01/03/2017 - Quarta-feira de cinzas
Sl 51.1-13(14-19); Jl 2.12-19; 2Co 5.20b-6.10; Mt
6.1-6,16-21
Tema: Quaresma, maldição e bênção!
A maioria das pessoas não entendem o
porquê de um calendário litúrgico. O tempo litúrgico visa auxiliar os cristãos a celebrar os
acontecimentos mais importantes da fé cristã.
A igreja cristã, segue um calendário
dando destaque as principais datas religiosas que ao longo da história do povo
de Deus foram celebradas. Todo o calendário litúrgico visa ressaltar a história da
salvação.
O calendário litúrgico inicia-se com o ciclo
de natal onde se celebra o nascimento de Jesus e sua manifestação (Epifania).
Logo após, passa-se a celebrar a morte e ressurreição de Jesus (Quaresma
e Páscoa). Segue-se o ciclo de pentecostes, onde se celebra a
descida e atuação do Espírito Santo e a vida da igreja nesse mundo.
O tempo litúrgico está ligado ao termo
grego leitourgia
(liturgia
e serviço). A
liturgia e seu tempo litúrgico envolve a ação de Deus na história para salvação
da humanidade e também sua ação através de seu povo no mundo. O objetivo
é a salvação de todos os pecadores.
Com a quarta-feira de cinzas inicia-se o
ciclo pascal. Período esse, onde cada qual tem a oportunidade de iniciar uma
caminhada rumo a cruz junto com Jesus.
O início da Quaresma mostra que
encerrou-se o primeiro ciclo do ano litúrgico (o ciclo do Natal, que,
historicamente, é o mais recente, na medida em que a festa da Páscoa é muito
mais antiga). Com a
quarta-feira de cinzas a igreja cristã inicia seu segundo ciclo: o ciclo da Páscoa.
Os dois ciclos (Natal e Páscoa)
têm uma estrutura semelhante. Ambos são antecedidos por períodos de preparação
(Advento para o Natal e Quaresma para a Páscoa).
A Quaresma é, como se sabe, um período
de quarenta dias, sem contar os domingos (os domingos são sempre celebração da
Páscoa!). São cinco domingos, mais o domingo de Ramos ou da Paixão. A temática em
todos esses domingos gira em torno da obra de Jesus Cristo.
O tempo comum, ou seja, entre a Epifania
e a Quaresma a igreja lembra as diversas formas com que Jesus se manifestou a
todos através de seus milagres e ensinamentos sobre o Reino de Deus.
A Quaresma é bênção de Deus
sob sua igreja, quando o mesmo nos dá a oportunidade de iniciar mais um período
de Quaresma. Convém lembrar à igreja cristã, em especial a IELB, que o
calendário litúrgico apenas auxilia pedagogicamente, ou seja, conduz com as
leituras bíblicas ao centro, ao verdadeiro deposito da fé. Jesus fala sobre o
verdadeiro depósito da fé, conforme narrado pelo evangelista Mateus: “Pois onde
estiverem as suas riquezas, ai estará o coração de vocês” (Mt 6.21).
O calendário litúrgico auxilia os
cristãos a depositarem sua fé em Jesus.
As palavras do capítulo seis do evangelho
de Mateus apresenta toda a religiosidade hipócrita do homem. Uma religiosidade
amparada no cumprimento de leis e tradições religiosas. Nesse sentido, o
calendário litúrgico não é e nem pode ser apenas uma observância religiosa. Seu
objetivo é me conduzir ao verdadeiro ensino: Jesus.
Merece destaque o fato de Jesus não
condenar a religiosidade em si. Jesus ataca com veemência a religiosidade que busca
esconder o verdadeiro designío do coração. Havia entre os ouvintes
de Jesus, pessoas que aparentemente eram religiosas, mas verdadeiramente sem
ter depositado sua fé naquele que é a verdadeira religiosidade: Jesus.
O calendário litúrgico só faz sentido e
só é observado pela IELB por conduzir os filhos de Deus ao verdadeiro depósito
da fé.
Disse Jesus: “Pois onde estiverem as suas riquezas, ai
estará o coração de vocês” (Mt 6.21). O coração, denota o centro de
toda vida física e espiritual. As riquezas, denota aquilo que é precioso ao ser
humano. O
que é precioso em sua vida física e espiritual?
Constantemente
se é tentado a viver de aparência. Para muitos a
quaresma deixou de ser um período de reflexão em torno da caminhada de Jesus
rumo a cruz, para ser um período de cumprimento religioso. A quaresma deixou de
ser um período evangélico, um período onde se é convidado ao arrependimento, e
passou a ser um período carregado de legalismo, cheio de regras a serem
observadas. Lembre-se, se caso alguém usa o período da quaresma para cumprir
supostos deveres religiosos, Jesus disse: “já receberam a sua recompensa” (Mt 6.16).
O termo usado pelo evangelista Mateus “receberam”,
de acordo com o original grego, transmite a ideia de “segurar com firmeza”.
Assim, aqueles que supostamente desejam
aproveitar a quaresma para cumprir deveres religiosos, estão apenas enchendo
sua bola, mas não receberão nada além de elogios.
O exercício religioso, a vida religiosa,
não é de maneira nenhuma um meio para aparecer ou se mostrar.
A religiosidade não visa apresentar-se ao
mundo como alguém que na verdade não é. A verdadeira religiosidade apresenta
aquilo de fato se é, ou seja, um pecador, o qual sem Jesus está verdadeiramente
perdido.
A quaresma mostra nosso pecado, nossa
natureza pecaminosa, a começar pelas palavras de Mateus, que nos diz que apenas
nos gabamos de ser algo, mas, que na verdade nãos somos nada.
A quaresma é um convite para que o
pecador arrependido saiba que sua maior riqueza não está nas coisas desse mundo
ou nas suas supostas realizações religiosas. O pecador só pode agarrar-se
firmemente em Jesus, o verdadeiro tesouro. O apóstolo Paulo escreveu aos
coríntios: “Aquele
que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos
feitos justiça de Deus” (2Co 5.21).
Jesus é a nossa justiça,
ele oferece e dá o perdão. A fé em Jesus é a verdadeira
religiosidade. E é para Jesus que o calendário litúrgico conduz os
filhos de Deus.
A quaresma faz olhar para Jesus e
depositar nEle toda a confiança. De nenhuma
maneira a quaresma pode ser um período de hipocrisia e religiosidade aparente.
Disse Jesus: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu
reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”
(Mt 6.33). O pecador encontra a justiça de Deus em Jesus. Jesus oferece e dá o
perdão.
A riqueza, Jesus, está disponível a
todos pecadores. Jesus disse: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido”
(Lc 19.10). Entre esses perdidos eu me encontrava. Entre os perdidos muitos
ainda se encontram. Deus em seu filho Jesus veio buscar a todos. Sei pela
Palavra de Deus que “... nasci na iniquidade e em pecado me concebeu a minha
mãe” (Sl 51.5). Pela Palavra de Deus que “... todos pecaram e carecem da glória de
Deus”. Eu era carente dessa glória, mas, pela graça, Deus fui
resgatado. Deus me resgatou em seu filho Jesus, pois: “... Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna” (Jo 3.16).
Mesmo
sendo bênção, a quaresma é também maldição. Isso quando o pecador cai na tentação
de olhar para suas ações e sua religiosidade hipócrita.
Lembre-se:
a quaresma é bênção, pois é um período em que o pecador é convidado a depositar
sua confiança em Jesus, aquele que provou seu amor por mim, “... pelo fato de
ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
Amém!
Rev. Edson Ronaldo
Tressmann
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