segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Uma prosa com o apóstolo Paulo sobre Liberdade

14º Domingo após Pentecostes
Sl 103.1-12; Gn 50.15-21; Rm 14.1-12; Mt 18.21-35
Uma prosa com o apóstolo Paulo sobre Liberdade
          
 Os gregos pensavam que os pensamentos do coração levavam a verdade. Muitos dos ditos “sentimentos de coração” nos levam a julgar e desprezar outras pessoas. Deixamos de manter uma conversação, de prosear, por julgarmos os nossos “sentimentos”, “pensamentos do coração” como verdadeiros.
          A causa de muitas discussões é que cada pessoa tem a sua opinião sobre determinado assunto. Essa opinião, ou suposta verdade provêm de seus costumes, sua tradição, cultura, etc. 
         O que você “sente ou pensa” quando vê um cristão tomando uma cerveja? Jogando baralho? Comendo carne de porco? Fazendo sinal da santa cruz ao passar diante um templo?
    Paulo diz na sua carta aos romanos: “aceitem entre vocês quem é fraco na fé sem criticar as opiniões dessas pessoas” (Rm 14.1). O objetivo dessa recomendação visa ressaltar que Deus em Jesus nos acolheu para vivermos em comunhão. Como posso conviver em comunhão com alguém que não aceita a minha liberdade cristã em poder beber uma cervejinha, comer um churrasquinho de carne de porco, jogar uma canastra, etc?
         Sem querer discutir a opinião de ninguém, afinal, essa é a recomendação do apóstolo Paulo, é preciso que tenhamos uma postura diante desse assunto. Para que não haja discussão de opinião, vamos ter uma prosa com o apóstolo Paulo.
         O texto da carta de Paulo aos Romanos, capítulo 14, girava em torno dos fracos e fortes na fé. Paulo dizia que não se deve ficar discutindo os pensamentos que motivam os fracos a agirem de determinada maneira. Não importa, ou seja, não convêm discutir os motivos porque determinada pessoa deixa de usar sua liberdade cristã.
         O apóstolo Paulo ao invés de discutir as opiniões que levavam as pessoas a se absterem de fazer uso sadio de sua liberdade cristã, ressalta que o ideal da imposição da lei dada por Deus a Moisés não deveria ser o árbitro da questão. Afinal, a lei dada por Deus a Moisés, uma lei boa, mas que infelizmente acabou sendo distorcida pelas próprias pessoas, estava causando estragos e havia perdido a sua razão de ser entre eles.
         A questão: Como fazer uso sadio da liberdade cristã? havia sido tratada por volta de um ano antes, na primeira carta aos Coríntios (1Co 8-10). 
         O assunto não foi fácil, ainda hoje não é um assunto fácil. Por isso é importante termos essa prosa com o apóstolo Paulo.
         Muitos sabem sobre a liberdade cristã, mas, ficam extremamente irritadas ao verem um cristão tomando uma cerveja, jogando baralho, comendo determinada comida, fazendo festa em determinada ocasião ou dia.
         Na época em que o apóstolo escreveu a carta aos Romanos, ao tratar desse assunto, estava lidando com uma questão de fé. E ao lidar com questões de fé, é o mesmo que caminhar sobre um campo minado.
         O apóstolo Paulo se dirige a todos, fortes e fracos na fé, sem classificar quem fazia parte de um ou de outro grupo. Todos foram tratados como sendo apenas um (Rm 14. 1-12), afinal, a igreja é apenas um corpo.
         Os fracos na fé eram minoria dentro da congregação, assim, poderiam facilmente ser rejeitados. O apóstolo se preocupa com esse pequeno grupo e diz que deveriam ser tolerados e acolhidos na verdadeira comunhão. Até quando é necessário aceitar a opinião daquele que quer me proibir de tudo? Até que a fraqueza seja vencida mediante o ensino do evangelho. “Não deve haver discussão de opiniões”.
         Ninguém tem o direito, nem o mais forte cristão na fé, de dar uma suposta “opinião melhor” ao irmão mais fraco na fé. O que motiva a proceder e agir de determinada maneira são seus pensamentos provenientes de sua cultura, suas tradições, sua vivência, etc. Só quem pode mudar os pensamentos é Deus pela pregação da Palavra. A fé não é alimentada com lógica ou discussão de opiniões.
          Segundo o apóstolo Paulo o forte na fé é aquele crê em Jesus como seu Senhor e Salvador. É aquele que come de tudo, mesmo que, para muitos seja algo proibido. O forte na fé é aquele que não faz diferença entre alimentos puros e impuros. O forte na fé é aquele que sabe que suas opiniões e toda sua vida é conduzida pela liberdade cristã que recebeu e tem em Jesus Cristo. O fraco na fé assim como o forte crê e sabe que Jesus é seu Senhor e Salvador, mas infelizmente, ainda não está preparada para usar sua liberdade em toda sua extensão.
