03 de setembro de 2017
13º Domingo após Pentecostes
Sl 26; Jr 15.15-21; Rm 12.9-21; Mt 16.21-28
Tema: Razão e Fé em rota de colisão!
O apóstolo Pedro havia acabado de
fazer uma maravilhosa confissão de fé. Sua confissão foi tão esplendorosa, que
Jesus destacou que essa confissão não se deu por si mesmo, mas pela ação do
Espírito Santo (1Co 12.3). Jesus disse: “Não foi
carne e sangue quem to revelaram, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16.17). Diante dessa confissão Jesus
ressaltou que sobre esta “pedra”, ou
seja, “a confissão de Pedro, a igreja seria
edificada”. Mas, por si mesmo, Pedro e eu também, foi e sou
capaz de uma coisa: recusar a cruz de Jesus (Mt
16.22).
Pelo poder do Espírito Santo, Pedro,
foi capaz de responder corretamente em nome do grupo que “Jesus é o filho de Deus”. Pela
ação do Espírito Santo, os discípulos reconheceram Jesus Cristo como sendo o
filho do Deus vivo o enviado da parte de Deus.
Após essa confissão, Jesus ressalta
que os discípulos não deveriam dizer abertamente que ele era o messias. Qual motivo? O termo messias havia
recebido uma conotação política negativa. As pessoas não compreenderiam messias como sendo o redentor entre Deus
e os homens. Mas, o encarariam como sendo o libertador político. O revolucionário
contra os romanos.
O evangelho de Mateus é dividido em
três partes.
Mateus 1 até 4.16 visa retratar quem
é Jesus;
Mateus 4.17 até 16.20 retrata os atos
ministeriais de Jesus;
Mateus 16.21 em diante retrata o que
é necessário para mostrar que Jesus é o salvador;
Jesus foi enviado pelo Pai para
realizar uma missão. E Jesus, após a belíssima confissão de Pedro que foi
realizada pelo poder do Espírito Santo, diz que “...era necessário seguir para Jerusalém e
sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser
morto e ressuscitado no terceiro dia” (Mt 16.21).
Essa é a descrição sobre a obra
redentora de Cristo. Esse é o verdadeiro e real messias, o qual haviam acabado
de confessar e sobre o qual a igreja está edificada.
Somos conhecedores dessa verdade de
que a igreja está edificada sobre o evangelho: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”
(Mt 16.16). E sobre este evangelho as portas do inferno não irão prevalecer (Mt
16.18). No entanto, foi muito rápido a reação de Pedro ante a confirmação de
Jesus sobre sua obra redentora. Pedro disse: “de forma nenhuma isso acontecerá contigo”
(Mt 16.22). Claro que Pedro estava querendo se mostrar amigo. Estava buscando
consolar Jesus. Mas, Jesus entendeu essa situação como sendo mais uma tentação
do diabo, semelhante a tentação narrada em Mateus 4. Tanto que Jesus respondeu:
“Arreda,
Satanás” (Mt 16.23).
A igreja está edificada sobre uma
confissão, sobre o evangelho, sobre Jesus o Filho do Deus vivo. Esse Jesus é o
salvador do mundo, aquele que foi enviado para ir à Jerusalém, sofrer, morrer e
ressuscitar.
E ainda hoje, Jesus adverte sua
igreja dizendo para muitos de seus seguidores: “Arreda, Satanás”.
Satanás significa adversário que
impede de seguir o caminho. E todo aquele que impede o caminho, ou que está na
frente de Jesus é “pedra de tropeço” (Mt 16.23). Tudo o que se interpõe
a Jesus é uma pedra de tropeço.
Há muitos seguidoras de Jesus que na
verdade “não
cogitam das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mt 16.23). O que isso
significa? Significa que a morte, a cruz, o sofrimento e a
ressurreição de Jesus não são mais o evento salvífico, o plano redentor de Deus
em Jesus.
Jesus tornou qualquer outra coisa. A
conotação de Messias continua contaminada e distorcida por muitos.
A verdade é que a Nossa
Razão e a
nossa Fé estão em rota de colisão!
Razão e fé em rota de colisão!
1 – Negando a si mesmo, carregando a cruz e seguindo Jesus!
