terça-feira, 27 de junho de 2017

Entre a cruz e a espada!

02 de julho de 2017
4º Domingo após Pentecostes
Sl 119.153-160; Jr 28.5-9; Rm 7.1-13; Mt 10.34-42
Tema: Entre a cruz e a espada!

        Os versículos16 ao 42 do evangelista Mateus é uma seção com muitos temas. Todos os temas conduzem a preparação dos discípulos para o futuro ministério. Afinal, o ministério da misericórdia, graça e fé só seria efetivado após a crucificação e ressurreição de Jesus.
Entre a cruz e a espada!
1 – a paz da cruz
        Entre esses muitos temas encontramos discípulos surpresos com as palavras de Jesus que ressaltou que “não veio trazer paz, ... mas a espada” (Mt 10.34). Foi surpreendente porque, afinal, as profecias anunciavam um príncipe da paz (Is 9.6). A paz fazia parte dos ensinamentos de Jesus (Mt 5.9, 10.13; Mc 9.50). E de repente escutam Jesus proibindo até mesmo de pensar sobre essa hipótese, “Não penseis ...” (Mt 10.34).
        Como não pensar, se ansiosamente esperávamos por um Messias que trouxesse a paz? As Escrituras fazem referência ao príncipe da paz (Is 9.6). Os pastores nas campinas em Belém ouviram a boa nova dos anjos que disseram “glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem” (Lc 2.14).
        Como é possível, o príncipe da paz proclamar que haverá espada e não paz? Jesus na verdade não está desqualificando sua missão. Ele está advertindo sobre a oposição e perseguição que os apóstolos e discípulos sofreriam por causa do nome dele, “Pois vim causar divisão entre homem e seu pai; ...” (Mt 10.35).
Os ensinos resumidos no capítulo 10 de Mateus foram lições dadas em vários dias. Os versículos 9 a 15 se encontram em partes no evangelho de Marcos e Lucas. Ecos dos versículos 17 a 25 se encontram na parte escatológica de Marcos 13 e Lucas 21. Os ensinos dos versículos 26 a 30 se encontram dispersos em Lucas. Os versículos 40 a 42 são particulares de Mateus.
O capítulo 10 de Mateus se caracteriza a comissão e a missão dos apóstolos. Jesus fala da natureza da sua missão e a resposta que os discípulos iriam receber. Alguns receberiam a mensagem e o príncipe da paz, outros infelizmente rejeitariam. Entre esses dois grupos não há possibilidade de paz. A maior parte do capítulo 10 de Mateus aponta para o lado negativo da atividade missionária. A violência e a oposição ao evangelho.
        A oposição ao evangelho pode ser apresentada de maneira simples de acordo com as palavras do apóstolo Paulo na suas duas cartas aos coríntios. Na segunda carta Paulo disse: “...que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2Co 5.19). A mensagem da cruz, a obra de Cristo é o meio pelo qual o pecador é reconciliado com Deus. No entanto, em sua primeira carta aos Coríntios Paulo disse que “...pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os judeus” (1Co 1.23).
        A oposição ao evangelho está no fato do ser humano pecador não aceitar o jeito de Deus em agir e salvar. Na obra de Jesus, na cruz de Jesus, está a paz de Deus. Essa paz é oferecida gratuitamente. No entanto, é oferecida pela cruz, pela obra de Cristo. E essa obra tem causado desespero aos ignorantes que continuam presos no rigor da lei.
        Assim como não há Jesus sem cruz, não há um discípulo sem cruz!
Entre a cruz e a espada!
2 – o discípulo
        Jesus adverte quanto ao preço do discipulado. A espada não se refere apenas a violência em si. Por espada pode se entender as divisões que a mensagem de Cristo causa. Enquanto há os que afirmam, ensinam e confessam que “o justo vive pela fé” (Rm 1.17), há aqueles que acrescentam outros elementos adicionais a fé.
        Jesus disse que sua mensagem, mensagem de paz para com Deus, seria uma mensagem que iria dividir. A divisão é visível. E será real e realizada quando Jesus voltar para julgar os vivos e os mortos.
        A igreja deixa de pregar corretamente para tentar agradar e buscar uma paz entre desiguais que não existe.
        O evangelista (Mt 10. 26-33) ressalta que Jesus fala sobre quem os discípulos devem temer. “...; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28). Um discípulo de Cristo, não deve se preocupar sobre os desagrados que a mensagem da cruz irá lhe causar, pois é uma ovelha enviada para estar no meio dos lobos (Mt 10.16) para que a mensagem da paz transforme os lobos em ovelhas.
        Qual é o preço a se pagar no discipulado? Qual é a tarefa mais árdua para um discípulo? O preço é ser perseguido, injustiçado. A tarefa é proclamar a doutrina pura do evangelho de Jesus Cristo. Expor, refutar e rejeitar ensinamentos que são contrários ao evangelho de Jesus Cristo.
        Tentemos imaginar como seria se Atanásio tivesse se calado diante dos ataques de Ario. Atanásio não se calou, ele expôs, refutou e rejeitou o ensino contrário que Ario estava disseminando. Atanásio defendeu a fé verdadeira. Se caso tivesse se calado com medo da divisão, o arianismo teria influenciado muito mais do que já influencia e, muitos outros estragos teriam atingido a igreja cristã.
