terça-feira, 12 de agosto de 2014

Encontro de dois mundos

10º Domingo após Pentecostes
Sl 67; Is 56. 1, 6 – 8; Rm 11. 1 – 2ª, 13 – 15, 28 – 32; Mt 15. 21 - 28
Tema: Encontro de dois mundos
          Jesus em suas andanças ultrapassou barreiras humanas de raça, religião e preconceito. Um dos exemplos disso é o episódio lido no evangelho de Mateus 15. 21 – 28, onde é contado um relato sobre o encontro entre dois mundos diferentes. O encontro foi de uma mulher cananeia e Jesus; uma mulher cananeia e os discípulos de Jesus; um encontro entre os discípulos e Jesus.
         Nesse encontro tão diversificado, o que podemos aprender?
         O encontro aconteceu numa cidade chamada Tiro.
         Essa cidade está ambicionada pelo domínio e pelo poder. Desde sua origem até o período romano, havia uma luta do povo fenício sobre as terras da Galileia. Tiro pode ser considerada uma cidade rica e economicamente estável. Mas, ao lado desta realidade, também há pobreza. Tiro é a mesma cidade cujos reis haviam feito uma aliança com Davi e Salomão. Neste acordo eles forneceriam madeira e hábeis artesões para Israel, que por sua vez enviaria ao rei Hirão e seus sucessores, mantimentos que a população de Tiro necessitava (1Rs 5; At 12.20).
         Hoje, de acordo com os relatos bíblicos, sabemos que as consequências colaterais deste acordo comercial foram terríveis para a nação israelita.
         A partir da cidade de Tiro a adoração de Baal se introduziu em Israel e lhes causou muitos males, o maior deles, os cativeiros Assírio (reino do Norte) e Babilônico (reino do Sul).
         A outra cidade narrada no episódio que marca o encontro de dois mundos é Sidom. Essa cidade sempre foi famosa pelo seu intenso comércio e por sua grande riqueza. Tornou-se um centro das artes e das ciências. Era o mais antigo mercado dos fenícios. A moderna cidade de Saída, no Líbano, assinala o local da antiga cidade, a 32 quilômetros ao sul da moderna cidade de Beirute.
         Tanto Tiro como Sidom possuíam baías naturais, o que lhes proporcionavam excelentes defesas naturais. A Fenícia, que circundava quase que totalmente o norte da Galileia estava anexada à Síria. Esta proximidade fronteiriça tornava natural que um viajante da Galileia, Jesus e seus discípulos, atravessassem o território de Tiro.
         Tanto Tiro como Sidom estavam localizadas ao norte da Galileia, aproximadamente entre 65 e 95 quilômetros de Cafarnaum e fazem parte da história desde antiguidade, quando os fenícios dominavam o mundo da navegação.
         Jesus está caminhando nesse território considerado pagão. Encontrar uma mulher cananeia é comum. Todos os moradores dessa região não eram semitas, não eram israelitas, nem seguiam a religião judaica.
         Sob este pano de fundo apresentado pelo texto de Mateus, é apresentado o encontro de dois mundos. Mundos completamente opostos entre si.
         Nesses mundos opostos, onde ninguém jamais suporia imaginar, uma mulher cananeia clama: "Filho de Davi".
         Parece que não há nada de estranho nesse clamor, mas é justamente esse clamor que ressalta uma confissão. Esse é o título messiânico israelita por excelência.
         Era um momento crítico no ministério terreno de Jesus. Seus adversários, vindos a mando das autoridades eclesiásticas de Jerusalém, acusavam Jesus de transgredir a tradição dos anciãos. Jesus, segundo a acusação não cumpria a lei de Moisés. Os discípulos eram acusados de serem imundos e profanos, afinal, não observavam as leis cerimoniais, tais como o lavar as mãos para as refeições.
         Diante de todas essas acusações Jesus prefere sair da região da Galileia, assim como já havia feito anteriormente ao deixar a Judeia. Nada de anormal em sair da Galileia, o problema era refugiar-se em território gentílico. Ainda mais, num local, de onde supostamente surgiu toda a desgraça provinda sobre o povo de Israel.
