terça-feira, 21 de maio de 2013

Comunicando a Trindade

26/05/13 – A Santíssima Trindade
Sl 8; Pv 8. 1 – 4, 22 - 31; At 2. 14ª – 22 - 36; Jo 8. 48 - 59
Tema: Comunicando a Trindade
 
         Chegamos ao fim do primeiro semestre no calendário eclesiástico. Para quem ainda não sabe, o calendário da Igreja tem as seguintes festas:

Natal: festa que celebramos o amor de Deus Pai por nós pecadores;

Sexta-feira Santa, Páscoa e Ascensão: celebramos o amor do Filho que se ofereceu em sacrifício em nosso lugar;

Pentecostes: celebramos o amor do Espírito Santo que vem ao nosso encontro e opera a fé em nosso coração.

         Mesmo que iniciemos o segundo semestre do ano da igreja com a festa da Santíssima Trindade, não temos uma festividade especial para essa data. Mas isso não invalida o fato de que continuamos a meditar sobre o amor do Deus Triúno. Este período é designado de “Período da Trindade,” ou como denominado em nossa agenda litúrgica, Domingos após Pentecostes.

         O primeiro domingo do segundo semestre é dedicado, de forma especial, à Santíssima Trindade.

         Mesmo que muitos andam de casa em casa ensinando que não há Trindade, esta doutrina é ensinada em toda a Bíblia.

         As principais passagens do Antigo Testamento são: Gn 1.1-3, 26 (Jo 1.1-3), Elohim (plural); Nm 6.24; 2 Sm 23.2; Sl 33.6; 45.6,7; Is 42.1; Is 48.16,17; Is 61.1. As passagens do Novo Testamento são: Mt 3.16,17; Mt 17.5; Mt 28.19; Jo 14.5; Jo 17.5,24; Rm 8.26,27; 2Co 13.13; 1Pe 1.2. Essas verdades bíblicas foram magistralmente resumidas, após muitos estudos e orações, nos três Credos Ecumênicos, o Apostólico (AD 200), o Niceno (AD 325) e o chamado Atanasiano (AD 450).

         Desejamos meditar na doutrina da Santíssima Trindade, analisando os Credos Ecumênicos e nossas Confissões.

Credos e Confissões

        Por que temos Credos e Confissões?

        Hoje, muitas igrejas não as têm e até as detestam, dizendo: “Isto é formulação humana. A nós só interessa a palavra de Deus, a Bíblia.” No entanto, não podemos nos esquecer que Jesus perguntou pela confissão dos apóstolos: Quem diz o povo que eu sou? E o apóstolo Pedro confessou: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.13-16).

        Quem lê a Bíblia é constantemente perguntado:

O que entendeu? O que crê?

        Disto resulta uma Confissão.

O Credo Apostólico

        Quando um cristão vinha de outro lugar para uma comunidade cristã dizendo ser cristão era interrogado sobre sua fé. A pessoa respondia com frases tomadas das cartas dos apóstolos. E assim surgiu o Credo Apostólico, que são frases das cartas dos apóstolos.

        Com o passar dos tempos, devido às dúvidas sobre muitas doutrinas, o imperador romano Constantino, convertido ao cristianismo, estava empenhado pela unidade da Igreja Cristã. Para isso convidou 300 bispo do seu império para a cidade de Nicéia, na Turquia, para que clarificassem as divergências e buscassem a unidade da igreja. Assim surgiu em meio a muitos debates o Credo Niceno.

        Após vários outros concílios e estudos surgiu o Credo Atanasiano. Infelizmente isso não evitou o surgimento de outras doutrinas errôneas.

Deus, a Santíssima Trindade

        Muitas perguntas no passado e no presente foram e são sobre Deus. O assunto Deus sempre esteve em debate. Perguntas como: Quem é Deus? Quantos deuses há? Como posso conhecer a Deus?

        Os meios de comunicação trazem para dentro de nossos lares diferentes opiniões sobre Deus, religiões, doutrinas e cultos. A globalização desperta o espírito reducionista ecumênico que afirma: Há um só Deus. Todas as religiões são boas, elas só diferem na forma, e o mais importante na religião é o amor.

        E diante desse reducionismo, a questão que fica sem resposta para muitos continua sendo Quem é o verdadeiro Deus? Como posso conhecê-lo?

        A natureza e nossa consciência não revelam quem é Deus. Homens não podem descobri-lo, nem pela ciência, nem pela filosofia. É preciso que Deus se revele. E em sua Palavra Deus disse que: Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas (Hb 1.1,2).

Deus se revela à humanidade na Bíblia e somente na Bíblia.

        Ele só revelou o que precisamos saber para nossa salvação. À base da Bíblia, nosso Catecismo Menor afirma: “Deus é espírito; eterno, onipresente, onisciente, onipotente, santo, justo, verdadeiro, bondoso, misericordioso e gracioso (Cat. Menor, perg. 111).

        Deus se revelou como um único Deus, uma só essência divina em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Este mistério da Santíssima Trindade nossa razão não consegue compreender.

        Há uma essência divina em três pessoas. Há três pessoas que são divinas, mas eu não posso dizer que há três deuses. Deus não está dividido em três pessoas, mas as três pessoas são distintas uma da outra, são divinas, mas em uma única essência divina. A essência divina das três pessoas é uma só.

