quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Graça de Deus!

10/01/16
Batismo do Senhor
1º Domingo após epifania
Sl 29; Is 43.1-7; Rm 6.1-11; Lc 3.15-22
Tema: Graça de Deus!

         Após dizer a seus leitores que todos somos justificados perante Deus pela fé, sem as obras da lei, Paulo fala agora dos frutos da fé. Ele afirma que a fé, bem assim a nova vida do filho de Deus, inicia no santo batismo. Pelo batismo o filho de Deus se torna participante de Cristo. Ele participa da morte, da ressurreição e da nova vida de Cristo para glória de Deus Pai. A graça de Deus nos conduz a deixar o pecado e a viver uma vida de santificação.
     Levando em conta o contexto litúrgico, é importante a lembrança de que somos herdeiros da graça de Deus mediante o batismo e que fomos chamados pelo nome (cf. Is 43.1-7) e que agora, como filhos e herdeiros de Deus, somos conclamados a louvar a Deus e anunciar a sua glória (Sl 29), pois é o Senhor que dá força ao seu povo e o abençoa.
      O texto mostra com precisão que deixar de pecar não é uma atitude que procede da vontade humana, mas é um fruto da fé, produzido pelo poder do Espírito Santo através da mensagem do evangelho.
        Os vv. 1,2: “... será que devemos continuar vivendo no pecado para que a graça de Deus aumente ainda mais?” Há certa lógica nesta pergunta, porém seu conteúdo é frio, desprovido de amor, satânica, pois propõe explorar a bondade de Deus. A resposta do cristão, portanto, não pode ser outra: “É claro que não! Nós já morremos para o pecado!” A responder no v.2 “de modo nenhum”, Paulo rejeita a exploração à graça de Deus.
         É preciso lutar contra o pecado. Para tal, Deus realizou a maior de todas as obras, “fomos batizados, ... morremos para o pecado”. O pecado não é mais o ambiente de vida do cristão (Cl 3.7-8). Ao dizer que se está morto para o pecado, o apóstolo diz que não se deseja mais o pecado.
         O apóstolo Paulo não se ocupa com a ressurreição no dia do juízo, ele está ocupado com a ressurreição diária, ou seja, a vida como batizado. Essa vida é caraterizada pelas palavras: “andemos em novidade de vida”. A expressão “andemos” do verbo “andar” reflete a expressão judaica para conduta e atividade (Rm 8.4; 13.13).
         Pelo batismo somos participantes de Cristo. Participamos de sua morte, de sua ressurreição e de sua vida santa. O batismo nos reveste de Cristo, diz Paulo em Gl 3.27: “Assim se revestiram com as qualidades do próprio Cristo”.
      Paulo diz ainda “... se já morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele”. Com estas duas verdades em mente, o apóstolo descreve “a realidade de nossa união com Cristo”. Todo aquele que é batizado está vivo. Num velório de um cristão, diante do caixão, os cristãos encaram a vida e não a morte.
         No v. 5 o apostolo Paulo afirma que somos semelhantes a Cristo em sua morte e ressurreição. No v. 6 diz que somos semelhantes a Cristo porque nosso velho homem foi crucificado com ele. No verso 8 declara que somos semelhantes a Cristo porque morremos e ressuscitamos com ele.
         Paulo nos versos 9 a 11 anuncia que “... A sua morte foi uma morte para o pecado ... E a vida que ele agora vive é uma vida para Deus!” Esta é uma morte gloriosa e uma qualidade de vida bem especial. Vida na qual o nosso corpo não é mais um “corpo do pecado”, mas corpo que agora é um “sacrifício vivo e agradável a Deus”. Sabedores de que a morte não tem mais poder sobre nós e de que Cristo nos dá vida verdadeira por graça, nossa resposta não pode ser outra do que esta: “considerar-nos vivos para Deus”. E assim, viver e praticar as obras daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.
       Com o imperativo dos vv. 7 e 11 “considerai-vos”, Paulo diz que o evangelho dirige a nossa vontade. A revelação é declarativa, ou seja, transmite a ideia de que Deus realizou algo em nós. A declaração é: “tu morreste ... tu estás vivo”.
         A graça, ao contrário do que muitos pensam, não é uma desculpa para se continuar no erro, como se tudo o que fizermos de errado irá ser perdoado em algum momento. Mas a graça é a certeza de que apesar de errarmos podemos contar com o perdão divino.
         Pode-se dizer então que a graça é o ato de Deus, um presente para os seres humanos. A graça também é tudo aquilo que Deus concede ao ser humano para que ele desenvolva seus dons e ministérios. 
         No contexto grego, o termo graça (káris) trata de benefício. Dos benefícios de deuses ou de indivíduos para cidades ou instituições. Graça era tido como favor feito, e regularmente no plural karites, “favores” concedidos ou retribuídos. Neste contexto o termo deve ter sido familiar para Paulo e seus leitores, diariamente visível nas numerosas inscrições que adornavam qualquer cidade grega, comemorando ou homenageando benfeitores do passado. Quando os leitores de Paulo liam a palavra káris, graça, geralmente a linguagem do benefício terá sido o contexto imediato de significado para a sua compreensão do termo.
         O benefício recebido por Deus é que tendo nascido como pertencente a Adão, autor do pecado e da morte, o batizadoé um ressuscitado, ou seja, pertence a Cristo, autor da salvação e da vida.
         O apóstolo Paulo mostra o triunfo da graça, mas, não apenas no perdão diário, e sim, na vida diária de um filho perdoado por Cristo. Por mais que os críticos do apóstolo Paulo o acusassem de incentivar a prática do mal, Paulo refuta a calúnia com no capitulo 6 de Romanos.
         Os críticos acusavam Paulo de que o mesmo ensinava que quanto mais pecado, mais graça, mais chance para Deus perdoar. Mas, na sua resposta, o apóstolo diz que a graça tanto justifica, quanto santificagraça não é licença para o pecado, mas, consolo diante do pecado. A graça encoraja e anima para uma nova vida (v.2,11). A graça faz morrer os atos do corpo do pecado (Rm 8.13).
         O apóstolo Paulo no v. 10 do capítulo 6 de Romanos diz que Cristo carregou a condenação do pecado. Cristo pagou a penalidade do pecado, a morte (Hb 7.27). O pecado já não tem mais direito de reclamar para si qualquer penalidade. Em Cristo participamos dos benefícios da morte de Jesus (2Co 5.14), a ressurreição. Pelo batismo nossa ressurreição é antecipada, nossa ressurreição é vida consumada na prática diária na luta contra o pecado.

Rev. Edson Ronaldo Tressmann


Revista Luterana 2010. Igreja Luterana 88. Paulo Gerhard Pietzsch

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