segunda-feira, 25 de julho de 2016

Cristo é a nossa vida!

31 de julho de 2016
11º Domingo após Pentecostes
Sl 100; Ec 1.2,12-14; 2.18-26; Cl 3.1-11; Lc 12.13-21
Tema: Cristo é a nossa vida!

         As pessoas gostam de frases impactantes. “Quem com ferro ferre, com ferro será ferido”. “Diga-me com quem andas, e eu te direi quem és”.
         As frases tem o poder de impactar porque transmite um universo de informações em poucas palavras. As frases, por mais que sejam curtas, permite pessoas conversar por horas.
        O apóstolo Paulo impactou seu ouvintes entre os anos 60 e 61 d.C. com a frase: “Cristo é a nossa vida”.
      Cristo é a nossa vida! Uma frase simples, no entanto, profunda, dinâmica e consoladora. Essa frase são não transmite tudo isso para aqueles que ainda não sabem que a mensagem de Cristo, a vida em Cristo proporciona o que lhe é próprio: uma vida feliz.
         É difícil compreender as pessoas que se confessam cristãs, mas andam perambulando pela vida como se fossem agentes funerários em dia de velório.
         A vida feliz que Deus em Cristo nos oferece também não significa que estaremos todos os dias sorridentes, com alto astral, animados, etc. No entanto, em Cristo, o cristão será feliz, pois mesmo que esteja com sua autoestima baixa, infeliz devido a um acontecimento ruim, sabe que está em paz com Deus.
         Gosto muito da afirmação do teólogo inglês Moule (1801-1880). Com propriedade disse que os primeiros 4 versículos de Colossenses 3 é um dos trechos de ouro da Bíblia. A maior riqueza está justamente na afirmação: “Cristo é a nossa vida!
         Em que sentido Cristo é a nossa vida?
         Primeiro: “Em Cristo fomos ressuscitados...
       Há pessoas que afirmam que a única certeza que se tem na vida é a morte. No entanto, sendo Cristo a nossa vida, pode-se afirmar que: a única certeza que o cristão tem na vida é que está ressuscitado. A ressurreição é certa.
        No versículo 1 de Colossenses 3, conforme tradução de Almeida (ARA) está escrito: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo,...” deixa muitos em dúvida. A dúvida está na partícula “se”.
       A partícula “se” não significa uma dúvida. Ela traduz certeza. A tradução é o mesmo que dizer: “já que”, ou como bem foi traduzido pela NTLH “Vocês foram ressuscitados com Cristo. ...”.
         A páscoa é um evento real diário! Cristo é a nossa vida!
         Cristo é a nossa vida.
       Se está vivo, o cristão precisa viver a vida. A vida do cristão não se resume apenas a existência nesse mundo corrompido pelo pecado.
         Como viver a vida? Para responder essa questão é preciso retornar alguns versículos antes do capítulo 3.
        Os versículos 16 a 23 do capítulo 2 tratam a respeito de algo que impede muitos cristãos de viverem uma vida feliz, uma vida plena.
       As regras impostas pelos seres humanos, o legalismo (Cl 2.16-17), tiram a liberdade a qual Cristo conquistou. O legalismo entristece a vida feliz que Jesus veio proporcionar. O legalismo impõe limites que a Bíblia não impõe, tais como, deixar de comer algum tipo de alimento, participar de festas, esportes, .... Pior ainda, o legalismo gera um espírito de julgamento àqueles que vivem suas vidas felizes por terem Jesus como seu Salvador, advogado e juiz.
       Além do legalismo, há também o iluminismo (Cl 2.18-19) que atrapalha a vida feliz a qual Cristo nos permite viver. São aqueles que repudiam a obra de Cristo e fazem apelo às forças ocultas. Junto ao legalismo e iluminismo havia o ascetismo (Cl 2.20-23) que também estava interferindo na vida feliz e plena dos colossenses. O ascetismo podia facilmente ser confundido com o legalismo. No entanto, entre os ascetas, o meio de chegar a Deus era através de pensamentos, vontade e afeições carnais.
         Cristo é a nossa vida!
       Viva a sua vida da melhor maneira possível, ou seja, viva em Cristo. Em Cristo nosso viver é um viver feliz e pleno (Cl 3.5-11).
Amém!


