06 de julho de 2025
Quarto
Domingo após Pentecostes
Salmo
66.1 – 7; Isaías 66.10 – 14; Gálatas 6.1-10,14 – 18; Lucas 10.1 – 20
Texto:
Lucas 10.1 – 20
Tema:
Dez
lições aos enviados de Jesus
Esses
setenta discípulos enviados por Jesus de dois em dois, dos quais não conhecemos
nenhum por nome e só se sabe da sua existência por causa de Lucas. Muitos dizem
que se trata de uma menção do evangelista aos que anunciam a Boa Nova. Outros
destacam que se trata apenas de uma referência ao Antigo Testamento onde 70
anciãos, chamados por Moisés, ficaram cheios do Espírito Santo e mais dois que
fora do acampamento profetizaram, por isso, algumas versões apresentam 72 como
os enviados por Jesus.
Além
disso, há também quem diga que esse relato de Lucas objetiva se referir ao
envio de Jesus a todas as nações. Afinal, conforme o relato hebraico em Gênesis
10, os descendentes dos filhos de Noé, Sem, Cam, e Jafé, são 70.
Os
fatos narrados acima são conjecturas. Todavia, o relato de Lucas nos conduz a
reflexão sobre as instruções que podemos retirar desse relato. Dessa forma, aprenderemos
em Lucas 10.1-20, Dez lições aos enviados de Jesus.
Lucas 10.1-7
Primeira
lição: A
necessidade da oração e intercessão para que a missão aconteça
Para
muitas pessoas a missão e trabalho missionário requer muitas coisas e de fato
muitas coisas são necessárias. Todavia, nesse relato de Lucas 10, aprendemos
que podemos fazer missão de uma maneira muito simples e sem sair de casa: orando.
Disse Jesus “...peçam ao dono da plantação que
mande trabalhadores para fazerem a colheita” (Lc 10.2).
A
intercessão e oração é um instrumento para levar adiante a causa de Jesus
Cristo ao mundo. Só Deus levanta e envia obreiros para fazer sua obra entre os
homens.
Segunda
lição: É
extremamente perigosa a natureza dessa obra divina
Jesus
levanta, chama e envia os seus. E só poder da parte de Jesus mesmo, pois a
natureza da missão é muito perigosa.
Jesus
não ocultou os perigos e as provações dos seus enviados. Não alimentou e nem alimenta
falsas pretensões ou coisas agradáveis. Jesus enfatiza que seus mensageiros são
como ovelhas no meio dos lobos.
Uma tradição
antiga narra que Pedro havia perguntado para Jesus sobre o que aconteceria se
os lobos rasgassem os cordeiros. Jesus respondeu que os cordeiros não temessem
os lobos, pois os cordeiros morrem apenas uma vez.
Martinho
Lutero escreveu que “se puder, Caim continuará a
assassinar Abel até o fim do mundo”.
O
apostolo João escreveu: “Meus irmãos, não
estranhem se as pessoas do mundo os odeiam” (1Jo 3.13).
O
apostolo Paulo escreveu para Timóteo: “Todos os
que querem viver a vida cristã unidos com Cristo Jesus serão perseguidos”
(2Tm 3.12).
Terceira
Lição: Não
perder tempo com formalidades
Jesus
não ensina a ser antissocial. A instrução de Jesus é para que os seus
discípulos não percam tempo. Anos mais tarde, o apostolo Paulo escreveu: “Os dias em que vivemos são maus; por isso aproveitem bem
todas as oportunidades que vocês têm” (Ef 5.16).
A
instrução de Jesus deve-se ao fato de as saudações orientais serem muito
demoradas e, como a missão é urgente, não há tempo para perder com
formalidades.
Quando
Neemias estava reconstruindo os muros de Jerusalém e faltava apenas colocar os
portões, foi convidado para ir se encontrar com Sambalate, Tobias, Gesém e
Neemias respondeu: “Eu estou fazendo um trabalho
importante e não posso descer até aí. Eu não vou deixar este trabalho só para
ir falar com vocês” (Ne 6.3).
Quarta
Lição: Não
perder o foco central
Dentro
do trabalho congregacional, é muito comum direcionar toda a energia para a
abundância material. Em muitas situações, o dinheiro e as cortesias se tornam
armadilhas para o mensageiro. Jesus destaca aos seus enviados que a urgência é
outra: que a mensagem seja proclamada.
