segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Sem juízo!

 27 de fevereiro de 2022

Oitavo Domingo após Epifania.

Texto para pregação: Lucas 6.39-49

Tema: Sem juízo!

 

Vivemos na sociedade do ódio e da intolerância. Bertrand Russell (1872-1970) escreveu que “o coração humano, tal como a sociedade moderna o modelou, está mais inclinado para o ódio do que para a fraternidade”.

Uma fechada no trânsito, a lentidão do smartphone, questões políticas e sociais, se converte em motivos de ira. Leandro Karnal (!963-) diz que “achamos que somos gente pacifica cercados por pessoas violentas”. Os outros são violentos e rancorosos e eu uma pessoa dócil. O governo do ódio faz desaparecer a generosidade e a empatia pelo outro.

Da intolerância e do ódio nascem os julgamentos e as condenações que geram distúrbios sociais conforme escreveu Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.), ou seja, espalhamos ofensas, rivalidades, desunião e destruição mútua. As redes sociais, uma grande bênção, têm sido um território fértil para disseminação do ódio.

Julgamentos e condenações provêm de uma raiz odiosa ou preconceituosa.

Jesus condena o juízo destrutivo e depreciativo decorrente de preconceito, pelo qual visa diminuir o outro e exaltar-se pessoalmente. Nosso julgamento ajuda ou piora a situação?

O julgamento sem amor, ancorado na ânsia mesquinha de criticar e condenar o outro para nos sobressaltar é pecado. Muitas críticas visam apenas o brilho pessoal. Há quem critique o outro, suas atitudes e ações, na expectativa de promoção pessoal. Dessa forma, ao emitir um juízo a alguém ou alguma postura, o objetivo é se classificar como bom e merecedor de elogios.

A falta de compreensão e a intolerância gera condenação e produz preconceito, desrespeito e recriminação. Ante essa realidade, o conselho dado por Jesus Cristo é sentir compaixão em relação ao outro (Lc 6.36).

Jesus não fala sobre “sentir pena”, afinal, “sentir pena” é achar-se melhor que o outro. Jesus fala de compaixão que é empatia com a dor alheia. Ter empatia é nivelar-se com o outro, compreender o problema e a dificuldade do outro como se fosse nosso problema e dificuldade. Nesse sentido, antes de emitir algum julgamento e agir por ódio ou preconceito, repare o cisco que está no seu olho (Lc 6.41). Assim como o outro a quem você julga, lembre-se, você também está sujeito ao pecado e a queda e pode ser julgado assim como julga. Pare com seu julgamento destrutivo e sinta a dor do outro. Tire o cisco do seu olho, afinal, esse cisco impede de ver o outro como se você estivesse olhando num espelho e vendo a si mesmo.

Devido ao individualismo, vivemos relacionamentos superficiais e para que eu seja melhor que o outro, torna-se necessário julgar e diminuir o outro. Jesus abomina essa postura!

Jesus diz que a maneira como julgamos as pessoas, assim, Deus julga. Cuidado! O metro com o qual você mede o próximo é usado para medir você.

Quem atiça a vingança e a retaliação é um cego querendo guiar outro cego. Diga não a vingança e a retaliação. Promova o perdão e o exercício da misericórdia.

Não estamos imunes das perseguições, calúnias, difamações. E em meio a essas situações, Jesus pede para produzirmos frutos para que os outros vejam que tipo de árvores nós somos (Lc 6.44).

Não seja um juiz severo, querendo ocupar o lugar do Senhor da Igreja. Não seja impaciente diante do erro do seu irmão na fé. Não o julgue a ponto de destruí-lo. Lembre-se: o pecado do outro que você julga e assim se coloca como maior e melhor é perdoado por Deus em Cristo Jesus. Jesus morreu na cruz para nos livrar da condenação eterna do pecado.

