domingo, 28 de julho de 2013

O Trabalho: Maldição ou Bênção?


04/08/13

11º Domingo após Pentecostes.

Sl 100; Ec 1.2, 12 – 14; 2. 18 - 26; Cl 3. 1 – 11, 14 - 18; Lc 12. 13 - 22

Tema:

O Trabalho: Maldição ou Bênção?

 

         Quando tentamos fazer uma comparação dos Estados Unidos com a América Latina, afirma-se que uma diferença importante entre estas duas culturas tem sido filosofias divergentes a respeito do papel do trabalho na vida. Segundo esta teoria, o latino-americano, influenciado pelas atitudes da nobreza espanhola e da igreja católica no tempo da conquista do Novo Mundo, pensa que o trabalho é uma maldição, e que o ideal seria poder viver bem sem ter que trabalhar muito. Em compensação, o norte-americano foi influenciado pela “ética protestante de trabalho,” segundo a qual a pessoa, ao trabalhar muito e ser bem sucedida, demonstra que foi escolhida por Deus. Por isso ele crê que o trabalho é uma bênção. Como escreveu o pensador americano Ralph Waldo Emerson: “o cume da sabedoria é entender que o tempo empregado no trabalho nunca é desperdiçado.” Sem validar essa tese, gostaria de usá-la como uma ferramenta para refletirmos em nossa leitura de hoje, Eclesiastes 2.18 – 26, sob o tema: Trabalho: Bênção ou Maldição?
 
1 – É mais maldição do que bênção

         A primeira resposta que poderíamos dar a esta pergunta ao olharmos este texto é que para Salomão o trabalho é mais maldição do que bênção. Notamos isso no emprego da palavra “trabalho” e “trabalhar.”

         Por onze vezes Salomão empregou a palavra ´amal, significando “esforço, desventura, fadiga, desastre.” As outras três palavras que empregou também têm conotações negativas. Uma é traduzida como “enfadonho trabalho” (Ec 1.13) e outra comunica a ideia de fazer um grande esforço sem obter nenhum beneficio, “correr atrás do vento” (Ec 1.17; 4.16) e outros versículos. Em nosso texto não aparece a palavra ´abodah, que vem do verbo servir.

         Os v. 18 – 23 falam de uma maneira bem pessimista sobre o trabalho. O autor aborrecer todo o seu trabalho; sente desespero, fadiga, dor e desgosto. Não achamos nenhuma promessa com relação ao trabalho. Não lemos que o trabalho satisfaz ou que Deus recompensará as pessoas honestas que trabalham muito. Salomão está respondendo a uma formulação: “que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?” (Ec 1.3)

         A resposta foi devastadora. Não há nenhuma garantia de que tiraremos proveito dos nossos esforços na vida. Isto parece injusto e ir contra as nossas expectativas. Porque será que Salomão apresentou o trabalho mais como maldição do que bênção?     



A razão é para que o trabalho nos lembre do nosso pecado. Afinal, a maldição dada a Adão após a queda foi que o trabalho se tornaria difícil e pesado, Gn 3.17,19. Não podemos achar que o trabalho, seja qual for, é fácil e muito produtivo, pois não é. Mesmo em meio a tantos avanços científicos e tecnológicos, milhares de pessoas estão desempregadas, e quando tem um trabalho, trabalham demais e com salários baixíssimos. Não podemos exigir que o trabalho seja uma bênção, afinal somos pecadores e o cansaço e as exigências do trabalho são consequências do mesmo.

         O trabalho também é uma maldição para os intelectuais, os capacitados e os ricos, observemos o v. 22: “há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, ciência e destreza; contudo, deixará o seu ganho como porção a quem por ele não se esforçou; também isto é vaidade e grande mal.

         Graças a boa administração e às sábias politicas de Salomão, Israel pela única vez em sua história tinha se tornado a maior potência do Meio Oriente. Apesar disto, Salomão não sentia paz ou satisfação, porque ele sabia que o seu filho talvez seria estulto e estragaria todos os avanços políticos e econômicos que ele com tanto esforço havia conseguido. O problema com Salomão, e às vezes conosco, é que usamos o nosso trabalho e as nossas habilidades como meios para sermos melhores do que outros e para termos mais glória, fama e poder. E com certeza o trabalho se torna uma maldição quando é feito de uma maneira egoísta, e não pensamos em compartilhar os frutos do nosso trabalho com nosso próximo ou com Deus.

         O trabalho se tornou uma maldição para Salomão porque começou a confiar em seu trabalho e não em Deus. Era um homem sábio, tinha um talento incrível como rei, e passou a acreditar que controlaria seu destino. Essa foi a tentação a qual sucumbiu nos dias da sua juventude. Mas a velhice demonstrou que era vaidade confiar no trabalho e nos seus dons e talentos.

