Como
eu era antes de você!
O filme “Como eu era antes de você”
estrelado por Emilia Clarke e Sam Claflin traz para o debate não apenas as
emoções vividas durante a apresentação do filme. Eu chorei três vezes enquanto
assistia o mesmo na sala 2 do Catuaí shopping Maringá no dia 26 de junho de
2016.
Após as fortes emoções vem a reflexão
com respeito ao final do filme. E se fosse diferente? Porque não foi diferente?
Bem! Sem querer ser psicólogo, afinal,
não é essa a minha área de atuação. No entanto, como teólogo quero dar uma
contribuição sobre a minha visão sobre o filme.
Acredito que o filme deseja narrar muito
mais que uma bela história de amor. Ele (Will Traynor) que era tão cheio de
vida e de sonhos sofre um terrível acidente, decorrente do descuido e pressa do
dia-a-dia. Ela, (Louisa) sem muitas ambições, ainda morando com os pais, sua
irmã solteira, um sobrinho e seu avó que havia sofrido um derrame. Namora um
triatleta que parece mais interessado em seus treinos e conquistas do que na
própria Louisa.
Duas vidas que se cruzam por causa da
tragédia ocorrida na vida de Will e da necessidade de Louisa em ajudar seus
pais financeiramente.
Após o acidente, Will que era um jovem
de 35 anos e cheio de vida, tornou-se uma pessoa mal-humorada que apenas esperava
a hora da morte. Para ele, o dia do acidente que o levou a ocupar uma cadeira
de rodas e sem nenhuma chance clínica de voltar a ter uma dita vida normal,
tratava de uma maneira todos que se aproximava dele.
Tudo havia se tornado pequeno e sem
graça. Assim, havia resolvido como acabar com isso – pedir ao governo Suíço a
realização da eutanásia.
Quando Louisa, moça de uma família
tradicional, começa seu trabalho que de acordo com contrato era de apenas seis
meses, nem sequer sabe a razão de ser apenas seis meses. Inicialmente pensa que
se deve ao mal humor de Will. No entanto, ao descobrir que esse era o tempo que
Will havia dado aos seus pais para após o mesmo realizar a eutanásia, Louisa
busca de todas maneiras fazer com que Will mude de atitude.
Mas, o que dizer diante de uma pessoa
que não está disposta a mudar de ideia? Will já havia resolvido em seu coração
e em sua mente que a morte era a melhor alternativa. Louise diz que ainda há
tempo e espaço para a vida, para uma boa vida com amor, mesmo em meio ao
sofrimento.
A discussão pode tomar contornos
diversos. No entanto, quero apenas destacar duas linhas de raciocínio:
-
a não aceitação do sofrimento;
-
o preconceito que há no próprio sofredor;
O ser humano não aceita o sofrimento
desde aquele fatídico dia em que Eva e Adão resolveram querer ser iguais a Deus
e o desobedeceram comendo o fruto do conhecimento do bem e do mal.
A igreja cristã proclama que desde a
queda em pecado o ser humano sofre as mais variadas consequências do pecado.
O ser humano não aceita o pecado. Assim,
não aceita o sofrimento!
O ser humano busca a perfeição, mas não
sabe o que é ser perfeito. Perdeu seu estado de perfeição, por isso: pode se
questionar, o que é ser ou viver uma vida perfeita?
Será que Will, riquíssimo, podendo viajar
para onde quisesse, não tinha uma vida perfeita, apesar de limitada
fisicamente? Será que Louisa apesar de ter que trabalhar para ajudar seus pais
mas sem posses financeiras não tinha uma vida perfeita? O que será uma vida
perfeita?
Essas questões já trazem inúmeras
divergências de opiniões.
Quando se busca responder questões
intrigantes, principalmente com respeito aos que sofrem e sua possibilidade de
poder decidir poder tirar ou não a sua vida, muitos o fazem tendo uma base
filosófica ou teológica.
O que vi no filme com muita atenção foi
justamente o seu final. O que na verdade implica numa visão filosófica ou
teológica da própria autora. Se Will justificou ter direito a tirar sua vida e
resolveu deixar uma boa quantia em dinheiro para independência de Louisa,
implica que uma vida perfeita é uma vida sã, sem nenhuma deficiência e com
poder aquisitivo. E assim, pode-se retornar a questão sobre a real vida
perfeita.
