11º
Domingo após Pentecostes – 24/08/2014
Sl 138; Is 51.1 – 6; Rm 11. 33 – 12.8; Mt 16. 13 – 20
A verdadeira igreja
“Sobre esta pedra edificarei a minha igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18)
Com preocupação trago a
reflexão sobre a consequência inevitável da falta de convicção de que sou
Luterano. Para muitos é indiferente a pessoas ser luterana, reformada ou
católica.
Mas o que está em jogo?
Na verdade, essa
mistura, que muitos não gostam que se fale, afinal, o teor ecumênico diz que
devemos ter amor pelos outros, nos impede muitas vezes de esclarecer alguns
pontos importantes.
Com alegria, ainda
vejo, mesmo que sendo pequeno o grupo, pessoas confessando, estando convictos
de que as Sagradas Escrituras são a Palavra de Deus, que Jesus Cristo é o Filho
do Deus vivo, que o ser humano é justificado diante de Deus por fé em Cristo
somente. No entanto, a preocupação é quando esse pequeno grupo começa a dar as
mãos para a destra e a comunhão com grupos maiores em detrimento do
reducionismo ecumênico. Começam a cultuar como se “Deus” fosse igual em todas
as denominações.
O que todos buscam é
paz entre as várias igrejas. Mas, como é possível viver em paz no meio de diferenças
gritantes? Pela suposta paz, as confissões são subjugadas, afinal,
são elas que atrapalham o progresso e a unidade cristã.
No ano de 1817, 197
anos atrás, um homem chamado Claus Harms, escreveu 95 teses contra o
racionalismo e a união das igrejas na Prússia. Aos defensores da união das
igrejas, escreveu: “Vocês propõem que a
pobre empregada, a Igreja Luterana, fique rica através de um casamento. Não
façam isso sobre a sepultura de Lutero. Se fizerem isso, entrará vida nos ossos
dele e então, ai de vocês”. Não era exatamente uma defesa a Lutero, mas um
chamado à volta àquilo que Lutero havia descoberto e que era consolador e
confortador. No entanto, bem, vamos ver.
Os luteranos parecem
ter despertado do sono espiritual quando ocorreu à união das igrejas na
Prússia. Mediante essa união prussiana, recordaram que eram luteranos e se
dispuseram a serem expulsos de suas casas, serem aprisionados, mas não
abandonarem sua fé. A ressalva necessária é que mesmo dessa situação, não
sobrou à verdadeira, a genuína igreja luterana. Os homens que queriam conservar
a verdadeira igreja, não tinham mais o conhecimento claro e puro da verdade. Do
racionalismo e indiferentismo eclesiástico e religioso, esses homens foram ao
extremo do particularismo e uma tendência hierárquica antiluterana. Os que eram
opostos à união das igrejas, mencionavam que a igreja luterana era a verdadeira
igreja visível mencionada no terceiro artigo do Credo: “Creio...na santa igreja cristã, a comunhão dos santos...”
Com isso, passou-se a
afirmar que só há salvação dentro da igreja luterana. Erro patético e fatal. Esse
erro estava custando o tema central das Escrituras Sagradas que ensinam que o “pecador é
justificado diante de Deus através de Cristo, somente pela fé”.
As palavras de Jesus: “Sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mt 16.18), são ditas a ouvidos que querem saber a resposta sobre a verdadeira
igreja.
Pessoas buscam as igrejas! Pessoas lucram com igrejas! Pessoas
brincam de ser igreja! Mas, muitos se esquecem das
palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
A rocha é o próprio
Jesus Cristo. Ninguém é membro da igreja verdadeira sem estar edificado sobre
Cristo. Ser edificado sobre Cristo não é estar mecanicamente ligado, ou escrito
no rol de membros de uma comunidade cristã.
Estar edificado sobre a
rocha que é Cristo é depositar a confiança em Cristo e esperar receber justiça
e salvação apenas dEle.
Igreja – um assunto delicado, um assunto que
poucos querem se manifestar, afinal, é melhor se calar do ser criticado por
falar. O movimento ecumênico em seu reducionismo diz que por amor aos outros, não
se manifestar diante de erros grosseiros é a melhor saída para que haja unidade
entre os cristãos.
Disse Jesus: “Sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mt 16.18).
Como saber qual é a igreja verdadeira?
