E a parábola do administrador infiel (Lucas 16) é escatológica, ou seja, trata sobre um assunto dos fins dos tempos.
No capítulo 15 e 16, Lucas narra parábolas contadas por Jesus. Havia três tipos de ouvintes. Primeiro: cobradores de impostos e pessoas de má fama. Segundo: os discípulos. Esses desejavam ouvir e aprender de Jesus. Terceiro: os fariseus e os mestres da lei. Esses apenas ouviam com o objetivo de criticar Jesus. E a crítica estava atrelada ao fato de Jesus acolher pessoas que eram mal vistas na sociedade.
Ao contar as parábolas, da ovelha e da moeda perdida, do filho pródigo, do administrador desonesto, do rico e de Lázaro, da viúva e do juiz, do fariseu e do publicano, Jesus se apresenta como o enviado de Deus para buscar o perdido. Com essas histórias, Cristo está comunicando que cada pecador desesperado pode se agarrar na única alternativa que o salva: na misericórdia divina.
Ao contar a parábola do administrador desonesto, Jesus destaca que esse homem adquiriu riquezas ilicitamente. A lei judaica proibia e proíbe cobrar juros sobre empréstimos. Esse homem, além dos juros, superfaturava de 20% a 50% as taxas de juros sobre o trigo e o azeite de oliva. A lei judaica dizia que essa prática era cúmulo da injustiça.
O administrador, pelo sua atitude, ressaltada por Jesus de inteligente, era conhecedor da lei judaica. Por ser conhecedor da lei de Deus, o administrador sabia o rigor que a administração exigia dele e quais eram suas responsabilidades como administrador. A maior de todas era justamente a fidelidade no gerenciamento. E, é justamente nesse ponto que a parábola enfatiza a observação do patrão: Eu andei ouvindo umas coisas a respeito de você. Agora preste contas da sua administração porque você não pode mais continuar como meu administrador.” (Lc 16.2).
O administrador temeu, pois seu patrão conhecia a verdade. E é justamente nessa situação que o administrador desonesto descobre a maior de todas as virtudes do seu patrão. O administrador deveria ter sido preso imediatamente e não ter mais acesso às contas do patrão. No entanto, o patrão o deixa livre.
Por esse ato, o administrador percebe a misericórdia do patrão. E nessa misericórdia, arrisca todas as suas chances. Sem que os outros saibam que havia sido despedido, chama cada um dos devedores e reduz os juros das dívidas, ou melhor, retirando as taxas indevidas. Fez isso com o objetivo de ser recebido posteriormente na casa desses empreiteiros como forma de gratidão pela seu suposto ato.
Reduzir as dívidas, alguns casos em até 50%, levou muitos a comemorar. Houve uma festa de gratidão na vila em resposta a imensa bondade do patrão.
O fato era que por ter sido despedido, o administrador não poderia dar tal ordem e nem sequer os devedores podiam assinar qualquer contrato. Mas, o administrador agarrou-se na misericórdia do patrão que o deixou livre e é elogiado por sua perspicácia.
Quem diria, Jesus elogiar um ato de corrupção. A pergunta que muitos se fazem é o motivo desse elogio.
O patrão em sua misericórdia permitiu que o administrador ficasse solto e com liberdade para agir. Agora, o patrão tinha duas alternativas diante do acontecido. Primeiro: voltar-se aos devedores e dizer que o administrador havia sido despedido dias antes e seus descontos não eram válidos e a dívida permanecia como antes. E expor o administrador a um grande vexame. Ou, segundo: ficar em silêncio, aceitar a gratidão daquelas pessoas que haviam recebido perdão de boa parte de suas dívidas.
Os devedores perdoados louvavam ao patrão pela sua generosidade. No Oriente Médio, a maior qualidade de um nobre é sua generosidade, sua misericórdia.
O objetivo do administrador foi um sucesso. Foi perspicaz e ao mesmo tempo, agarrou-se na misericórdia do patrão. Nesse sentido, pela esperteza do administrador, Jesus destaca: “as pessoas deste mundo são muito mais espertas nos seus negócios do que as pessoas que pertencem a luz” (Lc 16.8).
O termo “espertasesperto” – em sua etimologia transmite a ideia de “instinto de autopreservação.
O instinto e a necessidade de auto preservação que leva o administrador a agir. O administrador disse para si mesmo. Como vou viver agora, afinal, “não tenho forças para cavar a terra e tenho vergonha de pedir esmola,” (Lc 16.3). Preciso me auto preservar! E para sua auto preservação, agarrou-se onde poderia se agarrar naquele momento.
