08/07/12 – 6º Domingo após Pentecostes
Sl 123; Ez 2. 1 - 5; 2Co 12. 1 - 10; Mc 6. 1 - 13
Tema: Admirado: permaneça humilde.
“Se eu contar ninguém acredita”. Já ouviram essa frase?
Os programas de TV apelam para fatos estranhos, inacreditáveis, admiráveis e fazem um tremendo sucesso. Quem de nós já não assistiu; “Mundo Perdido”; reportagem ou programas sobre suposta aparição de “Ovinis”; quebra de “Recordes Mundiais”; “Curas e milagres”? Coisas admiráveis nos prendem diante da TV.
Todos nós nos admiramos com algo. “Se eu contar ninguém acredita”. Até Jesus, o próprio filho de Deus, ficou admirado, na verdade, assombrado. No entanto a sua admiração, ou assombro, foi à falta de fé dos nazarenos. O evangelista João Marcos diz: “E ficou admirado com a falta de fé que havia ali” (Mc 6.6).
O que te deixa admirado? As curas? Os milagres? A falta de fé do seu vizinho ou familiar?
Admirado: permaneça humilde.
O verbo “thaumázo” - significa “maravilhar-se, ficar atônito.” Aparece apenas duas vezes nas Escrituras. Precisamos entender que Jesus não ficava atônito por qualquer coisa, afinal ele é Deus. Ele criou o mundo, assim, nenhum fenômeno da natureza, por mais estranho que fosse lhe causaria assombro. E por que será que Jesus se assombrou, ficou atônito na sua própria cidade, Nazaré? A resposta é do povo: “...ficaram desiludidos com ele” (v.3).
As pessoas de Nazaré ficaram desiludidas com Jesus.
Escutaram seus ensinos na sinagoga e se maravilharam de sua sabedoria. Diziam uns aos outros: “De onde vem a sabedoria dele?” (v.2). Essa admiração do povo também aconteceu em Cafarnaum por ocasião do sermão do monte e em muitas outras ocasiões (Mc 1.27; Mt 7.28-29). O ensino de Jesus sempre deixava as pessoas admiradas.
As pessoas de Nazaré também comentavam os milagres de Jesus. Talvez alguns estivessem presentes na ressurreição da filha de Jairo. Ouviram falar como tinha expulsado demônios de um endemoniado na região de Gerasa. Ouviram sobre a calmaria que realizou no lago da Galiléia. Os milagres e feitos de Jesus deixavam as pessoas admiradas. E justamente por todos esses seus feitos, todas essas maravilhas, Jesus fica assombrado, atônito com os nazarenos que não quiseram crer nEle.
Por isso, sempre destacamos o correto ensino de que os feitos, por mais maravilhosos que sejam; as palavras, por mais extraordinárias que forem não vence a incredulidade. Por esse fato, o evangelista João Marcos narra que Jesus não realizou nenhum milagre em Nazaré. Jesus sabia que não seria através de fatos extraordinários que iria mudar as pessoas que o conheciam desde criança.
Esse ensino é transmitido por Jesus na parábola do rico e Lazáro (Lc 16.19-31). O rico no inferno pensou que seus irmãos iriam acreditar se vissem algo extraordinário acontecendo: “...Nesse caso, Pai Abraão, peço que mande Lázaro até a casa do meu pai porque eu tenho cinco irmãos. Deixe que ele vá e os avise para que assim não venham para este lugar de sofrimento” (Lc 16.27-28). A resposta foi contundente: “Os seus irmãos têm a lei de Moisés e os livros dos profetas para os avisar. Que eles os escutem!” (Lc 16.29). Mas, o rico persistiu pedindo por algo extraordinário: “Só isso não basta, Pai Abraão!...Porém, se alguém ressuscitar e for falar com eles se arrependerão dos seus pecados....” (Lc 16.30), a constatação real permaneceu: “..Se eles não escutarem Moisés nem os profetas, não crerão, mesmo que alguém ressuscite” (Lc 16.31).
