segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A verdadeira igreja.


11º Domingo após Pentecostes – 24/08/2014
Sl 138; Is 51.1 – 6; Rm 11. 33 – 12.8; Mt 16. 13 – 20
 
A verdadeira igreja

 

Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18)
 
Com preocupação trago a reflexão sobre a consequência inevitável da falta de convicção de que sou Luterano. Para muitos é indiferente a pessoas ser luterana, reformada ou católica.
           Mas o que está em jogo?
           Na verdade, essa mistura, que muitos não gostam que se fale, afinal, o teor ecumênico diz que devemos ter amor pelos outros, nos impede muitas vezes de esclarecer alguns pontos importantes.
            Com alegria, ainda vejo, mesmo que sendo pequeno o grupo, pessoas confessando, estando convictos de que as Sagradas Escrituras são a Palavra de Deus, que Jesus Cristo é o Filho do Deus vivo, que o ser humano é justificado diante de Deus por fé em Cristo somente. No entanto, a preocupação é quando esse pequeno grupo começa a dar as mãos para a destra e a comunhão com grupos maiores em detrimento do reducionismo ecumênico. Começam a cultuar como se “Deus” fosse igual em todas as denominações.
           O que todos buscam é paz entre as várias igrejas. Mas, como é possível viver em paz no meio de diferenças gritantes? Pela suposta paz, as confissões são subjugadas, afinal, são elas que atrapalham o progresso e a unidade cristã.
            No ano de 1817, 197 anos atrás, um homem chamado Claus Harms, escreveu 95 teses contra o racionalismo e a união das igrejas na Prússia. Aos defensores da união das igrejas, escreveu: “Vocês propõem que a pobre empregada, a Igreja Luterana, fique rica através de um casamento. Não façam isso sobre a sepultura de Lutero. Se fizerem isso, entrará vida nos ossos dele e então, ai de vocês”. Não era exatamente uma defesa a Lutero, mas um chamado à volta àquilo que Lutero havia descoberto e que era consolador e confortador. No entanto, bem, vamos ver.
           Os luteranos parecem ter despertado do sono espiritual quando ocorreu à união das igrejas na Prússia. Mediante essa união prussiana, recordaram que eram luteranos e se dispuseram a serem expulsos de suas casas, serem aprisionados, mas não abandonarem sua fé. A ressalva necessária é que mesmo dessa situação, não sobrou à verdadeira, a genuína igreja luterana. Os homens que queriam conservar a verdadeira igreja, não tinham mais o conhecimento claro e puro da verdade. Do racionalismo e indiferentismo eclesiástico e religioso, esses homens foram ao extremo do particularismo e uma tendência hierárquica antiluterana. Os que eram opostos à união das igrejas, mencionavam que a igreja luterana era a verdadeira igreja visível mencionada no terceiro artigo do Credo: “Creio...na santa igreja cristã, a comunhão dos santos...
           Com isso, passou-se a afirmar que só há salvação dentro da igreja luterana. Erro patético e fatal. Esse erro estava custando o tema central das Escrituras Sagradas que ensinam que o “pecador é justificado diante de Deus através de Cristo, somente pela fé”.
           As palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), são ditas a ouvidos que querem saber a resposta sobre a verdadeira igreja.
          Pessoas buscam as igrejas! Pessoas lucram com igrejas! Pessoas brincam de ser igreja! Mas, muitos se esquecem das palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
           A rocha é o próprio Jesus Cristo. Ninguém é membro da igreja verdadeira sem estar edificado sobre Cristo. Ser edificado sobre Cristo não é estar mecanicamente ligado, ou escrito no rol de membros de uma comunidade cristã.
           Estar edificado sobre a rocha que é Cristo é depositar a confiança em Cristo e esperar receber justiça e salvação apenas dEle.
           Igreja – um assunto delicado, um assunto que poucos querem se manifestar, afinal, é melhor se calar do ser criticado por falar. O movimento ecumênico em seu reducionismo diz que por amor aos outros, não se manifestar diante de erros grosseiros é a melhor saída para que haja unidade entre os cristãos.
            Disse Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
           Como saber qual é a igreja verdadeira?