As pessoas querem se auto preservar. O que um ser humano é capaz de fazer para se auto preservar?
Para sua autopreservação as pessoas deste mundo são espertas, inteligentes e perspicazes. E dessa forma, ao ressaltar que “as pessoas deste mundo são muito mais espertas nos seus negócios do que as pessoas que pertencem a luz” (Lc 16.8), Jesus está enfatizando que muitos dos críticos, ou seja, fariseus e escribas, se auto preservavam diante das pessoas, mas, não estavam se auto preservando diante de Deus. Por essa razão, “Jesus disse a eles: Para as pessoas vocês parecem bons, mas Deus conhece o coração de vocês. Pois aquilo que as pessoas acham que vale muito não vale nada para Deus” (Lc 16.15).
Gostamos de nos apresentar bem diante dos homens e muitas vezes, vivemos uma falsa religiosidade. Ou melhor, nos escondemos atrás das nossas máscaras.
A parábola apresentada por Lucas é escatológica. Trata sobre o fim dos tempos. Em outras palavras, somos denunciados como pessoas que desfrutam dos bens de Deus (v.1). Como os estamos gerenciando?
É preciso que compreendamos que as vocações pertencem a esse mundo. Elas nos foram concedidas para serem direcionadas ao próximo. Em nossas vocações, não estamos nos voltando à Deus, mas, nos inclinando ao nosso próximo. Exercer nossa vocação é continuar na obra criadora de Deus. No batismo, Deus o autor do mesmo, nos vocacionou para amar e servir ao próximo onde estivermos (Gustav Wingren, Luther on Vocation).
Somos mordomos das coisas criadas para preservar a criação. O mordomo é alguém que administra os bens de outra pessoa. A pessoa não possui esses bens, mas tem o privilégio de desfrutá-los e usá-los em benefício do próximo. É necessário ouvir atentamente a palavra de Deus mediante o profeta Amós: “Escutem, vocês que maltratam os necessitados e exploram os humildes aqui neste país. Vocês dizem: “Quem dera que a festa da Lua Nova já tivesse terminado para que pudéssemos voltar a vender os cereais! Como seria bom se o sábado já tivesse passado! Aí começaríamos a vender trigo de novo, cobrando preços bem altos, usando pesos e medidas falsos e vendendo trigo que não presta. ...” (Am 8. 4-6a).
Como estamos administrando o que temos recebido de Deus, em favor do próximo?
O ladrão diz: o que é seu é meu, passe para cá. O egoísta exclama: o que é meu, é meu, fico com tudo. O cristão, mordomo responsável ressalta que o que é meu é uma dádiva de Deus, vou compartilhá-la.
O apostolo Pedro, escreveu aos cristãos que estavam vivendo em fuga constante devido as perseguições: “Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use o seu próprio dom para o bem dos outros!” (1Pe 4.10).
Se porventura, estamos negligenciando nossas vocações e deixando de socorrer nosso próximo, é preciso agarrar-se na única coisa que nos auxiliará: a misericórdia daquele que nos dá todas as coisas para administrarmos. As parábolas do filho pródigo, do fariseu e do publicano e do administrador infiel, anunciam a necessidade que temos de nos agarrar na misericórdia divina para nossa preservação. Afinal, como pecadores, nas coisas deste mundo usamos a oportunidade com sabedoria para nos preservar.
Jesus anuncia que tanto o filho esbanjador, quanto o administrador desonesto traem a confiança que foi depositada neles. Ambos, o esbanjador e o desonesto, não apresentaram desculpas. Reconheceram seus erros e se agarraram no único lugar que lhes era possível agarrar: na misericórdia do pai e do patrão.
Deus é misericordioso! Em seu filho veio ao nosso encontro e nos resgatou.
Ao nos presentear com a fé, quer seja pelo Batismo ou Pregação, nos coloca numa posição de mordomos dentro do seu reino e por isso, nos faz três admoestações (Lc 16.9-13). Primeiro: usar as oportunidades que temos para servir ao próximo com alegria (Lc 16.9); Segundo: sermos fiéis no uso daquilo que administramos (Lc 16.10-12); Terceiro: dedicar-se com firmeza em nossos propósitos (Lc 16.13; Mt 6.19-24).
Para terminar vale lembrar que ao sermos colocados como administradores das coisas de Deus nesta vida, somos honrados pela oportunidade de continuar agindo na criação de Deus que está aí para que o próximo seja abençoado, assim como nós somos abençoados. Amém!

Edson Ronaldo Tressmann

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