Nono Domingo após Pentecostes
21
de julho 2024
Salmo
23; Jeremias 23.1-6; Efésios 2.11-22; Marcos 6.30-34
Texto: Salmo
23
Tema: O
Amado Pastor cuida da amada ovelha.
Davi, nome que
aparece cerca de 1.034 vezes em toda a Bíblia. Dos 66 livros da Bíblias, em 28
há referência a Davi. Enquanto há 14 capítulos dedicados a contar a história de
Abraão e José, há cerca de 66 capítulos para contar a história de Davi.
Davi foi pastor de
ovelhas, músico, compositor, poeta, guerreiro, servo na corte de Saul e depois
rei.
Por causa de seus
gravíssimos pecados, Davi poderia ter fracassado, mas, por viver na graça de
Deus, fortaleceu-se. Em muitos de seus salmos, Davi descreve o amor, fé,
humildade e confiança em Deus. O mais conhecido dos salmos é o 23. Salmo onde
Davi descreve sua dependência de Deus, tal como a ovelha é dependente de seu
pastor.
Como pastor de
ovelhas, Davi sabia exatamente quais eram as necessidades da ovelha e que tipo
de pastor a ovelha necessitava. Por isso, menciona os pastos verdejantes, as
águas de descanso, o bordão e o cajado.
Assim como Davi
era pastor das suas ovelhas e elas podiam contar com ele, a ponto de Davi ter
matado leão e urso para defender as ovelhas (1Sm 17.34-39), o Senhor era pastor
de Davi.
Quem
é esse Senhor, o bom pastor? Anos mais tarde, Jesus
disse: “Eu sou o bom Pastor; o Bom Pastor dá a
vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Esse Bom Pastor Jesus disse que “conhece as suas ovelhas” (Jo 10.14).
Infelizmente a
queixa anunciada pelos profetas de Deus continua sendo atual: “O meu povo é como ovelhas perdidas nas
montanhas por culpa dos pastores. Como ovelhas, caminharam de montanha em
montanha e esqueceram a sua casa” (Jr 50.6) e “...por não terem pastor, elas se espalharam. ... As
minhas ovelhas andam perdidas pelos morros e pelas altas montanhas. Estão
espalhadas por toda parte. Ninguém busca essas ovelhas, ninguém procura
encontrá-las” (Ez 34.5-6)
O povo não sabia
mais quem era seu pastor. A situação foi descrita pelo profeta Oséias com as
palavras: “Meu povo padece por falta de
conhecimento” (Os 4.6).
Jesus sentiu
compaixão do povo a ponto de “ter grande
compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não
têm pastor” (Mt 9.36). Jesus é o pastor que conduz para as águas de
descanso. Todo aquele que tem sede, ele dá água para beber (Ap 21.5-6).
Fico impressionado
ao relacionar o significado do nome Davi ao significado do Salmo 23. Davi
significa “Amado.” Assim, é possível
parafrasear o Salmo 23: O Amado Pastor cuida da Amada ovelha.
O trabalho de um
pastor de ovelhas no Oriente Médio é tremendamente interessante.
Devido ao clima
seco da região desértica, as pastagens precisam ser encontradas longe do
aprisco das ovelhas. Era preciso conduzir as ovelhas para lugares com pasto e
água.
Em 1Samuel 23.29
está registrado que Davi se refugiou numa região da fonte de Gedi. Um lugar de
fontes de água e cavernas. Um dos lugares mais quentes da terra, próximo do Mar
Morto, abaixo do nível do Mar. Esse lugar é um oásis em meio ao deserto.
Esse lugar de
descanso e refrigério é possivelmente o local onde Davi compôs o Salmo 23 e o
42. O espetacular diante dessa informação é que a Bíblia registra que o Mar
Morto se tornará um lugar saudável (Ez 47.8) e o vale de Gedi lugar de
pescadores (Ez 47.10). Ou seja, o Amado Jesus conduz a amada ovelha para esse
lugar de descanso e refrigério (Ct 1.14).
Davi descreve a
caminhada do pastor com suas ovelhas até a Fonte de Gedi. Uma caminhada cheia
de perigos, mas tão necessária para que as ovelhas encontrassem pastagem e água
fresca. O deserto era enfrentado todos os dias pelo pastor e pelas ovelhas.
Não era uma tarefa
fácil atravessar o deserto com as ovelhas. A dificuldade era por causa das
ovelhas.
Geralmente duas
pessoas cuidavam das ovelhas. Um ancião e uma criança. O motivo é porque a
ovelha não aceita a troca de proprietário. Podendo ficar deprimida pela
ausência do seu pastor (Jo 16.22), chegando a recusar água ou comida dada pelo
novo pastor. Por isso, as ovelhas eram vendidas a um matadouro se não tivesse
pastor. Pois se fossem vendidas a outro pastor, elas não se adaptariam.