         Muitas vezes queremos nos justificar diante de Deus através de nossas obras. E assim o trabalho pode se tornar uma terrível maldição quando começamos a viver nossa vida achando que o valor que temos diante de Deus e das pessoas está em nosso trabalho. Começamos a glorificar alguns e desprezar outros. Se você pudesse escolher entre ser um agricultor e um professor? Se você pudesse escolher entre ser dona de casa ou bancária? O que você escolheria? O trabalho é maldição porque queremos ser elogiados pelas pessoas por aquilo que fazemos, e para receber os elogios precisamos fazer coisas grandiosas aos olhos do mundo.

 

Trabalho: Bênção ou Maldição?

 

2 – Pode ser uma bênção se for feito confiando em Jesus Cristo

 

         Nosso texto não é apenas pessimismo, mas também esperança, vv. 24 – 26.

         O trabalho pode deixar de ser uma maldição e passar a ser uma bênção. Isto, quando salientamos menos nosso trabalho e o nosso esforço e focalizamos que da mão de Deus vêm as coisas boas que fazemos e assim nosso trabalho se torna proveitoso para nosso próximo e agradável a nós. Assim como lemos: “Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada” (Ec 2.26). Como diz o autor a carta aos Hebreus: “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6).



         Quando lemos em Eclesiastes que “Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada” (Ec 2.26) entendemos que através da fé em Jesus Cristo recebemos as bênçãos do nosso trabalho.

         Quando confiamos em nosso trabalho, o trabalho se torna uma maldição; quando confiamos apenas no trabalho de Jesus Cristo na cruz, o nosso trabalho se torna uma bênção.

         A fé em Jesus muda nosso olhar ao trabalho. Vemos em Cristo, como ele se identificou conosco e com os sofrimentos que padecemos no trabalho, por causa do trabalho.

         No inicio dessa mensagem disse que Salomão usou a palavra ´amal. Essa mesma palavra foi usada pelo profeta Isaias para descrever a obra da salvação realizada por Jesus Cristo: “Depois de tanto sofrimento, ele será feliz; por causa da sua dedicação, ele ficará completamente satisfeito. O meu servo não tem pecado, mas ele sofrerá o castigo que muitos merecem, e assim os pecados deles serão perdoados” (Is 53.11).

         O trabalho de Jesus para conseguir a nossa salvação foi penoso. E ele entende quem tem um trabalho penoso. Mas, há uma enorme diferença entre o trabalho de Jesus e dos homens! O trabalho de Jesus é permanente, os nossos são rapidamente desfeitos. O trabalho de Jesus beneficia a muitos, os trabalhos humanos na maioria das vezes não beneficiam ninguém.

         A fé em Jesus enche nosso trabalho de contentamento. O versículo 21 chama o dinheiro que ganhamos do nosso trabalho de “porção.” No salmo 119.57, o salmista diz que “o Senhor é a minha porção.” O Senhor, não o trabalho ou o dinheiro, é o elemento principal da “porção” que recebemos na vida. Com o Senhor, “não há nada melhor ... do que comer, beber e fazer que a (nossa) alma goze o bem do seu trabalho” (Ec 2.21).

         Mesmo que tenhamos apena o básico do dia-a-dia, mas reconhecendo isso como bênçãos de Deus, é muito mais agradável que ter um banquete todos os dias. Esse é o diferencial ao qual Lutero aponta na explicação da quarta petição do Pai-Nosso: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje,” ou seja, que reconheçamos e recebamos com gratidão tudo o que nos dá para nosso sustento.

         Quando olhamos para o trabalho com os olhos da fé, ele se torna uma bênção dada por Deus. A fé em Jesus neutraliza a maldição do trabalho porque nos dá uma perspectiva mais ampla da nossa vida, “pois, quando comemos ou bebemos, ou fazemos qualquer outra coisa, pela fé, fazemos para a glória de Deus.

         E essa felicidade, alegria e bênção do trabalho vem da certeza de que não viveremos apenas o aqui e agora, mas a eternidade com Jesus. Trabalhamos seguindo o conselho de Paulo: “Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morreste, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Cl 3. 2 – 3). E isso não leva a preocupação de fracassar em meu trabalho.
                   

             O texto de Eclesiastes mostrou que até mesmo um homem capaz, sábio e trabalhador reconheceu que o seu trabalho de alta qualidade era vaidade de vaidades. No nosso trabalho ainda sofremos a consequência da maldição de Adão. Felizmente, temos a oportunidade de descobrir com esse homem o melhor caminho em relação ao nosso trabalho. Em vez de confiarmos em nossos dons, talentos e capacidade, somos convidados a confiar em Jesus, pois ele realizou o melhor de todos os trabalhos. E continua trabalhando para nossa salvação através da ação do Espírito Santo. Amém!



Edson Ronaldo Tressmann

44 – 9856 8020

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