segunda-feira, 21 de maio de 2018

Nascer de novo!

27 de maio de 2018
Domingo da santíssima Trindade
Sl 29; Is 6.1-8; At 2.14ª, 22-36; Jo 3.1-17
Tema: Nascer de novo!

Dia da Santíssima Trindade. Doutrina questionada. Não é racional. Mas, de maneira especial, não querendo entrar na referida polêmica, atenho-me a apontar para esse Deus triuno que se revela em perdão, vida e salvação.
As pessoas não estão deixando apenas de crer no Deus triúno, estão começando a olhar para Jesus como um “mestre” ou qualquer outra coisa semelhante.
- O texto de João 3.1-17 traz uma riquíssima reflexão. Vamos ao texto.
- Jesus estava em sua primeira estadia em Jerusalém durante o seu ministério.
- Sua atuação mexeu com os ânimos das pessoas, até dos adversários.
Entre o povo de Israel havia expectativa quanto a chegada do Messias. Os profetas proclamaram a vinda do Messias, e essas promessas eram conhecidas pelo povo de Deus e sua chegada era aguardada. Mas, como bem escreveu o apostolo João: “veio para o seu próprio país, mas o seu povo não o recebeu” (Jo 1.11).
No encontro entre Nicodemos e Jesus, mesmo sendo um fariseu, conhecedor das Escrituras Sagradas (AT) e das promessas de Deus, afinal, os fariseus eram um grupo extremamente apegado à Torá, o livro sagrado dos judeus. Mas mesmo assim, Nicodemos e outros reconheceram Jesus apenas como mestre e não como cumprimento da promessa de Deus.
O evangelho de João apresenta três episódios entre Nicodemos e Jesus (Jo 3.1-17; 7. 50-52 e 19.39-42).
Nicodemos era um nome frequente entre os judeus e significa “vitória do povo”. Esse homem era destacado membro do sinédrio, composto por 71 membros. O sinédrio era composto pelo sumo sacerdote, principais sacerdotes, anciãos (chefes de famílias) e escribas. Era responsável pela jurisdição civil e criminal segundo a lei judaica. Em casos de pena de morte requeriam a sansão do procurador romano. O Sinédrio era a suprema corte legislativa e judicial de Jerusalém. Nicodemos era um destacado teólogo (Jo 3.10).
Esse destacado e renomado homem procurou Jesus.
Queria ter um diálogo franco e honesto com Jesus sem ser interrompido, por isso, “uma noite ele foi visitar Jesus ...” (Jo 3.2).
O primeiro ponto do diálogo é como Nicodemos e outros reconheciam Jesus.
1 – Reconhecendo Jesus
nós sabemos que o senhor é um mestre que Deus enviou” (Jo 3.2)
Tanto Nicodemos, bem como outros que compunham o Sinédrio tinham uma boa impressão de Jesus. Mesmo reconhecendo que ele vinha da parte de Deus, Jesus era apenas um mestre.
Como mestre, os fariseus reconheciam que Jesus ensinava sobre as coisas de Deus e dos deveres dos homens. Reconheciam Jesus como um professor.
Ao chamar Jesus de mestre, Nicodemos querendo dialogar com Jesus, reconhece que está diante de alguém com as mesmas qualificações que ele tinha.
Toda sua admiração pela pessoa de Jesus devia-se aos milagres que Jesus havia realizado. Mas, como bem sabemos, milagre não opera a fé. Quem vive pelo milagre, vive sempre na expectativa de outro milagre e quando os mesmos sessam, sessa-se a confiança.
Nicodemos, membro do Sinédrio, teólogo experimentado, tinha conhecimento e pelo mesmo pensava ter poder de julgamento e discernimento sobre a atuação de Deus. Reconhece a atuação de Deus em Jesus, no entanto, apenas como mestre.
Quantas pessoas nesse mundo tem Jesus em alta admiração, conceito, mas, não passa de um mestre, guru, filosofo, ...
A julgar pela resposta no verso 3, Jesus tem algo profundo a dizer. Se Nicodemos havia chamado Jesus de mestre e reconhecido em Jesus a atuação de Deus, a resposta poderia ser outra, mas, a resposta foi: “Eu afirmo ao senhor que isto é verdade: ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo” (Jo 3.3).
Jesus diz a Nicodemos que não é possível discernir com os olhos nem racionalmente a atuação de Deus. E a atuação de Deus em Jesus era a salvação dos pecadores.
Será que as pessoas estão percebendo que Jesus é salvador? Ou apenas o estão vendo como um exemplo a ser seguido? Um curador? Milagreiro? Qual é o teu discernimento quanto a atuação de Deus em Jesus?
Jesus continua respondendo aos atuais Nicodemos: “ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo” (Jo 3.3).
2 – É preciso nascer de novo
A resposta inesperada de Jesus causou desconforto em Nicodemos. Tanto que julgou o novo nascimento como impossível e questionou: “como é que um homem velho pode nascer de novo? Será que ele pode voltar para a barriga da sua mãe e nascer outra vez” (Jo 3.4).
A recomendação de Jesus: nascer de novo. É preciso nascer de novo!
A expressão “nascer é a tradução do termo grego γεννάω e significa gerar. E gerar é obra do pai. O pai gera. A expressão “de novo” é a tradução do termo anothen de cima ou de novo.
