segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Pão de Deus! Parte II

09 de agosto de 2015
11º domingo após Pentecostes
Salmo 34.1-8; 1Reis 19.1-8; Efésios 4. 17 – 5.2; João 6.35 – 51
Tema: O Pão de Deus! Parte II

         Diante do texto do evangelho de João 6.35-51 a frase a seguir diz muito:

O cliente nunca compra um produto. Por definição, ele compra a satisfação de um desejo”. (Peter F. Drucker, 1975).

         Convém lembrar que a multidão havia procurado Jesus por desejo de o proclamar rei. Essa constatação é feita por Jesus: “Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho para o monte” (Jo 6.15). A multidão buscava Jesus apenas por interesse pessoal, o objetivo era a satisfação do seu desejo.
         Sabendo que é o interesse pessoal que leva as pessoas a buscarem o produto desejado, surgiu o marketing religioso. O pioneiro sobre o tema religião e marketing é Philip Kotler (1976). A religião institucionalizada estava em crise nos Estados Unidos e, Kotler buscou justificar o emprego do marketing na montagem de estratégias para resgate da mesma. Muitos eram contra o uso do marketing na esfera religiosa, devido aos seguintes motivos: produto, troca, mercado, público, macro-ambiente, metas, segmentação, mensuração, demanda, ciclo de vida de produtos, canais de distribuição, promoção e outros mais.
         Seguindo o pensamento de Kotler, George Barna (1994) especialista em marketing aplicado a religião, ressaltou que o principal problema que estava afetando as Igrejas Protestantes dos Estados Unidos é o fato de não adotarem um apoio de marketing. Era preciso abandonar o espírito de aversão e de objeções ao uso do marketing. Assim convencionou-se buscar no universo do marketing, princípios, técnicas e estratégias, para que houvesse melhora na performance das organizações no ranking do mercado religioso. No Brasil, a mentalidade sobre o marketing religioso foi explorada por Douglas Teixeira Monteiro (1979). Ele mostrou que as novas seitas pentecostais, instituições umbandistas e católicas, se tornaram “agências de serviço”. A diferença dos mesmos eram apenas seus rótulos e embalagens dos produtos que ofereciam. Na nova sociedade onde estava predominando a hegemonia do mercado, da competitividade, atrevidamente e com sucesso atrelou-se “religiosidade e marketing”.
         O marketing provoca o surgimento de teorias explicativas dos fatos sociais envolvidos numa troca. O marketing é um conjunto de técnicas empregadas não somente para agir sobre os mecanismos de troca, como também para explicar as ações humanas nesse processo. O marketing mostra a realidade social. Ela apresenta as interpretações do comportamento humano.
         O marketing foi elaborado sob as bases das ciências humanas, psicologia, sociologia e antropologia. No entanto, seu discurso que sempre priorizou articular o conjunto de respostas para problemas vinculados às relações de troca estabelecidas pelos seres humanos, que o tornou um apetitoso prato em que a religiosidade, principalmente os neopentecostais se debruçassem e o saboreassem.
         Marketing traz gravado consigo a história da economia, da administração, da cultura capitalista dominante no mundo. O marketing facilita a intervenção nos processos de troca, influenciando e alterando o comportamento dos seres humanos envolvidos nessa situação.
         O marketing tem por objetivo alcançar algum propósito num mundo exterior. O marketing oferece o produto e a mudança que esse produto fará na vida cotidiana. O produto gera renda, converte-se em serviços e ideias, e é oferecido aos vários tipos de consumidores. Observe que o marketing caracteriza uma ação tipicamente humana, ou seja, está voltada à valorização de objetos, bens e serviços.
         Todos buscam coisas desejadas e valorizadas. O interesse e a cobiça acompanham o processo de troca. Max Weber descreve a troca como um compromisso de interesses entre os participantes pelo qual entregam seus bens ou possibilidades como retribuição recíproca. O marketing religioso que altera comportamentos sociais está intrinsecamente ligado ao fator necessidade.
         O povo na época de Jesus tinha a necessidade de libertar-se da hegemonia política dos Romanos. A carga de impostos era altíssima. Assim, ao perceberem que Jesus poderia ser o rei que lhes podia multiplicar pães e peixes, curar enfermos, etc, fascinou lhes a opção de fazê-lo rei e acabar com a hegemonia romana.
         Jesus disse que a multidão o havia procurado para satisfazer seu desejo pessoal (Jo 6.27). E essa busca pelo desejo pessoal é que os levaria a perdição, pois deixariam de reconhecer Jesus como Messias Salvador (Jo 6.36).
         A multidão que havia presenciado a multiplicação dos pães e dos peixes, que havia ouvido de Jesus que a verdadeira obra diante de Deus era crer nEle naquele que o Pai havia enviado, pediu um sinal para crer.
         Pediram um sinal, justamente por que estava equivocada na sua busca por Jesus. O Jesus que buscavam era apenas para satisfazer suas necessidades terrenas. E Jesus lhes oferece a si mesmo dizendo que era “o pão da vida” para saciar a fome espiritual.
         Mesmo a multidão rejeitando Jesus, de maneira nenhuma Jesus lhes julga, porém com muita ênfase afirma: “todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.40).
         Jesus era o sinal visível de Deus, é o “pão que desceu do céu” (Jo 6.41). Um sinal rejeitado e que estava sendo buscado não pelo que de fato deveria ser buscado, mas apenas por interesse pessoal. Assim, infelizmente, muitos ainda hoje, usam o marketing religioso para oferecer um Jesus que agrade as pessoas e as satisfaça carnalmente e terrenamente.
         Jesus declara: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.35). Então porque tantos cristãos carecem de comida e água?
         A resposta é simples, mas direta, é porque buscam um Jesus apenas para satisfazer seus desejos carnais e terrenos.
         Jesus se declara e se põe como alimento para os famintos de comida e água espiritual: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. ...Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do é a minha carne” (Jo 6.35, 51,52). Amém!


M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

Bibliografia
Sociologia e Antropologia da Religião. Rogério de Morais Silva. AVM: Faculdade Integrada. Brasília, 2011.

BARNA, George. O marketing na Igreja. JUERP, RJ, 2º Edição.


CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado. Organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Co-edição, Petrópolis, RJ: Vozes, SP, Simpósio Editora e Universidade Metodista de São Paulo, 1999. 2º Edição.

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