         Na carta do apóstolo Paulo aos cristãos da Ásia menor está escrito: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois a família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para a habitação de Deus no Espírito” (Ef 2. 19 – 22). Assim, uma das resposta é que a verdadeira igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, isso quer dizer, estar na mesma fé inabalável em Jesus. A verdadeira igreja não está edificada sobre terras contaminadas, a exemplo de mega templos no coração financeiro do Brasil. Aliás, pior do que estar edificada sobre terras contaminadas, é estar contaminado interiormente, com suas vendas de indulgências através dos utensílios supostamente sagrados. 
A verdadeira igreja não está numa basílica ou catedral onde o comércio é intenso e os famintos que estão ao seu redor morrem de fome. A verdadeira igreja não está em velhos barracões onde sua confiança está nos supostos milagres de uma almofadinha, lenço, azeite, água do Jordão, etc. Não adianta mega templo, basílicas e grandes barracões quando a pedra angular não está no edifício. A verdadeira igreja está onde Cristo e seu sacrifício na cruz reluzem como ouro, joia e tesouro inestimável.
            Jesus Cristo é o noivo da verdadeira igreja. Todo aquele que não está noivado com Cristo não é membro e nem está na verdadeira igreja, independente da placa denominacional que segue.
            Jesus Cristo é o cabeça da verdadeira igreja. Só é membro da verdadeira igreja aquele que recebe luz, poder e graça da parte desse cabeça.
           O apostolo também compara a igreja a um corpo. Aqui está onde muitos do passado e ainda hoje erram, ou seja, pensam que a verdadeira igreja é visível. O ponto não é a visibilidade da igreja, mas um organismo vivo que é constituído por pessoas das quais flui a fé verdadeira em Jesus. A verdadeira igreja não é visível, por isso, muitos querendo vê-la não conseguem. Muitos estão buscando a verdadeira igreja visível, mas não conseguem e ficam perdidos em busca de uma igreja e supõe não encontrar a verdadeira. Sem encontrar a verdadeira igreja, que para muitos teria que ser visível, perambula como ovelha sem pastor, buscando pastagem e água, mas não encontram.
          Jesus denomina sua igreja como rebanho. Ninguém é membro da verdadeira igreja sem que seja ovelha, apascentada e guiada por Jesus. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27).
           A verdadeira igreja não é visível, não pode ser vista por olhos humanos. A igreja verdadeira só é vista e conhecida por Jesus. Ele é o único que conhece e sabe quem faz parte da igreja verdadeira. Mas, a igreja atuante nesse mundo, a igreja criticada exacerbadamente pelas pessoas, segundo Jesus externamente é comparada a um campo onde trigo e joio cresce junto; é como uma rede que apanha peixes bons e ruins; é como uma festa de casamento, onde comparecem virgens prudentes, e alguém sem os trajes adequados teve acesso.
             A igreja externa, atuante nesse mundo, é vista e criticada por causa do joio, dos peixes ruins, do que não está trajado adequadamente. Mas, é assim que Jesus disse que seria, enquanto nesse mundo.
             A verdadeira igreja, invisível aos nossos olhos e visível aos olhos de Jesus, é composta apenas pelos verdadeiros crentes em Jesus, mas, enquanto aqui nesse mundo, essa comunidade cristã se apresenta não apenas com seus membros verdadeiros, mas também com os ruins. A igreja nunca esteve e nem estará durante sua existência nesse mundo corrompido pelo pecado livre dos hipócritas e dos ímpios. Até podemos ver quando e quem vai para a igreja, mas não somos capazes de determinar quem de fato pertence à igreja.
            Para o mundo a igreja é invisível, a verdadeira igreja só é visível para Deus, pois ele conhece nosso coração e sabe em quem depositamos toda a nossa confiança.
            Precisamos cuidar para que as placas institucionais não sejam o caminho para a salvação. Afinal, “placa de igreja não salva ninguém”. No entanto, é preciso ressaltar que desde os tempos dos apóstolos nenhuma igreja teve a doutrina pura em tal proporção como nossos pais tiveram. Mas, não se pode afirmar que Lutero, antes de se tornar luterano, não tinha a fé verdadeira. A salvação não depende da filiação a esta ou aquela igreja. O que salva é a  fé em Jesus Cristo. As palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18) alertam contra o abominável fanatismo tão crasso em nossos dias.
