27
de maio de 2018
Domingo
da santíssima Trindade
Sl
29; Is 6.1-8; At 2.14ª, 22-36; Jo 3.1-17
Tema:
Nascer de novo!
Dia da Santíssima Trindade. Doutrina questionada.
Não é racional. Mas, de maneira especial, não querendo entrar na referida
polêmica, atenho-me a apontar para esse Deus triuno que se revela em perdão,
vida e salvação.
As pessoas não estão deixando apenas de
crer no Deus triúno, estão começando a olhar para Jesus como um “mestre”
ou qualquer outra coisa semelhante.
-
O texto de João 3.1-17 traz uma riquíssima reflexão. Vamos ao texto.
-
Jesus estava em sua primeira estadia em Jerusalém durante o seu ministério.
-
Sua atuação mexeu com os ânimos das pessoas, até dos adversários.
Entre
o povo de Israel havia expectativa quanto a chegada do Messias. Os profetas
proclamaram a vinda do Messias, e essas promessas eram conhecidas pelo povo de
Deus e sua chegada era aguardada. Mas, como bem escreveu o apostolo João: “veio para o seu próprio país, mas o seu povo
não o recebeu” (Jo 1.11).
No encontro entre
Nicodemos e Jesus, mesmo sendo um fariseu, conhecedor das Escrituras Sagradas
(AT) e das promessas de Deus, afinal, os fariseus eram um grupo extremamente apegado
à Torá, o livro sagrado dos judeus. Mas mesmo assim, Nicodemos e outros
reconheceram Jesus apenas como mestre e não como cumprimento da promessa de
Deus.
O
evangelho de João apresenta três episódios entre Nicodemos e Jesus (Jo 3.1-17;
7. 50-52 e 19.39-42).
Nicodemos
era um nome frequente entre os judeus e significa “vitória do povo”. Esse homem era
destacado membro do sinédrio, composto por 71 membros. O sinédrio era composto
pelo sumo sacerdote, principais sacerdotes, anciãos (chefes de famílias) e
escribas. Era responsável pela jurisdição civil e criminal segundo a lei
judaica. Em casos de pena de morte requeriam a sansão do procurador romano. O
Sinédrio era a suprema corte legislativa e judicial de Jerusalém. Nicodemos era
um destacado teólogo (Jo 3.10).
Esse
destacado e renomado homem procurou Jesus.
Queria ter um diálogo franco e honesto
com Jesus sem ser interrompido, por isso, “uma noite ele foi visitar Jesus ...” (Jo 3.2).
O primeiro ponto do diálogo é como Nicodemos
e outros reconheciam Jesus.
1 – Reconhecendo Jesus
“nós sabemos que o senhor é um mestre que Deus enviou”
(Jo 3.2)
Tanto Nicodemos, bem como outros que
compunham o Sinédrio tinham uma boa impressão de Jesus. Mesmo reconhecendo que
ele vinha da parte de Deus, Jesus era apenas um mestre.
Como mestre, os fariseus reconheciam que
Jesus ensinava sobre as coisas de Deus e dos deveres dos homens. Reconheciam
Jesus como um professor.
Ao chamar Jesus de mestre, Nicodemos querendo dialogar com Jesus, reconhece que está
diante de alguém com as mesmas qualificações que ele tinha.
Toda sua admiração pela pessoa de Jesus
devia-se aos milagres que Jesus havia realizado. Mas, como bem sabemos, milagre
não opera a fé. Quem vive pelo milagre, vive sempre na expectativa de outro
milagre e quando os mesmos sessam, sessa-se a confiança.
Nicodemos, membro do Sinédrio, teólogo
experimentado, tinha conhecimento e pelo mesmo pensava ter poder de julgamento e
discernimento sobre a atuação de Deus. Reconhece a atuação
de Deus em Jesus, no entanto, apenas como mestre.
Quantas
pessoas nesse mundo tem Jesus em alta admiração, conceito, mas, não passa de um
mestre, guru, filosofo, ...
A julgar pela resposta no verso 3, Jesus
tem algo profundo a dizer. Se Nicodemos havia chamado Jesus de mestre e
reconhecido em Jesus a atuação de Deus, a resposta poderia ser outra, mas, a
resposta foi: “Eu
afirmo ao senhor que isto é verdade: ninguém pode ver o Reino de Deus se não
nascer de novo” (Jo 3.3).
Jesus diz a Nicodemos que não
é possível discernir com os olhos nem racionalmente a
atuação de Deus. E a atuação de Deus em Jesus era a salvação dos pecadores.
Será que as pessoas estão
percebendo que Jesus é salvador? Ou apenas o estão vendo como um exemplo a ser
seguido? Um curador? Milagreiro? Qual é o teu discernimento quanto a atuação de
Deus em Jesus?
Jesus continua respondendo aos atuais
Nicodemos: “ninguém
pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo” (Jo 3.3).
2 – É preciso nascer de novo
A resposta inesperada de Jesus causou
desconforto em Nicodemos. Tanto que julgou o novo nascimento como impossível e
questionou: “como
é que um homem velho pode nascer de novo? Será que ele pode voltar para a
barriga da sua mãe e nascer outra vez” (Jo 3.4).
A recomendação de Jesus: nascer de novo.
É preciso nascer de novo!
A expressão “nascer” é a tradução do termo grego γεννάω e
significa gerar.
E gerar é obra do pai. O pai gera. A expressão “de novo” é a tradução do termo anothen de cima ou de novo.
