09 de agosto de 2015
11º domingo após Pentecostes
Salmo 34.1-8; 1Reis 19.1-8; Efésios 4. 17 – 5.2; João
6.35 – 51
Tema: O Pão de Deus! Parte II
Diante do texto
do evangelho de João 6.35-51 a frase a seguir diz muito:
“O cliente nunca compra um
produto. Por definição, ele compra a satisfação de um desejo”. (Peter F.
Drucker, 1975).
Convém lembrar que a multidão havia
procurado Jesus por desejo de o proclamar rei. Essa constatação é feita por
Jesus: “Sabendo,
pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o
proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho para o monte” (Jo
6.15). A multidão buscava Jesus apenas por interesse pessoal, o objetivo era a
satisfação do seu desejo.
Sabendo que é o interesse pessoal que
leva as pessoas a buscarem o produto desejado, surgiu o marketing religioso. O
pioneiro sobre o tema religião e marketing é Philip Kotler (1976). A religião
institucionalizada estava em crise nos Estados Unidos e, Kotler buscou
justificar o emprego do marketing na montagem de estratégias para resgate da
mesma. Muitos eram contra o uso do marketing na esfera religiosa, devido aos seguintes
motivos: produto, troca, mercado, público, macro-ambiente, metas, segmentação,
mensuração, demanda, ciclo de vida de produtos, canais de distribuição,
promoção e outros mais.
Seguindo o pensamento de Kotler, George
Barna (1994) especialista em marketing aplicado a religião, ressaltou que o
principal problema que estava afetando as Igrejas Protestantes dos Estados
Unidos é o fato de não adotarem um apoio de marketing. Era preciso abandonar o
espírito de aversão e de objeções ao uso do marketing. Assim convencionou-se
buscar no universo do marketing, princípios, técnicas e estratégias, para que
houvesse melhora na performance das organizações no ranking do mercado
religioso. No Brasil, a mentalidade sobre o marketing religioso foi explorada
por Douglas Teixeira Monteiro (1979). Ele mostrou que as novas seitas
pentecostais, instituições umbandistas e católicas, se tornaram “agências de
serviço”. A diferença dos mesmos eram apenas seus rótulos e
embalagens dos produtos que ofereciam. Na nova sociedade onde estava
predominando a hegemonia do mercado, da competitividade, atrevidamente e com
sucesso atrelou-se “religiosidade e marketing”.
O marketing provoca o surgimento de
teorias explicativas dos fatos sociais envolvidos numa troca. O marketing é um
conjunto de técnicas empregadas não somente para agir sobre os mecanismos de
troca, como também para explicar as ações humanas nesse processo. O marketing
mostra a realidade social. Ela apresenta as interpretações do comportamento
humano.
O marketing foi elaborado sob as bases
das ciências humanas, psicologia, sociologia e antropologia. No entanto, seu
discurso que sempre priorizou articular o conjunto de respostas para problemas
vinculados às relações de troca estabelecidas pelos seres humanos, que o tornou
um apetitoso prato em que a religiosidade, principalmente os neopentecostais se
debruçassem e o saboreassem.
Marketing traz gravado consigo a história
da economia, da administração, da cultura capitalista dominante no mundo. O
marketing facilita a intervenção nos processos de troca, influenciando e
alterando o comportamento dos seres humanos envolvidos nessa situação.
O marketing tem por objetivo alcançar
algum propósito num mundo exterior. O marketing oferece o produto e a mudança
que esse produto fará na vida cotidiana. O produto gera renda, converte-se em
serviços e ideias, e é oferecido aos vários tipos de consumidores. Observe que
o marketing caracteriza uma ação tipicamente humana, ou seja, está voltada à
valorização de objetos, bens e serviços.
Todos buscam coisas desejadas e
valorizadas. O interesse e a cobiça acompanham o processo de troca. Max Weber
descreve a troca como um compromisso de interesses entre os participantes pelo
qual entregam seus bens ou possibilidades como retribuição recíproca. O
marketing religioso que altera comportamentos sociais está intrinsecamente
ligado ao fator necessidade.
O povo na época de Jesus tinha a
necessidade de libertar-se da hegemonia política dos Romanos. A carga de
impostos era altíssima. Assim, ao perceberem que Jesus poderia ser o rei que
lhes podia multiplicar pães e peixes, curar enfermos, etc, fascinou lhes a
opção de fazê-lo rei e acabar com a hegemonia romana.
Jesus disse que a multidão o havia
procurado para satisfazer seu desejo pessoal (Jo 6.27). E essa busca pelo
desejo pessoal é que os levaria a perdição, pois deixariam de reconhecer Jesus
como Messias Salvador (Jo 6.36).
A multidão que havia presenciado a
multiplicação dos pães e dos peixes, que havia ouvido de Jesus que a verdadeira
obra diante de Deus era crer nEle naquele que o Pai havia enviado,
pediu um sinal para crer.
Pediram um sinal, justamente por que estava
equivocada na sua busca por Jesus. O Jesus que buscavam era apenas para
satisfazer suas necessidades terrenas. E Jesus lhes oferece a si mesmo dizendo
que era “o
pão da vida” para saciar a fome espiritual.
Mesmo a multidão rejeitando Jesus, de
maneira nenhuma Jesus lhes julga, porém com muita ênfase afirma: “todo homem que
vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”
(Jo 6.40).
Jesus era o sinal visível de Deus, é o
“pão que
desceu do céu” (Jo 6.41). Um sinal rejeitado e que estava sendo
buscado não pelo que de fato deveria ser buscado, mas apenas por interesse
pessoal. Assim, infelizmente, muitos ainda hoje, usam o marketing religioso
para oferecer um Jesus que agrade as pessoas e as satisfaça carnalmente e terrenamente.
Jesus declara: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim
jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.35). Então porque
tantos cristãos carecem de comida e água?
A resposta é simples, mas direta, é
porque buscam um
Jesus apenas para satisfazer seus desejos carnais e terrenos.
Jesus se declara e se põe como alimento
para os famintos de comida e água espiritual: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim
jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. ...Eu sou o pão vivo que
desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei
pela vida do é a minha carne” (Jo 6.35, 51,52). Amém!
M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann
Bibliografia
Sociologia e Antropologia da
Religião. Rogério de
Morais Silva. AVM: Faculdade Integrada. Brasília, 2011.
BARNA,
George. O marketing na Igreja.
JUERP, RJ, 2º Edição.
CAMPOS,
Leonildo Silveira. Teatro, Templo e
Mercado. Organização e marketing de um empreendimento neopentecostal.
Co-edição, Petrópolis, RJ: Vozes, SP, Simpósio Editora e Universidade Metodista
de São Paulo, 1999. 2º Edição.
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