domingo, 26 de outubro de 2025

Mas agora ... (Rm 3.21)

 31 de outubro de 2025

Salmo 46; Apocalipse 14.6-7; Romanos 3.19-28; João 8.31-36

508 anos da Reforma Luterana

Texto: Romanos 3.19−28

Tema: Mas agora ...

 

Nesse dia, apesar de especial, não celebramos um homem, Martinho Lutero. Não celebramos uma divisão, católicos e nós.

A celebração é a redescoberta gloriosa da verdade central do Evangelho. O Evangelho havia sido obscurecida por tradições e práticas humanas da igreja da época.

Não era apenas Martinho Lutero, todas as pessoas se angustiavam pela pergunta atormentadora: Como eu, um pecador, posso ser justo diante de um Deus santo?

Martinho Lutero e muitas pessoas da sua época, buscava a paz em penitências, obras e méritos. E, por mais que realizavam boas obras, penitências, por mais que adquirissem indulgências, muito mais as suas almas se angustiavam sem saber se já haviam feito o necessário. Mesmo realizando atos e mais atos, mais Deus parecia ser cruel e sempre disposto a punir. A busca por justiça própria era uma prisão.

Como eu, um pecador, posso ser justo diante de um Deus santo?

Essa dúvida era tão angustiante que, em meio a uma tempestade e com medo de morrer, Martinho Lutero prometeu ingressar no convento se Santa Ana o livrasse daquela tormenta. E, Lutero abandonou a faculdade de Direito, o sonho do seu pai e ingressou no Mosteiro para cumprir sua promessa decorrente do medo e da angústia.

Lutero ingressou no mosteiro agostiniano em Erfurt no ano 1505 e após 19 anos, aluno, sacerdote e professor, iniciou o movimento que visava levar o Evangelho para as pessoas.

Martinho Lutero nunca quis que as pessoas fossem luteranas, seu desejo era que as pessoas conhecessem o evangelho. Essa precisa continuar sendo a nossa premissa: que as pessoas conheçam o evangelho.

Nos anos de 1515 e 1516, Lutero lecionou em Wittenberg sobre a carta aos Romanos, e esboçando definições profundas sobre conceitos fundamentais da teologia cristã: fé, graça e justiça, foi movido para chamar as pessoas ao diálogo sobre a verdade do evangelho. Foi no estudo da Carta de Paulo aos Romanos que Deus acendeu uma luz em Martinho Lutero. Ele mesmo descreveu sua experiência como ter “nascido de novo” e ter “entrado no paraíso pelos portões abertos” ao entender Romanos 1.17.

Para Lutero a carta aos Romanos é a joia e o centro de toda Escritura. Em Romanos temos a chave para a verdadeira justiça: a fé em Jesus Cristo. A justiça de Deus não é alcançada por boas obras, é uma graça imerecida recebida de Cristo.

Romanos 3.19-28: temos aqui uma sentença de condenação da humanidade seguida pela proclamação da liberdade do Evangelho.

Romanos 3.19-28: revela a essência do que Martinho Lutero redescobriu e que ecoa em nossos corações ainda hoje.

Nós sabemos que tudo o que a lei diz é dito para os que vivem debaixo da lei. Isso a fim de que todos parem de se justificar e a fim de que todas as pessoas do mundo fiquem debaixo do julgamento de Deus. Pois ninguém é aceito por Deus por fazer o que a lei manda, porque a lei faz com que as pessoas saibam que são pecadoras” (Rm 3.19-20).

A Lei de Deus não existe para nos salvar; ela existe para nos condenar.

A Lei de Deus não é uma escada para o Céu; é um espelho que reflete a nossa sujeira.

A Lei de Deus é como um raio-x: não cura a doença, mas revela o tumor.

A Lei de Deus é um golpe mortal no orgulho religioso!

Não importa se você é o judeu (com a lei escrita) ou o gentio (com a lei na consciência); não importa se você é o religioso que se esforça ou o cético que ignora. Diante da perfeição de Deus, todos estamos na mesma condição: culpáveis. O versículo 20 é devastador: “Pois ninguém é aceito por Deus por fazer o que a lei manda, porque a lei faz com que as pessoas saibam que são pecadoras” (Rm 3.20).

Martinho Lutero e muitos outros na idade média estavam presos nisso. As pessoas eram ensinadas e tentavam salvar-se pelas obras: jejuns, longas horas de oração, autoflagelo. Pense em Sísifo, na mitologia grega, condenado a rolar uma pedra montanha acima, apenas para vê-la rolar de volta, repetidamente. Assim é o esforço de se justificar pela Lei: um trabalho interminável e frustrante. Todavia, quanto mais tentar, mais a Lei revela a sua falha e insuficiência.

As obras não nos justificam, elas apenas nos mostram o quanto precisamos de justificação. A Lei de Deus nos empurra para um beco sem saída e, com o dedo em riste, nos declara perdidos e sob o juízo de Deus. Se o Evangelho de Deus fosse as palavras de Romanos 3.20, não teríamos esperança.

