Domingo da Santíssima
Trindade
Sl 8; Pv 8.1-4,22-31; At 2.14a,22-36; Jo 8.48-59
Tema: Refletindo sobre
a Trindade!
A palavra “Trindade” é uma expressão teológica
que não está na Bíblia. Mas em toda a Bíblia, em diversas passagens, Deus se
revela como sendo três pessoas.
Ao dizer que a Trindade é um termo teológico, o objetivo é enfatizar que essa
expressão é a que melhor define o ensino Bíblico sobre Deus. Mesmo que o termo trindade não apareça na Bíblia - é um
ensinamento puramente bíblico.
Muitas igrejas e pessoas que se dizem
cristãs, mas negam a Trindade e outros ensinamentos da Bíblia. Entre os que
negam essa doutrina estão as Testemunhas de Jeová, os Mórmons e os Espíritas. Negam
esse ensino pelo simples fato do termo não aparecer na Bíblia.
O termo Trinitas
(latim – Trindade) foi usada pela primeira vez por Tertuliano (200 d.C.), que
também cunhou o termo Persona (latim – pessoa) para descrever a manifestação do
Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Não podemos simplesmente nos
contentar em dizer que tanto faz se “Deus
é Jeová, Alá, Espírito Supremo, Energia cósmica, ou o Deus Triúno”.
Se
usamos o argumento de que os apóstolos nada escreveram a respeito precisamos
recordar que os apóstolos não estavam preocupados com a questão que envolve a trindade,
pois não havia dúvidas (Jo 1.1; Mt 28.19-20) e questionamentos entre eles sobre
esse assunto como há em nossos dias.
Conforme
a igreja foi avançando e atravessando fronteiras, foram surgindo questões que
não tinham preocupado os apóstolos e com esses assuntos a igreja precisou lidar.
A questão em torno da
expressão Trindade desenvolveu-se a partir do segundo século.
A
doutrina da Trindade é ensinada em toda a Bíblia. As principais passagens do
Antigo Testamento são: Gn 1.1-3, 26 (Jo 1.1-3), Elohim (plural); Nm 6.24; 2 Sm
23.2; Sl 33.6; 45.6,7; Is 42.1; Is 48.16,17; Is 61.1. As passagens do Novo
Testamento são: Mt 3.16,17; Mt 17.5; Mt 28.19; Jo 14.5; Jo 17.5,24; Rm 8.26,27;
2Co 13.13; 1Pe 1.2.
Essas
verdades bíblicas foram magistralmente resumidas, após muitos estudos e
orações, nos três Credos Ecumênicos, o Apostólico (AD 200), o Niceno (AD 325) e o chamado Atanasiano
(AD 450).
Talvez você esteja se perguntando: mas,
pastor, se somos uma igreja evangélica, por que temos Credos e
Confissões?
É verdade que as igrejas intituladas
evangélicas não têm os credos e até os detestam ressaltam que: “Isto é formulação humana e que só interessa a
palavra de Deus, a Bíblia”.
No entanto, não podemos nos esquecer
que Jesus perguntou pela confissão dos apóstolos: Quem diz o povo que eu sou? E o apóstolo Pedro confessou: Tu és o Cristo, o Filho do
Deus vivo (Mt 16.13-16).
Para o mundo tanto faz se “Deus
é Jeová, Alá, Espírito Supremo, Energia cósmica, ou o Deus Triúno”,
no entanto, nós, desejamos que as pessoas de fato e de verdade confessem sua fé
com segurança. Para esse mundo, em que tanto faz em quem creio ou deixo de
crer, eu sou enviado e com a tarefa de proclamar quem é Deus, quem é Jesus,
quem é o Espírito Santo.
Toda e qualquer confissão resulta de
uma leitura da Bíblia. E lendo a Bíblia, Palavra de Deus, afirmamos quem é Deus
conforme os credos o fazem.
Sobre o Credo Apostólico precisamos destacar
que quando um cristão vinha de outro lugar para uma comunidade cristã se dizendo
cristã era interrogada sobre sua fé. A pessoa respondia com frases tomadas das
cartas dos apóstolos, e assim surgiu o Credo Apostólico, que nada mais é do que frases das
cartas dos apóstolos.
Com a proclamação do evangelho,
ocorreram muitas conversões, sendo que entre os muitos convertidos, encontramos
a conversão do imperador romano Constantino. Esse se empenhou pela unidade da
Igreja Cristã. Para isso convidou 300 bispo do seu império para a cidade de
Nicéia, na Turquia, para que clarificassem as divergências e buscassem a
unidade da igreja, afinal, com o avanço da fé cristã muitas dúvidas surgiram a
respeito de temas doutrinários. E dessa reunião para sanar dúvidas, surgiu em
meio a muitos debates o Credo Niceno. E após vários outros concílios e
estudos surgiu o Credo
Atanasiano.
