10º
Domingo após Pentecostes
Sl 67; Is 56. 1, 6 – 8; Rm 11. 1 – 2ª, 13 – 15, 28 – 32; Mt 15. 21 - 28
Tema: Encontro
de dois mundos
Nesse encontro tão diversificado, o que
podemos aprender?
O
encontro aconteceu numa cidade chamada Tiro.
Essa
cidade está ambicionada pelo domínio e pelo poder. Desde sua
origem até o período romano, havia uma luta do povo fenício sobre as terras da
Galileia. Tiro pode ser considerada uma cidade rica e economicamente estável.
Mas, ao lado desta realidade, também há pobreza. Tiro é a mesma cidade cujos reis haviam feito uma aliança com Davi e
Salomão. Neste acordo eles forneceriam madeira e hábeis artesões para Israel,
que por sua vez enviaria ao rei Hirão e seus sucessores, mantimentos que a
população de Tiro necessitava (1Rs 5; At 12.20).
Hoje,
de acordo com os relatos bíblicos, sabemos que as consequências colaterais
deste acordo comercial foram terríveis para a nação israelita.
A
partir da cidade de Tiro a adoração de Baal se introduziu em Israel e lhes
causou muitos males, o maior deles, os cativeiros Assírio (reino do Norte) e
Babilônico (reino do Sul).
A
outra cidade narrada no episódio que marca o encontro de dois mundos é Sidom. Essa
cidade sempre foi famosa pelo seu intenso comércio e por sua grande riqueza. Tornou-se
um centro das artes e das ciências. Era o mais antigo mercado dos fenícios. A
moderna cidade de Saída, no Líbano, assinala o local da antiga cidade, a 32
quilômetros ao sul da moderna cidade de Beirute.
Tanto Tiro como Sidom possuíam baías
naturais, o que lhes proporcionavam excelentes defesas naturais. A Fenícia, que circundava quase que totalmente o norte da
Galileia estava anexada à Síria. Esta proximidade
fronteiriça tornava natural que um viajante da Galileia, Jesus e seus
discípulos, atravessassem o território de Tiro.
Tanto
Tiro como Sidom estavam localizadas ao norte da Galileia, aproximadamente entre
65 e 95 quilômetros de Cafarnaum e fazem parte da história desde antiguidade,
quando os fenícios dominavam o mundo da navegação.
Jesus
está caminhando nesse território considerado pagão. Encontrar uma mulher
cananeia é comum. Todos os moradores dessa região não eram semitas, não eram
israelitas, nem seguiam a religião judaica.
Sob
este pano de fundo apresentado pelo texto de Mateus, é apresentado o encontro
de dois mundos. Mundos completamente opostos entre si.
Nesses
mundos opostos, onde ninguém jamais suporia imaginar, uma mulher cananeia
clama: "Filho de Davi".
Parece
que não há nada de estranho nesse clamor, mas é justamente esse clamor que
ressalta uma confissão. Esse é o título messiânico israelita por excelência.
Era um
momento crítico no ministério terreno de Jesus. Seus adversários, vindos a
mando das autoridades eclesiásticas de Jerusalém, acusavam Jesus de transgredir
a tradição dos anciãos. Jesus, segundo a acusação não cumpria a lei de Moisés. Os
discípulos eram acusados de serem imundos e profanos, afinal, não observavam as
leis cerimoniais, tais como o lavar as mãos para as refeições.
Diante
de todas essas acusações Jesus prefere sair da região da Galileia, assim como
já havia feito anteriormente ao deixar a Judeia. Nada de anormal em sair da
Galileia, o problema era refugiar-se em território gentílico.
Ainda mais, num local, de onde supostamente surgiu toda a desgraça provinda
sobre o povo de Israel.
O evangelista Mateus ressalta que
justamente nesse local improvável acontece um maravilhoso encontro Nesse
encontro as visões de mundo serão refeitas e a lição de que a fé não é algo
restrito a um lugar e a uma raça.