Por essa razão, a transição entre o versículo 20 para o 21 é a virada mais gloriosa de toda a Bíblia. Ea a Palavra que faltava para Martinho e muitos outros: Mas agora.

Mas agora ... Deus aceita as pessoas por meio da fé que elas têm em Jesus Cristo. É assim que ele trata todos os que creem, pois não existe nenhuma diferença entre as pessoas. Todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus. Mas, pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita todos por meio de Cristo Jesus, que os salva” (Rm 3.21-24).

O que significa essa justiça de Deus?

A justiça de Deus não é o padrão inatingível que a Lei de Deus busca. A justiça é perfeita, oferecida a nós pelo sacrifício de Cristo na cruz! É a justiça passiva, é a justiça que recebemos, não a que realizamos.

A justiça não é obtida por regras ou sacrifícios;

A justiça é recebida pela fé;

A justiça de Deus é gratuita;

Você é declarado justo e santo não por quem você é, mas pelo que Cristo fez na cruz por você. Como escreveu o apóstolo Paulo: “pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita todos por meio de Cristo Jesus, que os salva” (Rm 3.24).

Jesus Cristo é o meio, é o local, onde a ira de Deus contra o pecado foi satisfeita. Deus não ignora o pecado. A dívida precisava ser paga e Cristo pagou na cruz. É o grande “negócio” de Deus, onde a Lei exigiu a condenação, e a Graça proveu o Cordeiro. Em Cristo, Deus faz o que para o ser humano pecador seria e é impossível: ser justo diante de Deus.

Deus ofereceu Cristo como sacrifício para que, pela sua morte na cruz, Cristo se tornasse o meio de as pessoas receberem o perdão dos seus pecados, pela fé nele. Deus quis mostrar com isso que ele é justo. No passado ele foi paciente e não castigou as pessoas por causa dos seus pecados; mas agora, pelo sacrifício de Cristo, Deus mostra que é justo. Assim ele é justo e aceita os que creem em Jesus” (Rm 3.25-26).

Em meio ao desespero que a Lei conduz o pecador e quando esse é alcançado pelo evangelho redentor de Cristo, surge o grito de liberdade: “Será que temos motivo para ficarmos orgulhosos? De modo nenhum! E por que não? Será que é porque obedecemos à lei? Não; não é. É porque cremos em Cristo. Assim percebemos que a pessoa é aceita por Deus pela fé e não por fazer o que a lei manda” (Rm 3.27-28).

Eu sou salvo pela fé! Isso não é um mero grito de guerra. É um grito contra meu orgulho que muitas vezes busca “fazer por merecer” de Deus. Muitos ainda caem na tentação de buscar pagar ou conquistar a salvação. Quantos ainda creditam sua salvação ao seu ativismo na igreja? Quantos dizem ser melhores e aptos por Deus por sua moralidade? O fariseu na parábola de Jesus (Lucas 18.11) é o exemplo clássico desse orgulho, ele se justificava pelas suas obras.

Romanos 3.19-28: é um eco ao qual precisa ser audível. Pare de tentar se justificar! Apenas ouça Mas agora. Diante de Deus, nunca diga nada, afinal, você é culpável. Nenhuma obra te salvará. Diante da tentação de querer se apresentar diante de Deus, apenas creia que a sua justiça é Cristo. Eu sou simultaneamente justo e pecador. O perdão é gratuito. O amor de Deus é imerecido. Por isso, celebrar a Reforma é poder agradecer a Deus por algo que estava e para muitos ainda está encoberto. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Coroa inviolável 2Timóteo 4.8

 26 de outubro de 2025

Vigésimo domingo após Pentecostes

Salmo 5; Gênesis 4.1-15; 2Timóteo 4.6-8,16-18; Lucas 18.9-17

Texto: 2Tm 4.8

Tema: Coroa inviolável

 

Já agora a coroa da justiça me está guardada,...” (2Tm 4.8)

 

Paris, a cidade das luzes, está em luto e indignação. Há poucos dias, o mundo viu a notícia de um roubo audacioso no coração do Museu do Louvre. Ladrões, em uma ação cinematográfica, violaram a segurança de uma das maiores instituições do planeta e roubaram joias inestimáveis, símbolos da realeza francesa.

Entre o tesouro levado, estava a coroa da Imperatriz Eugénie, uma peça deslumbrante, adornada com mais de mil diamantes e dezenas de esmeraldas. Mas o que mais choca não é apenas o roubo, e sim o desfecho: essa coroa, de valor que transcende o dinheiro, foi encontrada danificada, abandonada em uma rua. A glória terrena, por mais guardada que seja, é vulnerável, pode ser roubada, pode ser quebrada e, no final, é jogada fora.

Diante da fragilidade da coroa de diamantes e esmeraldas, voltamos ao testamento final do Apóstolo Paulo, escrito de uma prisão sombria, pouco antes de sua execução. Ele não fala de uma coroa terrestre, mas de uma promessa que brilha mais forte do que todas as joias do Louvre.

