23 de junho de 2024
Quinto
Domingo após Pentecostes
Salmo 124; Jó 38.1-11;
2Coríntios 6.1-13; Marcos 4.35-41
Texto: Marcos
4.35-41
Tema: “Que homem é
este?” (Mc 4.41)
O
objetivo do evangelho de Marcos é transmitir “a
boa notícia que fala a respeito de Jesus Cristo, Filho de Deus...”
(Mc 1.1).
Depois
de um longo dia, onde Jesus ensinou sobre o Reino de Deus contando a parábola
do semeador; da semente; do grão de mostarda; era preciso que os discípulos
tivessem uma aula prática sobre a vida no Reino de Deus. Em especial sobre quem
é Jesus, o Reino de Deus.
Era
momento do Reino de Deus ser espalhado para os gentios. Eles iriam até Gerasa
(Mc 5.1), onde Jesus curou um homem possesso por um demônio (Mc 5.2-20).
Era
preciso saber quem era Jesus. Os discípulos, escolhidos por Jesus, depois de
terem presenciado e vivido uma forte tempestade e Jesus ter acalmado a mesma
questionam: “Que homem é este...?”
(Mc 4.40).
Esse
questionamento é muito pertinente, afinal, os discípulos que chamaram Jesus de
Mestre, estavam duvidosos disso. O Mestre soa como, que Mestre é esse, que nos
abandona no momento mais terrível da nossa vida. Vamos ouvir como os três
evangelistas descrevem as palavras dos discípulos.
“Mestre! Nós vamos morrer! O senhor não
se importa com isso?”
(Mc 4.38).
“Socorro, Senhor! Nós vamos morrer!” (Mt 4.25).
“Mestre, Mestre! Nós vamos morrer!” (Lc 8.24).
Por
um momento os discípulos entenderam o sono de Jesus como que voltado contra
eles. Parecia que Jesus os estava negligenciando. É o grito de Israel: “Acorda, Senhor! Porque estás dormindo? Levanta-te. Não
nos rejeites para sempre” (Sl 44.23).
Jesus
censura seus discípulos: “Por
que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” (Mc 4.40).
Essas palavras soam como
que Jesus estivesse dizendo, caríssimos discípulos, me admira a covardia de
vocês. Não estão comigo num
projeto?
Recordem-se que ser discípulo não é apenas querer sobreviver. O discípulo não
está livre das tempestades só por ser discípulo. E essa lição foi aprendida
pelos discípulos. João escreveu as palavras de Jesus: “...No mundo vocês vão sofrer; mas tenham
coragem. Eu venci o mundo” (Jo 16.33). O apostolo Pedro registrou: “...no mundo inteiro os seus irmãos na fé estão
passando pelos mesmos sofrimentos” (1Pe 5.9).
E tanto João quanto
Pedro registraram que era importante saber disso, pois, era preciso estar firme
para enfrentar o diabo em dias conturbados, pois, ele nos tenta para abandonar
a fé em Jesus e João destaca que as palavras de Jesus trazem paz no momento da
dificuldade. João, Pedro, Paulo, Bartolomeu, Mateus, Judas, Tiago, enfim todos
os discípulos, aprenderam que quando a ansiedade e o medo dominam, se é tentado
a esquecer quem é Jesus.
“Que homem é este...?” (Mc 4.40).
Essa
foi a exclamação após o alívio da tempestade.
Antes de ensinar aos
seus os questionando sobre sua covardia, Jesus trouxe alívio diante de algo que
estava gerando ansiedade e medo.
Observe um detalhe no
texto: houve um grande temporal, uma grande bonança e um grande temor.
Alguém comparou como uma
tripulação de um navio no qual Jesus está dentro. Todavia, diante das
circunstâncias difíceis questiona como se estivesse sendo negligenciada e
esquecida por aquele que nunca dorme.
O Salmista Davi enfatizou:
“Se o Senhor não estivesse do nosso lado ...
teríamos sido engolidos vivos ... a enchente nos teria coberto ... teríamos
morrido afogados ...Demos graças ao Senhor, que não deixou que os nossos
inimigos nos destruíssem. ... O nosso socorro vem do Senhor Deus, que fez o céu
e a terra”
(Sl 124).