Recordo
que a quase 15 anos atrás, a PEL Concórdia, na qual sou pastor estava
enfrentando uma situação financeira complicadíssima. Eram meses de atraso
salarial, incerteza quanto a quitação dos salários atrasados e até mesmo quanto
a manutenção no futuro. Veio um chamado. E nesse o oferecimento e a garantia de
um salário maior, junto a isso a garantia de emprego para a esposa. Que
situação! Olhando para trás, não me arrependo de ter dito não para esse chamado.
E o motivo de ter dito não era que a única coisa que despertava interesse era a
garantia salarial e ganhar um pouco mais.
Ao
ensinar sobre manter o foco com o primordial, aprendemos a quinta lição.
Quinta
lição: Não
perder a simplicidade e o contentamento em Jesus
O
mensageiro não precisa ser agradado. O trabalho do mensageiro não tem como
termômetro as coisas visíveis. O contentamento é a garantia de Jesus de que Ele
está cuidando do seu enviado.
Para
avançar com a sexta lição, é preciso ler Lucas 10.8-16
Sexta
lição: A
simplicidade da mensagem
Há
uma tendência de querer argumentar. Muitos agem como se Deus nos tivesse contratado
como advogados. (Certo dia numa conversa com um médico supostamente pendendo
ao ateísmo, o questionei: por qual razão você é médico? E o médico respondeu:
para salvar vidas. E logo disse: que tipo de vida você quer salvar. Não deveria
se preocupar com isso, pois, sem Deus a vida não tem nenhum sentido. Fiquei
sabendo algum tempo depois que está frequentando uma igreja cristã).
A
Palavra de Deus provém da aljava de Deus e o Espírito Santo sopra onde quer. A
Palavra de Deus é como a pedrinha usada por Davi que derrubou o gigante Golias.
Há
tantas pessoas preocupadas em querer saber a cor dos olhos de Jesus e acabam
perdendo a maravilha que é saber e crer que Jesus com seus olhos o olhou com
amor.
Sétima
lição: Rejeitar
a mensagem de Cristo é um grave pecado
Jesus
faz afirmativas terríveis. Entre suas afirmativas terríveis está a de que
muitos podem saber e ver milagres, e mesmo assim, permanecer incrédulos.
Alguém
pode até dizer, não há menção na Bíblia sobre os milagres realizados em
Betsaida e Corazim. Bem, o apostolo João escreveu que Jesus fez muitos milagres
não mencionados na Bíblia (Jo 20.31).
Deus chama. Deus quer salvar. Mas, muitos
rejeitam.
A
instrução de Jesus é para que haja cautela diante da incredulidade.
Adão
e Eva viviam no paraíso. Eva foi enganada por argumentos que colocaram em xeque
a Palavra dita pelo próprio Deus. Desde o Éden o diabo lança a semente da
dúvida com intuito de conduzir para a incredulidade. E atualmente ele tem
muitos servos a seu serviço para tal empreendimento.
Judas
tencionou escrever sua epistola com intuito de descrever a salvação comum. Todavia,
foi obrigado a escrever sobre a defesa da doutrina pura. A doutrina destaca o modo como se lê
a Bíblia. Dessa forma, ler a Bíblia de maneira correta me mostra
o verdadeiro Deus.
Diante
dos pecados flagrantes, lembremos a urgência de levar a Palavra de Deus que
conduz ao arrependimento e dá o perdão. Só não há perdão para a incredulidade.
É
preciso cuidar para não se tornar insensível, apático e desinteressado com a
pregação. Aos poucos a pessoa vai dormindo para Deus e pode acordar no inferno.
A incredulidade é um
pecado silencioso e condenatório.
As
afirmativas terríveis de Jesus precisam ser ecoadas para que todos ouçam sobre
o perigo da incredulidade.
Oitava
lição: Honra
aos ministros fiéis
Ao
dizer: “Quem ouve vocês está me ouvindo; quem
rejeita vocês está me rejeitando; e quem me rejeita está rejeitando aquele que
me enviou” (Lc 10.16), Jesus enumera que as cidades estavam
recebendo seus mensageiros com a mensagem do próprio Jesus.
Os
setenta já haviam sido instruídos sobre a natureza perigosa da missão, quanto
ao não perder tempo com formalidades, não perder o foco, permanecerem contentes
com as bênçãos divinas, manterem a simplicidade da mensagem, e estarem atentos
ao perigo da incredulidade. E, após isso ouvem Jesus dizer que esses enviados
são seus embaixadores.