Algo maravilhoso, fatos extraordinários não impactam a incredulidade. A falta de fé sempre se apega no negativo, não no positivo. E no caso dos nazarenos, o negativo é que eles conheciam Jesus desde criança. Conheciam sua mãe, seu finado pai, seus irmãos e irmãs. Sabiam que ele era um simples carpinteiro. E por isso não o chamavam pelo nome, mas o depreciavam dizendo: “...Onde ele aprendeu essas coisas? Não é ele o carpinteiro, filho de Maria?”
Por mais se faça coisas maravilhosas, por mais que se esforce em deixar os outros admirados, não se pode levar a fé. A incredulidade deprecia o que é maravilhoso, o que é espantoso.
O Novo Testamento está repleto de exemplos de pessoas que tropeçaram naquilo que elas não gostavam. Em 1Co 8.7-13 - Alguns irmãos se escandalizaram e se ofenderam por alguns estarem comendo carne oferecidas a ídolos. Em Mt 15.2 - vemos que alguns fariseus se escandalizaram por ver os discípulos de Jesus comerem sem lavar as mãos. Em Jo 6.60-66 - vemos que muitos reclamaram quando Jesus ensinou que ele era o pão da vida. Esses e outros motivos já haviam conduzido o profeta Isaias, o apóstolo Paulo a Pedro, pelo poder do Espírito Santo a dizer: “Esta é a Pedra em que as pessoas vão tropeçar, a rocha que vai fazê-las cair” (Is 8.14; Rm 9. 33; 1Pe 2.8).
Ainda há muitos incrédulos, ou como disse Jesus, muitos que são joio e que tropeçam e caem. Seu tropeço e queda se devem ao fato de olharem para as coisas que há e acontecem na congregação: “Ah, não vou na igreja, é sempre mesma coisa; os que estão lá não são melhores que eu, são bem piores; os cultos são bem mornos. Não há um louvor quente. Não há nenhum milagre. As pessoas não choram, etc”.
Conseguem entender porque Jesus se assombrou, porque ficou atônito diante da incredulidade dos nazarenos. A incredulidade é assombrosa, pois não é algo lógico nem objetivo. Na verdade, é uma decisão néscia e trágica da vontade humana que por natureza é pecadora.
Assim como Jesus se assombrou da incredulidade dos nazarenos, eu fico atônito, e gostaria que você ficasse admirado com Jesus. Afinal, seu amor é realmente um amor incomparável. Mesmo sendo desprezado, ele amava essa gente. Um ano antes ele já havia sido maltratado por essas pessoas em Nazaré, quando tentaram jogá-lo barranco abaixo, (Lc 4.28-29). Por amor a essas pessoas, Jesus queria dar uma chance, afinal eram amigos de sua família, seus antigos amigos, seus vizinhos.
Admirado, permaneça humilde.
Por qual motivo, Marcos registrou esse aparente fracasso de Jesus? Para nos tornar humildes quando atuamos na missão de Deus. Pois nós podemos incorrer no erro de nos orgulhar dizendo: “vejam esse conhecido, eu irei trazê-lo a igreja, pois tenho argumentos claros; meu sermão é maravilhoso, farei umas visitas, mas...”. Precisamos continuar humildes, pois não há procedimento seguro, e que dará resultados como nós esperamos. No evangelismo, na missão, não há fórmulas prontas ou mágicas para transformar um incrédulo em crente em Cristo. Por isso, não podemos na igreja, confiar em nossos talentos por melhores e mais espantosos que sejam. A obra é de Deus, como diz Paulo: “...mas foi Deus quem a fez crescer” (1Co 3.6b).
Esse foi o ensino de Deus ao profeta Ezequiel. Para evitar que Ezequiel se orgulhasse pensando: “o sucesso é certo, pois Deus me chamou”, Deus lhe anunciou: “Tanto se derem atenção a você como se não derem, eles vão saber que um profeta esteve no meio deles” (Ez 2.5). O ensino de humildade foi transmitido a Paulo: “Mas, para que não ficasse orgulhoso demais por causa das coisas maravilhosas que vi, eu recebi uma doença dolorosa, que é como um espinho no meu corpo. Ela veio como mensageiro de satanás para me dar bofetadas e impedir que eu ficasse orgulhoso” (2Co 12.7).
