segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Templos purificados


Dia 04 de março de 2018
3º Domingo na Quaresma
Sl 19; Ex 20.1-17; 1Co 1.18-31; Jo 2.13-22
Tema: Templos purificados!

Por algumas semanas estudamos o evangelho de Marcos e já percebemos que há uma diferença entre ordem dos episódios narrados por Marcos com a ordem dos episódios narrados por João. Na verdade, Mateus, Marcos e Lucas narram o episódio da expulsão do templo no fim da atividade ministerial de Jesus, pouco antes da sua prisão, paixão e morte. Esse episódio foi a gota d’água, foi um dos motivos que levaram as autoridades a prender e matar Jesus.
João, o apostolo, coloca o episódio da expulsão dos cambistas e vendedores no começo da atividade ministerial de Jesus. Acredito que o ponto de vista de João, inspirado pelo Espírito Santo é indicar desde o início aos seus ouvintes que o ponto de encontro entre Deus e o ser humano se dá em Jesus.
Alguns dias antes da Páscoa dos judeus” (Jo 2.13, NTLH).
Desde os 12 anos de idade (Lc 2.42) Jesus ia ao Templo de Jerusalém. Não sabemos indicar com precisão quantas vezes havia estado em Jerusalém, mas, podemos afirmar que muitas foram as ocasiões.
Com certeza, todas as vezes em que Jesus ia ao Templo, observava a prática do povo de Deus. Povo que buscava observar a lei de Deus. No entanto, pela suposta observância da lei, acabaram corrompendo o templo, o santuário de Deus.
Mesmo que a lei apresentada por Moisés em Dt 14.24-26 permitisse a compra de animais para o sacrifício, algo incomodou Jesus.
Desde a construção do tabernáculo no deserto do Sinai, os judeus aprenderam sobre a importância do tabernáculo, tanto que a metade do livro de Êxodo trata desse tema. Pelo tabernáculo Deus habitava em meio ao seu povo pecaminoso (Ex 35.21).
A importância do tabernáculo era que o mesmo representava a parceria entre o ser humano e Deus para fazer do mundo um lugar onde Deus pudesse ser revelado.
Após a construção do Templo, os judeus tinham no Templo o centro do mundo, o lugar onde o céu tocava na terra (Ez 5.5).
Devido a isso, o apostolo João (Jo 2.13) ao relatar a purificação do templo, indica que o ministério público de Jesus foi o ministério de um verdadeiro profeta. Pois, assim como profetas anteriormente enviados por Deus, Jesus também denunciou os desvios do culto no templo. As celebrações e os sacrifícios ordenadas por Deus não eram mais realizados conforme a vontade de Deus.
João 2.14 - “no pátio do templo ...
Um dos elementos principais do Templo era o grande altar, onde eram oferecidos os sacrifícios. O sacrifício representava o mundo animal e o mundo vegetal. Os sacrifícios testemunhavam que tudo que há no mundo pertence ao criador. O sacrifício representava também um testemunho de fé, pois as posses eram dedicadas a Deus.
No pátio do Templo, os sacerdotes lavavam e purificavam os pés e as mãos, simbolizando que deixavam de lado o materialismo para servir a Deus.
E é exatamente por isso que Jesus se irrita, afinal, o materialismo havia contaminado toda a prática religiosa. Os líderes e os sacerdotes fizeram uma interpretação da lei apresentada em Dt 14.24-26 e a usaram em seu favor.
João 2.15 – Jesus expulsou todos dali...
O apostolo João usa uma palavra forte aqui. Jesus expulsou os cambistas e vendedores, pois haviam feito da casa de Deus um ponto comercial.
João 2.15-16
Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!
Ao expulsar os cambistas, Jesus exerce seu ministério profético. Pelo relato da purificação do Templo, Jesus enfatiza as palavras do Profeta Miquéias (Mq 3.11-12); do Profeta Jeremias (Jr 26.1-18) e do Profeta Isaías (Is 66.1-4).
Ao dizer “Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!” Jesus lembra ainda outras profecias. A profecia de Jeremias: “Será que vocês estão pensando que o meu Templo é um esconderijo de ladrões?” (Jr 7.11); a profecia de Zacarias: “E naquele dia não haverá nenhum vendedor no Templo do Senhor” (Zc 14.21); lembra também a profecia de Isaías: “Pois a minha casa será chamada de ‘Casa de Oração’ para todos os povos” (Is 56.7).
Para os judeus o Templo era um lugar privilegiado de encontro com Deus, mas os líderes a transformaram em uma verdadeira mina de ouro administrada pelos sacerdotes. Os sacrifícios com nuances de piedade, era apenas uma fonte de comércio e poder. O local onde a luz divina deveria brilhar, brilhava a ganância e o poder.
O que precisamos tirar do nosso meio? O que está impedindo que a luz de Cristo seja revelada em nosso meio? Infelizmente muitos estão preferindo tirar o evangelho que fala de Cristo.
Em nome do evangelho, muitos líderes estão vendendo vassouras ungidas, canetas abençoadas, envelopes para fogueira santa, ...
O ataque de Jesus não foi contra o templo. Jesus atacou a arrogância e a pretensão religiosa. Jesus a atacou a piedade como fonte de lucro.
João 2. 18-20
Diante desse ataque, os líderes religiosos, pedem um sinal, ou melhor, pedem as credenciais de Jesus. Ao apresentar as mesmas, Jesus não aponta para o passado, mas para o futuro: destruam e eu reconstruirei (Jo 2.19).
É preciso confessar que todos ficaram confusos com essa declaração. João indica que os discípulos só entenderam essa afirmação após a ressurreição de Cristo (Jo 2.22).
A ressurreição faz com que os discípulos compreendam e creiam.
Ao afirmar: “Derrubem este Templo, e eu construirei de novo em três dias!” (Jo 2.19), Jesus garante que o verdadeiro templo é seu corpo, morto e ressuscitado!
João 2.23-25
Jesus termina dizendo que conhece a natureza humana e sabe que a mesma é incrédula.
O que esse texto nos ensina?
Ensina que ainda muitos estão pedindo as credenciais de Jesus. Querem um sinal. Desejam mostrar a autoridade de Jesus. Mas, infelizmente muitos estão esquecendo que a credencial, o sinal e a autoridade de Jesus é manifestada em sua morte e ressurreição.
Não há igreja cristã sem a mensagem da ressurreição. A verdade é que a mensagem que caracteriza e distingue o cristianismo de outras religiões é a mensagem da ressurreição.
Nesse período de quaresma muitas pessoas estão oferecendo sacrifícios. Querem agradar a Deus por seu jejum, suas esmolas e romarias.
A mensagem da restauração do templo é tão atual como foi na época do ocorrido. As pessoas precisam entender que sem Jesus, o jejum quaresmal, a piedade, as ofertas, os dízimos, não passam de mera religiosidade aparente.
O ser humano não está conectado a um santuário físico. O “povo de Deus” não precisa mais ir à Jerusalém e oferecer sacrifícios de animais. Na pessoa de Jesus todos adoram verdadeiramente em espírito e em verdade. Em Jesus somos templos renovados. Amém!
Edson Ronaldo Tressmann

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