segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás. (Salmo 50.15)

 09 de janeiro 2022

1º Domingo após Epifania – Batismo do Senhor

Lecionário anual

Salmo 50.1-15; 1Reis 8.6-13; Romanos 12.1-5; Lucas 2.41-52

Texto: Salmo 50.15

Tema: Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás. (Salmo 50.15)

 

Sem dúvida a palavra desse Salmo já serviu muitas vezes de estímulo para invocar a Deus. Quantas vezes já temos invocado a Deus, clamado por auxílio em momentos de aflição e de angústia. Mesmo assim, levanto a pergunta: Compreendemos bem esta palavra de Deus? Vamos analisá-la.

Quem está falando aqui? Deus pessoalmente está falando (v.1).

Ele está falando para quem? Ele está falando a seus filhos, aqueles que pela fé na graça de Cristo são seus filhos. A estes ele dá uma ordem, um convite, e uma promessa.

Invoca-me. A ordem é ao mesmo tempo é um convite: Invoca-me. Chama por mim. Clama. Apresenta-me tua necessidade, teu problema, tua angústia.

Angústia - Especialmente quando? Na angústia. Angústia é um sofrimento grande, uma aflição grande, uma tristeza profunda, um problema desesperador para o qual a força humana não encontra solução.

Eu te livrarei Jesus promete livramento. É uma promessa categórica, incondicional.  Jesus atenderá ao pedido imediatamente. E livrará a pessoa de sua angústia. Será possível? Sim, a promessa de Deus nos dá esta certeza. Ouçamos novamente o versículo: Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei.

O problema!

Aqui começa o grande problema. A realidade da vida parece contradizer essa verdade. Quanto sofrimento em nosso derredor. Quanta angústia no mundo. Hospitais cheios de doentes. Quanto desespero. Quantos clamores sobem diariamente a Deus? Mais de cem países em guerra. Milhares de refugiados dos quais muitos são cristãos. Quantos clamores por socorro sobem diariamente aos céus? Mas o céu parece fechado. Deus parece não ouvir mais. A realidade da vida parece contradizer esta afirmação de Deus.

Algumas seitas têm uma resposta simples. Orações não são atendidas porque as pessoas não têm fé suficiente. Será? Não, esta não é uma resposta correta.

Certo pastor afirmou: Por muito tempo eu não tive coragem para pregar sobre este texto. Ele se perguntava: Será que estou compreendendo bem este texto? De que angústia Deus está falando aqui? O que significa a palavra: Invoca-me no dia da angústia? Que angústia é essa da qual Deus está falando aqui? O que significa: Eu te livrarei?

O dito pastor foi compreender este texto somente após ler o relato e a pregação de um pastor da Idade Média, que passou a guerra dos Trinta Anos (1618 – 1648) Uma guerra cruel na qual os Católicos queriam exterminar os protestantes na Europa.

Este pastor relatou o seguinte: Eu estava pregando sobre esse texto: Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás, quando o culto foi interrompido por gritos e os ouvintes saíram correndo para se esconder na mata. É que um grupo de guerrilheiros havia invadido a vila. Mataram pessoas, queimaram casas. Um horror. O pastor ficou na igreja, ajoelhado diante do altar, clamando a Deus por compaixão e clemência. Alguns guerrilheiros chegaram à igreja. Pegaram o pastor. Tiraram-lhe a roupa, zombaram, bateram, judiaram dele. O cemitério – como era costume – ficava do lado da igreja. Ali estavam sepultados sua esposa e seus filhos, vítimas da guerra. Na sepultura de sua esposa, a “pedra sepulcral” era uma cruz. Os guerrilheiros pegaram o pastor e o amarraram semimorto e disseram: Podes morrer como teu Jesus. Então foram embora. Acalmado o tumulto as pessoas voltaram. Viram mortos pelas ruas, casas depredadas e saqueadas, algumas queimadas. Alguns foram até a igreja e viram o pastor amarrado à cruz da sepultura de sua esposa. Eles o soltaram. Ele ainda estava vivo e o levaram para casa, onde cuidaram dele. Ele sobreviveu. Após alguns meses, recuperado, ele pôde subir novamente ao púlpito. Ele iniciou seu sermão assim: No meu último culto havíamos começado a meditar sobre o versículo 15 do Salmo 50, quando fomos interrompidos. Hoje quero continuar esse sermão.

