segunda-feira, 2 de julho de 2018

Caminhando na fronteira pela graça de Deus!

08 de julho de 2018
7º Domingo após Pentecostes
Sl 123; Ez 2.1-5; 2Co 12.1-10; Mc 6.1-13
Tema: Caminhando na fronteira pela graça de Deus!

Tema: Caminhando na fronteira pela graça de Deus!
1 - Deus realiza seus propósitos mesmo no sofrimento (2Co 12.7).
2 - Deus revela o propósito do sofrimento (2Co 12.7).
3 - Deus conforta mesmo que não seja como eu quero (2Co 12.9).


O telefone chamou às 15:30 horas numa tarde de domingo ensolarado e brilhante. Atendi o telefone e o diálogo prosseguiu.
- “Sr. Wolterstorff?”
- “Sim”.
- “É o pai de Eric?”
- “Sim”.
- “Sr. Wolterstorff, eu tenho que lhe dar más notícias”.
- “Sim”.
- “Eric estava escalando nas montanhas e sofreu um acidente”.
- “Sim”.
- “Sr. Wolterstorff, eu tenho que lhe dizer, Eric morreu. Sr. Wolterstorff, o Sr. está aí? O Sr. precisa vir imediatamente. Sr. Wolterstorff, Eric morreu!”
Nicholas Wolterstorff, professor de Filosofia no Calvin College, nos Estados Unidos, a partir desse evento trágico, onde seu filho morreu aos 25 anos, nos deixa um impressionante livro: Lamento por um filho. Editora Ultimato, 1997. Um livro onde deseja honra seu filho e dar voz a sua angústia.
Após o fatídico episódio da morte de seu filho, Wolterstorff disse: “Eu vou olhar para o mundo através de lágrimas. Talvez eu veja coisas que, com os olhos secos, eu não poderia ver”.
Nesse culto, estamos tendo a sexta oportunidade de meditar sobre sofrimento. O sofrimento é um tempo de oportunidade para ver o que não conseguimos ver quando tudo está bem. O escritor irlandês C.S. Lewis, tornou-se popular durante a segunda guerra mundial, por suas palestras transmitidas pela rádio e seus escritos, conhecido como “apóstolo dos céticos” em seu livro: O problema do sofrimento (Editora Vida) ressalta que “Deus sussurra em nossos prazeres e grita em nossas dores. O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo surdo”.
Há muitas coisas que só é possível ver com os olhos cheios de lágrimas.
A pedagogia da vida espiritual é diferente. Primeiro ela dá a prova, depois a lição.
Voltamos a meditar na segunda carta do apostolo Paulo aos coríntios. Na pericope (2Co 12.1-10) o apostolo Paulo escreve sobre um sofrimento que muito o atormentou: o espinho na carne.
Enquanto que seus acusadores negam o apostolado de Paulo, o mesmo escreve aos seus acusadores mostrando que mesmo depois de ser arrebatado ao terceiro céu, suportou severa provação na terra.
O apostolo Paulo aprendeu pelas provas a lição da simultaneidade do poder e da fraqueza (2Co 12.1-6) e como é tênue a divisa entre poder e fragilidade, força e fraqueza.
Todos nós atravessamos as fronteiras da alegria para a tristeza, da exultação para o desespero. Assim como Nicholas, estamos em meio a uma tarde agradável de domingo, até que o telefone toca e tudo fica nublado por uma má notícia.
Há alguma razão para vivermos nesse limiar constante?
A julgar pelas palavras de Paulo (2Co 12.1-12), acredito que Deus não quer de maneira nenhuma que gabemos a nós mesmos. O salmista escreveu: “Somente a ti, ó Senhor Deus, a ti somente, e não a nós, seja dada a glória por causa do teu amor e da tua fidelidade” (Sl 115.1).
Não há motivos para nos gabar, pois, Deus é fiel a sua promessa. Semana passada ao meditar nas Lamentações de Jeremias, ouvimos que num dos piores momentos da vida do povo de Deus, o profeta exaltou a grandeza da fidelidade de Deus (Lm 3.23), mostrando que havia uma promessa de salvação a ser cumprida. Por isso, havia motivos de esperança em meio aquele episódio de sofrimento.
Não há nada para nos gabar de nós mesmos e, citando as Escrituras (Jr 9.24; 2Co 10.17) ressalta que ... “Quem quiser se orgulhar, que se orgulhe daquilo que o Senhor faz” (2Co 10.17; Jr 9.24).
Tema: Caminhando na fronteira pela graça de Deus!
1) - A razão para vivermos na fronteira entre a exaltação e a desvalorização, entre a alegria e a frustração, entre a vida e a morte, é porque Deus realiza seus propósitos, mesmo no nosso sofrimento (2Co 12.7).
