09 de janeiro 2022
1º Domingo após Epifania – Batismo
do Senhor
Lecionário anual
Salmo 50.1-15; 1Reis 8.6-13;
Romanos 12.1-5; Lucas 2.41-52
Texto:
Salmo 50.15
Tema: Invoca-me
no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás. (Salmo 50.15)
Sem dúvida a palavra desse Salmo já
serviu muitas vezes de estímulo para invocar a Deus. Quantas vezes já temos
invocado a Deus, clamado por auxílio em momentos de aflição e de angústia.
Mesmo assim, levanto a pergunta: Compreendemos
bem esta palavra de Deus? Vamos analisá-la.
Quem está falando aqui? Deus pessoalmente está
falando (v.1).
Ele está falando para quem? Ele
está falando a seus filhos, aqueles que pela fé na graça de Cristo são seus
filhos. A estes ele dá uma ordem, um convite, e uma promessa.
Invoca-me.
A
ordem
é ao mesmo tempo é um convite: Invoca-me. Chama por mim. Clama. Apresenta-me tua
necessidade, teu problema, tua angústia.
Angústia - Especialmente quando? Na angústia. Angústia
é um sofrimento grande, uma aflição grande, uma tristeza profunda, um problema
desesperador para o qual a força humana não encontra solução.
Eu te livrarei Jesus promete livramento. É uma
promessa categórica, incondicional.
Jesus atenderá ao pedido imediatamente. E livrará a pessoa de sua
angústia. Será
possível? Sim, a promessa de Deus nos dá esta certeza. Ouçamos
novamente o versículo: Invoca-me no dia
da angústia; eu te livrarei.
O problema!
Aqui começa o grande problema. A
realidade da vida parece contradizer essa verdade. Quanto sofrimento em nosso
derredor. Quanta angústia no mundo. Hospitais cheios de doentes. Quanto
desespero. Quantos
clamores sobem diariamente a Deus? Mais de cem países em guerra.
Milhares de refugiados dos quais muitos são cristãos. Quantos clamores por socorro sobem diariamente
aos céus? Mas o céu parece
fechado. Deus parece não ouvir mais. A realidade da vida parece contradizer
esta afirmação de Deus.
Algumas
seitas têm uma resposta simples. Orações não são atendidas porque as pessoas
não têm fé suficiente. Será? Não, esta não é uma resposta correta.
Certo
pastor afirmou: Por muito tempo eu não tive coragem
para pregar sobre este texto. Ele se perguntava: Será que estou compreendendo bem este texto? De
que angústia Deus está falando aqui? O que significa a palavra: Invoca-me no dia da
angústia? Que angústia é essa da qual Deus está falando aqui? O que significa: Eu te livrarei?
O dito pastor foi compreender este texto
somente após ler o relato e a pregação de um pastor da Idade Média, que passou
a guerra dos Trinta Anos (1618 – 1648) Uma guerra cruel na qual os Católicos
queriam exterminar os protestantes na Europa.
Este
pastor relatou o seguinte: Eu estava pregando sobre esse texto: Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me
glorificarás, quando o culto foi interrompido por gritos e os
ouvintes saíram correndo para se esconder na mata. É que um grupo de
guerrilheiros havia invadido a vila. Mataram pessoas, queimaram casas. Um
horror. O pastor ficou na igreja, ajoelhado diante do altar, clamando a Deus
por compaixão e clemência. Alguns guerrilheiros chegaram à igreja. Pegaram o
pastor. Tiraram-lhe a roupa, zombaram, bateram, judiaram dele. O cemitério –
como era costume – ficava do lado da igreja. Ali estavam sepultados sua esposa
e seus filhos, vítimas da guerra. Na sepultura de sua esposa, a “pedra sepulcral” era uma cruz. Os
guerrilheiros pegaram o pastor e o amarraram semimorto e disseram: Podes morrer
como teu Jesus. Então foram embora. Acalmado o tumulto as pessoas
voltaram. Viram mortos pelas ruas, casas depredadas e saqueadas, algumas
queimadas. Alguns foram até a igreja e viram o pastor amarrado à cruz da
sepultura de sua esposa. Eles o soltaram. Ele ainda estava vivo e o levaram
para casa, onde cuidaram dele. Ele sobreviveu. Após alguns meses, recuperado,
ele pôde subir novamente ao púlpito. Ele iniciou seu sermão assim: No meu último
culto havíamos começado a meditar sobre o versículo 15 do Salmo 50, quando
fomos interrompidos. Hoje quero continuar esse sermão.
