terça-feira, 29 de agosto de 2017

Razão e Fé em rota de colisão!

03 de setembro de 2017
13º Domingo após Pentecostes
Sl 26; Jr 15.15-21; Rm 12.9-21; Mt 16.21-28
Tema: Razão e Fé em rota de colisão!

O apóstolo Pedro havia acabado de fazer uma maravilhosa confissão de fé. Sua confissão foi tão esplendorosa, que Jesus destacou que essa confissão não se deu por si mesmo, mas pela ação do Espírito Santo (1Co 12.3). Jesus disse: “Não foi carne e sangue quem to revelaram, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16.17). Diante dessa confissão Jesus ressaltou que sobre esta “pedra”, ou seja, “a confissão de Pedro, a igreja seria edificada”. Mas, por si mesmo, Pedro e eu também, foi e sou capaz de uma coisa: recusar a cruz de Jesus (Mt 16.22).
Pelo poder do Espírito Santo, Pedro, foi capaz de responder corretamente em nome do grupo que “Jesus é o filho de Deus”. Pela ação do Espírito Santo, os discípulos reconheceram Jesus Cristo como sendo o filho do Deus vivo o enviado da parte de Deus.
Após essa confissão, Jesus ressalta que os discípulos não deveriam dizer abertamente que ele era o messias. Qual motivo? O termo messias havia recebido uma conotação política negativa. As pessoas não compreenderiam messias como sendo o redentor entre Deus e os homens. Mas, o encarariam como sendo o libertador político. O revolucionário contra os romanos.
O evangelho de Mateus é dividido em três partes.
Mateus 1 até 4.16 visa retratar quem é Jesus;
Mateus 4.17 até 16.20 retrata os atos ministeriais de Jesus;
Mateus 16.21 em diante retrata o que é necessário para mostrar que Jesus é o salvador;
Jesus foi enviado pelo Pai para realizar uma missão. E Jesus, após a belíssima confissão de Pedro que foi realizada pelo poder do Espírito Santo, diz que “...era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (Mt 16.21).
Essa é a descrição sobre a obra redentora de Cristo. Esse é o verdadeiro e real messias, o qual haviam acabado de confessar e sobre o qual a igreja está edificada.
Somos conhecedores dessa verdade de que a igreja está edificada sobre o evangelho: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). E sobre este evangelho as portas do inferno não irão prevalecer (Mt 16.18). No entanto, foi muito rápido a reação de Pedro ante a confirmação de Jesus sobre sua obra redentora. Pedro disse: “de forma nenhuma isso acontecerá contigo” (Mt 16.22). Claro que Pedro estava querendo se mostrar amigo. Estava buscando consolar Jesus. Mas, Jesus entendeu essa situação como sendo mais uma tentação do diabo, semelhante a tentação narrada em Mateus 4. Tanto que Jesus respondeu: “Arreda, Satanás” (Mt 16.23).
A igreja está edificada sobre uma confissão, sobre o evangelho, sobre Jesus o Filho do Deus vivo. Esse Jesus é o salvador do mundo, aquele que foi enviado para ir à Jerusalém, sofrer, morrer e ressuscitar.
E ainda hoje, Jesus adverte sua igreja dizendo para muitos de seus seguidores: “Arreda, Satanás”.
Satanás significa adversário que impede de seguir o caminho. E todo aquele que impede o caminho, ou que está na frente de Jesus é “pedra de tropeço” (Mt 16.23). Tudo o que se interpõe a Jesus é uma pedra de tropeço.
Há muitos seguidoras de Jesus que na verdade “não cogitam das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mt 16.23). O que isso significa? Significa que a morte, a cruz, o sofrimento e a ressurreição de Jesus não são mais o evento salvífico, o plano redentor de Deus em Jesus.
Jesus tornou qualquer outra coisa. A conotação de Messias continua contaminada e distorcida por muitos.
A verdade é que a Nossa Razão e a nossa Fé estão em rota de colisão!
Razão e fé em rota de colisão!
1 – Negando a si mesmo, carregando a cruz e seguindo Jesus!
