13º Domingo após
Pentecostes
– 07/09/2014
Sl 32. 1–7; Ez 33. 7-9; Rm 13. 1-10; Mt 18.1-20
Tema: A relação autoridade, política e o cristão.
Podemos
resumir as leituras bíblicas (Mt 18. 1 – 20; Rm 13. 1 – 10; Ez 33. 7 – 9) no
tema: correção fraterna. De acordo com a epístola acredito que é momento de uma correção
fraterna, principalmente as vésperas de uma eleição. E essa correção fraterna
visa responder a questão: Como relacionar-se como cristão com o governo deste mundo?
É
necessário e urgente que resolvamos a complicada relação entre o cristão e o
Estado. No debate promovido pela Band no dia 26 de agosto de 2014, a candidata
Luciana Genro do PSOL ao dirigir ao candidato do PSC, pastor Everaldo, disse
que não o chamaria de pastor por que não gostava de misturar religião e
política. Sei que é um assunto muitíssimo complicado. Falar, comentar sobre
todo cenário político sem ser traído pela emoção partidária ou até
anti-partidária é como andar num terreno minado. Mas, é preciso que falemos
sobre política, afinal, após as eleições restará a nós cristãos o respeito ao
candidato eleito, pois será nossa autoridade máxima. Todos reclamam que as autoridades governamentais instituídas
não representam o povo e nem buscam pelo seu bem estar. E por não estarem
cumprindo com aquilo que é necessário, muitos resolvem ignorar a político, os
políticos e até mesmo as autoridades. A realidade leva pessoas a se
questionarem: Devo respeitar esse político corrupto? Alguns chegam a
afirmar que quem vota no PT não é cristão! E dai, devo ou não respeitar o governo que é do PT? Já foi dito e muitos apoiam: “Hay
gobierno? ...Soy contra!” Como o cristão pode se posicionar diante dessas e tantas outras
questões?
Sei
que mesmo sendo um campo minado, não posso deixar, afinal, Paulo quando
escreveu a carta aos Romanos estava em meio a governantes que eram extremamente
cruéis e inimigos do cristianismo. Mas, isso não o impediu de ir contra
o Espírito Santo que o inspirou a escrever: “Obedeçam às autoridades, todos vocês. Pois nenhuma
autoridade existe sem a permissão de Deus, e as que existem foram colocadas nos
seus lugares por ele” (Rm 13.1).
Toda
autoridade, seja cristã ou não, é tida como procedente de Deus. Como parte da Igreja Cristã,
temos o compromisso de falar as autoridades para que as mesmas tenham em mente
que como representantes de Deus nesse mundo busquem o bem e a justiça de todos. Nós não somos impedidos de denunciar nem de resistir à autoridade que
não cumpre esta função. O
cristão precisa estar engajado para que haja uma autoridade confiável,
incorruptível. Mas,
isso é utopia? Bem, se for utopia, é utopia as
palavras do texto: “o amor é o cumprimento da lei.”
John
Stott diz algo muito valioso sobre esse texto. Ele comenta: “Não podemos interpretar esse texto dizendo
que os Calígulas, Herodes, Neros, Dominicianos da época do N.T., assim como os
Hitlers, Stalins, Saddams dos nossos dias foram designados por Deus para
fazerem o que fizeram e que Deus seja responsável pelo seu comportamento.”
O que é divino é a autoridade do cargo. Não podemos olhar a pessoa, mas a
vontade de Deus, que assim estabelece e ordena. As autoridades são
representantes de Deus, mas, infelizmente, por causa da natureza pecaminosa
muitos não honram o estado no qual se encontram.
Ao
nos dar a sua lei, através da segunda tábua (4º ao 10º mandamento) Deus prevê
que o objetivo da mesma é honrar a autoridade, preservar a vida, a relação
marido e mulher, os bens, a honra, os bens do próximo e toda sua estrutura
econômica e familiar.
A
função da autoridade é garantir a convivência da sociedade através da
disciplina e exigência do cumprimento da lei. E a lei visa, pelo amor, o melhor
convívio social e político. Relação essa completamente estragada e corrompida
pelo pecado.
O
apóstolo Paulo sabe que toda autoridade precisa “enaltecer o bem e punir os que
praticam o mal.” O próprio apóstolo teve que apelar
para César quando Festo para agradar os judeus queria julgá-lo sem justiça (At
25.7-11).
No
entanto, infelizmente, enaltecer o bem e punir os que praticam o mal não tem
sido a realidade humana, ou do cenário político. Mas, isso não nos deve
conduzir a desrespeitar as autoridades. O estado está ai para suprir as
exigências da situação criada pelo pecado. E é justamente o pecado desconhecido
pelas pessoas que a Igreja Cristã deve denunciar e curar com o perdão oferecido
e dado por Jesus.
