domingo, 5 de janeiro de 2025

A voz de Deus é o anúncio de um novo tempo.

 12 de janeiro de 2025

Batismo de Jesus

Salmo 29; Isaías 43.1-7; Romanos 6.1-11; Lucas 3.15-22

Texto: Lucas 3.15-22

Tema: A voz de Deus é o anúncio de um novo tempo.

 

Por ocasião do batismo de Jesus, inicia-se oficialmente sua missão e essa é ancorada e confirmada pelo Espírito Santo e pelo Pai. Em Jesus se realiza a vontade de Deus. Sendo assim, se você quer realizar a vontade de Deus, esteja em Jesus!

Por ocasião do batismo de Jesus, a voz de Deus (Lc 3.22) destaca que se pode confiar, a obra de Jesus agrada ao Pai.

O batismo de Jesus conforme apresentado por Lucas (Lc 3.21-22) difere um pouco da versão de Mateus (Mt 3.13-17) e João Marcos (Mc 1.9-11). No relato de Lucas não há o diálogo entre Jesus e João Batista, indicando que Jesus ainda era um anônimo entre o povo.

Chama atenção o fato de que mesmo os quatro evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e implicitamente João narrarem o batismo de Jesus, não narraram um único e mesmo evento de maneira idêntica. Cada qual dos evangelistas narraram à sua maneira. Isso deve-se as informações recebidas de suas fontes e a necessidade das respectivas comunidades e pessoa para as quais desejavam escrever.

A pregação de João Batista sinalizava que um novo tempo estava surgindo. E esse novo tempo entraria em choque com o velho tempo.

O povo vivia sufocado pela dupla exploração. De um lado a exploração do império romano e de outro lado do templo de Jerusalém. Assim como Roma cobrava impostos em excesso, o templo exigia ofertas e dízimos em excesso. Nessa circunstância, a expectativa pela vinda do messias libertador político aumentava cada vez mais.

Sendo algo ansiosamente aguardado, em meio a expectativa libertadora, muitos charlatões se aproveitavam e se passavam pelo messias. E isso causava ainda mais exploração para um povo que vivia deteriorado pela exploração. Nesse sentido, é possível compreender as dúvidas do povo em relação a João Batista.

O povo reconhecia e estava certo de que João Batista era um enviado de Deus. Muitos até o julgavam ser o messias. Por isso, Lucas de maneira perspicaz escreveu: “O povo estava na expectativa e todos se perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias” (Lc 3.15). Todavia, João Batista tinha plena consciência do seu papel e da sua missão, “Por isso, João declarou a todos: Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Eles vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3.16).

Esse esclarecimento foi e continua sendo muito necessário. Os ouvintes e leitores precisam ser esclarecidos quanto ao esclarecimento de João Batista. No livro de Atos dos Apóstolos, livro que também foi escrito por Lucas, o evangelista deixa claro que apesar de João Batista não ser mais confundido com o Messias, o batismo continuava sendo realizado como se fosse o batismo de João e isso estava gerando muita confusão nas comunidades, entre elas a congregação em Éfeso (At 19.17).

Nessa perícope - Lc 3.15-16.21-22, é ilustrado as expectativas messiânicas do povo. O escritor, médico e evangelista Lucas, valendo-se do pano de fundo das promessas narradas no Antigo Testamento, esclarece que João Batista não é o Messias. Lucas e os demias evangelistas enfatizam que João Batista é àquele que aponta para o verdadeiro realizador da nova aliança.

Aprendemos do texto de Deuteronômio 25.5ss a descrição da lei do levirato. (Essa lei prescreve que quando o irmão do falecido assume a mulher viúva do seu irmão, terá sua sandália tirada. Isso informa para todos que ele irá resgatá-la e dará descendência ao irmão falecido).

O gesto de tirar a sandália era um rito que significava apropriar-se do direito de tomar a mulher viúva como esposa, para lhe dar descendência (Dt 25.5-10; Rt 3.5-11).

A expressão de João Batista “eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias” é uma citação da lei judaica do levirato.

Quando uma mulher ficava viúva sem filhos, um de seus cunhados ou outra pessoa do clã, conforme a ordem de idade, tinha o dever e o direito de tomá-la como esposa. Em caso de recusa ou de negociação, a passagem desse direito para um outro cunhado ou pessoa próxima, era feita com o rito do “descalçamento”. O novo pretendente desamarrava as sandálias do titular, assumindo o direito de casar-se com aquela mulher. Assim, as palavras ditas por João Batista deixam claro que não é ele o resgatador. Ele não é digno de desamarrar as sandálias, outro terá que fazer, ou seja, resgatar a viúva que é Israel.

O direito de fecundar Israel é exclusivo de Jesus. Ele a tornará novamente fértil. A esposa abandonada e explorada transformada em estéril pela elite sacerdotal de Jerusalém e pelo poder romano será resgatada.

O evangelista Lucas, ao narrar sobre João Batista deseja deixar claro que a inauguração das boas novas do Reino é o surgimento do “preparador do caminho do Senhor” como sendo o cumprimento à profecia proclamada pelo profeta Isaías (Lc 3.4,5; Is 40.3-5).