Já agora a coroa da justiça me está guardada,...” (2Tm 4.8)

Que coroa é esta que Paulo aguardava? E por que ela é mais segura do que a coroa de qualquer imperatriz?

O Louvre tinha segurança de ponta, vitrines de alta tecnologia. Mas ladrões, em minutos, mostraram que nenhuma segurança humana é absoluta. O ouro e as pedras preciosas atraem a cobiça e a destruição.

Muitos investem apenas em “coroas terrenas”. Há quem coloque a esperança em cofres seguros. Mas, assim como a Coroa da Imperatriz, essas coisas são vulneráveis ao roubo, à crise, à doença e à morte.

O ponto sombrio da notícia é que a coroa foi danificada e jogada em uma rua. Esse é o retrato da glória humana. Mesmo que a alcance, a morte a abandona no meio do caminho. É um prêmio que não dura.

Paulo, podia ter coroas de honra religiosa em Jerusalém, fama filosófica em Atenas, deliberadamente escolheu correr atrás de algo mais seguro.

Paulo usa o verbo no perfeito: me está guardada. Isso significa que ela está reservada, segura, fora do alcance de qualquer ladrão ou de qualquer força que tente roubá-la.

A coroa que Paulo aguarda não é feita de diamantes e esmeraldas, mas de justiça.

É um erro pensar que Paulo ganhou essa coroa por seus esforços (“combati o bom combate, completei a carreira”). A coroa é a glória final que corresponde à justiça de Cristo que Deus nos alcança por sua graça!

A coroa não depende da força de Paulo, mas da fidelidade e justiça do doador: a qual o Senhor, justo Juiz, me dará”. O Senhor Jesus é o Juiz que não pode ser subornado, forçado, ou enganado. Ele prometeu e Ele entregará.

O prêmio não é exclusivo. A Coroa da Imperatriz pertencia a uma só pessoa. A coroa de Paulo é para todos. ...e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda”.

Só se “combate o bom combate” e “completa a carreira” àquele que está certo que a coroa já está reservada e anseia por encontrá-la.

O mundo olha para a coroa danificada no chão de Paris e sente perda e frustração. O cristão olha para a Coroa da Justiça guardada no céu e sente esperança inabalável.

A coroa da imperatriz, de diamantes e esmeraldas, foi roubada, quebrada e jogada fora, apesar de toda a segurança humana. Coroa gloriosa, mas frágil.

A Coroa da Justiça, que Paulo aguarda, é inviolável, guardada pelo próprio Senhor.

Que você possa viver cada dia com essa bendita esperança, correndo com foco, lutando com coragem, para que, naquele Dia, você possa receber a recompensa que é, em si mesma, a glória de ser finalmente e eternamente justo em Cristo. Amém.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O Reino de Deus nos é oferecido sem merecimento (Lc 18.16-17)

 26 de outubro de 2025

Vigésimo domingo após Pentecostes

Salmo 5; Gênesis 4.1-15; 2Timóteo 4.6-8,16-18; Lucas 18.9-17

Texto: Lucas 18.16-17

Tema: O Reino de Deus nos é oferecido sem merecimento.

 

Estamos a poucos dias para celebrar 508 anos da Reforma Protestante, iniciada no dia 31 de outubro de 1517. E praticamente as vésperas dessa data, meditar em Lucas 18.16-17 é espetacular, pois essa pericope enfatiza a salvação sem merecimento, mas por pura graça.

A passagem de Lucas 18.16-17 é um ensinamento fundamental de Jesus sobre a natureza do Reino de Deus e a atitude necessária para entrar nele. O contexto imediato (Lc 18.15) é a repreensão dos discípulos às pessoas que traziam crianças para que Jesus as tocasse.

16 Então Jesus chamou as crianças para perto de si e disse: — Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças. 17 Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele.

O fato dos discípulos tentarem impedir que as crianças chegassem perto de Jesus mostra uma mentalidade cultural da época: as crianças eram frequentemente vistas como pessoas de pouca ou nenhuma importância social e religiosa. Elas não tinham status legal, econômico ou político. Os discípulos provavelmente consideravam as crianças um incômodo ou uma distração para os assuntos “mais importantes” de Jesus.

Jesus chamou as crianças para perto de si e disse: — Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso...”.

Esse convite mostra que Jesus inverte a ordem social e religiosa. Ele não só permite a aproximação das crianças, como as chama ativamente e repreende os discípulos por tentarem impedi-las. Isso destaca a alta consideração de Jesus pela dignidade e valor das crianças.

A ordem “Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam” é um mandamento para remover barreiras (sejam elas sociais, religiosas ou pessoais) que impedem o acesso a Ele e ao Reino.

Ao dizer “...pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças”, temos o cerne do ensinamento. Jesus não está apenas dizendo que as crianças herdarão o Reino, mas que o Reino pertence aos que são semelhantes a elas. O termo “desses” ou “dessas pessoas” “das pessoas” refere-se às qualidades espirituais que as crianças exemplificam. Quais são essas qualidades que um adulto deve imitar?