O cuidado de dois
visava acostumar o rebanho em caso de doença ou morte de um dos pastores. Nosso
pastor é só um: Jesus. Aquele que não nos deixa nada faltar. Por essa razão
Jesus sentiu pena da multidão, pois pareciam ser ovelhas sem pastor, ou seja,
deprimidas e necessitadas.
As palavras
hebraicas Adonai Elohim
destacam o título dado para Deus. É um pronome de tratamento destacando o
Senhor, o meu pastor. E diante desse Senhor, o meu Pastor, a frase nada me faltará não
tem o sentido de que terei tudo que desejar. O sentido é: tendo o Senhor, o
Pastor, não tenho falta de nada, mesmo não tendo nada ou mesmo tendo tudo.
Podemos compreender isso com as palavras de Jeremias em Lamentações, o Senhor é tudo o que eu tenho (Lm 3.24-26).
Ovelhas vivem
constantemente com senso de medo e terror. Elas não possuem elementos naturais
de auto defesa, tais como garras, dentes afiados ou veneno. Uma água turbulenta
já as assustava, por isso, era necessário um lugar de água tranquila para que
após a caminhada saciassem a sede e não fugissem da água. É irônico, mas, um
animal como a ovelha pode morrer de sede mesmo diante de água.
Quantas
ovelhas estão diante da água, mas passam sede?
O Amado Pastor
cuida da amada ovelha. Certo Beduino relatou que nalgumas ocasiões, o pastor
tem de pegar água com as mãos e trazer até a boca da ovelha para que beba e
seja saciada. Assim é Deus, o Bom Pastor. Nos sacia pelas suas mãos (Jó 12.10).
Cuidar e proteger é a tarefa diária de um pastor.
Por isso o salmista destaca que não dorme e nem cochila (Sl 121).
Ao fim do dia, era
preciso voltar ao curral e, o retorno é destacado com as palavras: “ele me guia pelas veredas da justiça por amor do seu nome”
– na certeza de um seguro retorno para casa. Todavia, mesmo seguro pela
presença do pastor, não significa que o retorno será sem problemas. Davi
escreveu: “ainda que eu ande pelo vale da sombra
da morte.” O vale da sombra da morte é o caminho composto por vales
íngremes e apertados, onde há constante riscos de morte.
Não tem como
desviar a rota, ele vale íngreme e apertado faz parte do trajeto de volta para
casa. “É necessário que passemos por muitas
tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (At 14.22).
O ponto não é evitar o caminhar no vale da sombra da
morte,
a ênfase é que é possível
atravessar, pois, o Bom Pastor está com seu rebanho.
A pergunta que
intriga é: como as ovelhas atravessavam um lugar
como esse?
Alguns pastores
desenvolveram uma técnica de adestramento inusitada. Eles cantavam ou tocavam
uma música para que as ovelhas ao som da voz ou da música se acalmassem e, numa
fila indiana, atravessassem esse lugar perigoso. O cajado evitava a queda e se
houvesse queda, o cajado era utilizado para o resgate. Além de resgate, o
cajado era usado como vara em questão de desobediência.
O pastor sempre
quer o bem do rebanho, por isso, guia e protege, mas também disciplina. Quantas vezes só aprendemos uma lição na dor?
Essa é a dinâmica da
vida. Dias tranquilos, no vae de Gedi; dias atravessando o vale da sombra da
morte. Dias tranquilos ao som da voz e da música do bom pastor; dias sendo
resgatado por termos caído; dias apanhando por querer se desviar do caminho.
A cena espetacular
narrada nesse Salmo é a chegada ao aprisco. As energias são supridas após terem
atravessado o deserto e estarão prontas para dormir. Todavia, antes de dormir,
é preciso fazer a contagem. Aliás, o que o pastor mais fazia durante o dia era
contar as ovelhas. Jesus destaca que havendo a falta de uma, o pastor deixa as
outras e vai atrás da perdida. Isso mostra o quão precioso é uma ovelha. Não é
apenas uma ovelha a mais, é alguém tão precioso quanto as demais. Cada ovelha é
como se fosse única. É o Amado cuidando da ovelha amada.
Saber que o nosso
pastor Jesus é assim nos anima a continuar caminhando no deserto caótico da
nossa existência. Com esse pastor um dia habitaremos seguros e para sempre em
sua casa. Casa que ele nos preparou e que cada qual possui seu quarto. Amém
Edson
Ronaldo Tressmann
Bibliografia
DOWLEY, Tim. Pequeno Atlas
Bíblico. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. Páginas 62 e 63.
LAWRENCE, Paul. Atlas
Histórico e Geográfico da Bíblia.
Barueri/SP: Sociedade Bíblica do Brasil, SBB, 2013. Páginas 62 a 65.
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