M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

domingo, 17 de julho de 2016

Para caminhar tranquilamente a vida cristã!

24 de julho de 2016
10º Domingo após Pentecostes
Sl 138; Gn 18. 20-33; Cl 2.6-15; Lc 11.1-13
Tema: Para caminhar tranquilamente a vida cristã!

         Na carta aos colossenses o apóstolo Paulo visa mostrar e alertar os perigos que espreitavam a fé ainda recente dos cristãos da cidade de Colossos.
         Os colossenses corriam risco de voltar as suas antigas crenças religiosas, bem como aos seus antigos costumes pagãos (Cl 2.8). O perigo não era só por serem novatos na fé, mas principalmente por causa da cultura local, da pressão social e da insistência dos judaizantes acerca do cumprimento da lei mosaica Cl 2.11-13).
         O apóstolo Paulo diz aos colossenses que eles haviam recebido Cristo Jesus por meio do Evangelho. Agora estavam sendo convidados a continuar sua marcha cristã nesse Evangelho, consequentemente em Jesus Cristo.
         “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele” (Cl 2.6).
         Só inicia e caminha uma vida cristã aquele que é alcançado pela graça de Deus. E essa graça de Deus foi oferecida e recebida pelos Colossenses.
         Paulo, o apóstolo, fala que assim como se recebeu Cristo Jesus, assim, é necessário continuar a caminhada.
         “Andai” denota ação e progresso. Para que essa ação e progresso tenha sucesso, o versículo 7 lista quatro aspectos: radicados em Cristo; edificados em Cristo, confirmados na fé em Cristo, gratidão.
         Ao saber que a fé dos colossenses corria perigo por causa das filosofias correntes na época. Diante disso, o apóstolo Paulo indica aos seus irmãos na fé que a caminhada cristã só será possível quando radicado em Cristo.
         Ao dizer “radicados em Cristo” o apóstolo Paulo usa a figura de uma árvore que tira sua força e substância do solo onde suas raízes estão fincadas. As raízes não são vistas, e essas, à medida que se aprofundam no solo vão ficando cada vez mais fortes. No entanto, vale ressaltar que a firmeza da árvore e a qualidade de seus frutos não dependem apenas da raiz, mas, da vitalidade do solo.   
         Ao dizer, “nele radicados...” o apóstolo Paulo mostra aos colossenses que sem a vitalidade de Cristo, nada serão.
         O mesmo acontece conosco em pleno século XXI. Já disse em outra oportunidade que o grande mal desse século é o crescimento desenfreado do “cristianismo sem igreja”, ou seja, os “supostos” cristãos que dizem não frequentar uma igreja, mas, leem a Bíblia e oram em casa.
         “nele radicados...” – é maravilhoso que se leia a Bíblia em casa, mas, como se lê a Bíblia? Cuidado, afinal, pode-se estar sendo enganado pela nossa vã filosofia e nosso conhecimento mentiroso (Cl 2.8) sobre alguns textos. Qualquer teólogo despende muito tempo na preparação de um sermão e estudo bíblico e mesmo assim, dia após dia, encontra-se mergulhado em dúvidas. Sendo assim, imagine um “suposto cristão sem igreja”. Como será a leitura, interpretação da Bíblia por parte de um cristão sem igreja? É preciso fazer a pergunta de Filipe: “Compreendes o que vens lendo?” (At 8.30). A resposta precisa ser a do eunuco: “Como poderei entender, se alguém não me explicar?” (At 8.31).
         Estar radicado em Cristo é ouvir, estudar e meditar na Palavra de Deus. Lembre-se, “...a fé vem pela pregação, e a pregação, pela Palavra de Cristo” (Rm 10.17).
       Estar radicado em Cristo é também “...perseverar unânimes no Templo, partindo o pão...” (At 2.46). Participar da Santa Ceia.
        “nele radicados...” é alimentar-se de Cristo através dos meios da graça aos quais nos deixou. Jesus disse: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto: porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5).
       Ao saber que a fé dos colossenses estava correndo perigo devido as filosofias correntes na época e do conhecimento mentiroso, o apóstolo Paulo indica aos seus irmãos na fé que a caminhada cristã só é possível quando se continua edificado em Cristo.
        Se o agricultor sabe da importância da vitalidade do solo para que a árvore produza bons frutos. O apóstolo Paulo, até por ser um missionário urbano, conduz os colossenses a pensarem num edifício.
         Toda a segurança de um edifício está na sua fundação. O importante é a base sobre a qual os tijolos que formam o edifício foram colocados.
      Ao conhecerem Cristo os colossenses haviam sido edificados sobre Cristo. No entanto, o perigo que corriam devido as filosofias da época, motivou o apóstolo Paulo a trazê-los de volta ao fundamento. Afinal, sem fundamento, o edifício, por mais belo que seja, cai. Aos cristãos da Ásia Menor o apóstolo Paulo escreveu: “...sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito” (Ef 2.19-22).
      Ao saber que a fé dos colossenses estava correndo perigo, devido as filosofias correntes na época e do conhecimento mentiroso, o apóstolo Paulo indica aos seus irmãos na fé que a caminhada cristã só é possível quando, radicado e edificado em Cristo.
       A fé é que sustenta a árvore e o edifício contra os ventos e tempestades da vida. “O justo viverá por fé” (Rm 1.17) não só na eternidade, mas também nessa vida.
      Assim como os colossenses, nós também corremos perigo. As muitas filosofias, os muitos conhecimentos mentirosos, estão conduzindo a vida de muitos cristãos. Por esse motivo, é necessário prestar atenção na nossa caminhada cristã, e continuar nossa caminhada radicados em Cristo, edificados em Cristo e confirmados na fé. Só assim se continua “crescendo em ações de graças” (Cl 2.7). Essa é a única maneira de iniciar e prosseguir na caminhada cristã, por meio de Jesus Cristo. Amém!



