03 de setembro de 2023
Salmo 26; Jeremias 15.15-21;
Romanos 12.9-21; Mateus 16.21-28
Texto: Mateus
16.21-28
Tema: Tome
sua cruz.
Fala-se
muito de fé!
“Eu tenho muita
fé!”
Ouve-se
também muito sobre a fé cristã.
Afirmam:
“Isto é o
poder da fé em Cristo.” Mas, o que vem a ser a fé cristã? Na leitura
que antecede ao nosso texto, ouvimos Jesus dizer ao apóstolo Pedro: Não foi carne e sangue quem to revelou, mas eu Pai que
está nos céus (v. 17). A fé não é obra humana. É um dom de Deus, isto é,
um presente de Deus. É uma revelação, algo que alguém recebe.
Jesus
havia instruído seus discípulos, e, é a primeira vez que ao perguntar pela fé,
Pedro respondeu corretamente: Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo. O primeiro objetivo
de Jesus com respeito a seus discípulos fora alcançado: Eles reconheceram que Cristo era
o verdadeiro Filho de Deus. Mesmo assim, os discípulos precisavam
aprender ainda muito sobre a obra redentora de Cristo. Jesus iniciou este
trabalho. Assim lemos e aprendemos em Mt
16.21 suas instruções.
É necessário
Jesus
não faz simplesmente uma revelação do que estava pela frente, mas mostrou a
razão disso. Era necessário. Sem isto, não haveria
salvação para a humanidade. O
sofrer, padecer e morrer era necessário.
Estes
fatos, na verdade, já foram anunciados amplamente por Moisés e os profetas, mas
não compreendidos. Eles leram e liam as Escrituras diariamente no templo, mas
só viam, com seus olhos carnais, as mensagens sobre a glória do Messias. Deste
veneno, os discípulos também estavam embevecidos. Por isso não entenderam as
palavras de João Batista: Eis o Cordeiro de Deus
que tira os peados do mundo, (Jo 1.29) nem as palavras de Jesus: Uma
geração má e adúltera pede um sinal: e nenhum sinal lhe será dado, senão o de
Jonas (Mt 16.4) .
Por isso Jesus lhes diz com palavras bem claras: É necessário... ser morto, e ressuscitar no
terceiro dia (v.31).
Lemos
e aprendemos em Mt 16.23 suas instruções:
Um choque
Esta
notícia foi um choque violento para os discípulos. Vemos isto pela reação do
apóstolo Pedro. Jesus, o Messias, o Filho do Deus vivo morrer. Impossível.
Jamais. Isto causou um curto na mente dos discípulos, um black out. Como ainda
hoje permanece loucura e escândalo para a razão carnal (1 Co 1.23). Este choque
foi tão forte que nem se aperceberam da palavra final: E ressuscitado no terceiro dia.
Pedro
toma Jesus para o lado e lhe diz: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te
acontecerá. Pedro amava Jesus. Queria o bem dele. Disse isso
em profundo amor, mas segundo a mente humana. Quantas vezes nós temos agido assim nas
coisas de Deus? Seguimos nossa razão e não damos a devida atenção à
palavra de Deus. Jesus reprova a Pedro com veemência, ao lhe dizer: Arreda! Satanás; tu és para mim pedra de tropeço, porque
não cogitas das coisas de Deus, e, sim das dos homens. Jesus via
nisto a ação de Satanás, valendo-se da fraqueza de Pedro, para dificultar a
caminhada de Jesus para cruz. Não podemos nem imaginar o impacto que estas
palavras deve ter causado sobre Pedro e os demais.
Há
pouco fora considerado bem-aventurado por sua confissão e agora
precisa ouvir as palavras: Arreda! Satanás.
Assim
somos nós. Estamos na fé, mas temos esta fé em vasos de barro, em nossa
natureza carnal, que não cogita, nem compreende as coisas de Deus.
Por isso precisamos ouvir sempre lei e evangelho, repreensão e consolo.
Lemos
e aprendemos em Mt 16.24 suas instruções:
Tome sua cruz
Para
evitar ilusões, Jesus mostrou o que o discípulo poderia esperar por segui-lo: não glória, mas cruz. Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir
após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me (v.24).
Se alguém - Jesus se refere a todos os
cristãos em todos os tempos, também a nós. Se
alguém quer vir após mim - ninguém é forçado. É convidado. Só pela
graça, isso não exclui ninguém, mas a graça é resistível. Os que seguem, são
voluntários. E os que seguem precisam negar-se a si mesmos. Em que sentido?