Tribulações e angústias
são algo inerente e inevitável na vida cristã. A vida cristã é como a maré,
altos e baixos.
As tempestades são muito
úteis em nossa vida. O profeta Naum anunciou: “O Senhor tem seu caminho na tormenta e na
tempestade”
(Na 1.3).
A palavra tempestade só
aparece duas vezes na Bíblia hebraica (Na 1.3; Jó 9.17). Jó questiona: “Porque me quebranta com uma tempestade” (Jó 9.17).
Podemos dizer que
encontramos Deus quando nos encontramos com a tempestade. Foi na tempestade que
os discípulos encontraram Jesus a ponto de exclamarem: “Que homem é este?”
No
milagre realizado por Jesus, acalmando a tempestade, recordamos as palavras do
profeta Naum e também a mensagem dada por Jó de que “só Ele anda sobre as ondas do mar” (Jó 9.8).
Tal
como os discípulos é comum no momento da tormenta, concluir que Deus não está
nem aí para nossos sofrimentos.
Chama
a atenção que tanto para Jó quanto para os discípulos, não há uma resposta
sobre o porquê da tempestade. Os discípulos são repreendidos e Jó é questionado
32 vezes por Deus, sem que Jó pudesse responder uma só questão.
Deus
não se interessa em responder o porquê dessa e daquela tempestade, desse ou
daquele sofrimento.
Deus
utilizou-se de um redemoinho para falar com Jó. E não aparece no texto que Jó
tenha duvidado de que era o próprio Deus quem falava.
Jó,
ou algum dos seus amigos, não eram capazes de dar explicações corretas sobre o
que estava acontecendo. Deus desejava saber o motivo do atrevimento em
questioná-lo em meio as suas ações, possivelmente respondendo Eliú.
Em
meio as questões de Jó, Deus o desafia a ensiná-lo (Jó 38.3). E sabendo que
isso não era possível, de maneira irônica e sarcástica, temos aqui um lembrete
amoroso de que Deus é criador. Deus é criador da terra, do mar, do dia e da
noite (Jó 38.4-7,8-11, 12-15).
Amorosamente
Deus estava anunciando para Jó. Já que você não é capaz de responder essas
questões e nem entender se eu explicar, apenas confie.
Interessante
que em meio ao diálogo de Deus com Jó, há uma ordem curiosa: “cinge, pois, os lombos” (Jó 38.3). Ou seja,
prenda as vestes para que possa facilitar a realização de serviços físicos e
possa se esforçar. Prepare-se para o trabalho.
Como, se o corpo de Jó estava coberto de feridas?
Provavelmente
essa expressão significa que Deus estava anunciando a Jó que tudo já estava por
terminar.
Do
meio de um redemoinho (Jó 38.1), “searah”
(tempestade acompanhada por ventos fortes, assim como em 2Rs 2.1,11; Is 40.24).
Essa
manifestação mostra que Deus não é impessoal, ao contrário, é um Deus que se
revela e fala com os homens.
É
significativo que Deus tenha se apresentado numa tempestade (Jó 40.6). Afinal,
a tempestade causou a morte dos seus filhos (Jó 1.19). Todavia, apesar do
infortúnio de uma tempestade (Jó 9.17), triunfa a vitória de Jó. É como dizer a
tempestade tirou e a tempestade deu.
Tanto
Jó quanto os discípulos pensaram que Deus os havia abandonado. Eles não
entendiam o silêncio de Deus.
Nossas
perguntas não pressionam a Deus para uma resposta. Ouçamos o profeta Isaías: “os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e
eu não ajo como vocês” (Is 55.8). Por essa razão, precisamos
refletir na pergunta de Deus quando enfrentarmos as tempestades: “As suas palavras só mostram a sua ignorância; quem é você
para pôr em dúvida a minha sabedoria?” (Jó 38.2). Também na
observação de Jesus: “Por que é
que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” (Mc
4.40).
Vivendo
em meio as tempestades, na certeza de que “o
nosso socorro vem do Senhor Deus, que fez o céu e a terra” (Sl
124.8). Afinal, “Que homem é
este?” É Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Amém!
Edson
Ronaldo Tressmann
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