M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 11 de julho de 2016

A melhor parte não nos será tirada!

17/07/2016

9º Domingo após Pentecostes

Sl 27.(1-6)7-14; Gn 18.1-10a(10b-14); Cl 1.21-29; Lc 10.38-42
Tema: A melhor parte não nos será tirada!

       A primeira vista, o texto (Lucas 10.38-42) simplesmente apresenta duas mulheres. Uma sempre ocupada e incansável no trabalho doméstico. Outra um pouco despreocupada.
        Você se assemelha a qual dessas duas mulheres? Se preocupa com a limpeza e se esquece de tratar bem o visitante, ou se ocupa e se preocupa com o visitante e a limpeza fica para depois.
       Por um breve momento Jesus deixa seus discípulos seguindo viagem rumo a Jerusalém. Jesus permanece na pequena vila de Betânia, cerca de 3 km antes de Jerusalém. Em Betânia conhece a família de três irmãos: Lázaro, Maria e Marta.
        O evangelista Lucas não apresenta o irmão Lázaro, sabemos dele por outros relatos. Lucas apenas se fixa, nesse primeiro contato entre Jesus e as duas irmãs.
       Quando se vai a uma casa onde moram duas mulheres (Exemplo: mãe e filha), é comum que, enquanto uma dá as honras da casa, a outra arrume um lanche para a visita.
      A hospitalidade é uma característica cristã e recomendada pela Bíblia. A hospitalidade era tida como dever sagrado. Entre os cristãos chegou a ser um importante vínculo, tanto pela proteção que se oferecia ao visitante, bem como as oportunidades de estímulo mútuo e companheirismo. Por isso, as Escrituras dão muito destaque a hospitalidade, tais como: “Não negligencieis a hospitalidade, pois, alguns praticando-a, sem saber acolheram anjos” (Hb 13.2) e: “compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade;” (Rm 12.13) também: “sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração” (1Pe 4.9).
      Assim, num primeiro momento pode-se compreender a reação de Marta, ela “estava ocupada com todo o trabalho da casa...” (Lc 10.40). Marta não compreendia a atitude de Jesus em ver Maria aos seus pés ouvindo seus ensinos, enquanto que que ela trabalhava sozinha para lhe oferecer uma boa recepção.
      Na expectativa de estar agindo corretamente, partindo do pressuposto da hospitalidade, da recepção calorosa de cuidado e boa alimentação, Marta se indignou com Jesus. Em seu íntimo, acredito que pensava consigo mesma: “Que Jesus é esse? Sabe que a hospitalidade é um dever sagrado e não diz nada para minha irmã vir me ajudar”.
      Marta, inquieta com a postura de Jesus e da sua irmã Maria que estava se aproveitando da situação, já que o visitante não lhe repreendia quanto a falta de hospitalidade, resolve externar sua indignação: “Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena lhe, pois, que venha ajudar-me” (Lc 10.40).  