As crianças são desprovidas de orgulho, ambição de poder, status social e autoconfiança excessiva. Atitudes essas que Jesus repreendia nos líderes religiosos e que os discípulos ainda lutavam para abandonar (Lucas 9.46-48 e 18.9-14).

Uma criança é inerentemente dependente e confia totalmente nos seus pais ou cuidadores para tudo. Receber o Reino “como uma criança” significa reconhecer a total dependência de Deus e confiar n'Ele de forma completa e sincera.

As crianças são geralmente mais abertas e receptivas ao novo e ao ensinamento, sem as “bagagens” de preconceitos, sabedoria mundana ou justificação própria que os adultos acumulam.

Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele

A expressão “Em verdade vos digo” ou “Eu afirmo a vocês que isto é verdade” marca o ensino como uma declaração de alta importância e autoridade.

O versículo estabelece uma condição negativa e absoluta “nunca entrará nele” para o acesso ao Reino. O Reino de Deus não é conquistado por esforço, status ou mérito, assim como o fariseu na parábola anterior, Lc 18.9-14), mas deve ser recebido com a atitude de uma criança.

A palavra grega para “receber” implica aceitar algo que é oferecido, como um dom, e não algo que é alcançado por esforço próprio. A salvação e a entrada no Reino são um presente, e a atitude de humildade e dependência de uma criança é a única forma adequada de aceitá-lo.

Lucas 18.16-17 é uma forte afirmação de que a entrada no Reino de Deus é condicionada à humildade radical e à dependência confiante. O Reino é dado àqueles que abandonam a autossuficiência, a busca por status e a confiança em seus próprios méritos, e que se colocam diante de Deus com a simplicidade e a total dependência de uma criança. Jesus usa as crianças, as menos importantes na sociedade da época, como o modelo de fé e receptividade para todos os que desejam a salvação. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

A força está em agarrar-se a Cristo!

 19 de outubro de 2025

Décimo nono domingo após Pentecostes

Salmo 121; Gênesis 32.22-30; 2Timóteo 3.14-4.5; Lucas 18.1-8

Texto: Gênesis 32.22-30

Tema: A força está em agarrar-se a Cristo!

 

O relato da luta de Jacó com o “homem” em Jaboque para muitos destaca a identificação do misterioso lutador como figura como do Cristo pré-encarnado, ou seja, uma aparição de Jesus antes de seu nascimento. Essa interpretação reforça a crença na intervenção direta de Deus na vida humana e a proximidade de Cristo com a humanidade desde o início da história da salvação.

A luta em Jaboque não é apenas um evento aleatório, mas uma manifestação de Deus que prepara o caminho para a encarnação e a paixão de Cristo. O fato de o “homem” se envolver em uma luta física com Jacó demonstra um Deus que não é distante, mas que se aproxima e “luta” com seu povo, um tema que ressoa com a experiência cristã de fé e dúvida.

A luta de Jacó é vista como uma metáfora para a luta espiritual do cristão. A fé não é uma experiência estática ou fácil, mas um constante “lutar” com Deus, suas promessas e as realidades da vida.

Jacó se agarra ao “homem” e exige uma bênção, mesmo após ser ferido. Isso simboliza a perseverança da fé. Em vez de fugir ou desistir diante das dificuldades, o crente se agarra a Deus e à sua Palavra. A fé, não é passividade, mas uma confiança ativa e insistente.

O ferimento no quadril de Jacó, que o faz mancar, é um detalhe crucial. Pois, de acordo com a teologia da cruz, a força de Jacó está em sua fraqueza. A bênção não vem da sua própria força ou habilidade, mas de sua submissão e derrota. O ferimento o lembra de que a salvação não é conquistada pelo esforço humano, mas recebida pela graça de Deus. A limitação física de Jacó o força a confiar apenas em Deus, e não em suas próprias artimanhas, como ele costumava fazer.

A mudança de nome de Jacó (“suplantador”, “enganador”) para Israel (“aquele que luta com Deus”) é o ponto culminante do episódio. Essa transformação de identidade representa a nova realidade de um crente que foi derrotado por Deus.

Jacó “prevaleceu” contra Deus, mas a vitória real foi ser subjugado por Ele. O novo nome, Israel, significa que ele não apenas lutou com Deus, mas Deus lutou com ele, e Jacó é agora definido por essa relação.

A nova identidade de Jacó não se baseia em seu próprio mérito ou em suas ações passadas, mas na bênção e na graça de Deus. Jacó não é mais o enganador, mas o patriarca do povo de Deus, cujo nome reflete uma história de luta e de bênção divina.

A história de Jacó é um exemplo primordial de que Deus se revela não na força e na glória, mas na fraqueza, no sofrimento e na humilhação.

A luta de Jacó em Jaboque é um sofrimento que leva à salvação. A dor e o ferimento no quadril são a marca da bênção de Deus, um sinal de que ele foi tocado por Deus e, através dessa experiência de fraqueza, recebeu uma nova vida. Em vez de buscar a bênção na força e na conquista, Jacó a encontra na submissão e na graça de Deus.

