27 de fevereiro de 2022
Oitavo Domingo após Epifania.
Texto para pregação:
Lucas 6.39-49
Tema: Sem juízo!
Vivemos na sociedade do
ódio e da intolerância. Bertrand Russell (1872-1970) escreveu que “o coração humano, tal como a sociedade
moderna o modelou, está mais inclinado para o ódio do que para a fraternidade”.
Uma fechada no
trânsito, a lentidão do smartphone, questões políticas e sociais, se converte
em motivos de ira. Leandro Karnal (!963-) diz que “achamos que somos gente pacifica cercados por pessoas violentas”.
Os outros são violentos e rancorosos e eu uma pessoa dócil. O governo do ódio
faz desaparecer a generosidade e a empatia pelo outro.
Da intolerância e do
ódio nascem os julgamentos e as condenações que geram distúrbios sociais
conforme escreveu Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.), ou seja, espalhamos ofensas,
rivalidades, desunião e destruição mútua. As redes sociais, uma grande bênção,
têm sido um território fértil para disseminação do ódio.
Julgamentos e
condenações provêm de uma raiz odiosa ou preconceituosa.
Jesus condena o juízo
destrutivo e depreciativo decorrente de preconceito, pelo qual visa diminuir o
outro e exaltar-se pessoalmente. Nosso julgamento ajuda ou piora a situação?
O julgamento sem amor,
ancorado na ânsia mesquinha de criticar e condenar o outro para nos
sobressaltar é pecado. Muitas críticas visam apenas o brilho pessoal. Há quem critique
o outro, suas atitudes e ações, na expectativa de promoção pessoal. Dessa
forma, ao emitir um juízo a alguém ou alguma postura, o objetivo é se
classificar como bom e merecedor de elogios.
A falta de compreensão
e a intolerância gera condenação e produz preconceito, desrespeito e
recriminação. Ante essa realidade, o conselho dado por Jesus Cristo é sentir
compaixão em relação ao outro (Lc 6.36).
Jesus não fala sobre “sentir pena”, afinal, “sentir pena” é achar-se melhor que o
outro. Jesus fala de compaixão que é
empatia com a dor alheia. Ter empatia é nivelar-se com o outro, compreender o
problema e a dificuldade do outro como se fosse nosso problema e dificuldade. Nesse
sentido, antes de emitir algum julgamento e agir por ódio ou preconceito, repare o cisco
que está no seu olho (Lc 6.41). Assim como o outro a quem você
julga, lembre-se, você também está sujeito ao pecado e a queda e pode ser
julgado assim como julga. Pare
com seu julgamento destrutivo e sinta a dor do outro. Tire o cisco do
seu olho, afinal, esse cisco impede de ver o outro como se você estivesse
olhando num espelho e vendo a si mesmo.
Devido ao
individualismo, vivemos relacionamentos superficiais e para que eu seja melhor
que o outro, torna-se necessário julgar e diminuir o outro. Jesus abomina essa
postura!
Jesus diz que a maneira
como julgamos as pessoas, assim, Deus julga. Cuidado! O
metro com o qual você mede o próximo é usado para medir você.
Quem atiça a vingança e
a retaliação é um cego querendo guiar outro cego. Diga não a vingança e a
retaliação. Promova o perdão e o exercício da misericórdia.
Não estamos imunes das
perseguições, calúnias, difamações. E em meio a essas situações, Jesus pede
para produzirmos frutos para que os outros vejam que tipo de árvores nós somos
(Lc 6.44).
Não seja um juiz
severo, querendo ocupar o lugar do Senhor da Igreja. Não seja impaciente diante
do erro do seu irmão na fé. Não o julgue a ponto de destruí-lo. Lembre-se: o pecado do outro que você julga e assim se coloca
como maior e melhor é perdoado por Deus em Cristo Jesus. Jesus morreu na
cruz para nos livrar da condenação eterna do pecado.