Todos nós, reunidos aqui hoje, passamos por muitas aflições e sofrimentos. Temos clamado a Deus. E parece que Deus não nos ouviu, não nos ouve, nem nos atende mais. Parece até que Deus não está aprovando a causa de nossa confissão luterana que defendemos, pois sofremos uma derrota após a outra. O rei Gustavo Adolfo, da Suécia, que veio em nosso socorro, pereceu no campo de batalha. – Preciso, no entanto, dizer que toda essa angústia, por mais cruel e dolorosa, não é ainda a angústia da qual fala o nosso texto, no Salmo 50. Nosso texto fala de uma angústia muito, muito maior.

A angústia aqui está no singular e se refere à grande angústia que a lei de Deus provoca na alma ao nos acusar de pecadores, ao proferir sobre nós a sentença da maldição de Deus: “Pois a alma que pecar essa morrerá” (Ez 18.4). Este morrer não é simplesmente a morte do corpo, mas se refere à eterna condenação, aos eternos horrores infernais. Dessa angústia nenhuma força humana, nem nossa vida piedosa nos podem livrar. Somente Deus pode nos livrar dela. Deus nos diz categoricamente: “Eu te livrarei”. Ele nos livrou por seu Filho, Jesus Cristo, que se tornou nosso irmão, nascendo da virgem Maria, e como substituto, em teu e meu lugar, em lugar de toda a humanidade, cumprir perfeitamente a lei de Deus. Por seu amargo sofrer e morrer na cruz pagou a nossa dívida. Por sua ressurreição declarou sua vitória sobre: Pecado, morte e Satanás. Vitória essa que ele oferece agora por seu Evangelho e sacramentos a toda a humanidade. Pelos quais o Espírito Santo opera e mantém a fé na graça de Cristo. Deus, independente da fé, se forte ou fraca, promete atender, livrá-lo da angústia, consolando com o perdão e a vida eterna. Como? Dizendo: “Tem bom ânimo, perdoados estão os teus pecados” (Mt 9.2) e: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente” (Jo 11.25,26). Muitos invocaram a Deus diante da angústia da morte. Deus os atendeu. Ele os firmou na fé. Podemos pensar nos milhares de mártires do passado e do presente, os que foram jogados diante de leões, queimados, martirizados até à morte, em nossos dias degolados ou encarcerados. Eles suportaram tudo, não somente com coragem, mas louvando e glorificando a Deus, em meio à dores, certos de que em breve estarão com o Salvador em sua glória.

Deus atendeu e livra, como ainda hoje atende e livra. E nós entoamos hinos de louvor, mesmo no sepultamento de nossos irmãos e irmãos na fé, pois sabemos que nossos queridos que partiram na fé em Cristo, estão com o Salvador.

Cada dia invocamos a Deus, pedindo perdão. Cada dia ele nos consola, por Palavra e sacramentos, com o perdão dos pecados.

Nisto incluímos também nossas pequenas angústias materiais e corporais, sabendo que Deus ouve a seus filhos. Só que em relação a essas angústias menores dizemos humilde e confiadamente: Seja feita a tua vontade, entregando tudo nas mãos de Deus. Em tudo damos graças a Deus e glorificamos o seu nome.

Terminado o sermão, a comunidade pôs-se de pé e entoou um hino de louvor a Deus, por este consolo.

Após a leitura desse relato e desse sermão, disse o pastor, compreendi melhor esse versículo e criei coragem para pregar sobre o mesmo. Sem dúvida, nós devemos dizer o mesmo. Amém.

ERT

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