         O perigo que os fracos e fortes na fé corriam e ainda correm é a tentação de se olharem com desconfiança. Os fortes na fé são tentados a desprezar o irmão fraco na fé. Esse desprezo se dá da seguinte maneira: como essa pessoa acha que está glorificando a Deus fazendo isso? (Rm 12.10; 14.13). O fraco na fé é tentado no julgar, no condenar o mais forte na fé pensando: como pode fazer isso, será que não lê a Bíblia?
         Ambos, fortes e fracos na fé, corriam e correm perigo de cederem à tentação e passarem a se “julgar e condenar”. E isso não levará nenhum dos dois a lugar algum. 
         O fraco na fé julga o forte na fé embasado numa boa fundamentação religiosa. O fraco na fé sempre vê na liberdade cristã uma insensibilidade negligente. O fraco na fé sempre julga o forte na fé como aquele que não leva a sua religiosidade a sério.
         Mas, ...
         o que é levar a religiosidade a sério? É cumprir as regras estabelecidas pela lei de Deus? É praticar toda espécie de boas obras? É orar horas e horas por dia? É ser dizimista fiel?
         Julgamos pela casca, e infelizmente, em muitas situações, a casca é podre. A seriedade da religiosidade não está em nós e nossas realizações, mas está no fato de que “...Deus o aceitou” (Rm 14.3). Mas, pastor, não é verdade que: Deus me aceita somente pelas obras da lei? Pelo orar? Pelas boas obras? Pelo dízimo?
         Ao iniciar sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo escreveu: “...a fim de que eu anuncie a boa notícia do evangelho de Deus” (Rm 1.1). Pouco depois, inspirado pelo Espírito Santo disse que o Evangelho “...é o poder de Deus para salvar todos os que crêem,...” (Rm 1.16). O assunto, fortes e fracos na fé, era e é uma questão de fé. E Evangelho é poder de Deus para salvar os que crêem. Assim, a questão necessária e urgente é: fé em que? Nas orações? Nos dízimos? Nas supostas observâncias da lei?
         Tanto os fracos como os fortes na fé estavam se distanciando dessa questão. Se olharmos para nossas realizações teremos que concluir como o apóstolo Paulo: “Como sou infeliz! Quem me livrará deste corpo que me leva para a morte?” (Rm 7.24).
         Fortes e fracos na fé, você estão depositando a vossa fé em que? O apóstolo Paulo escreveu: “...é claro que ninguém é aceito por Deus por meio da lei, pois as Escrituras Sagradas dizem: Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus” (Gl 3.11); “Pois o evangelho mostra como é que Deus nos aceita: é por meio da fé, do começo ao fim. Como dizem as Escrituras Sagradas: ‘Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus” (Rm 1.17).
         O que me torna aceitável para Deus é a fé em Jesus!
         Essa fé não é uma obra humana, é um presente dado por Deus (Ef 2.8). Esse presente foi dado e recebido por ocasião do Batismo e da Pregação da Palavra de Deus.
        Ser aceito por Deus não é obra humana!
    Aceito por Deus em Jesus, meu orar se torna uma comunicação agradável com aquele que me aceita com minhas fraquezas e pecados. Aceito por Deus em Jesus, as boas obras se tornam realmente boas e agradáveis por serem realizadas a partir da fé em Jesus. Aceito por Deus em Jesus, meu dízimo provêm de um coração agradecido e alegre pela salvação recebida e não para que uma bênção seja alcançada.
         As tentações que os fracos e os fortes na fé estavam sujeitos no ano de 55/56 D.C., por ocasião do envio da carta aos Romanos, são tentações ainda presentes entre nós em pleno ano de 2014 D.C. Há uma visível separação entre os ditos “igrejeiros da igreja que permite tudo” e os “igrejeiros da igreja que proíbe tudo”. O fato é que nós vivemos na expectativa, seja para com o outro, bem como comigo mesmo. Projetamos nossas expectativas nos outros e os outros em nós. Vivemos infelizes porque desejamos satisfazer as expectativas dos outros e os outros as nossas. Deixa-se de viver a verdadeira liberdade conquistada por Cristo, pois “Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres...” (Gl 5.1).
         Viver como pessoas livres é viver conforme a medida da fé que Deus repartiu com cada um. Temos as nossas peculiaridades e vivemos com pessoas que possuem as suas peculiaridades. Todas essas peculiaridades são superadas na fé e pela fé todas as peculiaridades que nos separam terão um fim quando estivermos de joelhos dobrados diante do Pai no céu.
         Lembre-se: “...cada um deve estar bem firme nas suas opiniões...” (Rm 14.5), mas não são as nossas opiniões que nos fazem ser aceitos por Deus. Amém! 



Edson Ronaldo Tressmann

cristo_para_todos@hotmail.com

Um comentário:

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