Na carta do apóstolo
Paulo aos cristãos da Ásia menor está escrito: “Assim, já não sois estrangeiros e
peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois a família de Deus, edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a
pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário
dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para
a habitação de Deus no Espírito” (Ef 2. 19 – 22). Assim, uma das
resposta é que a verdadeira igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos
e profetas, isso quer dizer, estar na mesma fé inabalável em Jesus. A verdadeira
igreja não está edificada sobre terras contaminadas, a exemplo de mega templos
no coração financeiro do Brasil. Aliás, pior do que estar edificada sobre
terras contaminadas, é estar contaminado interiormente, com suas vendas de
indulgências através dos utensílios supostamente sagrados.
A verdadeira igreja não
está numa basílica ou catedral onde o comércio é intenso e os famintos que
estão ao seu redor morrem de fome. A verdadeira igreja não está em velhos
barracões onde sua confiança está nos supostos milagres de uma almofadinha,
lenço, azeite, água do Jordão, etc. Não adianta mega
templo, basílicas e grandes barracões quando a pedra angular não está no edifício. A verdadeira igreja está onde Cristo e seu sacrifício
na cruz reluzem como ouro, joia e tesouro inestimável.
Jesus Cristo é o noivo
da verdadeira igreja. Todo aquele que não está noivado com Cristo não é membro
e nem está na verdadeira igreja, independente da placa denominacional que
segue.
Jesus Cristo é o cabeça
da verdadeira igreja. Só é membro da verdadeira igreja aquele que recebe luz,
poder e graça da parte desse cabeça.
O apostolo também
compara a igreja a um corpo. Aqui está onde muitos do passado e ainda hoje
erram, ou seja, pensam que a verdadeira igreja é visível. O ponto não é a
visibilidade da igreja, mas um organismo vivo que é constituído por pessoas das
quais flui a fé verdadeira em Jesus. A verdadeira igreja não é visível, por
isso, muitos querendo vê-la não conseguem. Muitos estão buscando a verdadeira
igreja visível, mas não conseguem e ficam perdidos em busca de uma igreja e
supõe não encontrar a verdadeira. Sem encontrar a verdadeira igreja, que para
muitos teria que ser visível, perambula como ovelha sem pastor, buscando pastagem
e água, mas não encontram.
Jesus denomina sua igreja
como rebanho. Ninguém é membro da verdadeira igreja sem que seja ovelha,
apascentada e guiada por Jesus. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e
elas me seguem” (Jo 10.27).
A verdadeira igreja não
é visível, não pode ser vista por olhos humanos. A igreja verdadeira só é vista
e conhecida por Jesus. Ele é o único que conhece e sabe quem faz parte da
igreja verdadeira. Mas, a igreja atuante nesse mundo, a igreja criticada exacerbadamente
pelas pessoas, segundo Jesus externamente é comparada a um campo onde trigo e joio
cresce junto; é como uma rede que apanha peixes bons e ruins; é como uma festa
de casamento, onde comparecem virgens prudentes, e alguém sem os trajes
adequados teve acesso.
A igreja externa,
atuante nesse mundo, é vista e criticada por causa do joio, dos peixes ruins,
do que não está trajado adequadamente. Mas, é assim que Jesus disse que seria,
enquanto nesse mundo.
A verdadeira igreja, invisível
aos nossos olhos e visível aos olhos de Jesus, é composta apenas pelos
verdadeiros crentes em Jesus, mas, enquanto aqui nesse mundo, essa comunidade
cristã se apresenta não apenas com seus membros verdadeiros, mas também com os
ruins. A igreja nunca esteve e nem estará durante sua existência nesse mundo
corrompido pelo pecado livre dos hipócritas e dos ímpios. Até podemos ver quando e quem vai para a igreja, mas não
somos capazes de determinar quem de fato pertence à igreja.
Para o mundo a igreja é
invisível, a verdadeira igreja só é visível para Deus, pois ele conhece nosso
coração e sabe em quem depositamos toda a nossa confiança.
Precisamos cuidar para
que as placas institucionais não sejam o caminho para a salvação. Afinal, “placa de igreja
não salva ninguém”. No entanto, é preciso ressaltar que desde os
tempos dos apóstolos nenhuma igreja teve a doutrina pura em tal proporção como
nossos pais tiveram. Mas, não se pode afirmar
que Lutero, antes de se tornar luterano, não tinha a fé verdadeira. A salvação não depende da filiação a esta ou aquela
igreja. O que salva é a fé em Jesus Cristo. As
palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18) alertam contra o
abominável fanatismo tão crasso em nossos dias.