Observe que como fariseu, Nicodemos
buscava se aproximar de Deus pelas suas realizações pessoais tendo em vista o
suposto cumprimento da lei. Dessa maneira, Jesus ressalta que só há um meio de
reaproximação com Deus, e a mesma se dá pelo Espírito que gera para
o Pai.
Nascer
de novo é nascer de
cima. E nascer de cima só é
possível pelo Espírito Santo.
Nicodemos talvez se julgasse próximo a
Deus devido a sua religiosidade e não conseguindo discernir racionalmente, não
entendeu a resposta de Jesus, ou ficou incomodado com tal proposta. E reagiu em
si mesmo, buscando entender como era possível nascer de novo.
Querido
irmão e irmã em Jesus: Para Deus não existe impossível
quando o assunto se trata a salvação do ser humano. Ele fez e faz com que a
salvação seja possível. Por causa disso respondeu à Nicodemos: “Eu afirmo ao
senhor que isto é verdade: ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer
da água e do Espírito” (Jo 3.5).
Se é preciso nascer de novo, é possível
nascer de novo.
3 – É possível nascer de novo
“ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da
água e do Espírito” (Jo 3.5).
No ano 90 d.C., quando os leitores liam
essas palavras no evangelho de João, entendiam a sentença como sendo palavras
batismais. Os batismos eram comuns naquela época. João Batista batizava, os
discípulos batizavam.
Esse assunto não era desconhecido,
afinal, muitos judeus, ao menos os ricos, tinham um tanque de purificação em
sua casa.
Os judeus se purificavam todos os dias
de acordo com sua religiosidade. Todos os dias, os judeus adentravam num tanque
(piscina) em sua casa. Entrava por um lado, mergulhavam e saiam no outro lado, e
purificados, apresentavam suas orações à Deus. Assim, ao dizer “ninguém pode
entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito” (Jo
3.5), era compreensível para Nicodemos.
Jesus estava mostrando à Nicodemos que
não era preciso retornar e ser ejaculado na barriga da mãe. Mas, que era
necessário ser gerado pelo Espírito.
Como conhecedor das Escrituras (AT) e
como conceituado teólogo, ao ouvir da boca de Jesus que “ninguém pode entrar no Reino de Deus se não
nascer da água e do Espírito” (Jo 3.5), Nicodemos deve ter se
recordado das palavras do profeta Ezequiel (Ez 36.25-27) e Isaías (Is 44.3).
Jesus relembra a Nicodemos que já havia
sido dito pelos profetas que a obediência à lei não foi suficiente para criar
um povo integro e santo. Exatamente pelo não cumprimento da lei, Deus fez uma promessa,
criar
nas pessoas um espírito novo. Esse ensino é claro na visão do vale
de ossos secos (Ez 37).
Por esse motivo, ao ressaltar que “o
vento sopra onde quer, e ouve-se o barulho que ele faz, mas não se sabe de onde
ele vem, nem para onde vai. A mesma coisa acontece com todos os que nascem do
Espírito” (Jo 3.8), Jesus está
consolando Nicodemos, bem como todos os seres humanos, dizendo que Espírito gera de cima, ou de
novo, para que os não cumpridores da lei sejam novo espírito. Por isso é
necessário nascer de novo, pois somos filhos rebeldes.
O poder de estar e ser
do Reino de Deus é obra do Espírito Santo e não de uma suposta religiosidade.
4 – O Espírito sopra onde quer para gerar novamente
O termo grego (πνευμα)
pode ser traduzido como Espírito ou vento.
Ninguém sabe de onde o vento vem e para
onde vai. O mesmo ocorre na ação do Espírito Santo (Jo 3.8). Assim como não é possível
controlar o vento, não é possível controlar o Espírito e sua ação. Ele
continua agindo para fazer com que a “carne”, ou seja, o ser humano seja gerado
novamente de cima para ser um novo espírito nesse mundo.
O
Espírito age onde quer. Ele tem a escolha. O Espírito Santo age para promover a
ação e obra de Jesus Cristo.
Jesus ao observar o não entendimento de
Nicodemos, o ironiza: “o senhor é professor do povo de Israel e não entende
isso?” (Jo 3.10). Ou melhor, Jesus alerta Nicodemos dizendo-lhe que
conhecendo e ensinando as Escrituras deveria saber que o Espírito Santo sopra
onde quer, afinal, o profeta Ezequiel ensina essa lição por ocasião da narração
da visão do vale de ossos secos (Ez 37). O Espirito age onde quer para que haja
vida.
Nicodemos aproximou-se de Jesus em nome
de muitos (Jo 3.2 “sabemos”), e Jesus lhe responde em nome de todos os profetas (Jo 3.11).
Buscando Jesus como mestre, Nicodemos desejava
receber alguma revelação extraordinária sobre o mistério de Deus (Jo 3.12). Mas,
por si mesmo não poderia crer em nada que Jesus lhes falasse. Era necessário
nascer de novo. E o nascer de novo não está no poder da
pessoa, só é possível pelo poder do Espírito, por causa daquele que desceu do
céu, ou seja, na cruz de Jesus. A relação, Espírito, Jesus e cruz, é feita por
Pedro no sermão no dia de pentecostes (At 2.38-42) e também pelo apostolo Paulo
na carta aos Romanos (Rm 8.1-4).
Nascer de novo, nascer de cima, só é
possível por causa daquele que carregou os pecados à cruz. Pois uma nova vida é a nova vida
conquistada por Cristo na cruz e Jesus é a fonte da nova vida (Jo 3.16).
Amém!
Edson Ronaldo
Tressmann
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