Ao enfatizar que antes
de julgarmos alguém olhemos para o cisco que está em nosso olho, Jesus está
emitindo um poderoso alerta de que estamos sujeitos a mesma queda e pecado e
assim, podendo ser alvo do mesmo julgamento. Pois, com e medida que medimos
seremos medidos. Deixe-me explicar a ênfase de Jesus Cristo como uma questão: se fosse você
que tivesse feito o que fez aquele que você julga? Jesus fala sobre
manter um olhar alerta quanto a vida e conduta pessoal e não ficar cuidando da
vida alheio com intuito de julgar e condenar.
Julgar a vida de alguém,
havendo carências e deficiências em nosso caráter, é hipocrisia (Lc 6.42). A
única pessoa que você pode julgar é a si mesmo. Em relação ao próximo é
necessário ser compassivo e misericordioso. É necessário colocar o coração em sintonia com o outro
miserável pecador. Recorde que pecador por pecador, sou o maior e o
principal.
Evitar julgamentos e
condenações é não criar mais injustiça na vida de pessoas que infelizmente já
se sentem condenados pela sua consciência e consequência do seu erro.
O apostolo Paulo escreveu aos romanos: “A ninguém pagueis o mal com o mal; seja vossa preocupação fazer o que é bom para todos os homens, procurando, se possível, viver em paz com todos, por quanto de vós depende” (Rm 12.17).
Não posso desejar
e fazer tudo para viver na sociedade judaica onde há nítida separação do puro e
do impuro. Cuide para não pendurar no pescoço alheio a letra escarlate e
marginalizar socialmente uma pessoa devido o nosso julgamento.
O evangelista Mateus
escreveu: “sede
vós, pois, perfeitos como vosso Pai que estás nos céus é perfeito,”
e o evangelista Lucas optou por orientação do Espírito Santo substituir a palavra
perfeito por misericordioso.
Há exercício de misericórdia entre nós?
Em tempos em que o ódio é espalhado e difundido por julgamentos, muitos frutos
ruins estão sendo produzidos e árvores boas deixadas de serem plantadas,
regadas e cultivadas pelo exercício de misericórdia. Jesus disse: “uma árvore é
conhecida pelo seu próprio fruto” (Lc 6.43-44). Em outras palavras, ninguém pode ensinar o que não
entende (Lc 6.39), muitos cegos estão guiando outros cegos (Lc
6.39). Nenhuma árvore
produz frutos se não tem raiz para produzir (Lc 6.44).
Plantar,
regar, cultivar o perdão e a
compreensão dará uma
colheita de frutos inimagináveis.
Abstenha-se do julgamento para com o outro;
essa é uma prática perversa.
O espírito de censura
afastou muitas pessoas dos fariseus, dos escribas, dos essênios e da própria
religiosidade. Atualmente muitos evangélicos têm criado antipatia devido ao seu
censo apurado de julgamento e condenação para com outras pessoas e referidos
grupos. O que teu irmão,
aquele a quem você tanto julga, precisa é de frutos de uma boa árvore
(Lc 6.43). O fruto é a essência de alguém. É como se diz popularmente, uma
pessoa bonita por dentro. Um discípulo de Jesus não busca e nem
incentiva a vingança, mas age com misericórdia, perdoando aquele que lhe
ofendeu e oferecendo-lhe a outra face. Palavra e prática são produtos que saem
do armazém, de dentro de cada um.
Pessoas estão sofrendo
por desejarem que aquele que um dia lhe causou prejuízo ou sofrimento, padeça e
assim seja punido. Esse desejo íntimo de vingança leva pessoas a produzirem
frutos ruins: rancor, ódio, palavrões, julgamentos, amargura,... Jesus
aconselha a permanecer no alicerce do perdão para não padecer. O perdão faz
qualquer árvore produzir bons frutos. Frutos que alimentam, edificam e
constroem relacionamentos duradouros.
O perdão de Jesus nos
alimenta e o recebemos como alimento na Palavra, no Batismo e na Santa Ceia. O
perdão de Jesus edifica e acima de tudo, constrói um relacionamento eterno
entre mim e Deus. Amém.
ERT
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