domingo, 21 de junho de 2020

116 anos! A IELB faz missão entre as nações.


Dia 24 de Junho 2020
116 anos da IELB
Textos: Sl 100; 1Rs 8.22-43; Ef 4. 1-6; Mt 28.18-29
Tema: A IELB faz missão entre as nações.

Cerca de 3,8 milhões de estrangeiros ingressaram no Brasil entre os anos de 1887 e 1930. Desses, 72% entre 1887 e 1914, ano em que houve uma redução das entradas em função da I Guerra mundial. Numericamente, na soma total da imigração - contabilizando a retomada do fluxo com o fim da I Guerra - os alemães, foi o quarto maior grupo. Muito aquém, portanto, dos italianos (1.513.151), portugueses (1.462.117) e espanhóis (598.802). Os teuto-brasileiros somaram cerca de 250 mil indivíduos. Dentre estes, o número dos imigrantes e seus descendentes que se filiaram ao Distrito Brasileiro do Sínodo de Missouri foi estimado, no ano de 1924, em 21.225 pessoas, espalhadas em 116 capelas pertencentes a 35 paróquias.
É preciso ressaltar que a ala do luteranismo que hoje constitui a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, IELB, tem sua origem na atuação de missionários norte-americanos, mas que desde o início do século XX sempre de novo enfatizaram que sua atuação nunca visou especificamente à população de origem alemã, chegando, inclusive, a ter comunidades constituídas exclusivamente por afro-brasileiros. A verdade é que o luteranismo, como um todo, continua a caracterizar-se, até hoje, por membros de sobrenome alemão. Mas, diante disso o historiador René Gertz diz que “deve-se chamar a atenção para o fato de que para a opinião pública brasileira, e também para muitos cientistas sociais, as comunidades de origem alemã em geral, e sobretudo as luteranas, se caracterizariam pelo profundo isolamento.”
Em uma pesquisa realizada no início dos anos 1960, sob orientação de Darcy Ribeiro, a respeito de uma comunidade rural no interior de Santa Catarina, lê-se: “a Comunidade Evangélica, sempre reunindo um grupo de origem alemã, constitui um dos fatores que mais se opõem à assimilação dos seus elementos à sociedade brasileira.
Mesmo que não fosse intencional, buscava-se levar o evangelho aos imigrantes alemães e seus descendentes “teuto-brasileiros.”
Para a direção do Sínodo de Missouri, esta ajuda não era apenas um dever de amor cristão, mas uma responsabilidade étnica. Comentava-se que ‘são alemães, são luteranos, cabe-nos ajudá-los’ (Steyer, 1999). No Brasil, os missionários não precisavam aprender uma língua estranha, que iria requerer grande esforço, pois podiam logo transmitir a palavra de Deus na língua materna alemã. Por outro lado, não precisavam procurar famílias alemãs isoladas e dispersas, pois centenas e milhares se encontram concentradas em vilas e cidades.
Nossa identificação, e isso faz parte do nosso DNA constituído, está atrelado a um grupo de imigrantes europeus. Grupo esse que está em extinção no Brasil, pois hoje, a sociedade brasileira está tomando forma, sendo uma miscigenação entre brancos, negros e índios. Estamos inseridos, depois de 116 anos num novo paradigma: “Uma Igreja de origem Europeia, atuante entre seus imigrantes europeus, buscando abrasileira-se.
E essa marca, “Igreja de Alemão” é que levou a grandes problemas para a nossa igreja, IELB. Por ser formada de protestantes alemães, era tida pelo governo, como um espião alemão em terras americanas e brasileiras. Esse fato triste e lamentável, devido à confusão, levou o sínodo de Missouri em solo norte americano se nacionalizar. E tendo, nossos irmãos norte-americanos, enfrentado esse processo antes de nós IELB, muito nos auxiliou nos passos a seguir diante da germanidade ante a guerra mundial. Conforme documentos da Convenção Nacional da IELB – 24 a 31 de janeiro de 1937 – Porto Alegre/RS vemos que nossa Igreja reconhece a existência de etnia e o cultivo de coisas pertinentes ao povo (manutenção do idioma e costumes). Tais são assuntos da vida dos cidadãos, e portanto, atribuições do arranjo da vida em sociedade (governo, partido, associação, etc)”. E nesse meio aconteceu a nossa identificação. Mas é triste, devido à confusão, ainda sermos conhecidos como uma “Igreja de alemães para alemães.”
A IELB foi muito perseguida no Período da Segunda Guerra Mundial. E essa perseguição se mostrou pela proibição do uso da língua alemã nos cultos e atividades da Igreja. Pastores foram presos. Literatura confiscada. Igrejas foram saqueadas (Igreja Queimada) Cerrito/RS. Um período caracterizado magistralmente pelas palavras do secretário executivo das Missões da LCMS
“Estes foram dias de perigo e amargo sofrimento. Nunca, na história do Sínodo de Missouri, nossos cristãos, em algum lugar, sofreram tanta ameaça, antagonismo, animosidade, perseguição às nossas congregações, pastores, irmãos em Cristo como está acontecendo no Brasil”
