12 de janeiro de 2025
Batismo
de Jesus
Salmo
29; Isaías 43.1-7; Romanos 6.1-11; Lucas 3.15-22
Texto: Lucas
3.15-22
Tema: A
voz de Deus é o anúncio de um novo tempo.
Por ocasião do
batismo de Jesus, inicia-se oficialmente sua missão e essa é ancorada e
confirmada pelo Espírito Santo e pelo Pai. Em Jesus se realiza a vontade de
Deus. Sendo assim, se você
quer realizar a vontade de Deus, esteja em Jesus!
Por ocasião do
batismo de Jesus, a voz de Deus (Lc 3.22) destaca que se pode confiar, a obra
de Jesus agrada ao Pai.
O batismo de Jesus
conforme apresentado por Lucas (Lc 3.21-22) difere um pouco da versão de Mateus
(Mt 3.13-17) e João Marcos (Mc 1.9-11). No relato de Lucas não há o diálogo
entre Jesus e João Batista, indicando que Jesus ainda era um anônimo entre o
povo.
Chama atenção o
fato de que mesmo os quatro evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e implicitamente
João narrarem o batismo de Jesus, não narraram um único e mesmo evento de
maneira idêntica. Cada qual dos evangelistas narraram à sua maneira. Isso
deve-se as informações recebidas de suas fontes e a necessidade das respectivas
comunidades e pessoa para as quais desejavam escrever.
A pregação de João
Batista sinalizava que um novo tempo estava surgindo. E esse novo tempo
entraria em choque com o velho tempo.
O povo vivia
sufocado pela dupla exploração. De um lado a exploração do império romano
e de outro lado do templo de Jerusalém. Assim como Roma cobrava impostos
em excesso, o templo exigia ofertas e dízimos em excesso. Nessa circunstância,
a expectativa pela vinda do messias libertador político aumentava cada vez
mais.
Sendo algo
ansiosamente aguardado, em meio a expectativa libertadora, muitos charlatões se
aproveitavam e se passavam pelo messias. E isso causava ainda mais exploração
para um povo que vivia deteriorado pela exploração. Nesse sentido, é possível
compreender as dúvidas do povo em relação a João Batista.
O povo reconhecia
e estava certo de que João Batista era um enviado de Deus. Muitos até o julgavam
ser o messias. Por isso, Lucas de maneira perspicaz escreveu: “O povo estava na expectativa e todos se perguntavam no
seu íntimo se João não seria o Messias” (Lc 3.15). Todavia, João
Batista tinha plena consciência do seu papel e da sua missão, “Por isso, João declarou a todos: Eu vos batizo com água,
mas virá aquele que é mais forte do que. Eu não sou digno de desamarrar a
correia de suas sandálias. Eles vos batizará no Espírito Santo e no fogo”
(Lc 3.16).
Esse
esclarecimento foi e continua sendo muito necessário. Os ouvintes e leitores
precisam ser esclarecidos quanto ao esclarecimento de João Batista. No livro de
Atos dos Apóstolos, livro que também foi escrito por Lucas, o evangelista deixa
claro que apesar de João Batista não ser mais confundido com o Messias, o
batismo continuava sendo realizado como se fosse o batismo de João e isso
estava gerando muita confusão nas comunidades, entre elas a congregação em
Éfeso (At 19.17).
Nessa perícope - Lc
3.15-16.21-22, é ilustrado as expectativas messiânicas do povo. O escritor,
médico e evangelista Lucas, valendo-se do pano de fundo das promessas narradas
no Antigo Testamento, esclarece que João Batista não é o Messias. Lucas e os
demias evangelistas enfatizam que João Batista é àquele que aponta para o
verdadeiro realizador da nova aliança.
Aprendemos do
texto de Deuteronômio 25.5ss a descrição da lei do levirato. (Essa lei
prescreve que quando o irmão do falecido assume a mulher viúva do seu irmão,
terá sua sandália tirada. Isso informa para todos que ele irá resgatá-la e dará
descendência ao irmão falecido).
O gesto de tirar a sandália era um rito que significava
apropriar-se do direito de tomar a mulher viúva como esposa, para lhe dar
descendência (Dt 25.5-10; Rt 3.5-11).
A expressão de
João Batista “eu não sou digno de desamarrar a
correia de suas sandálias” é uma citação da lei judaica do levirato.
Quando uma mulher
ficava viúva sem filhos, um de seus cunhados ou outra pessoa do clã, conforme a
ordem de idade, tinha o dever e o direito de tomá-la como esposa. Em caso de
recusa ou de negociação, a passagem desse direito para um outro cunhado ou
pessoa próxima, era feita com o rito do “descalçamento”.
O novo pretendente desamarrava as sandálias do titular, assumindo o direito de
casar-se com aquela mulher. Assim, as palavras ditas por João Batista deixam
claro que não é ele o resgatador. Ele não é digno de desamarrar as sandálias,
outro terá que fazer, ou seja, resgatar a viúva que é Israel.
O direito de
fecundar Israel é exclusivo de Jesus. Ele a tornará novamente fértil. A esposa
abandonada e explorada transformada em estéril pela elite sacerdotal de
Jerusalém e pelo poder romano será resgatada.