Quando estamos sofrendo, enfrentando momentos difíceis, nós não conseguimos entender o propósito de Deus por ocasião daquele episódio. Como aprendemos na semana passada (Lm 3.22-33), Deus está presente no sofrimento, no entanto, não conseguimos ver.
Lembre-se: o nosso sofrimento e a nossa consolação são instrumentos usados por Deus para abençoar outras vidas. Na escola espiritual, pelos sofrimentos, Deus nos prepara para sermos consoladores. Se talvez Jó compreendeu seu sofrimento, ele morreu sem jamais saber porque sofreu.
O apostolo Paulo passou por muitos sofrimentos. Entre suas prisões, naufrágios, espancamentos, fugas, parece que nada era pior do que o seu espinho na carne, que não sabemos do que se trata. Paulo orou três vezes para que Deus tirasse o espinho da sua carne.
O apostolo Paulo aprendeu o que nós precisamos aprender: quando Deus não remove “o espinho”, é porque tem uma razão. Deus não permite que seus filhos sofram por sofrer. Há um propósito: nesse caso, para que Paulo não se ensoberbece.
Tema: Caminhando na fronteira pela graça de Deus!
2) - A razão para vivermos na fronteira entre a força e a fraqueza é porque muitas vezes seja possível que Deus nos revele o propósito do sofrimento (2Co 12.7).
Para o apostolo Paulo, Deus decidiu lhe revelar a razão da permissão do seu “espinho na carne”, ou seja, Deus queria evitar que Paulo ficasse orgulhoso.
É interessante observar que Paulo orou, mas não perguntou o porquê de seu sofrimento.
Quando Deus assim deseja, ele revela a razão do sofrimento. Revelou à Moisés o porque não lhe seria permitido entrar na Terra Prometida. Disse a Josué porque o exército foi derrotado em Ai.
O sofrimento, ao qual Deus como um pai amoroso e misericordioso permite, tem por finalidade humilhar, aperfeiçoar e nos usar.
Para nos usar para seus propósitos, viver na fronteira entre a alegria e a tristeza, entre a saúde e doença, o sofrimento pode ser um dom de Deus (2Co 12.7).
Por não conseguirmos compreender como Deus nos ama, mesmo no sofrimento, a nossa tendência é pensar que o sofrimento é algo que Deus faz contra nós e não por nós.
Jacó, quando José exigiu aos seus irmãos, para que trouxessem Benjamim, não entendendo para que, disse: “Vocês querem que eu perca todos os meus filhos? José não está com a gente, e Simeão também não está. Agora vocês querem levar Benjamim, e quem sofre com tudo isso sou eu!” (Gn 42.36). Tempos mais tarde, José, explicou aos seus irmãos que “É verdade que vocês planejaram aquela maldade contra mim, mas Deus mudou o mal em bem para fazer o que hoje estamos vendo, isto é, salvar a vida de muita gente” (Gn 50.20).
Paulo não questionou por que de tanto sofrimento, e entendeu que o “espinho na carne” permitido por Deus era uma dádiva.
Tema: Caminhando na fronteira pela graça de Deus!
3) - A fronteira entre um bom e mau momento é um fio de navalha, no entanto, Deus me conforta, mesmo que não seja como eu quero (2Co 12.9).
Mas ele me respondeu: “A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco.” Portanto, eu me sinto muito feliz em me gabar das minhas fraquezas, para que assim a proteção do poder de Cristo esteja comigo” (2Co 12.9).
A resposta que Deus ao pedido de Paulo não era a que ele esperava nem a que ele queria, no entanto, era a que ele precisava.
Aprendemos pelo profeta Jeremias em suas lamentações (Lm 3.22-33) que não estamos sozinhos no sofrimento, pois sofremos na presença de Deus. Paulo ouviu de Deus (2Co 12.9) que o mesmo não estava sozinho em seu sofrimento.
Senhor, por que estou sofrendo?
Deus nos assiste em nosso sofrimento.
Deus é gracioso, mesmo no sofrimento. Nenhuma outra tradição religiosa tem ideia desse Deus gracioso. Sem a graça de Deus, não compreendemos os por quês do dia-a-dia. Nosso Deus, é um Deus gracioso, mesmo quando nos permite ver a sua graça e amor com os olhos cheios de lágrimas.
A expressão máxima da graça de Deus é o abandono de Jesus na cruz para que nós não fossemos abandonados. Amém!

Edson Ronaldo Tressmann

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