Em Gênesis 32.22-30 temos a história da vida cristã, marcada pela luta, pela fraqueza, e, finalmente, pela bênção incondicional da graça de Deus, revelada na figura de Cristo e recebida pela fé. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Deus Transforma Amargura em Alegria! (Rt 1.1-22)

 12 de outubro de 2025

Décimo oitavo domingo após Pentecostes

Salmo 111; Rute 1.1-19; 2Timóteo 2.1-13; Lucas 17.11-19

Texto: Rute 1.1 – 22

Tema: Deus Transforma Amargura em Alegria!

 

Há dias em que tudo foge ao nosso planejamento. O relato do capítulo 1 do livro de Rute narra uma década que ninguém planeja.

Como você planeja estar daqui a 10 anos?

Dez anos. Uma década é tempo suficiente para construir uma carreira, criar filhos, realizar um grande sonho. Planejamentos, planilhas, economia pessoal. Mas, durante uma década é possível ocorrer muitas coisas que ninguém planeja!

A história de Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom, é a história de uma década que ninguém quer ter. Em busca de pão, em fuga da escassez em Belém, a “Casa do Pão”, a família se muda para Moabe. A lógica humana era clara: sobrevivência. O custo, no entanto, foi devastador. Em dez anos, essa família foi desfeita: o pai morreu, os dois filhos morreram.

Noemi, que significa “Agradável”, viu sua vida ser desmantelada. A segurança, a prosperidade e a paz que buscavam se transformaram em luto, viuvez e solidão.

Essa é a dura realidade da vida: os planos são frequentemente interrompidos por eventos que não podemos controlar. Ninguém planeja a tragédia, mas é inevitável que a tragédia nos visite.

A dor transforma a percepção. Quando Noemi finalmente retorna a Belém, desamparada, ela está irreconhecível. As mulheres perguntam: “Esta é a Noemi?” E o grito de sua alma, a resposta dela, é um dos mais brutais e honestos da Bíblia: “Não me chamem mais de Noemi... me chamem de Mara, porque o Deus Todo-Poderoso me deu uma vida muito amarga” (Rute 1.20-21).

A dor de Noemi era tão grande que ela distorceu sua visão de Deus. Ela não o via mais como um Pai e sim como um oponente. Ela acreditava que o Deus Todo-Poderoso estava “contra mim” (Rute 1.13).

A amargura tem o poder de nos fazer reescrever a história de Deus em nossas vidas. A amargura nos leva a crer que a nossa fé “agradável” seja substituída pela desconfiança “amarga”.

A decisão inicial de Elimeleque foi baseada na lógica: a busca por pão em Moabe.

O que você tem priorizado na sua busca por segurança?

Diante da amargura de Noemi, duas noras tiveram que fazer uma escolha.

Orfa, cujo nome significa “a que vira as costas”. Ela chorou, mostrou luto sincero, mas optou pelo caminho da razão e da segurança familiar. Ela voltou para seu povo e para seus deuses. Ela seguiu a lógica humana.

Rute, no entanto, fez a escolha que desafiou toda a lógica cultural e de sobrevivência. Ela conseguiu ver além da amargura e se apegou ao Deus que poderia transformar essa amargura em alegria.

O compromisso de Rute é uma maravilhosa declaração de fé: “Não me proíba de ir com a senhora, nem me peça para abandoná-la! Onde a senhora for, eu irei; e onde morar, eu também morarei. O seu povo será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus” (Rute 1.16).

Não é apenas uma promessa de lealdade familiar, é uma profissão de fé inabalável! Rute trocou a segurança do seu país e da sua própria família pelo incerto, trocou os deuses que ela aprendeu a adorar pelo Deus de Israel.

O caminho da fé nem sempre é o caminho lógico ou fácil. A verdadeira fé não se apega à sorte ou à prosperidade, mas se apega a Deus.

O que acontece depois é a prova gloriosa de que o sentimento de amargura não anula o caráter de Deus! Deus não muda e por seu poder muda qualquer amargura em alegria para salvar.

O Deus que Noemi pensou estar “contra” ela, estava na verdade trabalhando através da lealdade e fé inabalável de Rute.

Rute, a moabita, a estrangeira, vai espigar, e o Deus de Israel a guia ao campo de Boaz. O resgate é providenciado. A amargura é transformada em alegria!

A história não termina na tristeza de Noemi, nem na lógica de Orfa, mas na fé de Rute:

Rute e Boaz têm um filho: Obede.

Obede se torna o pai de Jessé.

Jessé é o pai do Rei Davi.

Em última análise, Rute, a moabita, a estrangeira, está na genealogia de Jesus Cristo! Deus transformou a dor, a perda e a amargura de uma década não planejada em um triunfo que ecoa pela eternidade e da qual nós também somos beneficiados.

Como você planeja estar daqui a 10 anos?

Você não pode planejar as perdas, as dores ou as crises. Você não pode garantir que sua “Casa do Pão” nunca será a “Casa da Escassez”. Todavia, você pode escolher confiar e esperar em Deus.