Muitas perguntas no passado e no
presente foram e são sobre Deus. O assunto Deus sempre esteve e está em debate.
Atualmente o debate sobre Deus se dá sobre o tema criacionismo. Há muitas perguntas
sobre: Quem
é Deus? Quantos deuses há? Como posso conhecer a Deus?
Os meios de comunicação estão trazendo
para dentro de nossos lares diferentes opiniões sobre Deus, religiões,
doutrinas e cultos. Entre nós já não há unanimidade sore vários assuntos que
são apresentados de maneira clara nas Escrituras.
A globalização despertou e desperta o
espírito reducionista ecumênico que afirma: Há um só Deus.
Todas as religiões são boas, elas só diferem na forma, e o mais importante na
religião é o amor. E por causa desse reducionismo, a questão que
fica sem resposta para muitos é: Quem é o verdadeiro Deus? Como posso
conhecê-lo?
Nem a natureza, nem a nossa
consciência nos revelam quem é Deus. O homem por sua racionalidade não pode
descobrir quem é Deus. A ciência e a filosofia não definem quem é Deus.
A verdade é que é preciso que Deus se revele. Por essa razão, ele nos deixou a
sua Palavra escrita e preserva o ministério para sua palavra ser proclamada. Na
carta aos Hebreus está escrito: “Havendo Deus,
outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas
as coisas” (Hb
1.1,2).
Deus se revela à humanidade na Bíblia e somente na Bíblia.
Ele só revelou o que
precisamos saber para nossa salvação. À base da Bíblia, nosso Catecismo Menor
afirma: “Deus
é espírito; eterno, onipresente, onisciente, onipotente, santo, justo,
verdadeiro, bondoso, misericordioso e gracioso” (Cat. Menor, perg. 111).
Deus se revelou como um
único Deus, uma só essência divina em três pessoas distintas: Pai, Filho e
Espírito Santo. Este mistério da
Santíssima Trindade nossa razão não consegue compreender.
Há uma essência divina em
três pessoas. Há três pessoas que são divinas, mas eu não posso dizer que há
três deuses. Deus não está dividido em três pessoas, mas as três pessoas são
distintas uma da outra, são divinas, mas em uma única essência divina. A
essência divina das três pessoas é uma só.
Jesus Cristo
Assim
como sempre
houve e há dúvidas sobre Deus, também houve e há dúvidas sobre a pessoa de
Jesus. Quem
é Jesus Cristo? A virgem Maria só deu a luz a um homem? Quem morreu na cruz?
Somente o homem Jesus? O Credo Niceno respondeu algumas destas
perguntas e o A Fórmula de Concórdia, confissão da Igreja Luterana detalhou
outras.
Muitos diziam que Jesus
era chamado de filho de Deus de uma maneira figurada. Esta doutrina foi
condenada no Concílio de Nicéia e afirmou-se que Jesus é da mesma essência do
Pai. Anunciamos no Credo Niceno: “E um só Senhor Jesus
Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os mundos, Deus
de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, por
quem todas as coisas foram feitas... ”
O Credo Niceno afirma que Jesus
realmente é Deus. Maria deu a luz ao Filho de Deus.
Mesmo com essa resposta, surgiram
outras perguntas sobre a pessoa de Jesus e o relacionamento das duas naturezas de
Cristo: a divina e a humana.
Firmados na Escritura, nossos pais
responderam que Jesus Cristo é uma pessoa, não duas, que tem uma completa
natureza divina e uma completa natureza humana. Jesus Cristo é verdadeiro Deus
e verdadeiro homem.
Como se explica isso? Essa união pessoal das duas naturezas em Jesus Cristo é um profundo
mistério (1 Tm 3.16). Para nos transmitir uma pálida ideia, a Escritura compara
essa união com a união entre corpo e alma, “Nele, habita,
corporalmente, toda a plenitude da Divindade”
(Cl 2.9). À semelhança de corpo e alma as naturezas de Jesus
Cristo permanecem distintas. À semelhança de corpo e alma, a natureza divina de
tal maneira permeia e penetra a natureza humana. A natureza humana é de tal
maneira penetrada pela natureza divina. E assim, ambas naturezas formam uma só
pessoa.