Sou um embaixador do Reino dos Céus
aqui em Querência.
A
rejeição e a perseguição não é algo pessoal, é contra àquele que você
representa, do qual se é embaixador. Enquanto o Salvador envia com intuito de
salvar, os lobos rejeitam e devoram os enviados. Todavia, o que hoje envia para
salvar, é o Salvador que virá para julgar. Por isso, Jesus exorta: “Ai de ti...”.
Jesus
não incentiva idolatrar o pastor, criar uma superstição ao redor dele. Jesus
diz que, sendo o servo fiel a mensagem de Cristo, o escute com atenção e o
honre por isso. Em outras palavras: não se torne
um lobo, continue sendo ovelha ouvindo o pastor que te conduz com a Palavra de
Cristo.
Para
concluir as 10 lições apresentadas em Lucas 10.1-20 vamos ler Lucas 10.17-20
Nona
lição: Cuidado
com a vaidade do sucesso
Ao
retornarem do empreendimento, havia uma certa ilusão na alegria dos discípulos.
E, diante dessa empolgação e relato das alegrias, Jesus respondeu: “De fato, eu vi Satanás cair do céu como um raio”
(Lc 10.18).
Parece
estranho essa resposta de Jesus, todavia, com essas palavras, Jesus estava
enfatizando que os corações daqueles jovens missionários foram sondados e o
diabo conseguiu os ensoberbecer. Por amor, Jesus os repreende em sua exultação
e os adverte contra o orgulho. E como isso é importante para os enviados de
nossos dias.
Não
há nada errado em desejar ter sucesso no trabalho missionário. No entanto,
Jesus adverte o perigo para a alma no tempo do sucesso. Assim como muitos se
deprimem quando os lobos atacam, quando as coisas não acontecem, muitos se
exaltam e se perdem no tempo da prosperidade. São raríssimos os Sansões que
matam um leão sem contar para os outros (Jz 14.6).
O
maior perigo para a alma do enviado é quando tudo vai bem. É preciso vigilância
dobrada. Nos dias de sucesso, o diabo cai do céu como um raio, e planta as
sementes do mal. São raros os servos capazes de carregar uma taça cheia com a
mão firme. Poucos permanecem humildes em dias de sucesso. No sucesso há muita
honra para a sabedoria, capacidade e as decisões acertadas.
Caríssimo
irmão não esqueça essa exortação especial de Jesus.
Décima
lição: Nada
supera a graça de Deus de escrever nosso nome no livro da vida
“...não fiquem alegres porque os espíritos maus lhes
obedecem, mas sim porque o nome de cada um de vocês está escrito no céu”
(Lc 10.20).
Foi
uma honra poder expulsar demônios, mas, nenhuma honra é maior que ser
convertido, de ter o próprio nome escrito no registro do cartório divino.
É
maravilho ter e ver dons espetaculares. O problema é quando esses são
supervalorizados. Dons
sem a graça de Deus são sem graça. Um dom sem a graça de Deus
não salva e é utilizado pelo diabo para criar soberba. Há pessoas com dons
extraordinários, mas não passam de Judas Iscariotes, ou um falso apostolo, e muitos
estão a serviço do AntiCristo, afastando pessoas da fé em Cristo Jesus e as
conduzindo a incredulidade.
A maior graça do cristão é saber que pela
obra de Deus, por sua Palavra, que gera oposição e perseguição, o seu nome está
escrito no livro da vida.
Muitas
coisas são boas, todavia, nos seus devidos lugares. Mas, o extraordinário é
saber que o nome está escrito no livro da vida. Recordemos o apostolo Paulo: “...ninguém pode dizer “Jesus é Senhor”, a não ser que
seja guiado pelo Espírito Santo” (1Co 12.3).
Que
reine entre nós o espírito de Lázaro (Lazarento – cheio de lepras), mas que ao
nosso nome esteja escrito no livro da vida. Amém.
Edson
Ronaldo Tressmann
Bibliografia
RIENECKER,
Fritz. Evangelho de Lucas: comentário Esperança. Tradução Werner Fuchs.
Editora Evangélica Esperança, Curitiba, PR, 2005.
RYLE,
J.C. Meditações no Evangelho de Lucas. Editora Fiel, São José dos
Campos, SP, 2018.