Talvez você esteja vivendo sua “década de Moabe”, uma fase de perdas e amargura que o faz questionar o propósito de Deus. O seu coração pode estar gritando assim como Noemi: “o Deus Todo-Poderoso me deu uma vida muito amarga” (Rt 1.21).

Você tem uma escolha, e essa pode ser a de Orfa ou a de Rute:

Orfa, na crise, voltou para o que naquela situação era seguro, para seus deuses e seus familiares.

Rute, que, mesmo diante da amargura de Noemi, declara: “O seu Deus será o meu Deus”. Ela disse que o Deus que para Noemi a havia abandonado, seria o Deus de Rute. Ela viu além da amargura.

A escolha radical de Rute prova que a graça de Deus transcende fronteiras, proibições e a nossa dor. Deus usa as perdas e transforma a tragédia em triunfo.

Que a nossa prioridade hoje, e nos próximos dez anos, não seja a lógica da sobrevivência em nossas supostas seguranças, mas na fé inabalável em Deus que transforma amargura em alegria!

Que a nossa escolha seja a escolha radical de Rute: apegar-se ao Deus de Israel, que nos enviou o Salvador, Jesus Cristo! Amém.

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Conserve vivo o dom de Deus (2Tm 1.6)

 05 de outubro de 2025

Décimo sétimo domingo após Pentecostes

Salmo 62; Habacuque 1.1-4; 2.1-4; 2Timóteo 1.1-14; Lucas 17.1-10

Texto: 2Timóteo 1.6

Tema: Conserve vivo o dom de Deus

 

Por isso quero que você lembre de conservar vivo o dom de Deus que você recebeu...” (2Tm 1.6)

 

Embora seja uma conotação tipicamente cristã, a palavra reavivamento (despertar espiritual) aparece nas cinco grandes religiões: cristianismo, hinduísmo, budismo, islamismo e judaísmo.

Muito se fala, quer seja em palestras, reuniões, redes sociais, sobre o despertar espiritual, ou, reavivar algo.

Casais querem reavivar seu relacionamento!

Igrejas buscam reavivar os congregados!

Empresas buscam reavivar seus colaboradores!

Reavivar é uma palavra que está na moda.

O apóstolo Paulo escreveu para o pastor Timóteo “reavivar a chama do dom de Deus” (2Timóteo 1.6). Esse não é apenas um conselho pastoral, mas uma chave para entender a vida cristã e o ministério sob a ótica da justificação pela graça mediante a fé.

O “dom de Deus” que Timóteo recebeu não era uma habilidade ou um talento humano, mas a própria fé e a vocação para o ministério. O dom é a graça de Deus que o elegeu e o capacitou, e essa graça não é algo que ele conquistou. O dom é puramente uma dádiva divina, um presente que não pode ser merecido por obras, busca ou esforço.

O dom ao qual o apóstolo Paulo se refere aqui pode ser vista como uma união de dois elementos: o ofício pastoral e a fé genuína. O evangelho o capacitou para cumprir esse ofício pastoral e lhe concedeu a fé.

A exortação para “reavivar” traduzido como “conservar vivo” na nova tradução na linguagem de hoje (NTLH) decorre de uma palavra grega anazōpyrein que significa “atiçar o fogo” e não significa fazer algo para ser aceito por Deus. É um chamado para que Timóteo se apegue e utilize o dom que já lhe foi dado pela graça. Reavivar ou conservar vivo significa que há algo vivo nele. Algo que lhe foi dado.

A Palavra de Deus é a lenha que alimenta o fogo que ela mesma acendeu.

Exegetas destacam que a exortação do apóstolo Paulo é uma resposta direta para Timóteo diante dos seus medos, tal como a timidez o podia sucumbir. Reavivar o dom nesse sentido significa confiar no dom que Deus concedeu, ou melhor, pare de olhar para si mesmo. A obra é divina, e foi Deus quem acendeu e mantém acessa esse dom.

O “dom de Deusem si é a fé em Cristo e o ofício pastoral concedido pela graça de Deus. Isso é algo que o cristão recebe.

Acredito que muitos de vocês já ouviram a frase atribuída a Martinho Lutero: “oração, meditação e tentação fazem um teólogo”. Pensamento capturado da famosa frase em latim: Oratio, Meditatio, Tentatio faciunt Theologum.

Um verdadeiro teólogo não é apenas alguém com conhecimento acadêmico. Teologia não é uma ciência abstrata, mas uma disciplina vivida, moldada pela experiência pessoal e espiritual.

A oração é o primeiro pilar. Oração não é uma formalidade, mas um diálogo constante com Deus. Por mais que estudemos, não podemos entender as verdades espirituais por nossa própria força. A Bíblia, por si só, pode ser um livro fechado sem a iluminação do Espírito Santo.

A oração abre o coração e a mente para a voz de Deus, permitindo que sua Palavra ressoe para nós e não seja apenas um texto morto. É na oração que o estudo se torna uma experiência de adoração. Por essa razão, Jesus ensinou a orar: santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a sua vontade assim na terra como no céu...

Oração, meditação e tentação fazem um teólogo”.