O evangelista Lucas,
ao narrar sobre João Batista deseja deixar claro que a inauguração das boas
novas do Reino é o surgimento do “preparador do
caminho do Senhor” como sendo o cumprimento à profecia proclamada
pelo profeta Isaías (Lc 3.4,5; Is 40.3-5).
Quando nos versos
18 e 20, Lucas retira João Batista de cena, seu objetivo é colocar os holofotes
em Jesus, que a partir de então estaria em evidência. Por essa razão, Lucas de
forma magistral, antes de apresentar Jesus indo ao batismo, diz que João Batista
foi preso, ou seja, retirado de cena.
Lucas, quer no Evangelho
ou no livro de Atos dos Apóstolos, nunca coloca Jesus e João Batista na mesma
cena. A exceção de Lucas é a visitação, quando ambos ainda estavam nos ventres
de suas respectivas mães, Maria e Isabel (Lc 1.39-56).
O evangelista Lucas
deixa claro que, embora contemporâneos, João Batista e Jesus Cristo fazem parte
de tempos diferentes no conjunto da história da salvação e nesse sentido
compreendemos as palavras: “A lei e os profetas
até João! Daí em diante, é anunciada a Boa Nova do Reino de Deus”
(Lc 16.16).
Tudo o que Lucas
se propõe a fazer é que seus leitores não confundam João Batista com Jesus
Cristo. João Batista é o profeta da transição da Antiga para a Nova aliança. João
Batista foi, portanto, o último dos profetas e, simultaneamente, um cumprimento
das profecias. João Batista é a voz de Deus no deserto após 400 anos do
silêncio de Deus. É a voz que proclama a libertação, tal como Moisés proclamou
ao povo de Deus que estava escravizado no Egito.
O evangelista
Lucas informa que Jesus estava orando. O fato é que Jesus orou durante todo
tempo do seu ministério (Lc 3.21; 22.46).
São frequentes e
significativos os momentos em que Lucas nos apresenta Jesus orando. Jesus orava
enquanto curava (Lc 5.16); antes de escolher os 12 discípulos (Lc 6.12); antes
do primeiro anúncio da sua paixão e morte aos seus discípulos (Lc 9.18); antes
e durante a transfiguração (Lc 9.28-29). Jesus ensinou seus discípulos a orar
(Lc 11.1-2). Pouco antes de ser preso para ser crucificado, os momentos de
oração de Jesus foram ainda mais constantes (Lc 22.32; 22.39-46; 23.34,46). Até
mesmo da cruz, Jesus orou.
A verdade é uma
só: todo àquele que é batizado vive em oração! O fato de não orar é tomar o
nome de Deus em vão.
Oração é um
momento de intimidade com Deus. Nas orações é possível aproveitar e confessar
os pecados.
Após o batismo de
Jesus e estando Jesus a orar, ocorre que o Espírito Santo desce como pomba
sobre Jesus. O Espírito Santo descer
sobre Jesus em forma de pomba faz lembrar a esperança de Noé sobre o fim do
dilúvio (Gn 8.12). A voz do Pai
faz lembrar o Salmo 2.7 e é também uma referência a profecia do servo sofredor
de Isaías 42.1. A voz do Pai
anuncia ao povo: esse é o Messias prometido e
aguardado por vocês.
Essa imagem de
Lucas, onde o Espírito Santo assume uma “forma
corpórea” é novidade na linguagem bíblica. Anteriormente a isso as imagens
mais usadas para o Espírito de Deus na Bíblia são o fogo e o vento. O próprio
Lucas aplica o fogo e o vento ao Espírito Santo ao narrar o episódio de
Pentecostes (At 2.1-13).
O fogo, bem como o
vento, simboliza o Espírito Santo pela força e capacidade de criação e
transformação. Assim, em Jesus essa imagem não teria sentido, pois o Espírito Santo
não desceu sobre Jesus para transformá-lo. A descida do Espírito Santo sobre
Jesus apenas o confirmou como o Filho amado do Pai e tornar pública essa
confirmação.
O quadro
importante nessa cena é a comunicação restabelecida entre a humanidade e Deus.
Deus não comunica mais pela mediação das lideranças religiosas de Jerusalém,
mas pela pessoa de Jesus. O céu se abre e Deus fala e afirma que sua
satisfação, não está nos inúmeros sacrifícios oferecidos no templo de
Jerusalém, mas no seu Filho Amado. A afirmação de Deus é completamente nova de
significado, superando todas as expectativas e promessas: “Tu és o meu Filho querido e me dás muita alegria”.
A voz de Deus é o anúncio de um novo tempo em meio aos
velhos tempos.
Há pessoas que desconhecem
a grandeza e a dignidade que o batismo lhe conferiu e confere. O batismo de
Jesus no Jordão revela sua identidade e sua missão. Ele é o servo de Deus, o
Filho amado do Pai.
A pessoa que
recebe o batismo, a exemplo de Jesus, recebe o Espírito Santo e é vocacionada por
Deus para a missão. O batismo não é e nem deve ser tido como uma tradição ou
outro motivo. Batismo é inserção na comunidade de fé.
O fato de ser batizado
destaca minha identidade e minha missão. Sou nova criatura; sou servo de Deus,
cidadão do Reino, filho amado do Pai. Pelo batismo me tornei responsável na
missão de Cristo e da Igreja. Como batizado eu estou numa nova realidade. Amém
Edson
Ronaldo Tressmann
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