Com
detalhes, o evangelista Mateus descreve o gradativo clamor da mulher e as
diferentes reações de Jesus e dos discípulos a esse clamor.
A
mulher clama conhecendo a compaixão de Jesus. Jesus, num primeiro momento fica
em silêncio e nada responde (Mt 15. 23). Os discípulos reagem com indignação pelo
fato da mulher os incomodar com seus gritos, "Despede-a,
porque vem gritando atrás de nós" (Mt 15.23).
Jesus
dá a resposta conforme a mentalidade judaica da época: "Eu não fui enviado senão para as ovelhas perdidas de
Israel" (Mt 15. 24). Os judeus em seu mundo eram exclusivistas.
A salvação pertencia somente a sua raça. Jesus, o verdadeiro Messias, seria
enviado somente a Israel.
Aqueles
que acusavam Jesus, os líderes eclesiásticos da época, iriam aplaudir a
resposta de Jesus e diriam que ele havia entrado nos eixos.
Mas,
o encontro de dois mundos diferentes ainda está acontecendo e não terminou,
grandes lições ainda hão de vir.
A mulher, não semita, não israelita, chama
e confessa Jesus pelo seu titulo messiânico: "Filho de Davi". E Jesus iniciando uma conversa com ela insiste no seu
messianismo israelita respondendo que: "Não fui enviado senão às ovelhas
perdidas de Israel" (Mt 15.24). Jesus havia sido enviado
a um povo pequeno, para realizar uma esperança limitada nos seus termos – Jesus
é o Messias de Israel.
Essa resposta dada por Jesus não é de
rejeição a outros povos, afinal, Jesus Cristo foi enviado para todos, Cristo é
para todos. Sua resposta, que apresenta a visão de um mundo, mundo israelita
era uma provocação para analisar onde estava sua confiança.
De maneira insistente, a mulher dobra
seus joelhos e implora: "Senhor, ajuda-me" (v. 25), "Não fica bem tirar o pão dos
filhos para atirá-lo aos cachorrinhos" (Mt 15. 26).
O encontro de dois mundos apresenta um
mundo que acusava Jesus de impostor e se considerava filho de Deu e dizia que
os estrangeiros não eram dignos da bênção divina e o outro mundo onde uma mulher
desprezada, assumia sua condição de "cachorrinho" com grande esperança.
Observemos
que a mulher cananeia não apelou para suas qualidades ou obras. Ela
simplesmente creu no amor de Deus manifestado na pessoa de Jesus. Esse amor
fora representado pelo fato de deixá-la comer das migalhas que caiam da mesa de
Israel.
Naquela
época os cachorros não tinham direitos. Se o cachorro quisesse comer, deveria
aproveitar bem as migalhas caídas da mesa do seu dono. E a mulher cananeia ao
se reconhecer como um cachorrinho, quer aproveitar das migalhas que estão
caindo naquele momento.
“Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb
11.6). A mulher cananeia se aproximou de Jesus por crer em seu amor e misericórdia.
Apela para sua misericórdia e clama apenas pelas migalhas.
Como estamos nos
aproximando de Deus? Será que estamos exigindo que Deus ouça nossas orações por causa
daquilo que estamos fazendo? Será que nos julgamos melhores que outros só
porque estamos dentro de uma igreja?
Deus
nos recebe pela fé em Jesus. “Pois o evangelho (a boa noticia) nos mostra como é que Deus nos aceita: é por
meio da fé, do começo ao fim” (Rm 1.17).
A
mulher cananeia é um modelo de súplica humilde e perseverante, mas não são
nossas súplicas humildes e perseverantes que levam a Deus nos atender. Deus nos
atende por causa do seu amor e da sua misericórdia, mesmo que na nossa visão de
mundo tudo aponte para outros fatos.
Edson Ronaldo
Tressmann
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