Jesus Cristo

        Assim como sempre houve e há duvidas sobre Deus, também houve e há duvidas sobre a pessoa de Jesus. Quem é Jesus Cristo? A virgem Maria só deu a luz a um homem? Quem morreu na cruz? Somente o homem Jesus? O Credo Niceno respondeu algumas destas perguntas e o A Fórmula de Concórdia, confissão da Igreja Luterana detalhou outras.

        Muitos diziam que Jesus era chamado de filho de Deus de uma maneira figurada. Esta doutrina foi condenada no Concílio de Nicéia e afirmou-se que Jesus é da mesma essência do Pai. Anunciamos no Credo Niceno: “E um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os mundos, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas...

         O Credo Niceno afirma que Jesus realmente é Deus. Maria deu a luz ao Filho de Deus.

        Mesmo com essa resposta, surgiram outras perguntas sobre a pessoa de Jesus e o relacionamento das duas naturezas de Cristo: a divina e a humana.

        Firmados na Escritura, nossos pais responderam que Jesus Cristo é uma pessoa, não duas, que tem uma completa natureza divina e uma completa natureza humana. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

        Como se explica isso? Essa união pessoal das duas naturezas em Jesus Cristo é um profundo mistério (1 Tm 3.16). Para nos transmitir uma pálida ideia, a Escritura compara essa união com a união entre corpo e alma, “Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9). À semelhança de corpo e alma as naturezas de Jesus Cristo permanecem distintas. À semelhança de corpo e alma, a natureza divina de tal maneira permeia e penetra a natureza humana. A natureza humana é de tal maneira penetrada pela natureza divina. E assim, ambas naturezas formam uma só pessoa.

         É muito importante sabermos isto. Pois, em relação à nossa salvação, se perguntamos quem morreu na cruz? Nossa resposta é que lá morreu Deus. As confissões da Igreja Luterana respondem corretamente ao dizer que “Portanto, a divindade e humanidade em Cristo é uma só pessoa, a Escritura, por causa dessa união pessoal atribui também à divindade tudo o que sucede à humanidade, e vive-versa (FC DS VIII.42). Se Deus não houvesse morrido por nós, mas apenas um homem, estaríamos perdidos eternamente. Se, porém, a morte de Deus e Deus morto está na balança, ela desce e nós subimos como prato leve e vazio... (nós, perdoados e absolvidos, justificados, pela morte de Cristo).

         É correto lembrar que Deus em sua natureza não pode morrer. Mas como, Deus e homem, estão unidos em uma pessoa, é correto falar sobre a morte de Deus.

         Infelizmente, essa verdade não é aceita por todos. Muitas seitas evangélicas, mesmo se dizendo evangélicas, não aceitam esta verdade. Julgam que Jesus como homem, seu corpo, está somente no céu, e ao nosso lado somente Jesus com sua divindade, como espírito. Por isso também não aceitam o ensino bíblico da Santa Ceia, julgando ser somente uma lembrança.

Credo Atanasiano

         O Credo Atanasiano é o terceiro e último dos credos ecumênicos. Foi aprovado, provavelmente no Concílio Calcedônio (a.D. 451) e reafirmado nos Concílios II e III de Constantinopla (a. D. 553 e 681, 690).

         Ele surgiu devido a várias perguntas teológicas sobre a Trindade.

         Inicialmente a redação foi atribuída a Atanásio. Mas, o Credo foi elaborado por uma comissão. O Credo, firmado na Bíblia, trata do mistério da Trindade. Não se buscou resolver o mistério da trindade racionalmente. O limite desse e dos outros Credos é tão somente até onde a Bíblia o revela. O Credo Atanasiano é o mais teológico dos três Credos.

         Um dos aspectos que destaca o Credo Atanasiano dos dois anteriores são suas frases condenatórias no começo, meio e fim. E num mundo pós-moderno onde não há verdades absolutas, essas frases chocam os ouvintes. As frases condenatórias são:

- Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã. Aquele que não a conservar em sua totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente.

- Aquele, portanto, que quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade. Entretanto é necessário para a salvação eterna crer também fielmente na humanação de nosso Senhor Jesus Cristo.

- Esta é a verdadeira fé cristã. Aquele que não o crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.

         A base bíblica para tais afirmações são as Palavras do apóstolo João: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai (1Jo 2.22-23). E todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo” (1Jo 4.3). Ainda: “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus (1Jo 5.12-13).

         As verdades do Credo Atanasiano são doutrinas fundamentais. Isto precisa ser ressaltado em nossos dias. E a urgência dessas afirmações decorre da globalização que traz consigo o reducionismo teológico que nos leva a um falso espírito ecumênico.

         Não foi intenção dos confessores pronunciar as sentenças condenatórias sobre cristão que devido a certa simplicidade da mente ou por faltar-lhes melhor conhecimento. O Credo Atanasiano pronuncia a sentença condenatória sobre aqueles que propositadamente e por obstinação rejeitam estas verdades reveladas.

        Creio no Deus Triúno.

        Jubilo com milhares de cristãos, dizendo com reverência e em profunda adoração:

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora é e por todo o sempre há de ser.

Amém!

 São Leopoldo, 15/05/2013
Distribuido na lista de pastores da IELB em 16/05/13.
autor: Horst R. Kuchenbecker
cortes e pequenas adaptações foram feitas por Edson Ronaldo Tressmann

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