         O evangelista Mateus ressalta que justamente nesse local improvável acontece um maravilhoso encontro Nesse encontro as visões de mundo serão refeitas e a lição de que a fé não é algo restrito a um lugar e a uma raça.
         Com detalhes, o evangelista Mateus descreve o gradativo clamor da mulher e as diferentes reações de Jesus e dos discípulos a esse clamor.
         A mulher clama conhecendo a compaixão de Jesus. Jesus, num primeiro momento fica em silêncio e nada responde (Mt 15. 23). Os discípulos reagem com indignação pelo fato da mulher os incomodar com seus gritos, "Despede-a, porque vem gritando atrás de nós" (Mt 15.23).
         Jesus dá a resposta conforme a mentalidade judaica da época: "Eu não fui enviado senão para as ovelhas perdidas de Israel" (Mt 15. 24). Os judeus em seu mundo eram exclusivistas. A salvação pertencia somente a sua raça. Jesus, o verdadeiro Messias, seria enviado somente a Israel.
         Aqueles que acusavam Jesus, os líderes eclesiásticos da época, iriam aplaudir a resposta de Jesus e diriam que ele havia entrado nos eixos.
         Mas, o encontro de dois mundos diferentes ainda está acontecendo e não terminou, grandes lições ainda hão de vir.
         A mulher, não semita, não israelita, chama e confessa Jesus pelo seu titulo messiânico: "Filho de Davi". E Jesus iniciando uma conversa com ela insiste no seu messianismo israelita respondendo que: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas de Israel" (Mt 15.24). Jesus havia sido enviado a um povo pequeno, para realizar uma esperança limitada nos seus termos – Jesus é o Messias de Israel.
         Essa resposta dada por Jesus não é de rejeição a outros povos, afinal, Jesus Cristo foi enviado para todos, Cristo é para todos. Sua resposta, que apresenta a visão de um mundo, mundo israelita era uma provocação para analisar onde estava sua confiança.
         De maneira insistente, a mulher dobra seus joelhos e implora: "Senhor, ajuda-me" (v. 25), "Não fica bem tirar o pão dos filhos para atirá-lo aos cachorrinhos" (Mt 15. 26).
         O encontro de dois mundos apresenta um mundo que acusava Jesus de impostor e se considerava filho de Deu e dizia que os estrangeiros não eram dignos da bênção divina e o outro mundo onde uma mulher desprezada, assumia sua condição de "cachorrinho" com grande esperança.
         Observemos que a mulher cananeia não apelou para suas qualidades ou obras. Ela simplesmente creu no amor de Deus manifestado na pessoa de Jesus. Esse amor fora representado pelo fato de deixá-la comer das migalhas que caiam da mesa de Israel.
         Naquela época os cachorros não tinham direitos. Se o cachorro quisesse comer, deveria aproveitar bem as migalhas caídas da mesa do seu dono. E a mulher cananeia ao se reconhecer como um cachorrinho, quer aproveitar das migalhas que estão caindo naquele momento.
         Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). A mulher cananeia se aproximou de Jesus por crer em seu amor e misericórdia. Apela para sua misericórdia e clama apenas pelas migalhas.
         Como estamos nos aproximando de Deus? Será que estamos exigindo que Deus ouça nossas orações por causa daquilo que estamos fazendo? Será que nos julgamos melhores que outros só porque estamos dentro de uma igreja?
         Deus nos recebe pela fé em Jesus. “Pois o evangelho (a boa noticia) nos mostra como é que Deus nos aceita: é por meio da fé, do começo ao fim” (Rm 1.17).
         A mulher cananeia é um modelo de súplica humilde e perseverante, mas não são nossas súplicas humildes e perseverantes que levam a Deus nos atender. Deus nos atende por causa do seu amor e da sua misericórdia, mesmo que na nossa visão de mundo tudo aponte para outros fatos.
 
Edson Ronaldo Tressmann

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