           Todo aquele que crê em Jesus é membro da igreja verdadeira.
           No entanto, é preciso que observemos e nos lembremos de algo muitíssimo importante e necessário. Não é porque a filiação a uma igreja não é sinal de salvação, não posso simplesmente deixar de me congregar com outros irmãos na fé. É das comunidades locais que há uma única igreja invisível aos nossos olhos e visível aos olhos de Deus.
            Há cristãos na igreja reformada, entre os metodistas, entre os católicos, etc. Só para exemplificar, a igreja papista ainda confessa que Jesus Cristo é o Filho de Deus e que ele morreu na cruz para redimir o mundo. Isso em si já é verdade suficiente para que alguém chegue ao conhecimento da salvação. O evangelho é claro: “Crê no Senhor Jesus Cristo!” a lei apenas confronta e põe uma série de exigências para que se alcance a salvação.
           Então, se em qualquer igreja, posso continuar fazendo parte da igreja invisível aos nossos olhos e visível aos olhos de Deus, qual é a razão e o sentido de ser membro da igreja Luterana? O fato é simples: quero permanecer ao lado da verdade. Mesmo que reconheçamos que haja salvação em outras igrejas, mas sabendo que há entre elas erros doutrinários grosseiros, é preciso abandoná-la. Isso fez Lutero. Sei que o mesmo tinha fé mesmo antes de se tornar luterano, mas não pôde coadunar com os erros doutrinários grosseiros.
            Dizer que é possível que haja salvação dentro de outras igrejas não pode me conduzir a achar que é possível ter comunhão com os mesmos. Mas, como é possível, mesmo com alguns erros pessoas obterem a salvação? A salvação se dá por meio da fé em Jesus inconscientemente do erro da igreja a qual pertence. Há os que erram por ingenuidade e ignorância. Mas, se há ciência dos erros e dos equívocos, é preciso alertar, em concordância com o erro, em permanência no erro, corre-se o risco de ir ao inferno. Como luteranos não condenamos ninguém que está em erro quanto a algum artigo do Credo, mas condenamos aqueles que sabem do erro, mas preferem continuar no erro. Nossa esperança é que quando as pessoas são instruídas na doutrina e conseguem ver o erro pela orientação do Espírito Santo, aderem à verdade contida na Palavra de Deus. Os luteranos não condenam ninguém, a não ser aqueles que condenam a si mesmos pela resistência à verdade conhecida nas Sagradas Escrituras. Quando condenamos os reformados, católicos, o fazemos àqueles que conhecem a verdade, mas dela não querem saber. Não condenamos os católicos e reformados em geral, pois infelizmente, muitos estão lá na simplicidade de seus corações. O próprio Lutero disse: “...muitas coisas eu sei agora, Deus seja louvado! Eu não sabia naquele tempo. Eu venerava por causa do costume e do uso estabelecido”.
            Jesus disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Que nossos ouvidos estejam atentos ao ouvir que Jesus é a rocha. Só na rocha tenho a salvação. Só na rocha não serei abalado.
            Ao ouvir Jesus dizer: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), posso afirmar que a igreja luterana possui a doutrina pura e que continua firmada sobre a rocha que é Cristo.
            Quando Jesus disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18) estava se opondo ao que é ensinado por muitos ainda hoje. Há os que dizem: “não importa o que a igreja ensina, vocês precisam ouvir a igreja”. Na verdade, precisamos ouvir Jesus. E em algumas igrejas, Jesus não fala. Lembre-se! Jesus é a rocha. Jesus é a pedra angular na qual muitos estão tropeçando.
            Como igreja luterana, não somos a única igreja que salva, mas possuímos a pura e inadulterada verdade e por isso, eu amo ser luterano. Sou luterano por que nessa igreja, eu ainda continuo firmado na rocha que é Jesus, pois “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Amém!
 

Edson Ronaldo Tressmann

 

Bibliografia:

Walther, Carl Ferdinand Wilhelm. A correta distinção entre Lei e Evangelho. Edição completa. Tadução: Marie Luize Heimann. Porto Alegre: Ed. Concórdia,2005. pp. 291 - 298

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