Todos nós, reunidos aqui hoje, passamos
por muitas aflições e sofrimentos. Temos clamado a Deus. E parece que Deus não
nos ouviu, não nos ouve, nem nos atende mais. Parece até que Deus não está aprovando
a causa de nossa confissão luterana que defendemos, pois sofremos uma derrota
após a outra. O rei Gustavo Adolfo, da Suécia, que veio em nosso socorro,
pereceu no campo de batalha. – Preciso, no entanto, dizer que toda essa
angústia, por mais cruel e dolorosa, não é ainda a angústia da qual fala o
nosso texto, no Salmo 50. Nosso texto fala de uma angústia muito, muito maior.
A angústia aqui está no singular e se refere à grande
angústia que a lei de Deus provoca na alma ao nos acusar de pecadores,
ao proferir sobre nós a sentença da maldição de Deus: “Pois a alma que pecar essa morrerá”
(Ez 18.4). Este
morrer não é simplesmente a morte do corpo, mas se refere à eterna
condenação, aos eternos horrores infernais. Dessa angústia nenhuma força humana, nem
nossa vida piedosa nos podem livrar. Somente Deus pode nos livrar dela. Deus nos diz
categoricamente: “Eu te livrarei”. Ele nos livrou por seu Filho, Jesus
Cristo, que se tornou nosso irmão, nascendo da virgem Maria, e como substituto,
em teu e meu lugar, em lugar de toda a humanidade, cumprir perfeitamente a lei
de Deus. Por seu amargo sofrer e morrer na cruz pagou a nossa dívida. Por sua
ressurreição declarou sua vitória sobre: Pecado, morte e Satanás. Vitória essa
que ele oferece agora por seu Evangelho e sacramentos a toda a humanidade.
Pelos quais o Espírito Santo opera e mantém a fé na graça de Cristo. Deus,
independente da fé, se forte ou fraca, promete atender, livrá-lo da angústia,
consolando com o perdão e a vida eterna. Como? Dizendo: “Tem bom ânimo, perdoados estão os teus
pecados” (Mt 9.2) e: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda
que morra, viverá e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente”
(Jo 11.25,26). Muitos invocaram a Deus diante da angústia da morte. Deus os
atendeu. Ele os firmou na fé. Podemos pensar nos milhares de mártires do
passado e do presente, os que foram jogados diante de leões, queimados,
martirizados até à morte, em nossos dias degolados ou encarcerados. Eles
suportaram tudo, não somente com coragem, mas louvando e glorificando a Deus,
em meio à dores, certos de que em breve estarão com o Salvador em sua glória.
Deus atendeu e livra, como ainda hoje
atende e livra. E nós entoamos hinos de louvor, mesmo no sepultamento de nossos
irmãos e irmãos na fé, pois sabemos que nossos queridos que partiram na fé em
Cristo, estão com o Salvador.
Cada dia invocamos a Deus, pedindo
perdão. Cada dia ele nos consola, por Palavra e sacramentos, com o perdão dos pecados.
Nisto incluímos também nossas pequenas
angústias materiais e corporais, sabendo que Deus ouve a seus filhos. Só que em
relação a essas angústias menores dizemos humilde e confiadamente: Seja feita a tua
vontade, entregando tudo nas mãos de Deus. Em tudo damos graças a
Deus e glorificamos o seu nome.
Terminado o sermão, a comunidade pôs-se
de pé e entoou um hino de louvor a Deus, por este consolo.
Após a leitura desse
relato e desse sermão, disse o pastor, compreendi melhor esse versículo e criei
coragem para pregar sobre o mesmo. Sem dúvida, nós devemos dizer o mesmo. Amém.
ERT
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