É
muito importante sabermos isto. Pois, em relação à nossa salvação, se perguntamos quem morreu na
cruz? Nossa resposta é que lá morreu Deus. As confissões da Igreja
Luterana respondem corretamente ao dizer que “Portanto,
a divindade e humanidade em Cristo é uma só pessoa, a Escritura, por causa
dessa união pessoal atribui também à divindade tudo o que sucede à humanidade,
e vive-versa” (FC DS VIII.42). Se Deus não houvesse morrido por nós, mas apenas um homem,
estaríamos perdidos eternamente. Se,
porém, a morte de Deus e Deus morto está na balança, ela desce e nós subimos
como prato leve e vazio... (nós, perdoados e absolvidos,
justificados, pela morte de Cristo).
É
correto lembrar que Deus em sua natureza não pode morrer. Mas como, Deus e
homem, estão unidos em uma pessoa, é correto falar sobre a morte de Deus.
Infelizmente,
essa verdade não é aceita por todos. Muitas seitas evangélicas, mesmo se
dizendo evangélicas, não aceitam esta verdade. Julgam que Jesus como homem, seu
corpo, está somente no céu, e ao nosso lado somente Jesus com sua divindade,
como espírito. Por isso também não aceitam o ensino bíblico da Santa Ceia,
julgando ser somente uma lembrança.
Credo Atanasiano
O
Credo Atanasiano é o terceiro e último dos credos ecumênicos. Foi aprovado,
provavelmente no Concílio Calcedônio (a.D. 451) e reafirmado nos Concílios II e
III de Constantinopla (a. D. 553 e 681, 690).
Ele
surgiu devido a várias perguntas teológicas sobre a Trindade.
Inicialmente
a redação foi atribuída a Atanásio. Mas, o Credo foi elaborado por uma
comissão. O Credo, firmado na Bíblia, trata do mistério da Trindade. Não se
buscou resolver o mistério da trindade racionalmente. O limite desse e dos
outros Credos é tão somente até onde a Bíblia o revela. O Credo Atanasiano é o
mais teológico dos três Credos.
Um
dos aspectos que destaca o Credo Atanasiano dos dois anteriores são suas frases
condenatórias no começo, meio e fim. E num mundo pós-moderno onde não há
verdades absolutas, essas frases chocam os ouvintes. As frases condenatórias
são:
- Aquele que quiser ser salvo, antes
de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã. Aquele que não a conservar em sua
totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente.
- Aquele, portanto, que quiser ser
salvo, deverá pensar assim da Trindade. Entretanto é necessário para a salvação
eterna crer também fielmente na humanação de nosso Senhor Jesus Cristo.
- Esta é a verdadeira fé cristã.
Aquele que não o crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.
A
base bíblica para tais afirmações são as Palavras do apóstolo João: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é
o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega
o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai”
(1Jo 2.22-23). “E todo espírito
que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito
do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já
está no mundo” (1Jo 4.3). Ainda: “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem
o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que
tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (1Jo 5.12-13).
As verdades do Credo
Atanasiano são doutrinas fundamentais. Isto precisa ser ressaltado em
nossos dias. E a urgência dessas afirmações decorre da globalização que traz
consigo o reducionismo teológico que nos leva a um falso espírito ecumênico.
Não foi intenção dos confessores pronunciar as sentenças
condenatórias sobre cristão que devido a certa simplicidade da mente ou por
faltar-lhes melhor conhecimento. O Credo
Atanasiano pronuncia a sentença condenatória sobre aqueles que
propositadamente e por obstinação rejeitam estas verdades reveladas.
Creio no Deus Triúno.
Agostinho, um teólogo da Igreja
Cristã que viveu no século terceiro na África, tentava entender a Trindade pela
razão. Certo dia, caminhando pela praia e pensando sobre a Trindade, viu ao
longe uma criança que pegava água do mar e derramava num buraco que havia
cavado na areia. A cena repetiu-se várias vezes até que Agostinho passou pela
criança. Algumas horas depois, voltando de sua caminhada, e ainda refletindo
sobre a Trindade, Agostinho encontrou a mesma criança pegando água do mar e
colocando dentro do buraco cavado na areia. O fato chamou a atenção de
Agostinho que perguntou a ela o que fazia. A resposta veio logo: Estou colocando o mar dentro deste buraco.
Agostinho ficou espantado com a ideia e perguntou: Será que vai caber? A criança, na sua inocência, respondeu: Estou fazendo isso desde que amanheceu, e o
buraco ainda não encheu...
Naquele momento Agostinho compreendeu
que estava tentando fazer o mesmo: Colocar o Deus eterno e todo-poderosos
dentro de sua limitada razão.
Compreender a Trindade está
fora da compreensão humana.
Edson Ronaldo Tressmann
Bibliografia
MUELLER, John Theodore. Dogmática
Cristã. Porto Alegre, Concórdia, 2004.
GONZÁLES, Justo L. Uma
História Ilustrada do Cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1978.
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