Permitam
citar uma ilustração: Quando empreendemos uma viagem, três
coisas são necessárias: a) dizer
adeus, b) tomar a bagagem, c) seguir firme para o alvo. É isto que
Jesus mostra a seus discípulos.
a)
Negar-se a si mesmo:
tu precisas dizer um não, um adeus a ti mesmo, ao teu “eu” natural corrompido pelo pecado, que se opõe à Deus e à sua
Palavra. Este “eu” chamamos de nosso
velho homem ou velho Adão, nossa natureza carnal, nossa índole natural, o
pecado original em nós, inclinado para todo o mal, cego em coisas espirituais,
inimigo de Deus, de onde brotam todos os pecados: egoísmo, avareza, ciúmes,
paixões mundanas, cobiça, etc. A isto temos que dizer diariamente um não, por
contrição e arrependimento.
Não
conseguimos por nós mesmos. Para isso precisamos da luz da palavra de Deus,
pela qual o Espírito Santo nos ilumina.
b)
Tome a sua cruz: quando surge a fé
e o Espírito Santo vem ao coração para nos guiar, então nossa vida será
dirigida pelo Espírito Santo, que nos dirige pela palavra de Deus. Já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Temos prazer na lei de Deus. Procuramos
iluminar e orientar toda nossa vida pela palavra de Deus. Mas por vivermos
ainda neste mundo em trevas, notaremos que precisamos lutar contra nossa
própria natureza carnal, contra as tentações do mundo e as ciladas de Satanás.
E, assim como os altos dirigentes da Igreja da época, nem o povo simples
gostaram de ter Jesus em seu meio. Hoje o mundo zomba, repudia, despreza os
cristãos. Não queremos nos retrair ou negar Jesus, antes confessá-lo por
palavras e obras. Este é o ônus que temos que tomar sobre nós ao seguir a
Cristo. Isto não é fácil. No palácio do Sumo sacerdote, o tão corajoso Pedro,
foi tomado de medo e negou Jesus três vezes. Ele se arrependeu profundamente desse
erro. Mas quem o nega persistentemente, Jesus o negará o no do juízo final. Não
queremos nos envergonhar de Cristo e de sua palavra, antes confessá-la
ousadamente. Que Deus Espírito Santo nos fortaleça nisto.
c) siga-me: Fielmente
queremos segui-lo ao lar celestial. Aqui somos peregrinos. Queremos segui-lo em
nosso lar, no trabalho, na sociedade, apegados à palavra de Deus, confessando
ousadamente seu nome, mesmo que isto nos traga o desprezo do mundo, prejuízos
materiais, a perda de nossos bens, da família e da vida, como cantamos: Se vierem roubar
os bens, vida e o lar – que tudo se vá! Proveito não lhes dá. O céu é nossa
herança (HL 165.4).
Jesus
disse uma palavra surpreendente: Em verdade vos
digo que alguns aqui se encontram que de maneira nenhuma passarão pela morte
até que veja vir o Filho do homem no seu reino.
O julgamento final começou com o julgamento do povo de Israel: a destruição do
tempo e a dispersão do povo. Isto testemunhou de que Jesus é Rei dos reis,
Senhor dos senhores, que está à direita do Pai e em breve virá em glória para
julgar vivos e mortos. Nesta época alguns ainda estavam vivos, como o apóstolo
João, por exemplo. Assim a destruição de Jerusalém é tida como o início do
juízo final, que se completará com a vida de Cristo em glória, quando todos os
mortos ressuscitarão, e Jesus criará novo céu e nova terra, onde habitará
justiça.
Os
discípulos custaram em compreender a obra redentora de Cristo. Só a
compreenderam no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo os iluminou para
compreenderem os mistérios da salvação e proclamá-la ao mundo. De fato, ninguém
pode dizer Senhor Jesus, com fé, na compreensão da pessoa e obra de Cristo, da
justificação do pecador, se não pelo Espírito Santo.
Sejamos
agradecidos a Deus por nos ter levado e conservado na fé. Sejamos fervorosos na
proclamação do Evangelho, tomemos sobre nos a nossa cruz, que é por curto
tempo. Eterna é a recompensa pela graça de Cristo. Amém.
São Leopoldo, 18/08/2008
Horst R. Kuchenbecker
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