segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Quaresma, maldição e bênção!

01/03/2017 - Quarta-feira de cinzas
Sl 51.1-13(14-19); Jl 2.12-19; 2Co 5.20b-6.10; Mt 6.1-6,16-21
Tema: Quaresma, maldição e bênção!

A maioria das pessoas não entendem o porquê de um calendário litúrgico. O tempo litúrgico visa auxiliar os cristãos a celebrar os acontecimentos mais importantes da fé cristã.  
A igreja cristã, segue um calendário dando destaque as principais datas religiosas que ao longo da história do povo de Deus foram celebradas. Todo o calendário litúrgico visa ressaltar a história da salvação.
O calendário litúrgico inicia-se com o ciclo de natal onde se celebra o nascimento de Jesus e sua manifestação (Epifania). Logo após, passa-se a celebrar a morte e ressurreição de Jesus (Quaresma e Páscoa). Segue-se o ciclo de pentecostes, onde se celebra a descida e atuação do Espírito Santo e a vida da igreja nesse mundo.
O tempo litúrgico está ligado ao termo grego leitourgia (liturgia e serviço). A liturgia e seu tempo litúrgico envolve a ação de Deus na história para salvação da humanidade e também sua ação através de seu povo no mundo. O objetivo é a salvação de todos os pecadores.
Com a quarta-feira de cinzas inicia-se o ciclo pascal. Período esse, onde cada qual tem a oportunidade de iniciar uma caminhada rumo a cruz junto com Jesus.
O início da Quaresma mostra que encerrou-se o primeiro ciclo do ano litúrgico (o ciclo do Natal, que, historicamente, é o mais recente, na medida em que a festa da Páscoa é muito mais antiga). Com a quarta-feira de cinzas a igreja cristã inicia seu segundo ciclo: o ciclo da Páscoa
Os dois ciclos (Natal e Páscoa) têm uma estrutura semelhante. Ambos são antecedidos por períodos de preparação (Advento para o Natal e Quaresma para a Páscoa).
A Quaresma é, como se sabe, um período de quarenta dias, sem contar os domingos (os domingos são sempre celebração da Páscoa!). São cinco domingos, mais o domingo de Ramos ou da Paixão. A temática em todos esses domingos gira em torno da obra de Jesus Cristo.
O tempo comum, ou seja, entre a Epifania e a Quaresma a igreja lembra as diversas formas com que Jesus se manifestou a todos através de seus milagres e ensinamentos sobre o Reino de Deus.
A Quaresma é bênção de Deus sob sua igreja, quando o mesmo nos dá a oportunidade de iniciar mais um período de Quaresma. Convém lembrar à igreja cristã, em especial a IELB, que o calendário litúrgico apenas auxilia pedagogicamente, ou seja, conduz com as leituras bíblicas ao centro, ao verdadeiro deposito da fé. Jesus fala sobre o verdadeiro depósito da fé, conforme narrado pelo evangelista Mateus: “Pois onde estiverem as suas riquezas, ai estará o coração de vocês” (Mt 6.21).
O calendário litúrgico auxilia os cristãos a depositarem sua fé em Jesus.
As palavras do capítulo seis do evangelho de Mateus apresenta toda a religiosidade hipócrita do homem. Uma religiosidade amparada no cumprimento de leis e tradições religiosas. Nesse sentido, o calendário litúrgico não é e nem pode ser apenas uma observância religiosa. Seu objetivo é me conduzir ao verdadeiro ensino: Jesus.
Merece destaque o fato de Jesus não condenar a religiosidade em si. Jesus ataca com veemência a religiosidade que busca esconder o verdadeiro designío do coração. Havia entre os ouvintes de Jesus, pessoas que aparentemente eram religiosas, mas verdadeiramente sem ter depositado sua fé naquele que é a verdadeira religiosidade: Jesus.
O calendário litúrgico só faz sentido e só é observado pela IELB por conduzir os filhos de Deus ao verdadeiro depósito da fé.
Disse Jesus: “Pois onde estiverem as suas riquezas, ai estará o coração de vocês” (Mt 6.21). O coração, denota o centro de toda vida física e espiritual. As riquezas, denota aquilo que é precioso ao ser humano. O que é precioso em sua vida física e espiritual?
Constantemente se é tentado a viver de aparência. Para muitos a quaresma deixou de ser um período de reflexão em torno da caminhada de Jesus rumo a cruz, para ser um período de cumprimento religioso. A quaresma deixou de ser um período evangélico, um período onde se é convidado ao arrependimento, e passou a ser um período carregado de legalismo, cheio de regras a serem observadas. Lembre-se, se caso alguém usa o período da quaresma para cumprir supostos deveres religiosos, Jesus disse: “já receberam a sua recompensa” (Mt 6.16). 
O termo usado pelo evangelista Mateus “receberam”, de acordo com o original grego, transmite a ideia de “segurar com firmeza”.
Assim, aqueles que supostamente desejam aproveitar a quaresma para cumprir deveres religiosos, estão apenas enchendo sua bola, mas não receberão nada além de elogios.
O exercício religioso, a vida religiosa, não é de maneira nenhuma um meio para aparecer ou se mostrar.
A religiosidade não visa apresentar-se ao mundo como alguém que na verdade não é. A verdadeira religiosidade apresenta aquilo de fato se é, ou seja, um pecador, o qual sem Jesus está verdadeiramente perdido.
A quaresma mostra nosso pecado, nossa natureza pecaminosa, a começar pelas palavras de Mateus, que nos diz que apenas nos gabamos de ser algo, mas, que na verdade nãos somos nada.
A quaresma é um convite para que o pecador arrependido saiba que sua maior riqueza não está nas coisas desse mundo ou nas suas supostas realizações religiosas. O pecador só pode agarrar-se firmemente em Jesus, o verdadeiro tesouro. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21).
Jesus é a nossa justiça, ele oferece e dá o perdão. A fé em Jesus é a verdadeira religiosidade. E é para Jesus que o calendário litúrgico conduz os filhos de Deus.
A quaresma faz olhar para Jesus e depositar nEle toda a confiança. De nenhuma maneira a quaresma pode ser um período de hipocrisia e religiosidade aparente.
Disse Jesus: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). O pecador encontra a justiça de Deus em Jesus. Jesus oferece e dá o perdão.
A riqueza, Jesus, está disponível a todos pecadores. Jesus disse: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). Entre esses perdidos eu me encontrava. Entre os perdidos muitos ainda se encontram. Deus em seu filho Jesus veio buscar a todos. Sei pela Palavra de Deus que “... nasci na iniquidade e em pecado me concebeu a minha mãe” (Sl 51.5). Pela Palavra de Deus que “... todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Eu era carente dessa glória, mas, pela graça, Deus fui resgatado. Deus me resgatou em seu filho Jesus, pois: “... Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Mesmo sendo bênção, a quaresma é também maldição. Isso quando o pecador cai na tentação de olhar para suas ações e sua religiosidade hipócrita.
Lembre-se: a quaresma é bênção, pois é um período em que o pecador é convidado a depositar sua confiança em Jesus, aquele que provou seu amor por mim, “... pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Amém!

Rev. Edson Ronaldo Tressmann

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