Observe que como fariseu, Nicodemos buscava se aproximar de Deus pelas suas realizações pessoais tendo em vista o suposto cumprimento da lei. Dessa maneira, Jesus ressalta que só há um meio de reaproximação com Deus, e a mesma se dá pelo Espírito que gera para o Pai.
Nascer de novo é nascer de cima. E nascer de cima só é possível pelo Espírito Santo.
Nicodemos talvez se julgasse próximo a Deus devido a sua religiosidade e não conseguindo discernir racionalmente, não entendeu a resposta de Jesus, ou ficou incomodado com tal proposta. E reagiu em si mesmo, buscando entender como era possível nascer de novo.
Querido irmão e irmã em Jesus: Para Deus não existe impossível quando o assunto se trata a salvação do ser humano. Ele fez e faz com que a salvação seja possível. Por causa disso respondeu à Nicodemos: “Eu afirmo ao senhor que isto é verdade: ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito” (Jo 3.5).
Se é preciso nascer de novo, é possível nascer de novo.
3 – É possível nascer de novo
ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito” (Jo 3.5).
No ano 90 d.C., quando os leitores liam essas palavras no evangelho de João, entendiam a sentença como sendo palavras batismais. Os batismos eram comuns naquela época. João Batista batizava, os discípulos batizavam.
Esse assunto não era desconhecido, afinal, muitos judeus, ao menos os ricos, tinham um tanque de purificação em sua casa.
Os judeus se purificavam todos os dias de acordo com sua religiosidade. Todos os dias, os judeus adentravam num tanque (piscina) em sua casa. Entrava por um lado, mergulhavam e saiam no outro lado, e purificados, apresentavam suas orações à Deus. Assim, ao dizer “ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito” (Jo 3.5), era compreensível para Nicodemos.
Jesus estava mostrando à Nicodemos que não era preciso retornar e ser ejaculado na barriga da mãe. Mas, que era necessário ser gerado pelo Espírito.
Como conhecedor das Escrituras (AT) e como conceituado teólogo, ao ouvir da boca de Jesus que “ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito” (Jo 3.5), Nicodemos deve ter se recordado das palavras do profeta Ezequiel (Ez 36.25-27) e Isaías (Is 44.3).
Jesus relembra a Nicodemos que já havia sido dito pelos profetas que a obediência à lei não foi suficiente para criar um povo integro e santo. Exatamente pelo não cumprimento da lei, Deus fez uma promessa, criar nas pessoas um espírito novo. Esse ensino é claro na visão do vale de ossos secos (Ez 37).
Por esse motivo, ao ressaltar que “o vento sopra onde quer, e ouve-se o barulho que ele faz, mas não se sabe de onde ele vem, nem para onde vai. A mesma coisa acontece com todos os que nascem do Espírito” (Jo 3.8), Jesus está consolando Nicodemos, bem como todos os seres humanos, dizendo que Espírito gera de cima, ou de novo, para que os não cumpridores da lei sejam novo espírito. Por isso é necessário nascer de novo, pois somos filhos rebeldes.
O poder de estar e ser do Reino de Deus é obra do Espírito Santo e não de uma suposta religiosidade.
4 – O Espírito sopra onde quer para gerar novamente
O termo grego (πνευμα) pode ser traduzido como Espírito ou vento.
Ninguém sabe de onde o vento vem e para onde vai. O mesmo ocorre na ação do Espírito Santo (Jo 3.8). Assim como não é possível controlar o vento, não é possível controlar o Espírito e sua ação. Ele continua agindo para fazer com que a “carne”, ou seja, o ser humano seja gerado novamente de cima para ser um novo espírito nesse mundo.
O Espírito age onde quer. Ele tem a escolha. O Espírito Santo age para promover a ação e obra de Jesus Cristo.
Jesus ao observar o não entendimento de Nicodemos, o ironiza: “o senhor é professor do povo de Israel e não entende isso?” (Jo 3.10). Ou melhor, Jesus alerta Nicodemos dizendo-lhe que conhecendo e ensinando as Escrituras deveria saber que o Espírito Santo sopra onde quer, afinal, o profeta Ezequiel ensina essa lição por ocasião da narração da visão do vale de ossos secos (Ez 37). O Espirito age onde quer para que haja vida.
Nicodemos aproximou-se de Jesus em nome de muitos (Jo 3.2 “sabemos”), e Jesus lhe responde em nome de todos os profetas (Jo 3.11).
Buscando Jesus como mestre, Nicodemos desejava receber alguma revelação extraordinária sobre o mistério de Deus (Jo 3.12). Mas, por si mesmo não poderia crer em nada que Jesus lhes falasse. Era necessário nascer de novo. E o nascer de novo não está no poder da pessoa, só é possível pelo poder do Espírito, por causa daquele que desceu do céu, ou seja, na cruz de Jesus. A relação, Espírito, Jesus e cruz, é feita por Pedro no sermão no dia de pentecostes (At 2.38-42) e também pelo apostolo Paulo na carta aos Romanos (Rm 8.1-4).

Nascer de novo, nascer de cima, só é possível por causa daquele que carregou os pecados à cruz. Pois uma nova vida é a nova vida conquistada por Cristo na cruz e Jesus é a fonte da nova vida (Jo 3.16). Amém!
Edson Ronaldo Tressmann

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