Ao enfatizar que antes de julgarmos alguém olhemos para o cisco que está em nosso olho, Jesus está emitindo um poderoso alerta de que estamos sujeitos a mesma queda e pecado e assim, podendo ser alvo do mesmo julgamento. Pois, com e medida que medimos seremos medidos. Deixe-me explicar a ênfase de Jesus Cristo como uma questão: se fosse você que tivesse feito o que fez aquele que você julga? Jesus fala sobre manter um olhar alerta quanto a vida e conduta pessoal e não ficar cuidando da vida alheio com intuito de julgar e condenar.

Julgar a vida de alguém, havendo carências e deficiências em nosso caráter, é hipocrisia (Lc 6.42). A única pessoa que você pode julgar é a si mesmo. Em relação ao próximo é necessário ser compassivo e misericordioso. É necessário colocar o coração em sintonia com o outro miserável pecador. Recorde que pecador por pecador, sou o maior e o principal.

Evitar julgamentos e condenações é não criar mais injustiça na vida de pessoas que infelizmente já se sentem condenados pela sua consciência e consequência do seu erro.

O apostolo Paulo escreveu aos romanos: “A ninguém pagueis o mal com o mal; seja vossa preocupação fazer o que é bom para todos os homens, procurando, se possível, viver em paz com todos, por quanto de vós depende” (Rm 12.17). 

Não posso desejar e fazer tudo para viver na sociedade judaica onde há nítida separação do puro e do impuro. Cuide para não pendurar no pescoço alheio a letra escarlate e marginalizar socialmente uma pessoa devido o nosso julgamento.

O evangelista Mateus escreveu: “sede vós, pois, perfeitos como vosso Pai que estás nos céus é perfeito,” e o evangelista Lucas optou por orientação do Espírito Santo substituir a palavra perfeito por misericordioso.

Há exercício de misericórdia entre nós? Em tempos em que o ódio é espalhado e difundido por julgamentos, muitos frutos ruins estão sendo produzidos e árvores boas deixadas de serem plantadas, regadas e cultivadas pelo exercício de misericórdia. Jesus disse: “uma árvore é conhecida pelo seu próprio fruto” (Lc 6.43-44). Em outras palavras, ninguém pode ensinar o que não entende (Lc 6.39), muitos cegos estão guiando outros cegos (Lc 6.39). Nenhuma árvore produz frutos se não tem raiz para produzir (Lc 6.44).

Plantar, regar, cultivar o perdão e a compreensão dará uma colheita de frutos inimagináveis.

Abstenha-se do julgamento para com o outro; essa é uma prática perversa.

O espírito de censura afastou muitas pessoas dos fariseus, dos escribas, dos essênios e da própria religiosidade. Atualmente muitos evangélicos têm criado antipatia devido ao seu censo apurado de julgamento e condenação para com outras pessoas e referidos grupos. O que teu irmão, aquele a quem você tanto julga, precisa é de frutos de uma boa árvore (Lc 6.43). O fruto é a essência de alguém. É como se diz popularmente, uma pessoa bonita por dentro. Um discípulo de Jesus não busca e nem incentiva a vingança, mas age com misericórdia, perdoando aquele que lhe ofendeu e oferecendo-lhe a outra face. Palavra e prática são produtos que saem do armazém, de dentro de cada um.

Pessoas estão sofrendo por desejarem que aquele que um dia lhe causou prejuízo ou sofrimento, padeça e assim seja punido. Esse desejo íntimo de vingança leva pessoas a produzirem frutos ruins: rancor, ódio, palavrões, julgamentos, amargura,... Jesus aconselha a permanecer no alicerce do perdão para não padecer. O perdão faz qualquer árvore produzir bons frutos. Frutos que alimentam, edificam e constroem relacionamentos duradouros.

O perdão de Jesus nos alimenta e o recebemos como alimento na Palavra, no Batismo e na Santa Ceia. O perdão de Jesus edifica e acima de tudo, constrói um relacionamento eterno entre mim e Deus. Amém.

ERT

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