Todo
aquele que crê em Jesus é membro da igreja verdadeira.
No entanto, é preciso
que observemos e nos lembremos de algo muitíssimo importante e necessário. Não é porque a filiação a uma igreja não é sinal de
salvação, não posso simplesmente deixar de me congregar com outros irmãos na fé.
É das comunidades locais que há uma única igreja invisível aos nossos olhos e visível
aos olhos de Deus.
Há cristãos na igreja reformada,
entre os metodistas, entre os católicos, etc. Só para exemplificar, a igreja
papista ainda confessa que Jesus Cristo é o Filho de Deus e que ele morreu na
cruz para redimir o mundo. Isso em si já é verdade suficiente para que alguém
chegue ao conhecimento da salvação. O evangelho é claro: “Crê no
Senhor Jesus Cristo!” a lei apenas confronta e põe uma série de
exigências para que se alcance a salvação.
Então, se em qualquer igreja, posso continuar fazendo parte da igreja invisível
aos nossos olhos e visível aos olhos de Deus, qual é a razão e o sentido de ser
membro da igreja Luterana?
O
fato é simples: quero permanecer ao lado da verdade.
Mesmo que reconheçamos que haja salvação em outras igrejas, mas sabendo que há entre
elas erros doutrinários grosseiros, é preciso abandoná-la. Isso fez Lutero. Sei
que o mesmo tinha fé mesmo antes de se tornar luterano, mas não pôde coadunar
com os erros doutrinários grosseiros.
Dizer que é possível
que haja salvação dentro de outras igrejas não pode me conduzir a achar que é possível
ter comunhão com os mesmos. Mas, como é possível, mesmo com alguns erros pessoas
obterem a salvação? A salvação se dá por meio da fé em Jesus inconscientemente
do erro da igreja a qual pertence. Há os que erram por ingenuidade e
ignorância. Mas, se há ciência dos erros e dos equívocos, é preciso alertar, em
concordância com o erro, em permanência no erro, corre-se o risco de ir ao
inferno. Como luteranos não condenamos ninguém que está em erro quanto a algum
artigo do Credo, mas condenamos aqueles que sabem do erro, mas preferem
continuar no erro. Nossa esperança é que quando as pessoas são instruídas na
doutrina e conseguem ver o erro pela orientação do Espírito Santo, aderem à
verdade contida na Palavra de Deus. Os luteranos não condenam ninguém, a não ser
aqueles que condenam a si mesmos pela resistência à verdade conhecida nas
Sagradas Escrituras. Quando condenamos os reformados, católicos, o fazemos
àqueles que conhecem a verdade, mas dela não querem saber. Não condenamos os
católicos e reformados em geral, pois infelizmente, muitos estão lá na
simplicidade de seus corações. O próprio Lutero disse: “...muitas coisas eu sei agora, Deus seja
louvado! Eu não sabia naquele tempo. Eu venerava por causa do costume e do uso
estabelecido”.
Jesus disse: “Sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mt 16.18). Que nossos ouvidos estejam atentos ao ouvir que Jesus é a rocha. Só
na rocha tenho a salvação. Só na rocha não serei abalado.
Ao ouvir Jesus dizer: “Sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mt 16.18), posso afirmar que a igreja luterana possui a doutrina pura e que
continua firmada sobre a rocha que é Cristo.
Quando Jesus disse: “Sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mt 16.18) estava se opondo ao que é ensinado por muitos ainda hoje. Há os que
dizem: “não
importa o que a igreja ensina, vocês precisam ouvir a igreja”. Na
verdade, precisamos ouvir Jesus. E em algumas igrejas, Jesus não fala. Lembre-se!
Jesus é a rocha. Jesus é a pedra angular na qual muitos estão tropeçando.
Como igreja luterana,
não somos a única igreja que salva, mas possuímos a pura e inadulterada verdade
e por isso, eu amo ser luterano. Sou luterano por que nessa igreja, eu ainda
continuo firmado na rocha que é Jesus, pois “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Amém!
Edson Ronaldo Tressmann
Bibliografia:
Walther, Carl Ferdinand Wilhelm. A
correta distinção entre Lei e Evangelho. Edição completa. Tadução:
Marie Luize Heimann. Porto Alegre: Ed. Concórdia,2005. pp. 291 - 298
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