É preciso lembrar que a fé não é uma obra humana. A fé é produzida pela razão humana. A fé é um dom de Deus (Ef 2.8). Pela fé, pelo poder do Espírito Santo, Pedro em nome do grupo havia feito uma bela confissão, havia proclamado o evangelho sobre o qual a igreja está edificada. No entanto, por si mesmo, pela sua razão e força, acabou caindo na tentação e tornou-se uma pedra de tropeço.
Quando a fé é atacada e tentada pela razão humana, é preciso recordar-se que Jesus foi enviado para morrer e ressuscitar. Todo discípulo de Jesus precisa reconhecer isso. É preciso negar a si mesmo, ou seja, negar a ideia de que Jesus não precisa morrer na cruz. É preciso seguir Jesus como verdadeiro messias, como salvador, redentor. É preciso estar firmado na verdadeira pedra, ou seja, que Jesus é o Filho do Deus vivo. Só Jesus é o nosso salvador. É preciso confessar e estar firmado na certeza, a mesma que teve o apóstolo Paulo: Cristo é a nossa vida (Cl 3.4).
A nossa razão aponta para outros caminhos de salvação. Meditamos na semana passada (Romanos 11.33-36) que a riqueza da misericórdia de Deus e a sabedoria de Deus é incompreensível e por isso muitos acabam se afastando dela. Justamente por não caber em nossa razão limitada, pessoas se afastam de Deus.
Pedro, em nome do grupo de discípulos não falou por si mesmo ou porque havia compreendido, mas quando falou por si mesmo e com sua razão e entendimento, acabou sendo exortado por Jesus (Mt 16.23). E quão forte foi essa exortação: “Arreda, Satanás” (Mt 16.23). Não se coloque na minha frente.
Estamos a poucos dias da comemoração dos 500 anos de Reforma. No brasão de Lutero, reformador, foi colocado a cruz como centro. A cruz mostra onde de fato precisamos colocar nossa vida e ministério. Mas, infelizmente, muitos preferem outros caminhos de salvação.
Paulo escreveu aos coríntios: “Eles não podem crer, pois o deus deste mundo conservou a mente deles na escuridão. Ele não os deixa ver a luz que brilha sobre eles, a luz que vem da boa notícia a respeito da glória de Cristo, o qual nos mostra como Deus realmente é” (2Co 4.4). Muitos seguidores de Jesus, fiéis seguidores, pessoas que amam Jesus, no entanto, assim como Pedro, querendo ser amigo de Jesus, acabam colocando a cruz, a morte, o sofrimento e a ressurreição de Jesus de lado. É uma razão cegada, sem entendimento no verdadeiro evangelho.
Pedro, mesmo tendo ouvido essa exortação de Jesus, parece não ter aprendido, pois, anos mais tarde, num episódio em Antioquia foi repreendido por Paulo, pois Pedro afastou-se da liberdade do evangelho para refugiar-se na suposta obrigação da lei (Gl 2.11-21).
Quando a nossa razão entra em rota de colisão com a nossa fé, é preciso negar a si mesmo, ou seja, reconhecer que só Jesus é o salvador. É preciso permanecer firmado na verdadeira pedra, ou seja, que Jesus é o Filho do Deus vivo.
Razão e fé em rota de colisão!
2 – Ganhando vida!
Ver Jesus como de fato precisa ser visto só é possível com olhos da fé. Entender a mensagem de Jesus só é possível pela fé.
Para Pedro e também os outros discípulos, era impossível e incompreensível que o filho do próprio Deus morresse numa cruz. Racionalmente, as palavras de Jesus: “...é necessário ir a Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (Mt 16.21) provocou um black out na razão daqueles homens. Bem exclamou e transformou em hino, Mathew Bridges (1800-1894), “...nem anjos lá do céu o podem compreender: que o próprio Filho de Deus Pai pelo homem vá morrer”.
Quando a razão e a fé se chocam alguém sai ferido!
Pedro sentia profundo amor por Jesus. Mas, a fé a razão sempre estão em rota de colisão. Após confessar não por si mesmo, agora por si mesmo a sua razão o inquietou. Sua inquietação foi tamanha que ousou chamar Jesus para o lado e responder: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mt 16.22).
Já disse em outra ocasião o quão assustador tem sido entre os jovens o crescimento do ateísmo. O ateísmo cresce devido a colisão entre fé e razão. As pessoas querem compreender algo que foi deixado para crer.