Meditação não é esvaziar a mente, mas enchê-la com a Palavra de Deus. Meditar sobre as Escrituras significa ir além da leitura superficial: é mastigar, digerir e refletir sobre cada palavra. É um processo de ruminação onde a verdade bíblica se infiltra em nosso ser, transformando nossos pensamentos e ações.

Oração, meditação e tentação fazem um teólogo”.

É surpreendente saber que a tentação, provação, aflição faz parte do processo do reavivamento do dom. As provações da vida, as dúvidas, os sofrimentos, as perseguições e os conflitos espirituais, são essenciais para o amadurecimento teológico.

Na tentação a fé é testada. A tentação se dá quando o conhecimento acadêmico se mostra frágil diante da dor real. Na luta se é forçado a se apegar à Palavra de Deus não como uma teoria, mas como a única rocha sólida. Na tentação aprendemos a depender totalmente de Deus, revelando nossa própria fraqueza e sua fidelidade inabalável.

Reavivar o dom de Deus não é um exercício meramente intelectual, é uma jornada espiritual e existencial. Se é forjado no fogo da oração, enraizado na meditação da Palavra e amadurecido nas provações da vida.

Reavivar o dom é um convite para ser mais do que um mero estudioso da Bíblia; é um desafio para viver a fé que se professa. A vida cristã autêntica não está nos livros, mas numa vida vivida diante de Deus e de suas promessas.

Reavivar o dom de Deus não é uma busca para ganhar a aprovação de Deus. É um lembrete para Timóteo de que se apegue firmemente à fonte de toda sua força e dom: se apague a graça de Deus que é manifestada e nutrida através da Palavra de Deus, tanto na pregação, estudo e nos sacramentos.

O “reavivar a chama” é a vida de fé ativa que se sustenta na Palavra de Deus e se manifesta na pregação e no ministério fiel.

O dom é a capacitação do Espírito Santo para o ministério. Reavivar o dom, significa voltar-se para a graça de Deus diante dos desafios do ministério. Na época da escrita, Timóteo poderia incorrer na vergonha do apóstolo Paulo que estava preso e se tornar ainda mais tímido diante da pregação.

O fato é que na sociedade greco-romana valorizava-se a honra e abolia a vergonha. Dessa forma, Timóteo poderia se envergonhar da prisão de Paulo, haja visto ele Timóteo ser filho de pai grego.

Levando isso em consideração, o apóstolo Paulo lembra sobre o sofrimento na perspectiva do evangelho, onde o sofrimento deixa de ser desgraça e passa a ser participação no poder de Deus que traz vida da morte (2Tm 1.10).

Evangelho não é apenas uma mensagem. Evangelho é a manifestação do poder de Deus.

O apóstolo Paulo ao escrever essa carta para Timóteo, deseja encorajá-lo para que continue apesar dos pesares, ser um ministro fiel e destemido enraizado na graça de Deus em Jesus.

Eis uma exortação muito importante para nossos dias, afinal, quantas situações decorrentes da atividade pastoral que envergonham e intimidam muitos na proclamação. “Por isso quero que você lembre de conservar vivo o dom de Deus que você recebeu...” (2Tm 1.6).

Recorde-se, que: conservar vivo indica que há algo vivo em você. Algo lhe foi dado para o exercício do ministério. E o ministério está nas mãos de Jesus (Ap 1.18-20). Amém

Edson Ronaldo Tressmann

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Em quem confiar? (Sl 146)

 28 de setembro de 2025

Décimo sexto domingo após Pentecostes

Salmo 146; Amós 6.1-7; 1Timóteo 6.6-19; Lucas 16.19-31

Texto: Salmo 146

Tema: Em quem confiar?

 

Você já depositou confiança em alguém e essa pessoa te decepcionou?

Com toda a certeza a resposta é sim!

Seres humanos, por causa da sua pecaminosidade, são instáveis e decepcionam e algumas não são de confiança nenhuma.

As palavras do salmista “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 143.3) é um convite para uma reflexão profunda sobre onde se deposita a fé e a esperança. A Bíblia, em sua totalidade, reforça essa ideia de diversas maneiras, mostrando a fragilidade humana e a fidelidade divina.

A Bíblia está repleta de exemplos que ilustram por que a confiança em seres humanos é vã. Pessoas, por mais poderosas, ricas ou influentes que sejam, estão sujeitas a falhas, doenças e, por fim, à morte. A passagem de Isaías 2.22 ressoa: “Parem de confiar no homem, cuja vida não passa de um sopro em suas narinas. Que valor ele realmente tem?”. A história do rei Saul, que depositou sua confiança na força de seu exército em vez de em Deus, e a de Herodes Agripa I, que aceitou a adulação divina de seu povo e foi castigado por não dar glória a Deus, são exemplos claros da fragilidade humana.

O contraste do Salmo 146.3 é a confiança em Deus, tanto que no verso 5, o salmista escreveu: “Feliz aquele que tem o Deus de Jacó por seu ajudador; aquele cuja esperança está no Senhor, o seu Deus” (Sl 146.5). Enquanto os seres humanos são mortais e limitados, Deus é eterno, onipotente e fiel. Sua capacidade de ajudar não tem limites, e sua natureza não muda.

