Texto:
Jó 29.15
Tema:
Empatia e Apatia diante da Deficiência física
Por Edson Ronaldo TREssmann
Dia 21 a 28 de agosto é a semana
nacional da Pessoa com deficiência. Convém refletir sobre o tema.
Historicamente, as pessoas com
deficiência foram excluídas e discriminadas na sociedade.
Na Antiguidade Clássica, as crianças que
nasciam com alguma limitação eram abandonadas ou sacrificadas. Antiguidade Na
Roma antiga, se as pessoas com deficiência não eram sacrificadas, podiam ser
utilizadas para fins de prostituição ou de entretenimento de pessoas ricas.
Séc.
IV
A partir do século IV, as pessoas com
deficiência passaram a ser internadas em instituições asilares voltadas para os
marginalizados sem atendimento específico.
Séc.
XI - XII
Entre os séculos XI e XII, as
incapacidades físicas e os problemas mentais eram considerados sinais da ira
divina, tachados como “castigo de Deus”.
Séc.
XII- XIII
Somente nos séculos XVII e XVIII teve
início a valorização das pessoas com deficiência, com a criação dos primeiros
métodos de aprendizagem específicos para este público, como o Sistema Braille e
a leitura labial.
Séc
XIX
Com a revolução industrial, passou-se a
valorizar a formação de cidadãos produtivos e do aumento da mão de obra;
pessoas com deficiência passaram a ser compreendidas como possibilidade de mão
de obra.
Séc.XX
No período pós primeira e segunda
Guerras Mundiais desenvolveram-se programas de reabilitação para os ex
combatentes, que voltavam das batalhas com mutilações e outras deficiências.
Até metade do século XX (1950), o
atendimento da pessoa com deficiência passou a ser realizado nas escolas
especiais e/ou nas classes especiais das escolas regulares.
Em 1960 foram realizados os primeiros
jogos paraolímpicos.
Após a década de 90, foram formuladas as
principais legislações específicas para as pessoas com deficiência, que
preconizam a sua inclusão na sociedade, por meio da igualdade de oportunidades.
O termo “inválido”, no sentido de
inútil e sem valor profissional, foi o primeiro termo empregado para se referir
às pessoas com deficiência.
As pessoas com deficiência não devem ser
tratadas por termos que denotem sentimento de pena ou de compaixão, pois elas
são, acima de tudo, pessoas com talentos, aptidões e defeitos, como qualquer
outra.
Na década de 20, acreditava-se que as
pessoas com deficiência apresentavam capacidade reduzida e por esse motivo
utilizava-se o termo “incapacitado” para se referir a elas.
Entre as décadas de 60 e 80, as
expressões adotadas foram “deficientes” e “excepcionais”, pois as pessoas com
deficiência eram consideradas menos eficientes e diferentes das demais.
Em 1988, surge a expressão “pessoa
portadora de deficiência”. Essa expressão foi duramente criticada, uma vez que
só se porta algo que se pode deixar de portar e a deficiência é uma condição
inata ou adquirida que faz parte da pessoa e que não pode ser abandonada.
Na década de 90, passou-se a utilizar
“pessoas com necessidades especiais”, termo que denotava a necessidade de
adaptações às dificuldades e incapacidades das pessoas com deficiência. No
entanto, absolutamente todas as pessoas, com ou sem deficiência, podem ter
“necessidades especiais” em dado momento das suas vidas. Podemos citar uma
gestante ou um idoso que podem precisar de algumas adaptações na sua rotina de
atividades.
A partir de 2009, a terminologia “pessoa
com deficiência” foi promulgada pela Convenção Internacional sobre os Direitos
da Pessoa com Deficiência da ONU e passou a ser adotada até hoje. Esse termo
tem associado um certo empoderamento, uma vez que pressupõe o uso do poder
pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e assumir o controle da situação de
vida de cada um.
O
QUE É DEFICIÊNCIA?
Pessoas com deficiência são aquelas que
têm impedimentos, de longo prazo, de natureza física, intelectual, mental ou
sensorial, os quais, em interação com uma ou mais barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas.
As deficiências podem ter origem
genética e surgir no período de gestação, em decorrência do parto ou nos
primeiros dias de vida do bebê. Na vida adulta, podem ser consequência de
doenças transmissíveis ou crônicas, perturbações psiquiátricas, desnutrição,
abusos de drogas, traumas e lesões.
As deficiências adquiridas, além de
causadas por sequelas de doenças, podem ser provocadas também por acidentes. Os
de trânsito estão entre as principais causas de deficiência física em pessoas
adultas no mundo.
QUAIS
OS TIPOS DE DEFICIÊNCIA?