Quando nos versos 18 e 20, Lucas retira João Batista de cena, seu objetivo é colocar os holofotes em Jesus, que a partir de então estaria em evidência. Por essa razão, Lucas de forma magistral, antes de apresentar Jesus indo ao batismo, diz que João Batista foi preso, ou seja, retirado de cena.

Lucas, quer no Evangelho ou no livro de Atos dos Apóstolos, nunca coloca Jesus e João Batista na mesma cena. A exceção de Lucas é a visitação, quando ambos ainda estavam nos ventres de suas respectivas mães, Maria e Isabel (Lc 1.39-56).

O evangelista Lucas deixa claro que, embora contemporâneos, João Batista e Jesus Cristo fazem parte de tempos diferentes no conjunto da história da salvação e nesse sentido compreendemos as palavras: “A lei e os profetas até João! Daí em diante, é anunciada a Boa Nova do Reino de Deus” (Lc 16.16).

Tudo o que Lucas se propõe a fazer é que seus leitores não confundam João Batista com Jesus Cristo. João Batista é o profeta da transição da Antiga para a Nova aliança. João Batista foi, portanto, o último dos profetas e, simultaneamente, um cumprimento das profecias. João Batista é a voz de Deus no deserto após 400 anos do silêncio de Deus. É a voz que proclama a libertação, tal como Moisés proclamou ao povo de Deus que estava escravizado no Egito.

O evangelista Lucas informa que Jesus estava orando. O fato é que Jesus orou durante todo tempo do seu ministério (Lc 3.21; 22.46).

São frequentes e significativos os momentos em que Lucas nos apresenta Jesus orando. Jesus orava enquanto curava (Lc 5.16); antes de escolher os 12 discípulos (Lc 6.12); antes do primeiro anúncio da sua paixão e morte aos seus discípulos (Lc 9.18); antes e durante a transfiguração (Lc 9.28-29). Jesus ensinou seus discípulos a orar (Lc 11.1-2). Pouco antes de ser preso para ser crucificado, os momentos de oração de Jesus foram ainda mais constantes (Lc 22.32; 22.39-46; 23.34,46). Até mesmo da cruz, Jesus orou.

A verdade é uma só: todo àquele que é batizado vive em oração! O fato de não orar é tomar o nome de Deus em vão.

Oração é um momento de intimidade com Deus. Nas orações é possível aproveitar e confessar os pecados.

Após o batismo de Jesus e estando Jesus a orar, ocorre que o Espírito Santo desce como pomba sobre Jesus. O Espírito Santo descer sobre Jesus em forma de pomba faz lembrar a esperança de Noé sobre o fim do dilúvio (Gn 8.12). A voz do Pai faz lembrar o Salmo 2.7 e é também uma referência a profecia do servo sofredor de Isaías 42.1. A voz do Pai anuncia ao povo: esse é o Messias prometido e aguardado por vocês.

Essa imagem de Lucas, onde o Espírito Santo assume uma “forma corpórea” é novidade na linguagem bíblica. Anteriormente a isso as imagens mais usadas para o Espírito de Deus na Bíblia são o fogo e o vento. O próprio Lucas aplica o fogo e o vento ao Espírito Santo ao narrar o episódio de Pentecostes (At 2.1-13).

O fogo, bem como o vento, simboliza o Espírito Santo pela força e capacidade de criação e transformação. Assim, em Jesus essa imagem não teria sentido, pois o Espírito Santo não desceu sobre Jesus para transformá-lo. A descida do Espírito Santo sobre Jesus apenas o confirmou como o Filho amado do Pai e tornar pública essa confirmação.

O quadro importante nessa cena é a comunicação restabelecida entre a humanidade e Deus. Deus não comunica mais pela mediação das lideranças religiosas de Jerusalém, mas pela pessoa de Jesus. O céu se abre e Deus fala e afirma que sua satisfação, não está nos inúmeros sacrifícios oferecidos no templo de Jerusalém, mas no seu Filho Amado. A afirmação de Deus é completamente nova de significado, superando todas as expectativas e promessas: “Tu és o meu Filho querido e me dás muita alegria”.

A voz de Deus é o anúncio de um novo tempo em meio aos velhos tempos.

Há pessoas que desconhecem a grandeza e a dignidade que o batismo lhe conferiu e confere. O batismo de Jesus no Jordão revela sua identidade e sua missão. Ele é o servo de Deus, o Filho amado do Pai.

A pessoa que recebe o batismo, a exemplo de Jesus, recebe o Espírito Santo e é vocacionada por Deus para a missão. O batismo não é e nem deve ser tido como uma tradição ou outro motivo. Batismo é inserção na comunidade de fé.

O fato de ser batizado destaca minha identidade e minha missão. Sou nova criatura; sou servo de Deus, cidadão do Reino, filho amado do Pai. Pelo batismo me tornei responsável na missão de Cristo e da Igreja. Como batizado eu estou numa nova realidade. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

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