A confiança em Deus não é uma questão de otimismo cego, mas de fé naquilo que é imutável. Confiar em Deus é reconhecer que somente Ele pode dar a verdadeira paz, esperança e salvação. O profeta Jeremias resume essa dualidade: “Assim diz o Senhor: 'Maldito é o homem que confia nos homens... Bendito é o homem que confia no Senhor” (Jeremias 17.5, 7).

A mensagem do Salmo 146.3 não nos proíbe de pedir ajuda ou de valorizar as pessoas em nossas vidas. Pelo contrário, ela nos adverte a não colocarmos nossa segurança total e final em nenhuma pessoa. O conselho bíblico é para que nossas expectativas de salvação, segurança e propósito eterno sejam baseadas exclusivamente em Deus.

Isso nos liberta da decepção que inevitavelmente vem quando colocamos nossa fé em pessoas imperfeitas. Ao direcionarmos nossa confiança para Deus, podemos interagir com as pessoas de forma mais saudável, amando-as e servindo-as sem a pressão de que elas supram todas as nossas necessidades. A verdadeira paz vem de saber que, no final das contas, nossa esperança não está nas mãos de seres humanos, mas nas mãos do Criador.

As palavras “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 146.3), faz parte da história da nossa igreja.

C.F.C. Walther, Fundador e Primeiro Presidente do Sínodo de Missouri, teve uma grande decepção com a liderança humana. Isso o levou a reafirmar a única fonte de confiança: Deus.

Da mesma forma como o salmista se sentia “esmagado” e “prostrado”, Walther e sua comunidade estavam à beira do desespero após a queda de seu líder. O socorro não veio de um novo “homem importante”, mas do reconhecimento de que a fé não depende da perfeição de nenhum líder, e sim da fidelidade de Deus.

A situação histórica é conhecida como a “Crise de Stephan” ou o “Escândalo de Stephan”. Evento que marcou profundamente a vida dos imigrantes luteranos alemães que se estabeleceram em Missouri, EUA, em 1839.

Tudo começou quando um grupo de luteranos alemães, liderados por um carismático pastor chamado Martin Stephan, decidiu fugir da perseguição religiosa na Alemanha. Eles desejavam viver a sua fé sem a interferência do Estado e da Igreja oficial, que consideravam corrompida pelo racionalismo. Stephan era visto por eles como um profeta e um líder ungido, um “bispo” que os guiaria para a liberdade na América.

C.F.W. Walther, que na época era um jovem e promissor pastor, era um dos mais fervorosos seguidores de Stephan. Ele e outros pastores confiaram plenamente na liderança de Stephan, que os havia convencido a venderem seus bens e a seguirem-no para a América.

No entanto, logo após chegarem a Saint Louis, Missouri, a comunidade foi abalada por graves acusações contra Stephan. Descobriu-se que, enquanto eles viajavam e se estabeleciam na nova terra, Stephan estava envolvido em escândalos de má conduta sexual e financeira, além de exercer um poder autoritário sobre o grupo.

A revelação foi um choque devastador. A comunidade, que havia sacrificado tudo para seguir um líder que se mostrou um falso profeta, se sentiu desorientada e traída. Eles estavam em um país estrangeiro, sem recursos, e sua fé estava abalada. Era a beira do desespero.

Nesse momento de crise, C.F.W. Walther se destacou. Ele não negou o problema, mas, com base em sua fé, procurou uma solução. Walther convocou uma reunião histórica em Altenburg, Missouri, na qual confrontou a comunidade com a pergunta: “Afinal, o que nos faz uma igreja? O nosso líder humano ou a Palavra de Deus?

Essa crise serviu como um catalisador para a teologia de Walther. A partir dessa experiência amarga, ele enfatizou a importância de confiar apenas em Cristo e na sua Palavra, e não em líderes humanos. Foi a partir dessa crise que o Sínodo de Missouri se formou, com a clara convicção de que a verdadeira autoridade da Igreja reside nas Escrituras, e não na figura de um homem.

Ninguém, por mais importante ou talentoso que seja, está imune ao erro ou ao fracasso. A dependência excessiva de líderes, políticos ou figuras públicas pode levar à desilusão.

A fé genuína não se deposita em um ser humano, mas em Deus, que é o único que não falha e que tem o poder de nos salvar e guiar.

A resposta para o desespero e a decepção não está em procurar um novo “herói”, mas em voltar-se para o Evangelho, a única fonte de esperança e segurança, pois Jesus Cristo não é apenas um homem, mas o Deus que nos salva.

As palavras: “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 146.3) visa alertar para que não se confunda a fé em Deus com a confiança em seres humanos, por mais admiráveis que possam parecer. Amém.

Edson Ronaldo Tressmann

Mas agora ... (Rm 3.21)

  31 de outubro de 2025 Salmo 46; Apocalipse 14.6-7; Romanos 3.19-28; João 8.31-36 508 anos da Reforma Luterana Texto: Romanos 3.19−2...