Podem ser classificadas de acordo com a
área específica que afetam no organismo.
DEFICIÊNCIA AUDITIVA
DEFICIÊNCIA VISUAL
DEFICIÊNCIA FÍSICA
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
DEFICIÊNCIA PSICOSSOCIAL OU POR SAÚDE
MENTAL
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
O termo “deficiência física” não
deve ser generalizado e englobar qualquer tipo de deficiência (auditiva,
visual, intelectual, psicossocial/mental ou múltipla), pois cada uma delas tem
as suas especificidades.
Evite generalizações para se referir à
pessoa com deficiência. Por exemplo, dizer que toda pessoa com síndrome de Down
tem talento artístico ou toda pessoa com deficiência visual tem audição
apurada. Nem todo cego sabe ler braille. Nem todo surdo sabe Libras.
Por isso, as palavras de Jó são tão
impactantes: “Eu era
olhos para os cegos e pés para os aleijados” (Jó 29.15).
Destacamos as palavras de Tiago, a fé
sem obras é coisa morta (Tg 2.17).
A igreja precisa ser empática – sentir o
que o outro sente. Mas, essa igreja enfrenta o problema de ter entre seus
pares, pessoas apáticas – não sentem a dor dos outros.
Em Cafarnaum, entre tantas pessoas que
interditavam a casa e sua entrada, 4
amigos foram empáticos e foram em busca do socorro subindo no telhado com
àquele paralitico (Mc 2.1-5).
Temos aqui, muitas pessoas apáticas,
querendo ouvir. E quatro empáticos que sentiram a dor do outro e foram em busca
de socorro.
A deficiência física como tal, nos textos do AT, exigem um
respeito total à dignidade da pessoa com qualquer deficiência que seja. O
respeito e dignidade do deficiente está intimamente ligada à ideia de temor a
Deus.
Se o mais fraco, por causa da sua limitação, não incute medo,
temor ou respeito, você deve temer a Deus, que está do seu lado e o defende, já
que ele não tem como fazê-lo. Ouça: “Não amaldiçoes o surdo, nem
ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR”
(Lv 19.14).
O texto hebraico parece dizer: terás medo é do teu Deus. O deficiente visual ou
auditivo não pode cobrar tua falta de respeito, não te ouve e nem vê o que
fazes, mas o teu Deus está aí em defesa deles. Deus é defensor dos fracos; por
isso é a ele que deves temer, respeitando a dignidade da pessoa com deficiência.
Davi tinha empatia. Tanto que (2Sm 9.13) sustentou até o fim
da vida o neto de Saul, Meribaal, que, quando criança, tinha caído e quebrado
as pernas, ficando deficiente.
Os muitos relatos bíblicos nos evangelhos e Atos dos Apóstolos
mostram a compaixão de Jesus, de seus discípulos pelo povo sofredor. A igreja
quando reflete sobre a pessoa com deficiência é convidada a ser empática, mesmo
que muitos sejam apáticos.
As pessoas com
deficiência eram vistas em Israel como pessoas desprotegidas, as quais, em um
dado momento da história deveriam ter suas situações redimidas.
Quero terminar ressaltando uma simples
frase que aparece em João 11.44: “E o morto
saiu. Os seus pés e as suas mãos estavam enfaixados com tiras de pano, e o seu
rosto estava enrolado com um pano. Então Jesus disse: Desenrolem as faixas e
deixem que ele vá” (Jo 11.44).
É muito estranha essa frase, ou, muito
instrutiva.
O morto saiu com as mãos e os pés amarrados, enquanto seu rosto
era envolvido pelo sudário. Onde já se
viu morto sair de mãos e pés atados e, ainda, com o rosto totalmente coberto,
enrolado por um pano?
Bem! Quero apenas dizer que milhares de pessoas estão com as
mãos e pés atados, incapazes de se mover e de agir, com o rosto totalmente
coberto, sem enxergar, sem ouvir, sem perceber, sem possibilidade de falar, sem
cara reconhecível, sem identidade. O que
estamos fazendo? Agindo com empatia
ou apatia?
Jesus diz uma coisa aos discípulos de então e a nós: Desamarrai-o e deixai-o ir! Ou, seja como Jó: “olhos para os cegos e pés para os aleijados”
(Jó 29.15).
Amamos por que Cristo nos amou primeiro (1Jo 4.19). Jesus,
por sua empatia a nossa deficiência suportou a morte, morte de cruz (Fp 2).
Amém!
Edson Ronaldo TREssmann
Bibliografia
Coleção Paraná Inclusivo. Volume I. Conhecendo a pessoa com deficiência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por seguir esse blog. Com certeza será uma bênção em sua vida.