        Luteranos, tentem imaginar se Lutero tivesse seguido o conselho do seu superior João Staupitz e ficasse em silêncio e silenciosamente pregasse sobre a obra salvadora de Jesus Cristo somente aos monges. Talvez ainda hoje a Reforma não teria ocorrido. Se Lutero tivesse se calado, não teria acontecido tantas coisas maravilhosas ao cristianismo como ocorreram nesses quase 500 anos após a Reforma. Se a Reforma Protestante tivesse sido calada, a Bíblia não estaria ao alcance do povo simples. A liturgia ainda seria em latim. O povo continuaria preso nas suas superstições e principalmente estaria comprando a salvação com as cartas de indulgências.
        Se esses e tantos outros homens tivessem se calado, nós estaríamos sem o conhecimento do verdadeiro evangelho.
        Atanásio, Lutero e tantos outros pais da igreja não queriam ter inimigos, não queriam ser odiados, muito menos perseguidos, mas tudo isso é bem melhor do se calar sobre a verdade. É melhor o ódio, a perseguição e inimigos do que deixar de confessar a verdade e destruir o erro. Esses homens e tantos outros conheciam, entediam e aplicavam em suas vidas as palavras de Jesus: “Vós sois a luz do mundo, vós sois o sal da terra”.
        Ser sal é fazer arder a ferida do erro. Ser luz e elucidar coisas obscuras aos olhos dos simples. Fazer arder a ferida do erro e dar luz ao entendimento é fazer cumprir as palavras de Jesus: “não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10.34).
Entre a cruz e a espada!
3 – a promessa
        Jesus transmite a mensagem escrita pelo evangelista Mateus para que os seus discípulos diante de tudo isso nem começassem a se assustar ou ficar com medo. Jesus garante que “...até os fios dos seus cabelos estão todos contados...” (Mt 10.30). Antes de subir aos céus, Jesus garante aos seus discípulos: “...estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28.20).
        O discípulo de Cristo, é enviado para pregar a verdade. Jesus proclama aos seus discípulos, antes de irem proclamar o evangelho da chegada do Salvador na Palestina. Essa mensagem além de conforto, consolo e paz de espírito, era uma mensagem que traria divisão, ódio, perseguição. Jesus em seu sermão dirigido aos seus discípulos lhes anuncia para que o medo não interfira na pregação do evangelho.
        Ser pregador do evangelho envolve uma grande responsabilidade! Não é apenas um trabalho de coragem, haja visto envolver tanto perigo. A responsabilidade envolve pregar a verdade do evangelho. Mesmo que isso custe a própria vida nesse mundo. Pois, a vida eterna com Cristo é garantida pela obra de Jesus.
        O enviado da parte de Jesus para proclamar o evangelho sabe da oposição, do ódio, da perseguição, mas também sabe que terá muitos irmãos, irmãs, pais e mães. Jesus ama tanto seus pregadores que “quem os receber, recebe a Jesus ... Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá recompensa de profeta ...E quem der de beber a um destes meus pequeninos um copo de água fresca por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não há de perder sua recompensa” (Mt 10. 40-42).
Entre a cruz e a espada!
4 – a responsabilidade
        Como está a relação entre você e aquele que Deus lhe enviou através de um chamado? Lembre-se: a relação congregado e pastor é uma evidência visível de uma relação salvífica. Ambos são amados por Deus. Deus enviou um pregador por saber da necessidade espiritual da igreja, dos congregados. Ele também dá a oportunidade para que o congregado ofereça o melhor para seu pastor, e ainda lhe garante a uma recompensa. Ambos, congregados e pastor tem responsabilidades.
        A responsabilidade do pastor é pregar a verdade, mesmo que isso cause divisão entre os membros da família. Os congregados tem a responsabilidade de manter aquele que prega a verdade sem se importar com as dolorosas consequências.
        Jesus está pregando para seus discípulos. O texto base para seu sermão é do profeta Miquéias 7.6. As palavras do profeta foram esplendidamente resumidas na frase: “não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10.34).
        O homem busca a paz! Seu desejo por paz é tanto que para isso une falsos e verdadeiros ensinos, bons e maus costumes. Lembre-se, os homens que querem paz são conforme o profeta Miquéias. Ou seja, muitos desses buscam apenas a paz humana. No entanto, a verdadeira paz não aceita traição, suborno e nem ambiciona poder. Mas, quando há ambição, intriga por poder e a paz de Jesus atrapalha, bem, o resultado é conhecido por muitos. Paz, só há uma, e essa por sua vez é desprezada e tida como causadora da discórdia entre os homens: “Deixo-vos a paz, eu vos dou a minha paz. Não como o mundo dá, eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se intimide” (Jo 14.27). Não se intimide, pois ao dizer que “não veio para trazer paz à terra, mas espada” (Mt 10.34), Jesus refere-se a essas coisas para que tenhais paz nele, pois “no mundo tereis aflições. Mas coragem! Pois eu venci o mundo” (Jo 16.33).
        A correta pregação do evangelho divide a própria igreja, divide famílias, separa amigos, traz ódio, perseguição, calúnia, mas, continuemos firmes na fé e confessemos junto com o apóstolo Paulo: “Cristo é a nossa paz...” (Ef 2.14). Amém!

Edson Ronaldo Tressmann

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