22 de novembro de 2015
Último domingo após Pentecostes
Sl 93; Is 51.4-6; Jd 20-25; Mc 13.24-37
Tema: Compadecer-se dos que
tem dúvidas.
Recordo a congregação evangélica Luterana que no ano de 2012 as palavras do texto de Judas foram lidas por ocasião do
culto. Mas, mesmo 3 anos após, muitos ao abrirem suas Bíblias nesse culto para a
leitura da epístola de Judas pensaram: - não me lembro de ter lido a carta de Judas em um culto da IELB.
Há
outro motivo para a convocação urgente feita por Judas, “E compadecei-vos de alguns que estão na
dúvida” (Jd 22), ou, “a alguns que duvidam, convencei-os”. É possível
convencer alguém que está em dúvida a respeito da fé cristã?
É
necessário olhar para os 3 versículos anteriores ao versículo 20. Conforme os
versículos 17 – 19 os “homens sensuais” aos quais Judas se refere não
são apenas aqueles que se afastam da congregação visível, mas também, àqueles
que se separam definitivamente de Cristo e da sua Igreja, unindo-se ao diabo
com práticas ímpias e pecaminosas. Esses homens são “sensuais” justamente por não
terem o Espírito de Deus, “...sensuais, que não têm o Espírito” (Jd 19).
Cair da graça é um fato que pode acontecer conosco.
E isso pode ocorrer de maneira bem sutil. Lembro-me que a poucos meses atrás
uma pessoa disse que nunca deixaria sua vida de fé e prática na congregação.
Essa pessoa era ativa e participativa. Em pouco tempo, passou a participar de
pouquíssimos eventos da congregação.
Esse
exemplo mostra que todos nós estamos sujeitos a nos afastar vagarosamente. Por
causa dessa situação, Judas recomenda: “Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé
santíssima, orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus,
esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida
eterna. E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; ...”
(Jd 20-22).
Judas
recomenda que nos vigiemos fielmente e com prudência. É preciso
agir com compaixão. O exemplo da pessoa que citei anteriormente
mostra que é preciso nos advertir no sentido de termos cuidado para não nos
tornar soberbos. O diabo faz uso da nossa carne que é fraca para fortalecer
seus propósitos, destruir o filho de Deus. Ao reconhecer nossa fraqueza, somos
convidados a voltar e nos edificar na fé, orar no Espírito, nos guardar
no amor de Deus, esperar a misericórdia
de nosso Senhor Jesus Cristo.
Voltando
a questão: É
possível convencer alguém que está em dúvida a respeito da fé cristã?
Sim! No entanto, é necessário estar firme na fé.
O
propósito de Judas na sua carta visa resguardar os cristãos contra os falsos
mestres que estavam disseminando preceitos perigosos para reduzir o
cristianismo a uma mera fé nominal. É preciso: “... batalhardes, diligentemente, pela fé que
uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd. 3), ou seja, lutar pela fé. Todos
os profetas e apóstolos e o próprio Cristo lutaram ininterruptamente pela
verdadeira fé. Jesus disse: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer
paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha
e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da
sua própria casa” (Mt 10.34-36).
Porque é necessário lutar? A necessidade como disse
Judas se deve ao fato de muitos serem “escarnecedores,
andando sem suas próprias paixões. ... sensuais, que não têm o Espírito” (Jd 18-19).
Se não houvesse quem fraudasse a Palavra de Deus, não
haveria necessidade de compaixão aos que vivem em
dúvidas. Afinal, os
duvidosos a quem Judas se refere são aqueles que foram e são enganados pelos
falsificadores da Palavra de Deus.
Sempre quando as pessoas me perguntam sobre os congregados
de outras denominações que lhes trazem observações a respeito da Palavra de
Deus, a minha resposta é única: “O problema é que aprendem assim. O
problema está com aquele que ensina. Quanto às pessoas que congregam na
determinada igreja, se mesmo tendo entendimento errado de um texto bíblico, mas,
possuir a fé verdadeira na obra de Jesus realizada na cruz, será salva. No
entanto, aí daquele que ensina as pessoas fraudando a Palavra de Deus”.
É necessário compadecer-se dos que
tem dúvida.
Compadecer é ajudar alguém que está
aflito ou que busca ajuda.