É necessário lembrar que ser racional não é pecado. Deus nos fez assim. O problema é a grande arma usado pelo diabo, ou seja, fazer com que a fé colida com a razão e que pela razão pessoas se afastem da fé.
A fé oferece e dá aquilo que a razão tanto busca: uma vida plena e eterna.
Jesus fala sobre perder e a ganhar a vida!
A razão conduz o homem numa busca na qual nunca encontrará aquilo que tanto almeja, respostas satisfatórias para perguntas angustiantes de sua alma.
Ouvimos de Jesus o maravilhoso convite: “se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24).
As pessoas usam todo seu tempo, força, energia, poder, para ganhar vida. Um vida financeira, uma vida de lazer, ... As pessoas buscam aquilo que lhes dá prazer e só fazem o que parece lhes dar prazer. E há coisas que não são prazerosas. Entre essas está o “negar-se a si mesmo, carregar a cruz, seguir Jesus”.
Deixar Jesus, abrir mão da obra redentora de Cristo, é perder a própria vida.
Os pensadores Michel Onfray (Décadence) e Roger Scruton (A alma do mundo, 2014) concordam em um ponto: o ocidente vai mal. Onfray acha que o problema é a fé, Scruton diz que a fé é a solução.
Scruton ressalta que é preciso resgatar a fé. Mas, como haverá lugar para um mundo cada vez mais desvendado pela ciência? O mundo visto apenas pelas lentes da ciência, perde aquilo que faz a vida valer a pena. O valor da pessoa está em ser algo além da carne.
Essa visão racional e cientifica da vida, fez e faz com que as pessoas busquem a todo custo apenas o aqui e agora. Quando pensam no depois, buscam através de si mesmos alcançar o que Deus lhes oferece gratuitamente: a salvação em seu filho Jesus.
Ganhar a vida é viver na dependência de Jesus, do evangelho. O Jesus e o evangelho que separa, que faz sofrer perseguições (Mt 10.34-39).
Razão e fé em rota de colisão!
3 – Revendo nossas obras
Tudo o que se refere a Deus é resumido na sublime obra redentora de Jesus. Essa obra só pode ser compreendida e aceita pela fé. Nossa razão não compreende e nem sequer aceita.
Antes de terminar a mensagem sobre o relato desse homem que fez uma bela confissão pelo poder do Espírito Santo, mas quando deixou-se levar pela sua razão foi exortado por Jesus, quero dedicar-me a nos fazer rever nossa compreensão sobre as palavras de Jesus: “...retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mt 16.27).
Jesus disse: “Arreda, Satanás”; “negue-se a si mesmo”; “pedra de tropeço”; mostrando que não há salvação sem a obra redentora de Cristo. O messias mal compreendido pelo homem é o enviado de Deus para ir à Jerusalém, sofrer, morrer e ressuscitar. E ao dizer: “Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mt 16.27), Jesus está ressaltando o termo grego práxis. Ou seja, a vida como um todo. É uma forma de viver e agir. Todo aquele que vive negando a si mesmo, não olhando para suas realizações como intuito de agradar a Deus. Todo aquele que carrega a sua cruz, não se importa com a divisão, sofrimento que isso acarreta. Todo aquele que sabe que só há vida em Jesus. Esse receberá aquilo que Jesus, somente Jesus pode lhe oferecer: a VIDA.
A pessoa que vive a sua vida achando que suas obras, o cumprimento da lei, são requisitos de salvação, vivem suas vidas como um pesado fardo. Nunca encontram paz e sossego para suas almas.
O amor a Deus e a o próximo, algo natural de um filho de Deus, passou a ser um pesado fardo. Pessoas querem alcançar a salvação sem o Jesus da cruz, sem o Jesus ressuscitado e vitorioso.
A fé e a razão continuam em rota de colisão. Pela razão fomos e somos imensamente abençoados. Mas, é tão somente pela fé que recebemos e temos a maior de todas as bênçãos: a VIDA VERDADEIRA. Amém!


Edson Ronaldo Tressmann

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