É preciso lembrar que a fé não é uma
obra humana. A fé é produzida pela razão humana. A fé é um dom de Deus (Ef
2.8). Pela fé, pelo poder do Espírito Santo, Pedro em nome do grupo havia feito
uma bela confissão, havia proclamado o evangelho sobre o qual a igreja está
edificada. No entanto, por si mesmo, pela sua razão e força, acabou caindo na
tentação e tornou-se uma pedra de tropeço.
Quando a fé é atacada e tentada pela
razão humana, é preciso recordar-se que Jesus foi enviado para morrer e
ressuscitar. Todo discípulo de Jesus precisa reconhecer isso. É preciso negar a
si mesmo, ou seja, negar a ideia de que Jesus não precisa morrer na cruz. É preciso
seguir Jesus como verdadeiro messias, como salvador, redentor. É preciso estar
firmado na verdadeira pedra, ou seja, que Jesus é o Filho do Deus vivo. Só
Jesus é o nosso salvador. É preciso confessar e estar firmado na certeza, a
mesma que teve o apóstolo Paulo: Cristo é a nossa vida (Cl 3.4).
A nossa razão aponta para outros
caminhos de salvação. Meditamos na semana passada (Romanos 11.33-36) que a
riqueza da misericórdia de Deus e a sabedoria de Deus é incompreensível e por
isso muitos acabam se afastando dela. Justamente por não caber em nossa razão
limitada, pessoas se afastam de Deus.
Pedro, em nome do grupo de discípulos
não falou por si mesmo ou porque havia compreendido, mas quando falou por si
mesmo e com sua razão e entendimento, acabou sendo exortado por Jesus (Mt
16.23). E quão forte foi essa exortação: “Arreda, Satanás” (Mt 16.23). Não se coloque na
minha frente.
Estamos a poucos dias da comemoração
dos 500 anos de Reforma. No brasão de Lutero, reformador, foi colocado a cruz
como centro. A cruz mostra onde de fato precisamos colocar nossa vida e
ministério. Mas, infelizmente, muitos preferem outros caminhos de salvação.
Paulo escreveu aos coríntios: “Eles não podem crer, pois o deus deste mundo conservou a
mente deles na escuridão. Ele não os deixa ver a luz que brilha sobre eles, a
luz que vem da boa notícia a respeito da glória de Cristo, o qual nos mostra como Deus realmente é” (2Co 4.4). Muitos seguidores de Jesus,
fiéis seguidores, pessoas que amam Jesus, no entanto, assim como Pedro,
querendo ser amigo de Jesus, acabam colocando a cruz, a morte, o sofrimento e a
ressurreição de Jesus de lado. É uma razão cegada, sem entendimento no
verdadeiro evangelho.
Pedro, mesmo tendo ouvido essa
exortação de Jesus, parece não ter aprendido, pois, anos mais tarde, num episódio
em Antioquia foi repreendido por Paulo, pois Pedro afastou-se da liberdade do evangelho
para refugiar-se na suposta obrigação da lei (Gl 2.11-21).
Quando a nossa razão entra em rota de
colisão com a nossa fé, é preciso negar a si mesmo, ou seja, reconhecer que só
Jesus é o salvador. É preciso permanecer firmado na verdadeira pedra, ou seja,
que Jesus é o Filho do Deus vivo.
Razão e fé em rota de colisão!
2 – Ganhando vida!
Ver Jesus como de fato precisa ser
visto só é possível com olhos da fé. Entender a mensagem de Jesus só é possível
pela fé.
Para Pedro e também os outros
discípulos, era impossível e incompreensível que o filho do próprio Deus
morresse numa cruz. Racionalmente, as palavras de Jesus: “...é necessário ir a Jerusalém e sofrer
muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto
e ressuscitado no terceiro dia” (Mt 16.21) provocou um black out na
razão daqueles homens. Bem exclamou e transformou em hino, Mathew Bridges
(1800-1894), “...nem
anjos lá do céu o podem compreender: que o próprio Filho de Deus Pai pelo homem
vá morrer”.
Quando a razão e a fé se chocam alguém sai ferido!
Pedro sentia profundo amor por Jesus.
Mas, a fé a razão sempre estão em rota de colisão. Após confessar não por si
mesmo, agora por si mesmo a sua razão o inquietou. Sua inquietação foi tamanha
que ousou chamar Jesus para o lado e responder: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo
algum te acontecerá” (Mt 16.22).
Já disse em outra ocasião o quão
assustador tem sido entre os jovens o crescimento do ateísmo. O ateísmo cresce
devido a colisão entre fé e razão. As pessoas querem compreender algo que foi
deixado para crer.