    É complicado ter que se meter em briga familiar. No entanto, Jesus com muito amor e compreensão não reprova a atitude hospitaleira de Marta, na verdade, reprova a sua “inquietação”.
       Por mais que Marta estivesse se esforçando para ser hospitaleira e receber bem a Jesus, no seu íntimo estava “chateada”. E a chateação se devia ao fato de que Maria ouvia Jesus e ela, agitava-se, preparando tudo com muito carinho.
       Diante da indignação de Marta, Jesus, ao repetir seu nome duas vezes, quer lhe mostrar o quanto a amava. Ele não estava desprezando Marta por deixa-la trabalhar sozinha. O fato é que Marta havia se deixado levar pela agitação do dia-a-dia.
       Ao dizer “Marta! Marta!...”, Jesus desejava tocar seu coração para aquilo que de fato era importante e necessário naquele momento.
         “Marta! Marta!...”, é uma censura de Jesus devido a divisão de mente. Ou seja, Marta, você pode até estar ocupada nos afazeres domésticos tentando me recepcionar da melhor maneira, mas não sabe o que fazer. Não sabe se faz seus afazeres, ou se, ouve as palavras que eu estou transmitindo à Maria.
         “Marta! Marta!...”, é uma a censura suave e amorosa. Jesus ama Marta e quer a sua salvação. O problema é que Marta estava fora do lugar, ou seja, inquieta, chateada, etc.
         Ao dizer “Marta! Marta!...”, Jesus ressalta que por mais que Marta esteja tentando demonstrar e valorizar seu amor e carinho por Jesus pela hospitalidade, ainda lhe falta algo. O que será que falta para Marta? Jesus não responde. No entanto, a julgar pelo texto (Lc 10.38-42), pode-se concluir que Maria optou em não se deixar distrair com nada naquele momento. Ocupou-se apenas de uma coisa: ouvir a mensagem de Jesus. Enquanto que Marta queria fazer tudo ao mesmo tempo, Maria, aos pés de Jesus, ocupava-se de apenas uma: das palavras de Jesus.
         Maria estava tão convicta que as palavras de Jesus era a melhor parte que nem sequer o fato de sua irmã tê-la repreendido, a ponto de falar com Jesus sobre a situação, a fez desistir de ouvir a Palavra de Jesus.
         Ao ouvir as palavras de Jesus, Maria encontrou paz e descanso, e é justamente essa paz e esse descanso a parte que “não lhe será tirada” (Lc 10.42).
         Ao dizer “Marta! Marta!...”, Jesus convida. Venha Marta, fique com a melhor parte, ou seja, descanse sua alma e seu coração em minhas palavras. Não fique ocupada e distraída com coisas também importantes, mas que apenas te afligem. Ocupe-se daquilo que de fato vai te tranquilizar: a minha palavra.
         Lucas que tem como objetivo mostrar Jesus como aquele que foi enviado por Deus para resgatar o homem do seu maior drama humano, apresenta o maravilhoso convite feito por Jesus a Marta. Convite esse que continua sendo feito a muitos nós. O Marta, Marta, pode facilmente ser substituído pelo nosso nome. Jesus deseja a nossa salvação e por isso, não quer que devido a coisas também importantes e necessárias nesse mundo, fiquemos desatentos aquilo que de fato é necessário.
         Após receber esse maravilhoso convite da parte de Jesus. Houve outros episódios entre Jesus, Maria, Marta e Lázaro. O apóstolo João no evangelho que leva seu nome, relata que meses antes de ser crucificado, Jesus ressuscitou Lázaro (João 11.38-44). Nesse relato Marta se apresenta confiante e tranquila a ponto de ter confessado: “...eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo” (Jo 11.27).
         O convite amoroso de Jesus continua sendo feito: ...! ...! Andas inquieto e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa. Ouvir a Palavra de Jesus. Amém!