O
pecado que atrapalha nossas relações é o mesmo que gerou e gera um efeito
contrário a lei. Deus deu a sua lei para mostrar o quanto somos pecadores, o
quanto necessitamos do amor de Deus em Jesus, mas o pecado nos faz olhar a lei
com temor da prisão e do castigo. Não se vê a lei como o cumprimento do amor. A
lei de Deus foi dada a um povo livre. Mas, esse povo livre está aprisionado no
pecado e no pecado desrespeita a própria lei e macula a autoridade. Muitos
pagam seus impostos por medo da prisão ou da “malha fina”. Outros que já descobriram como burlar a fiscalização
não o fazem. Nossa vida ante a autoridade e
todas suas prerrogativas não deve ser por medo, mas, pelo fato de isso ser
correto diante de Deus.
Não
podemos olhar a pessoa, mas o ofício ao qual exerce. É o seu ofício que merece
nosso respeito.
A
relação: cristão X sociedade; cristão X política; cristão X autoridade; é um campo minado desde o novo testamento. Na época do
novo testamento os saduceus conseguiam entrar em acordo com a anomalia que o
domínio romano constituía. Os fariseus se submetiam ao governo romano, mas o
viam como castigo de Deus sobre o povo. Os zelotes rejeitavam o governo como
intolerável e se rebelavam freneticamente.
Deus
é a fonte de toda autoridade. Resistir à autoridade é resistir à autoridade de
Deus. E por sermos de natureza pecaminosa e termos como inimigo o diabo, pouco
a pouco somos colocados contra nossas autoridades e no fim contra a autoridade
de Deus. Opor-se a autoridade é opor-se à bondade de Deus. As autoridades são
manifestação da bondade de Deus. As autoridades foram instituídas por Deus para
reprimir o mal nesse mundo. Quem não pratica o mal não precisa temer as
autoridades e nem tem motivo para se rebelar contra ela.
Na
época que o apóstolo Paulo escreveu a carta aos Romanos, o cristianismo era
considerado inimigo do estado, do governo. Assim sendo, Paulo poderia
facilmente ser considerado um desertor. Mesmo nessa circunstância, inspirado
pelo Espírito Santo, Paulo escreveu: “...se você não quiser ter medo
das autoridades, então faça o que é bom, e elas o elogiarão” (Rm 13.3). Será que
estamos sendo elogiados pelas nossas
autoridades? Estamos sendo louvado pelas autoridades? Meses antes de escrever a carta aos romanos, Paulo na sua segunda carta
aos coríntios diz que por três vezes apanhou de porrete (2Co 11.25) das
autoridades romanas, mas isso não o impediu de ver nas autoridades a mão de
Deus. O apóstolo Paulo, mesmo pregando a mensagem de Jesus, mesmo sendo
considerado um desertor, recebeu louvor da autoridade em seus dias. Mediante
apelo por sua cidadania romana foi levado a Roma na tentativa de um julgamento
justo.
Cada
autoridade é serva de Deus. A autoridade como serva de Deus recebe a espada
para agir com retidão e justiça. A espada para os romanos era símbolo de
execução e justiça equitativa. Cada qual que não executa com sabedoria, como
servo de Deus a sua autoridade e não age com justiça equitativa será julgado
pelo próprio autor e doador da autoridade. Lembre-se! Os governantes desse século tem poder
somente aqui e agora.
As
nossas atitudes para com as autoridades procedem da fé. A lealdade cívica faz
parte da vida de amor. A fé é ativa no amor. A pregação da fé não anula a
pregação da lei, pois a lei se resume no amor. E por amor a todos é que Jesus
nos ordena a amar o nosso próximo como a nós mesmos. Busquemos o melhor para
todos, inclusive através da nossa atuação política, seja no conselho municipal,
seja no envolvimento político, no conselho de classe do filho, seja por ocasião
do voto, etc. Pois, “quem ama os outros não faz mal a
eles.”
O
tema das leituras bíblicas (Mt 18. 1 – 20; Rm 13. 1 – 10; Ez 33. 7 – 9) mostram
a correção fraterna. Essa correção fraterna se torna necessária e urgente, afinal, em meio
a todo cenário político, muitos cristãos estão esquecendo que toda autoridade
procede de Deus. Deus
é amor! Mesmo que não se veja a mão de Deus através da
atuação política, recordemos que através da atuação de muitos governantes, Deus
agiu para que seu único Filho fosse enviado ao mundo. Em Jesus fomos e somos
resgatados do poder do pecado que nos fere e nos atinge dia após dia nas nossas
relações sociais e políticas. Amém!
Edson Ronaldo
Tressmann
http://sermoescristoparatodos.blogspot.com
cristo_para_todos@hotmail.com
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