É necessário lembrar que ser racional não é pecado. Deus nos fez assim. O problema é a
grande arma usado pelo diabo, ou seja, fazer com que a fé colida com a razão e
que pela razão pessoas se afastem da fé.
A fé oferece e dá aquilo que a razão
tanto busca: uma vida plena e eterna.
Jesus fala sobre perder e a ganhar a vida!
A razão conduz o homem numa busca na
qual nunca encontrará aquilo que tanto almeja, respostas satisfatórias para
perguntas angustiantes de sua alma.
Ouvimos de Jesus o maravilhoso
convite: “se
alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”
(Mt 16.24).
As pessoas usam todo seu tempo,
força, energia, poder, para ganhar vida. Um vida financeira, uma vida de lazer,
... As pessoas buscam aquilo que lhes dá prazer e só fazem o que parece lhes
dar prazer. E há coisas que não são prazerosas. Entre essas está o “negar-se a si
mesmo, carregar a cruz, seguir Jesus”.
Deixar Jesus, abrir mão da obra
redentora de Cristo, é perder a própria vida.
Os pensadores Michel Onfray
(Décadence) e Roger Scruton (A alma do mundo, 2014) concordam em um ponto: o ocidente
vai mal. Onfray acha que o problema é a fé, Scruton diz que a fé é a solução.
Scruton ressalta que é preciso
resgatar a fé. Mas, como haverá lugar
para um mundo cada vez mais desvendado pela ciência? O mundo visto apenas
pelas lentes da ciência, perde aquilo que faz a vida valer a pena. O valor da
pessoa está em ser algo além da carne.
Essa visão racional e cientifica da
vida, fez e faz com que as pessoas busquem a todo custo apenas o aqui e agora. Quando
pensam no depois, buscam através de si mesmos alcançar o que Deus lhes oferece
gratuitamente: a salvação em seu filho Jesus.
Ganhar a vida é viver na dependência
de Jesus, do evangelho. O Jesus e o evangelho que separa, que faz sofrer
perseguições (Mt 10.34-39).
Razão e fé em rota de colisão!
3 – Revendo nossas obras
Tudo o que se refere a Deus é
resumido na sublime obra redentora de Jesus. Essa obra só pode ser compreendida
e aceita pela fé. Nossa razão não compreende e nem sequer aceita.
Antes de terminar a mensagem sobre o
relato desse homem que fez uma bela confissão pelo poder do Espírito Santo, mas
quando deixou-se levar pela sua razão foi exortado por Jesus, quero dedicar-me
a nos fazer rever nossa compreensão sobre as palavras de Jesus: “...retribuirá a
cada um conforme as suas obras” (Mt 16.27).
Jesus disse: “Arreda, Satanás”; “negue-se a si
mesmo”; “pedra de tropeço”; mostrando que não há
salvação sem a obra redentora de Cristo. O messias mal compreendido pelo homem
é o enviado de Deus para ir à Jerusalém, sofrer, morrer e ressuscitar. E ao
dizer: “Porque
o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então,
retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mt 16.27), Jesus está
ressaltando o termo grego práxis. Ou seja,
a vida como um todo. É uma forma de viver e agir. Todo aquele que vive negando
a si mesmo, não olhando para suas realizações como intuito de agradar a Deus.
Todo aquele que carrega a sua cruz, não se importa com a divisão, sofrimento
que isso acarreta. Todo aquele que sabe que só há vida em Jesus. Esse receberá
aquilo que Jesus, somente Jesus pode lhe oferecer: a VIDA.
A pessoa que vive a sua vida achando
que suas obras, o cumprimento da lei, são requisitos de salvação, vivem suas
vidas como um pesado fardo. Nunca encontram paz e sossego para suas almas.
O amor a Deus e a o próximo, algo
natural de um filho de Deus, passou a ser um pesado fardo. Pessoas querem
alcançar a salvação sem o Jesus da cruz, sem o Jesus ressuscitado e vitorioso.
A fé e a razão continuam em rota de
colisão. Pela razão fomos e somos imensamente abençoados. Mas, é tão somente
pela fé que recebemos e temos a maior de todas as bênçãos: a VIDA VERDADEIRA. Amém!
Edson Ronaldo Tressmann
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por seguir esse blog. Com certeza será uma bênção em sua vida.