M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Jesus, o bom samaritano!

10/07/2016

8º Domingo após Pentecostes

Sl 41; Lv (18.1-5) 19.9-18; Cl 1.1-14; Lc 10.25-37
Tema: Jesus, o Bom Samaritano.

         O texto do evangelho de Lucas 10.25-37 traz um diálogo entre um metre da lei e Jesus. Um diálogo onde se aprende pela postura do mestre da lei, o quanto o ser humano é mesquinho, soberbo e ignorante na questão da salvação.
           Relembremos o diálogo:
      O mestre da lei perguntou a Jesus: - Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
         Ao que Jesus respondeu com outra pergunta: - Que está escrito na lei? Como interpretas?
         O mestre da lei, conhecedor de toda a lei, respondeu: - Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
     Jesus, conhecedor do coração humano, respondeu: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.
         O mestre da lei, que havia sido atingido em seu egoísmo e orgulho, perguntou: Quem é o meu próximo?
        Nesse diálogo me chama a atenção que o intérprete da lei conhece a lei, mas, não sabe da prática da lei. “Quem é o meu próximo?
         Essa pergunta revela toda a soberba do mestre da lei. Ele responde que a lei prescreve o amor a Deus e ao próximo. No entanto, sua pergunta é somente sobre “Quem é próximo?” Como mestre da lei julgava-se alguém conhecedor de quem era Deus. A pergunta sobre quem era o seu próximo parece indicar que o mestre da lei sabia quem era Deus. Sua pergunta não foi “Quem é Deus?” ou “Como é Deus?
         Mas, o mestre da lei não sabia quem era Deus, no sentido de como era Deus. O mestre da lei não conhecia a misericórdia e o amor de Deus. O intérprete da lei, bem como todos os intérpretes da lei, cometem o mesmo equívoco, imaginam obter a vida eterna por meio do cumprimento da lei. E pela de acordo com a lei, aquele intérprete queria saber quem era o seu próximo. Ele não queria falhar de maneira nenhuma no cumprimento da lei.
         O diálogo entre o intérprete da lei e Jesus é riquíssimo. Traz muitos ensinamentos e num sermão apenas não se consegue esgotar o assunto. Mas, o pouco que aprender, já será em si, um enorme aprendizado.
         Um dos objetivos de Lucas era apresentar Jesus, sua vida, suas atividades, as características pessoais, em meio à multiplicidade de situações religiosas, políticas e sociais em que se desenvolve o drama humano.
         E todo drama humano é justamente saber “o que fazer para herdar a vida eterna?
         A pergunta de Jesus “o que está escrito na lei? Como interpretas?” visa uma reflexão para que o intérprete chegue a uma resposta satisfatória. Afinal, saber o que está escrito na lei, muitos sabem, mas a questão chave é: “como interpretas?
         Bem, os intérpretes da lei afirmam que, viverá aquele que viver segundo a lei. Durante o mês de junho, tivemos o privilégio de ouvir e acompanhar a interpretação da epístola de Paulo aos Gálatas. Essa epístola ensina que “todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las. É evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3.10-11). 
       Ninguém consegue cumprir a lei! Ao observar essa verdade, o intérprete que dialogou com Jesus, querendo se justificar, pergunta: “Quem é o meu próximo?” Uma pergunta que expressa, “perdoe-me Senhor, se eu estou equivocado, mas, se estão agindo contra a lei é porque ela não me diz quem é o meu próximo”.
         Os samaritanos é um povo cuja origem é uma mistura de povos da Assíria e outras regiões com os israelitas. Essa mistura, os samaritanos, desejaram se unir aos judeus quando esses voltaram do exilio babilônico, mas Zorobabel e Neemias não concordaram (Ed 4.2-3; Ne 2.19-20). Desse exato momento em diante a inimizade entre os samaritanos, mistura de israelitas com povos da Assíria e outras regiões, e os judeus se tornou evidente.
         Jesus também sentiu na própria pele a rejeição. Foi rejeitado pelos samaritanos seis meses antes de sua crucificação (Lc 9.52-53). Uma inimizade entre povos que ultrapassou séculos. Há um dito popular que reza: “Rejeição gera rejeição!” Notícias de terrorismo revelam a rejeição retribuída com rejeição.
         Jesus foi rejeitado, por samaritanos (Lc 9.52-53) e por judeus (Jo 1.11). Mas, não agiu com indiferença e rejeição.
         A pergunta de Jesus “o que está escrito na lei? Como interpretas?” era conhecida por Jesus. Ele sabia que tanto a interpretação dos judeus de amor ao próximo bem como a prática desse amor se estendia apenas aos israelitas e estrangeiros estabelecidos em Israel. Mesmo assim se vangloriavam de cumprir a lei.
         A pergunta de Jesus “o que está escrito na lei? Como interpretas?” visa revelar a todos que o rigor e a hipocrisia do supostamente cumprimento da lei apenas os estava afastando de Deus. A pergunta sobre quem seria seu próximo já mostrava o não cumprimento da lei. Mas, acima disso, revela que no seu íntimo, não conheciam a Deus.
         Enquanto que o intérprete da lei tinha como objetivo apenas se vangloriar, Jesus o conduz a reflexão de que não cumpriam a lei de fato e de verdade. O mestre da lei desejava ser elogiado por Jesus como alguém que de fato conhecia e vivia de acordo com a lei. Mas, a sua interpretação estava equivocada e Jesus mostrou a ele que estava sendo maldito, pois “...Maldito aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las...” (Gl 3.10).
            Lucas, o médico, ao apresentar Jesus para Teófilo deseja mostrar que o Salvador veio para resolver o maior drama humano: “O que fazer para herdar a vida eterna?”.
         Essa pergunta continua sendo feita por milhares de pessoas. Para essas, Jesus responde com outra pergunta: “O que está escrito na Lei? Como interpretas?” E o livro da lei responde: “Santo sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2). Explico: só pode ser santo quem conhece o Deus santo. Sem ser filho ou filha de Deus, não há possibilidade de ser santo. As palavras da Lei são ditas aos filhos redimidos de Deus. Ou seja, aqueles que haviam passado pela libertação da escravidão do Egito. Como filhos livres, viveriam sua liberdade em todos os lugares e em todas as situações e com qualquer pessoa.
          A lei não me salva, a lei me conduz a minha real situação: Pecador perdido e condenado. Diante dessa constatação é preciso que a boa notícia do evangelho a qual anuncia que “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gl 3.13), seja proclamada.
      Jesus é o bom samaritano que veio ao nosso encontro. A lei pronunciada pelo sacerdote e pelo levita não foram capazes de levá-los a socorrer o necessitado que fazia parte do seu povo e que conforme a lei deveria ser socorrido. Veio alguém odiado, rejeitado que cumpriu lei em lugar daqueles que a deveriam cumprir.
         Em Jesus fomos socorridos por Deus, “...Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Amém!


M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann

sábado, 2 de julho de 2016

Como eu era antes de você!

Como eu era antes de você!