Até o período inicial da Primeira Guerra, a vida dos sínodos luterano-alemães no Brasil não fora alterada substancialmente. Também porque o Brasil na época desenvolvia políticas de neutralidade em relação ao conflito internacional. Não obstante, os recorrentes posicionamentos das comunidades alemãs em favor da terra mãe em situações belicosas, o envio de verbas e auxílio à Alemanha, as intenções imperialistas do Kaiser, bem como o uso contínuo e generalizado do idioma alemão (em igrejas e escolas) e o cultivo das tradições alemãs, iam criando certo espírito de animosidade na opinião pública contra os teuto-imigrantes.
Como era de se esperar diante de tal quadro, aquela situação de relativa estabilidade viria a se alterar a partir de 1917, com a ruptura das relações diplomáticas com o Reich e a entrada brasileira na Guerra junto aos aliados. No final do mesmo ano as represálias à comunidade teuto-brasileira vieram à tona: as escolas alemãs foram fechadas progressivamente e foi proibida a utilização do idioma alemão.
Em meio a tais represálias, o Mensageiro Cristão de 15 de abril de 1918 trouxe, sob o título "Paz seja convosco", as palavras do pastor Louis Rehfeldt, afirmando que ainda que o mundo espere o restabelecimento da paz, essa "utopia dos visionários", a paz universal, nunca aconteceria. O pastor Rehfeldt, então professor do Seminário Concórdia e redator do periódico, conclui asseverando que a paz de Cristo, que excede todo o humano entendimento, essa paz o mundo não conhece (Mensageiro Cristão, nº 6: 21), e nem queria conhecer. E diante dessa constatação podemos louvar a Deus e entender que nos tem preservado para que essa paz, a vida seja comunicada.
A ideia subjacente de "paz" religiosa, ao mesmo tempo oposta e alternativa ao "mundo", traz consigo a semente da espiritualidade confessional luterano missouriana. Em sua concepção, a paz completa e verdadeira somente poderia ser alcançada através da fé em Cristo, pelo qual se tem a salvação. Essa paz o "mundo" não pode trazer. Somente o pode a Escritura corretamente interpretada, palavra inspirada por Deus. E essa é a missão e o desafio da IELB. Ser uma Igreja Confessional que atinge as pessoas, tanto com palavras como em ação.
Quando caíram as sombras da desconfiança por sobre o "perigoso" germanismo brasileiro, com a sanção governamental da proibição do idioma alemão, o Sínodo de Missouri se viu nivelado em meio aos demais grupos de imigrantes e, nesse contexto, Johannes Kunstmann achou necessário reafirmar, em 31 de outubro (data da comemoração da Reforma Luterana), o que era em sua concepção confessional o verdadeiro luteranismo:
Nesses tempos, quando o luteranismo, em países de fala inglesa, é confundido com germanismo, e em nosso país, ao menos por parte da Igreja Evangélica alemã unionista, com americanismo, vale a pena lembrar o que realmente significa luteranismo. (…) Luteranismo, como tal, de nenhum modo significa germanismo ou americanismo. (...) Luteranismo não tem, em absoluto, nada a ver com política ou "Kultur", ou com zonas de interesse, ou com qualquer outro assunto deste mundo (...) O luteranismo sustenta o princípio 'Sola Scriptura'. Ele reivindica que a Bíblia, por ser a palavra inspirada de Deus, é a única fonte e norma de todas as doutrinas de fé e moral. (...) afirma o 'Sola Gratia'. Professa Cristo, e ele crucificado, ensinando que não há outro nome pelo qual o homem possa ser salvo (...) e que, portanto, o homem não é justificado por suas obras, mas pela graça, por causa de Cristo (...) Luteranismo é (…) o verdadeiro campeão da liberdade diante do papa e do clero, da liberdade religiosa da consciência, da liberdade da igreja e dos indivíduos, somente ordenando os luteranos a Cristo Jesus, seu único mestre (...) (Suplemento para leitores em inglês, Mensageiro Luterano, nº 19, 31/10/1918).
Essa afirmação é reveladora das transformações para uma igreja brasileira e nos ajuda nesse ponto em que queremos mostrar que nossa fidelidade não é racial, ou de origem eclesiástica, mas antes de tudo e acima de tudo, confessionalidade bíblica.
Na IELB a ultima palavra é do Evangelho. Por isso “evangélica.” Evangelho esse trazido de volta por Lutero através da exegese bíblica. E essa volta a exegese bíblica para que a vida continue sendo comunicado é urgente e fundamental, pois vivemos dias de eixegese.
Como Igreja Cristã, sabemos que as perseguições e tribulações fazem parte da Igreja, assim como dito ao apóstolo João de que “...seu estômago ficará amargo,...” (Ap 10. 10). Mas, entre as tribulações, reconhecemos que o Evangelho traz alegrias incontáveis, como anunciado ao apóstolo João: “...mas sua boca será doce como mel” (Ap 10.10). Por isso, continuemos nossa missão, “Indo e anunciando o evangelho salvador”.

Pr Edson Ronaldo Tressmann

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