Todo ser humano ao lidar com uma questão
intrigante leva em consideração o materialismo que prega que o universo é um
produto de uma sorte evolucionária; ou se analisa a questão com olhar panteísta
com o qual se enxerga o universo como permeado pela energia divina; ou também
de maneira deísta, onde se aceita um Criador, porém se nega que este Deus
governa ativamente e sustenta a obra de suas mãos.
Além de romântico, o livro ou mesmo o
filme: “Como
eu era antes de você” nos inquieta espiritualmente e
existencialmente.
Diferentemente das visões apesentadas
acima, ressalto que em contraste com as mesmas, prefiro permanecer na verdade de
que Deus é o que fez o céu e a terra e ser sua criatura é ser dependente dele
por toda a vida, seja perfeita ou imperfeita aos nossos olhos, afinal, o que é
ter uma vida perfeita? De acordo com o que creio, a vida perfeita está em
Cristo, pois para mim “viver é Cristo, e
o morrer é lucro” (Filipenses 1.21).
Se o morrer é Cristo, Will não fez o
certo? Daí surge outra questão inquietante.
No entanto, gostaria de destacar
conforme o que creio e prego que tudo aquilo que Deus colocou em nossa vida
corporal é um presente de Deus. O Deus que abre sua mão para satisfazer os
desejos de toda criatura viva (Salmo 145.15-16) é o Senhor de cuja bondade nós
dependemos para a própria vida. Deus concede o pão diário, pois sem ele nós
morremos. Ele nos usa para sermos “pães
diários uns aos outros” (Lutero) e essa foi Louisa na história de Jojo
Moyes. Todo cristão esta ciente de que Deus usa seres humanos para prorrogar a
morte e estender a vida.
O ponto é que o ser humano ao não
aceitar o sofrimento, argumenta que “não
quer ser um peso para ninguém.” No entanto, se Deus coloca pessoas como sua
máscara para atuar na vida de outras pessoas, ninguém é um peso para ninguém.
Para aqueles que se sentem um peso para
outros convém lembrar duas coisas: primeiro: Deus a ama e coloca pessoas em sua
vida para que o peso seja amenizado; segundo: cabe ao sofredor, seja deficiente
ou não, rebaixar-se a ponto de receber o socorro que lhe é estendido.
Will mostrou seu egoísmo pensando apenas
nele mesmo e não nas outras pessoas que desejavam viver ao seu lado até quando
de fato não houvesse mais a possibilidade.
Deus só permite haver pessoas que se
julgam ser pesos para os outros justamente para dar oportunidade para que
outros socorram e apresentem o amor de Deus ao mundo. Afinal, o ser humano é um
sem o amor de Deus e outro quando atingido pelo amor de Deus. O cristão, no
título do filme pode fazer uma confissão de fé: “Como eu era antes de você”.
A história apresentado no livro por Jojo
Moyes e transformado em filme mostra que o mundo tal como está carece de
resgate.
É necessário resgatar o amor! Não o amor
de uma pessoa para com a outra. O amor próprio. O mandamento de Deus, a segunda
tábua composta pelo quarto ao décimo mandamento, diz sobre amar ao próximo como
ama-se a si mesmo.
Para isso convém responder: onde está o
preconceito? Está na própria pessoa que se diz vítima de preconceito.
Sempre me disse que alguém pobre, feio,
não tão inteligente, nascido de sete meses, no interior do Brasil, não poderia chegar
a lugar nenhum. Esse era é muitas vezes é o meu preconceito. Não são todos que
pensam assim! Mas, meu preconceito me paralisou em muitas ações no passado. Foi
preciso superar meu preconceito para poder superar a mim mesmo. Anos mais tarde
escrevi no livro da minha autoria “Na
Companhia do Sucesso” (Editora Koinonia), que o sucesso está quando não se
deixa vencer pelo preconceito pessoal.
Em muitas situações o sofredor não se
aceita como de fato é e por não aceitar o sofrimento também não se rebaixa para
aceitar aquele que lhe foi enviado por Deus para estender-lhe a mão.
Quando o ser humano considera a vida
como pertencendo a si mesmo, então a pessoa agirá como Will Trayner, “é melhor que eu não exista.”
Um ponto a ser considerado é que um
defunto não pode escolher viver! Só escolhe viver quem está vivo! E para que
todos vivam, Deus em seu amor e misericórdia enviou seu Filho Jesus e continua
enviado pessoas para socorrem os necessitados para que o mesmos vivam.
Edson Ronaldo Tressmann
Pastor, Teólogo e palestrante