O filme “Como eu era antes de você” estrelado por Emilia Clarke e Sam Claflin traz para o debate não apenas as emoções vividas durante a apresentação do filme. Eu chorei três vezes enquanto assistia o mesmo na sala 2 do Catuaí shopping Maringá no dia 26 de junho de 2016.
Após as fortes emoções vem a reflexão com respeito ao final do filme. E se fosse diferente? Porque não foi diferente?
Bem! Sem querer ser psicólogo, afinal, não é essa a minha área de atuação. No entanto, como teólogo quero dar uma contribuição sobre a minha visão sobre o filme.
Acredito que o filme deseja narrar muito mais que uma bela história de amor. Ele (Will Traynor) que era tão cheio de vida e de sonhos sofre um terrível acidente, decorrente do descuido e pressa do dia-a-dia. Ela, (Louisa) sem muitas ambições, ainda morando com os pais, sua irmã solteira, um sobrinho e seu avó que havia sofrido um derrame. Namora um triatleta que parece mais interessado em seus treinos e conquistas do que na própria Louisa.
Duas vidas que se cruzam por causa da tragédia ocorrida na vida de Will e da necessidade de Louisa em ajudar seus pais financeiramente.
Após o acidente, Will que era um jovem de 35 anos e cheio de vida, tornou-se uma pessoa mal-humorada que apenas esperava a hora da morte. Para ele, o dia do acidente que o levou a ocupar uma cadeira de rodas e sem nenhuma chance clínica de voltar a ter uma dita vida normal, tratava de uma maneira todos que se aproximava dele.
Tudo havia se tornado pequeno e sem graça. Assim, havia resolvido como acabar com isso – pedir ao governo Suíço a realização da eutanásia.
Quando Louisa, moça de uma família tradicional, começa seu trabalho que de acordo com contrato era de apenas seis meses, nem sequer sabe a razão de ser apenas seis meses. Inicialmente pensa que se deve ao mal humor de Will. No entanto, ao descobrir que esse era o tempo que Will havia dado aos seus pais para após o mesmo realizar a eutanásia, Louisa busca de todas maneiras fazer com que Will mude de atitude.
Mas, o que dizer diante de uma pessoa que não está disposta a mudar de ideia? Will já havia resolvido em seu coração e em sua mente que a morte era a melhor alternativa. Louise diz que ainda há tempo e espaço para a vida, para uma boa vida com amor, mesmo em meio ao sofrimento.
A discussão pode tomar contornos diversos. No entanto, quero apenas destacar duas linhas de raciocínio:
- a não aceitação do sofrimento;
- o preconceito que há no próprio sofredor;
O ser humano não aceita o sofrimento desde aquele fatídico dia em que Eva e Adão resolveram querer ser iguais a Deus e o desobedeceram comendo o fruto do conhecimento do bem e do mal.
A igreja cristã proclama que desde a queda em pecado o ser humano sofre as mais variadas consequências do pecado.
O ser humano não aceita o pecado. Assim, não aceita o sofrimento!
O ser humano busca a perfeição, mas não sabe o que é ser perfeito. Perdeu seu estado de perfeição, por isso: pode se questionar, o que é ser ou viver uma vida perfeita?
Será que Will, riquíssimo, podendo viajar para onde quisesse, não tinha uma vida perfeita, apesar de limitada fisicamente? Será que Louisa apesar de ter que trabalhar para ajudar seus pais mas sem posses financeiras não tinha uma vida perfeita? O que será uma vida perfeita?
Essas questões já trazem inúmeras divergências de opiniões.
Quando se busca responder questões intrigantes, principalmente com respeito aos que sofrem e sua possibilidade de poder decidir poder tirar ou não a sua vida, muitos o fazem tendo uma base filosófica ou teológica.
O que vi no filme com muita atenção foi justamente o seu final. O que na verdade implica numa visão filosófica ou teológica da própria autora. Se Will justificou ter direito a tirar sua vida e resolveu deixar uma boa quantia em dinheiro para independência de Louisa, implica que uma vida perfeita é uma vida sã, sem nenhuma deficiência e com poder aquisitivo. E assim, pode-se retornar a questão sobre a real vida perfeita.
Todo ser humano ao lidar com uma questão intrigante leva em consideração o materialismo que prega que o universo é um produto de uma sorte evolucionária; ou se analisa a questão com olhar panteísta com o qual se enxerga o universo como permeado pela energia divina; ou também de maneira deísta, onde se aceita um Criador, porém se nega que este Deus governa ativamente e sustenta a obra de suas mãos.
Além de romântico, o livro ou mesmo o filme: “Como eu era antes de você” nos inquieta espiritualmente e existencialmente.
Diferentemente das visões apesentadas acima, ressalto que em contraste com as mesmas, prefiro permanecer na verdade de que Deus é o que fez o céu e a terra e ser sua criatura é ser dependente dele por toda a vida, seja perfeita ou imperfeita aos nossos olhos, afinal, o que é ter uma vida perfeita? De acordo com o que creio, a vida perfeita está em Cristo, pois para mim “viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1.21).
Se o morrer é Cristo, Will não fez o certo? Daí surge outra questão inquietante.
No entanto, gostaria de destacar conforme o que creio e prego que tudo aquilo que Deus colocou em nossa vida corporal é um presente de Deus. O Deus que abre sua mão para satisfazer os desejos de toda criatura viva (Salmo 145.15-16) é o Senhor de cuja bondade nós dependemos para a própria vida. Deus concede o pão diário, pois sem ele nós morremos. Ele nos usa para sermos “pães diários uns aos outros” (Lutero) e essa foi Louisa na história de Jojo Moyes. Todo cristão esta ciente de que Deus usa seres humanos para prorrogar a morte e estender a vida.
O ponto é que o ser humano ao não aceitar o sofrimento, argumenta que “não quer ser um peso para ninguém.” No entanto, se Deus coloca pessoas como sua máscara para atuar na vida de outras pessoas, ninguém é um peso para ninguém.
Para aqueles que se sentem um peso para outros convém lembrar duas coisas: primeiro: Deus a ama e coloca pessoas em sua vida para que o peso seja amenizado; segundo: cabe ao sofredor, seja deficiente ou não, rebaixar-se a ponto de receber o socorro que lhe é estendido.
Will mostrou seu egoísmo pensando apenas nele mesmo e não nas outras pessoas que desejavam viver ao seu lado até quando de fato não houvesse mais a possibilidade.
Deus só permite haver pessoas que se julgam ser pesos para os outros justamente para dar oportunidade para que outros socorram e apresentem o amor de Deus ao mundo. Afinal, o ser humano é um sem o amor de Deus e outro quando atingido pelo amor de Deus. O cristão, no título do filme pode fazer uma confissão de fé: “Como eu era antes de você”.
A história apresentado no livro por Jojo Moyes e transformado em filme mostra que o mundo tal como está carece de resgate.
É necessário resgatar o amor! Não o amor de uma pessoa para com a outra. O amor próprio. O mandamento de Deus, a segunda tábua composta pelo quarto ao décimo mandamento, diz sobre amar ao próximo como ama-se a si mesmo.
Para isso convém responder: onde está o preconceito? Está na própria pessoa que se diz vítima de preconceito.
Sempre me disse que alguém pobre, feio, não tão inteligente, nascido de sete meses, no interior do Brasil, não poderia chegar a lugar nenhum. Esse era é muitas vezes é o meu preconceito. Não são todos que pensam assim! Mas, meu preconceito me paralisou em muitas ações no passado. Foi preciso superar meu preconceito para poder superar a mim mesmo. Anos mais tarde escrevi no livro da minha autoria “Na Companhia do Sucesso” (Editora Koinonia), que o sucesso está quando não se deixa vencer pelo preconceito pessoal.
Em muitas situações o sofredor não se aceita como de fato é e por não aceitar o sofrimento também não se rebaixa para aceitar aquele que lhe foi enviado por Deus para estender-lhe a mão.
Quando o ser humano considera a vida como pertencendo a si mesmo, então a pessoa agirá como Will Trayner, “é melhor que eu não exista.”
Um ponto a ser considerado é que um defunto não pode escolher viver! Só escolhe viver quem está vivo! E para que todos vivam, Deus em seu amor e misericórdia enviou seu Filho Jesus e continua enviado pessoas para socorrem os necessitados para que o mesmos vivam.

Edson Ronaldo Tressmann

Pastor, Teólogo e palestrante

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