Certa vez um pastor foi solicitado a ir à um hospital. Um
paciente que havia recebido alta hospitalar desejava oração. O pastor foi, no
entanto, ficou impressionado com o fato de estar sendo chamado para orar por um
paciente que havia recebido alta e estava bem de saúde. O pastor disseque seu
diálogo com aquele homem foi da seguinte maneira:
- Você é cristão?
- sim, sou da igreja...
O pastor observou que não havia brilho em seu olhar. E a
falta de brilho não era devido ao seu estado de saúde. Assim o pastor disse:
- Ao chegar no quarto vi que estava lendo a
Bíblia. Qual livro bíblico estava lendo?
- Salmo 135.
- O que entende da Bíblia?
- temer ao Senhor.
- O que é temer ao Senhor?
- Temer ao Senhor e saber que Deus faz justiça.
Afinal, Deus é irado e sempre pune seus filhos até que os mesmos aprendam a se
comportar.
O pastor relatou que após aquela resposta, aquele homem
cheio de medo e pavor de Deus confessou os pecados que havia cometido antes da
enfermidade e que sua luta pela cura era justamente a punição pelos seus
pecados.
As pessoas, muitas dessas, nossos familiares, outros, nossos
amigos e alguns moram ao nosso lado, se encontram nas mais variadas dúvidas. Há
aqueles que mesmo estando numa igreja se encontram numa verdadeira confusão
espiritual.
“E compadecei-vos de
alguns que estão na dúvida” (Jd 22).
Judas no início da sua carta diz que desejava escrever uma
carta a respeito da salvação que tinham em comum, mas, devido a infiltração de
ensinamentos contrários a Palavra de Deus e desses fraudulentos continuarem
fazendo estragos e deixando muitas pessoas em dúvida, Judas escreveu uma carta
de convocação (Jd 3) para a batalha em torno da fé santíssima.
A convocação é um chamado para a vida na fé santíssima. Só
se é possível compadecer-se de alguém que está em dúvida
quando se está firme na fé.
Compadecer-se de alguém
que está em dúvida é saber que cada cristão e cristã firme na fé está em
missão. Como diz a letra do hino: “E nós que conhecemos
brilhante luz da fé, nas trevas deixaremos aquele que não crê? Sem mais demora
vamos falar-lhe do perdão que por Jesus gozamos: a eterna salvação” (Hinário Luterano 330.3).
“E compadecei-vos de
alguns que estão na dúvida” (Jd 22). O missionário da nossa rua, do nosso bairro sou eu
e não outra pessoa.
A missão do cristão é “arrebatando-os
do fogo” (Jd 23). Isso quer dizer que é necessário levar pela força,
reivindicar para si mesmo ansiosamente o próximo. Não pode deixá-lo
se perder. Nem o que está em dúvida, bem como o que ensina e causa polêmica. O
apóstolo Paulo mostrou isso ao corrigir o apóstolo Pedro em uma falta: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que
sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não
sejas também tentado” (Gl 6.1).
O problema, seja com quem está em dúvida ou com que causa a
dúvida, não deve ser resolvido com a exclusão. É necessário ter “compaixão e arrebatá-los do fogo”. É necessário, aos que
estão em Cristo, trabalhar urgentemente entre os criadores de problemas e os
que estão em dúvida. É preciso defender a verdade do evangelho entre os hereges
e os duvidosos.
Há uma preciosa missão à cada membro, à cada paróquia para com os que
estão em dúvida, bem como com aqueles que semeiam as dúvidas. Não se
pode simplesmente “cortar o mal pela raiz”.
É necessário espírito de compaixão, a qual nosso Senhor Jesus Cristo teve para
com cada pecador ao tomar seu lugar na cruz.
Dessa maneira, “guardai-vos no amor de
Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna” (Jd 21).
Continue esperando o que lhe foi e é oferecido por Jesus, “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus,
...” (Hb
12.2). Somente Jesus é “...àquele que é
poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados
diante da sua glória, ...” (Jd 24)
Só Jesus mantêm o olhar sobre, ou seja, cuida para que não
escape de suas mãos amorosas. Estando nas mãos de Jesus pela fé, cada pecador é
apresentado, ou seja, capaz de ficar de pé diante de Deus. Em Jesus, pela fé,
cada pecador permanece pronto e preparado e assim a igreja se curva em louvor
diante de Deus. Amém!
M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann