02 de julho de 2017
4º Domingo após Pentecostes
Sl 119.153-160; Jr 28.5-9; Rm 7.1-13; Mt
10.34-42
Tema: Entre a cruz e a espada!
Os
versículos16 ao 42 do evangelista Mateus é uma seção com muitos temas. Todos os
temas conduzem a preparação dos discípulos para o futuro ministério. Afinal, o
ministério da misericórdia, graça e fé só seria efetivado após a crucificação e
ressurreição de Jesus.
Entre a cruz e a espada!
1 – a paz da cruz
Entre
esses muitos temas encontramos discípulos surpresos com as palavras de Jesus
que ressaltou que “não veio trazer paz, ... mas a espada”
(Mt 10.34). Foi surpreendente porque, afinal, as profecias anunciavam um
príncipe da paz (Is 9.6). A paz fazia parte dos ensinamentos de Jesus (Mt 5.9,
10.13; Mc 9.50). E de repente escutam Jesus proibindo até mesmo de pensar sobre
essa hipótese, “Não penseis ...” (Mt 10.34).
Como não pensar,
se ansiosamente esperávamos por um Messias que trouxesse a paz? As
Escrituras fazem referência ao príncipe da paz (Is 9.6). Os pastores nas
campinas em Belém ouviram a boa nova dos anjos que disseram “glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre
os homens a quem ele quer bem” (Lc 2.14).
Como é
possível, o príncipe da paz proclamar que haverá espada e não paz?
Jesus na verdade não está desqualificando sua missão. Ele está advertindo sobre
a oposição e perseguição que os apóstolos e discípulos sofreriam por causa do
nome dele, “Pois vim causar divisão entre homem e seu
pai; ...” (Mt 10.35).
Os ensinos resumidos no
capítulo 10 de Mateus foram lições dadas em vários dias. Os versículos 9 a 15
se encontram em partes no evangelho de Marcos e Lucas. Ecos dos versículos 17 a
25 se encontram na parte escatológica de Marcos 13 e Lucas 21. Os ensinos dos versículos
26 a 30 se encontram dispersos em Lucas. Os versículos 40 a 42 são particulares
de Mateus.
O capítulo 10 de Mateus
se caracteriza a comissão e a missão dos apóstolos. Jesus fala da natureza
da sua missão e a resposta que os discípulos iriam receber. Alguns
receberiam a mensagem e o príncipe da paz, outros infelizmente rejeitariam. Entre esses dois grupos não há
possibilidade de paz. A maior parte do capítulo 10 de Mateus aponta para
o lado negativo da atividade missionária. A violência e a oposição ao
evangelho.
A
oposição ao evangelho pode ser apresentada de maneira simples de acordo com as
palavras do apóstolo Paulo na suas duas cartas aos coríntios. Na segunda carta
Paulo disse: “...que Deus estava em Cristo reconciliando
consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou
a palavra da reconciliação” (2Co 5.19). A mensagem da cruz, a
obra de Cristo é o meio pelo qual o pecador é reconciliado com Deus. No
entanto, em sua primeira carta aos Coríntios Paulo disse que “...pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os
judeus, loucura para os judeus” (1Co 1.23).
A
oposição ao evangelho está no fato do ser humano pecador não aceitar o jeito de
Deus em agir e salvar. Na obra de Jesus, na cruz de Jesus, está a paz de Deus.
Essa paz é oferecida gratuitamente. No entanto, é oferecida pela cruz, pela obra de Cristo. E essa
obra tem causado desespero aos ignorantes que continuam presos no rigor da lei.
Assim como não há Jesus sem cruz,
não há um discípulo sem cruz!
Entre a cruz e a espada!
2 – o discípulo
Jesus
adverte quanto ao preço do discipulado. A espada não se refere apenas a
violência em si. Por espada pode se entender as divisões que a mensagem de
Cristo causa. Enquanto há os que afirmam, ensinam e confessam que “o justo vive pela fé” (Rm 1.17), há
aqueles que acrescentam outros elementos adicionais a fé.
Jesus
disse que sua mensagem, mensagem de paz para com Deus, seria uma mensagem que
iria dividir. A divisão é visível. E será real e realizada quando Jesus voltar
para julgar os vivos e os mortos.
A
igreja deixa de pregar corretamente para tentar agradar e buscar uma paz entre
desiguais que não existe.
O
evangelista (Mt 10. 26-33) ressalta que Jesus fala sobre quem os discípulos
devem temer. “...; temei, antes, aquele que pode fazer
perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28). Um
discípulo de Cristo, não deve se preocupar sobre os desagrados que a mensagem
da cruz irá lhe causar, pois é uma ovelha enviada para estar no meio dos lobos
(Mt 10.16) para que a mensagem da paz transforme os lobos em ovelhas.
Qual é o preço
a se pagar no discipulado? Qual é a tarefa mais árdua para um
discípulo? O preço é ser perseguido, injustiçado. A tarefa é proclamar
a doutrina pura do evangelho de Jesus Cristo. Expor, refutar e rejeitar
ensinamentos que são contrários ao evangelho de Jesus Cristo.
Tentemos
imaginar como seria se Atanásio tivesse se calado diante dos ataques de Ario. Atanásio
não se calou, ele expôs, refutou e rejeitou o ensino contrário que Ario estava
disseminando. Atanásio defendeu a fé verdadeira. Se caso tivesse se calado com
medo da divisão, o arianismo teria influenciado muito mais do que já influencia
e, muitos outros estragos teriam atingido a igreja cristã.
Luteranos,
tentem imaginar se Lutero tivesse seguido o conselho do seu superior João
Staupitz e ficasse em silêncio e silenciosamente pregasse sobre a obra
salvadora de Jesus Cristo somente aos monges. Talvez ainda hoje a Reforma não
teria ocorrido. Se Lutero tivesse se calado, não teria acontecido tantas coisas
maravilhosas ao cristianismo como ocorreram nesses quase 500 anos após a
Reforma. Se a Reforma Protestante tivesse sido calada, a Bíblia não estaria ao
alcance do povo simples. A liturgia ainda seria em latim. O povo continuaria
preso nas suas superstições e principalmente estaria comprando a salvação com
as cartas de indulgências.
Se esses e tantos outros homens
tivessem se calado, nós estaríamos sem o conhecimento do verdadeiro evangelho.
Atanásio, Lutero e tantos outros pais da igreja não queriam ter inimigos, não queriam ser odiados, muito menos perseguidos, mas
tudo isso é bem melhor do
se calar sobre a verdade. É melhor o ódio, a perseguição e inimigos do que deixar de confessar
a verdade e destruir o erro. Esses homens e tantos outros conheciam, entediam e aplicavam em suas
vidas as palavras de Jesus: “Vós sois a luz do mundo, vós sois o sal da terra”.
Ser
sal é fazer arder a ferida do erro. Ser luz e elucidar coisas obscuras aos
olhos dos simples. Fazer arder a ferida do erro e dar luz ao entendimento é
fazer cumprir as palavras de Jesus: “não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer
paz, mas espada” (Mt 10.34).
Entre a cruz e a espada!
3 – a promessa
Jesus
transmite a mensagem escrita pelo evangelista Mateus para que os seus
discípulos diante de tudo isso nem começassem a se assustar ou ficar com medo.
Jesus garante que “...até os fios dos seus cabelos estão todos
contados...” (Mt 10.30). Antes de subir aos céus, Jesus garante
aos seus discípulos: “...estou com
vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28.20).
O
discípulo de Cristo, é enviado para pregar a verdade. Jesus proclama aos seus
discípulos, antes de irem proclamar o evangelho da chegada do Salvador na
Palestina. Essa mensagem além de conforto, consolo e paz de espírito, era uma
mensagem que traria divisão, ódio, perseguição. Jesus em seu sermão dirigido aos seus discípulos lhes
anuncia para que o medo não interfira na pregação do evangelho.
Ser
pregador do evangelho envolve uma grande responsabilidade! Não é apenas um trabalho de
coragem, haja visto envolver tanto perigo. A responsabilidade envolve
pregar a verdade do evangelho. Mesmo que isso custe a própria vida nesse mundo.
Pois, a vida eterna com Cristo é garantida pela obra de Jesus.
O
enviado da parte de Jesus para proclamar o evangelho sabe da oposição, do ódio,
da perseguição, mas também sabe que terá muitos irmãos, irmãs, pais e mães.
Jesus ama tanto seus pregadores que “quem os receber,
recebe a Jesus ... Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá
recompensa de profeta ...E quem der de beber a um destes meus pequeninos um
copo de água fresca por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não há de
perder sua recompensa” (Mt 10. 40-42).
Entre a cruz e a espada!
4 – a responsabilidade
Como está a
relação entre você e aquele que Deus lhe enviou através de um chamado?
Lembre-se: a relação congregado e pastor é uma evidência visível de uma
relação salvífica. Ambos são amados por Deus. Deus enviou um pregador por saber da necessidade
espiritual da igreja, dos congregados. Ele também dá a oportunidade para
que o congregado ofereça o melhor para seu pastor, e ainda lhe garante a uma
recompensa. Ambos, congregados e pastor tem responsabilidades.
A responsabilidade do pastor é
pregar a verdade, mesmo que isso cause divisão entre os membros da
família. Os congregados
tem a responsabilidade de manter aquele que prega a verdade sem se importar com
as dolorosas consequências.
Jesus
está pregando para seus discípulos. O texto base para seu sermão é do profeta
Miquéias 7.6. As palavras do profeta foram esplendidamente resumidas na frase:
“não penseis
que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt
10.34).
O
homem busca a paz! Seu desejo por paz é tanto que para isso une falsos e verdadeiros ensinos, bons e maus costumes. Lembre-se, os homens que querem
paz são conforme o profeta Miquéias. Ou seja, muitos desses buscam apenas a paz humana. No entanto, a verdadeira paz não aceita
traição, suborno e nem ambiciona poder. Mas, quando há ambição, intriga por poder e a paz de Jesus atrapalha, bem, o resultado é conhecido por muitos. Paz, só há uma, e essa por sua vez é desprezada e
tida como causadora da discórdia entre os homens: “Deixo-vos
a paz, eu vos dou a minha paz. Não como o mundo dá, eu vo-la dou. Não se
perturbe o vosso coração nem se intimide” (Jo 14.27). Não se
intimide, pois ao dizer que “não veio para
trazer paz à terra, mas espada” (Mt 10.34), Jesus refere-se a essas coisas para que tenhais paz nele,
pois “no mundo tereis aflições. Mas coragem! Pois
eu venci o mundo” (Jo 16.33).
A
correta pregação do evangelho divide a própria igreja, divide famílias, separa
amigos, traz ódio, perseguição, calúnia, mas, continuemos firmes na fé e
confessemos junto com o apóstolo Paulo: “Cristo é a nossa
paz...” (Ef 2.14). Amém!
Edson Ronaldo Tressmann
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