Somos convidados a humildemente nos maravilhar com o amor de Jesus Cristo e não nos admirar conosco mesmo. Quantas vezes raciocinamos com incredulidade, duvidando das palavras e promessas de Deus em Cristo? Duvidamos do poder de Deus que pode atuar na nossa vida. Quantas pessoas, inclusive nós, reagimos assim como as pessoas na casa de Jairo ao ouvir a certeza de que não morremos, mas dormimos. Quantas vezes pensamos: “aqui não há mais o que fazer, não há remédio”. Com Jesus Cristo não há situação sem saída, pois o anjo de Deus disse por duas vezes na Bíblia: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37; Gn 18.14). Em qualquer situação raciocinemos com fé e não com incredulidade.
Jesus não ficou assombrado somente nessa visita a Nazaré quando comprovou a falta de fé das pessoas com as quais ele fora criado. Jesus também ficou assombrado em outra oportunidade, quando escutou as palavras de fé de um capitão romano, que tinha um criado que estava doente. Quando este capitão que tinha muitos soldados ao seu comando reconheceu que Jesus tinha mais poder que ele, disse: “Não, Senhor! Eu não mereço que o Senhor entre na minha casa. Dê somente uma ordem, e o meu empregado ficará bom” (Mt 8.8). A admiração de Jesus foi registrada: “...Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nunca vi tanta fé, nem mesmo entre o povo de Israel!” (Mt 8.10).
Na Palavra de Deus, nós pastores, leigos, servas e jovens temos um grande consolo. Esse consolo é para nós que queremos cumprir com a grande comissão de fazer discípulos. Claro que ficamos admirados, assombrados quando todos os nossos esforços é seguido por incredulidade – quando as pessoas reagem de forma negativa diante da pregação da Palavra. Outras vezes ficamos admirados, pois alguém que nos parece um candidato a incredulidade, a ser joio, demonstra grande fé.
A fé é algo assombroso, que nos deixa admirados, o mesmo acontece com a incredulidade. Jesus sabia que as perspectivas para a fé neste mundo não eram boas, pois certa vez exclamou: “Eu afirmo a vocês que ele julgará a favor do seu povo e fará isso bem depressa. Mas, quando o Filho do Homem vier, será que vai encontrar fé na terra?” (Lc 18.8). E o que nos deixa admirados é que há muitas pessoas que crêem.
Precisamos deixar claro que a incredulidade é obra exclusivamente do ser humano. Isso quando se recusa a ver e ouvir aquilo que verdadeiramente nos deixa admirados, Jesus Cristo. A fé é obra exclusiva de Deus, nós não fizemos nada para obtê-la. Deus opera a fé em nossos corações, mesmo nós mortos em nossos pecados, (Ef 2.1,5). Em primeiro lugar em sua Palavra. As palavras de Cristo tem grande poder. O mesmo poder da criação, quando Deus disse: “Que haja luz! E ouve luz” (Gn 1.3), a mesma coisa quando Deus disse a André, Pedro, Tiago, João e Mateus, “Segue-me”, e eles o seguiram (Mc 1.17,20; 2.14). Esse chamado ocorreu antes mesmo de curar um menino que tinha um espírito imundo, antes de Jesus diante da tumba de Lázaro que já estava morto a 4 dias o chamar para fora. O chamado foi pela palavra, o poder está na palavra, não nos milagres que Jesus realizava. Ao contrário do que temos hoje. Onde são apresentados os Shows, ou seja, o mostrar a fé. Como se a fé fosse apenas demonstrado como cura.
A fé nos deve deixar maravilhado, pois para a criação do mundo não houve obstáculos. Mas para a fé há um grande obstáculo, “Eles não podem crer, pois o deus deste mundo conservou a mente deles na escuridão. Ele não os deixa ver a luz que brilha sobre eles, a luz que vem da boa noticia a respeito da glória de Cristo, o qual nos mostra como Deus realmente é” (2Co 4.4). Por isso, fiquemos admirados com o pai do menino curado quando pediu a Jesus: “...Ajuda-me a ter mais fé ainda!” (Mc 9.24). Esse homem deu toda a glória a Jesus Cristo e reconheceu que por seus esforços não podia ter fé. Nem mesmo por aquilo que havia acabado de presenciar. A fé é um presente dado por Deus.
