Décimo quinto domingo após Pentecostes!
Salmo 113; Amós 8.4-7; 1Timóteo
2.1-15; Lucas 16.1-15
Texto para prédica: Lucas 16.1-5
Tema para prédica: Honrados em administrar as coisas de Deus!
Jesus é um verdadeiro contador de
histórias. Histórias que ensinam e instruem. E a parábola do administrador
infiel (Lucas 16) é escatológica,
ou seja, trata sobre um assunto dos fins dos tempos.
No
capítulo 15 e 16, Lucas narra parábolas contadas por Jesus. Havia três tipos de
ouvintes. Primeiro: cobradores de impostos e pessoas de má fama. Segundo: os
discípulos. Esses desejavam ouvir e aprender de Jesus. Terceiro: os fariseus e os mestres da
lei. Esses apenas ouviam com o objetivo de criticar Jesus. E a crítica estava
atrelada ao fato de Jesus acolher pessoas que eram mal vistas na sociedade.
Ao
contar as parábolas, da ovelha e da moeda perdida, do filho pródigo, do
administrador desonesto, do rico e de Lázaro, da viúva e do juiz, do fariseu e
do publicano, Jesus se apresenta como o enviado de Deus para buscar o perdido. Com
essas histórias, Cristo está comunicando que cada pecador desesperado pode se agarrar
na única alternativa que o salva: na misericórdia divina.
Ao contar a parábola do administrador
desonesto, Jesus destaca que esse homem adquiriu riquezas ilicitamente. A lei judaica proibia e proíbe cobrar
juros sobre empréstimos. Esse homem, além dos juros, superfaturava de 20% a 50%
as taxas de juros sobre o trigo e o azeite de oliva. A lei judaica dizia que
essa prática era cúmulo da injustiça.
O
administrador, pelo sua atitude, ressaltada por Jesus de inteligente, era conhecedor
da lei judaica. Por ser conhecedor da lei de Deus, o administrador sabia o rigor
que a administração exigia dele e quais eram suas responsabilidades como
administrador. A maior de todas era justamente a fidelidade no gerenciamento. E,
é justamente nesse ponto que a parábola enfatiza a observação do patrão: “Eu andei ouvindo umas coisas a respeito de você. Agora
preste contas da sua administração porque você não pode mais continuar como meu
administrador.” (Lc 16.2).
O
administrador temeu, pois seu patrão conhecia a verdade. E é justamente nessa
situação que o administrador desonesto descobre a maior de todas as virtudes do
seu patrão. O administrador deveria ter sido preso imediatamente e não ter mais
acesso às contas do patrão. No entanto, o
patrão o deixa livre.
Por esse
ato, o administrador percebe a misericórdia do patrão. E nessa misericórdia, arrisca
todas as suas chances. Sem que os outros saibam que havia sido despedido, chama
cada um dos devedores e reduz os juros das dívidas, ou melhor, retirando as
taxas indevidas. Fez isso com o objetivo de ser recebido posteriormente na casa
desses empreiteiros como forma de gratidão pela seu suposto ato.
Reduzir
as dívidas, alguns casos em até 50%, levou muitos a comemorar. Houve uma festa
de gratidão na vila em resposta a imensa bondade do patrão.
O
fato era que por ter sido despedido, o administrador não poderia dar tal ordem
e nem sequer os devedores podiam assinar qualquer contrato. Mas, o
administrador agarrou-se na misericórdia do patrão que o deixou livre e é elogiado
por sua perspicácia.
Quem
diria, Jesus elogiar um ato de corrupção. A pergunta que muitos se fazem é o
motivo desse elogio.
O
patrão em sua misericórdia permitiu que o administrador ficasse solto e com
liberdade para agir. Agora, o patrão tinha duas alternativas diante do
acontecido. Primeiro: voltar-se aos devedores e
dizer que o administrador havia sido despedido dias antes e seus descontos não
eram válidos e a dívida permanecia como antes. E expor o administrador a um grande
vexame. Ou, segundo:
ficar em silêncio, aceitar a gratidão daquelas pessoas que haviam recebido
perdão de boa parte de suas dívidas.
Os
devedores perdoados louvavam ao patrão pela sua generosidade. No Oriente Médio,
a maior qualidade de um nobre é sua generosidade, sua misericórdia.
O objetivo
do administrador foi um sucesso. Foi perspicaz e ao mesmo tempo, agarrou-se na
misericórdia do patrão. Nesse sentido, pela esperteza do administrador, Jesus destaca:
“as
pessoas deste mundo são muito mais espertas nos seus negócios do que as pessoas
que pertencem a luz” (Lc 16.8).
O
termo “espertas”
– “esperto” – em sua etimologia transmite a
ideia de “instinto
de autopreservação.”
O
instinto e a necessidade de auto preservação que leva o administrador a agir. O
administrador disse para si mesmo. Como vou viver agora, afinal, “não tenho forças para cavar a terra
e tenho vergonha de pedir esmola,” (Lc 16.3). Preciso me auto preservar!
E para sua auto preservação, agarrou-se onde poderia se agarrar naquele momento.
As pessoas
querem se auto preservar. O que um ser humano é
capaz de fazer para se auto preservar?
Para
sua autopreservação as pessoas deste mundo são espertas, inteligentes e
perspicazes. E dessa forma, ao ressaltar que “as pessoas deste mundo são muito
mais espertas nos seus negócios do que as pessoas que pertencem a luz”
(Lc 16.8), Jesus está enfatizando que muitos dos críticos, ou seja, fariseus e
escribas, se auto preservavam diante das pessoas, mas, não estavam se auto preservando
diante de Deus. Por essa razão, “Jesus disse a eles:
Para as pessoas vocês parecem bons, mas Deus conhece o coração de vocês. Pois
aquilo que as pessoas acham que vale muito não vale nada para Deus”
(Lc 16.15).
Gostamos
de nos apresentar bem diante dos homens e muitas vezes, vivemos uma falsa
religiosidade. Ou melhor, nos escondemos atrás das nossas máscaras.
A
parábola apresentada por Lucas é escatológica. Trata sobre o fim dos tempos. Em
outras palavras, somos denunciados como pessoas que desfrutam dos bens de Deus
(v.1). Como os estamos gerenciando?
É preciso
que compreendamos que as vocações pertencem a esse mundo. Elas nos foram concedidas para serem direcionadas ao próximo. Em nossas vocações, não estamos nos voltando à
Deus, mas, nos inclinando ao nosso próximo. Exercer nossa vocação é continuar na
obra criadora de Deus. No batismo, Deus o autor do mesmo, nos vocacionou para
amar e servir ao próximo onde estivermos (Gustav Wingren, Luther on Vocation).
Somos
mordomos das coisas criadas para preservar a criação. O mordomo é alguém que administra
os bens de outra pessoa. A pessoa não possui esses bens, mas tem o privilégio
de desfrutá-los e usá-los em benefício do próximo. É necessário ouvir atentamente a palavra de Deus
mediante o profeta Amós: “Escutem, vocês que maltratam os necessitados e exploram
os humildes aqui neste país. Vocês dizem: “Quem dera que a festa da Lua Nova já
tivesse terminado para que pudéssemos voltar a vender os cereais! Como seria
bom se o sábado já tivesse passado! Aí começaríamos a vender trigo de novo,
cobrando preços bem altos, usando pesos e medidas falsos e vendendo trigo que não
presta. ...” (Am 8. 4-6a).
Como estamos administrando o que temos recebido de Deus, em
favor do próximo?
O ladrão diz: o que é seu é meu, passe para cá. O egoísta exclama: o que é meu, é meu, fico com tudo. O
cristão, mordomo responsável
ressalta que o
que é meu é uma dádiva de Deus, vou compartilhá-la.
O
apostolo Pedro, escreveu aos cristãos que estavam vivendo em fuga constante devido
as perseguições: “Sejam bons
administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use o
seu próprio dom para o bem dos outros!” (1Pe 4.10).
Se
porventura, estamos negligenciando nossas vocações e deixando de socorrer nosso
próximo, é preciso agarrar-se na única coisa que nos auxiliará: a misericórdia
daquele que nos dá todas as coisas para administrarmos. As parábolas do filho pródigo,
do fariseu e do publicano e do administrador infiel, anunciam a necessidade que
temos de nos agarrar na misericórdia divina para nossa preservação. Afinal,
como pecadores, nas coisas deste mundo usamos a oportunidade com sabedoria para
nos preservar.
Jesus
anuncia que tanto o filho esbanjador, quanto o administrador desonesto traem a
confiança que foi depositada neles. Ambos, o esbanjador e o desonesto, não apresentaram
desculpas. Reconheceram seus erros e se agarraram no único lugar que lhes era possível
agarrar: na misericórdia do pai e do patrão.
Deus
é misericordioso! Em seu filho veio ao nosso encontro e nos resgatou.
Ao nos
presentear com a fé, quer seja pelo Batismo ou Pregação, nos coloca numa posição
de mordomos dentro do seu reino e por isso, nos faz três admoestações (Lc 16.9-13).
Primeiro: usar as oportunidades que
temos para servir ao próximo com alegria (Lc 16.9); Segundo:
sermos fiéis no uso daquilo que administramos (Lc 16.10-12); Terceiro: dedicar-se com firmeza em nossos
propósitos (Lc 16.13; Mt 6.19-24).
Para
terminar vale lembrar que ao sermos colocados como administradores das coisas
de Deus nesta vida, somos honrados pela oportunidade de continuar agindo na
criação de Deus que está aí para que o próximo seja abençoado, assim como nós somos
abençoados. Amém!
Edson Ronaldo Tressmann
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