A fé em Cristo nos deixa admirados porque o pecado que faz parte de cada ser humano leva-nos a preferir a escuridão, a incredulidade. Os vizinhos de Jesus em Nazaré se deixaram levar pelas evidências humanas. Graças a Deus, que Cristo morreu na cruz por todos os pecados. Esta morte na cruz nos deixa admirados. Parece uma derrota, uma vergonha, um abuso. Mas, é justamente através da cruz que não pode fazer nenhum milagre, nenhum ensino de sabedoria, que Deus resolve o nosso maior problema (1Co 1.22-24). A morte na cruz é a demonstração do profundo e imenso amor de Deus a todos nós pecadores. Por esse motivo, Paulo não quer se orgulhar de outra coisa a não ser a cruz, tanto que diz: “Mas eu me orgulharei somente da cruz do nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, por meio da cruz, o mundo está morto para mim, e eu estou morto para o mundo” (Gl 6.14). Tanto que logo após a morte de Jesus na cruz o capitão romano que presenciou a crucificação e morte, chegou a fé, pois confessou: “...De fato, este homem era o filho de Deus!” (Mc 15.39).
Fiquemos admirados com a morte de Jesus na cruz, pois só nesse Cristo pode haver fé na terra. Cada vez que recebemos a santa ceia, recordamos essa morte bendita e assim somos alimentados na fé que é algo que nos deixa admirados.
Na época de Jesus as pessoas pediam sinais, milagres, mas Jesus certa vez respondeu que o único sinal que seria dado era o de Jonas (Mt 12.39). Claro que Jesus fazia referência a sua ressurreição. As pessoas buscavam algo superficial, que as deixassem admiradas, e Jesus oferecia algo mais extraordinário, sua ressurreição. Jesus não ressuscitou para o próprio bem dEle. Pois se assim o fosse, tudo não passaria de um show. Ele também não usou marqueting, “...anos de poder”. Cristo ressuscitou para nós e por nós. Ressuscitado Jesus subindo aos céus comissionou os seus discípulos para que fossem a todas as nações e realizassem a sua obra: batizar, ensinar e assim fazer discípulos para Deus.
No batismo morremos e ressuscitamos com Cristo, e isso não foi apenas quando nos jogaram água na cabeça, mas todos os dias na luta diária contra o pecado. Graças ao poder da ressurreição que recebemos no batismo, foi afogada nossa assombrosa incredulidade e operou e cresce o que nos deixa verdadeiramente admirados, a nossa fé. Louvado seja Deus pela grande solução ao problema da incredulidade.
Ficamos admirados que após a ressurreição de Jesus, após a descida do Espírito Santo muitos vieram a crer em Jesus, e muitos até que eram incrédulos. Talvez até algum daqueles de Nazaré vieram a fé, pois Cristo não desejava a morte eterna de nenhum deles. Tanto que através de sua morte, ressurreição e envio do Espírito Santo, Ele fez todo o possível para transformar a assombrosa incredulidade deles em uma fé extraordinária.
É bom saber que para Jesus a incredulidade é algo assombroso. Pois assim não iremos nos subestimar diante dos obstáculos que impedem as pessoas de crer em Cristo. Mas, também podemos reconhecer neste dia que nosso Deus Triuno, Pai, Filho e Espírito Santo fez e faz algo mais assombroso ainda: cria a fé em corações duros e duvidosos. Não nos cansemos de fazer uso da palavra, dos sacramentos para permanecermos na fé, e assim não incorrer no perigo de cair na incredulidade.
Se eu contar ninguém acredita. Estou admirado, não com a incredulidade, pois essa me assombra, mas estou admirado com tantas pessoas estarem na fé. Vivamos nossa fé para outros cheguem a fé. Não fique apenas assombrado com a incredulidade, mas admiremos por todos os que estão na fé – pois a fé não é obra nossa é de Deus. Admirado: permaneça humilde. Amém!
Rev. Edson Ronaldo Tressmann
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