quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Jesus e a elite religiosa!

 31 de agosto de 2025

12º Domingo após o Pentecostes

Salmo 131; Provérbios 25.2-10; Hebreus 13.1-17; Lucas 14.1-14

Texto: Lucas 14.1-14

Tema: Jesus e a elite religiosa!

 

O texto de Lucas 14.1-14 apresenta um quadro vivo das tensões entre Jesus e a elite religiosa de sua época.

A primeira cena (Lc 14.1-6) se desenrola em um sábado, na casa de um líder fariseu.

O nome “fariseu” provavelmente deriva do hebraico perushim, que significa “separados”, indicando sua dedicação a uma vida de pureza e obediência à Lei de Moisés. Os fariseus se distinguiam por uma interpretação rigorosa e abrangente da Torá (a Lei de Moisés), que incluía não apenas as leis escritas, mas também as tradições orais transmitidas pelos anciãos. Os fariseus acreditavam que essas tradições tinham a mesma autoridade que a lei escrita, e se dedicavam a aplicá-las em cada aspecto da vida diária, desde a alimentação e o sábado até as relações sociais.

Jesus estava num ambiente religioso hostil. Nesse ambiente, conforme alguns sugerem, esse homem hidrópico foi colocado pelos fariseus como uma armadilha para Jesus.

Jesus, observa esse homem com hidropsia (inchaço devido ao acúmulo de líquido) e Jesus propõe uma pergunta: “A nossa Lei permite curar no sábado ou não?” (Lc 14.3).

A pergunta de Jesus colocou os fariseus numa encruzilhada. Se caso eles respondessem que a lei os permitia curar no sábado, estariam contradizendo suas tradições. Se a resposta fosse que a lei não permite curar no sábado, demonstrariam uma falta de compaixão chocante.

Por não responderem nada, Jesus usa ao citar o exemplo: “Se um filho ou um boi de algum de vocês cair num poço, será que você não vai tirá-lo logo de lá, mesmo que isso aconteça num sábado?” (Lc 14.5), destaca que a religião farisaica havia falhado em seu propósito fundamental: amar ao próximo como a si mesmo.

Jesus expõe e confronta o legalismo, o orgulho e o egoísmo. Como são os religiosos de nossa época? Quanto legalismo, orgulho e egoísmo é possível verificar nos religiosos de nossos dias?

Jesus expõe a falha de uma religiosidade que valoriza mais a letra da lei do que a vida humana e a misericórdia.

A compaixão é a essência do cristianismo.

Ao contar a parábola dos lugares de honra (Lc 14.7-11), Jesus diz que os convidados buscavam os melhores lugares à mesa. Essa parábola é como colocar um espelho para a vaidade humana. Ser honrado e prestigiado não é pecado, mas, buscar honra e prestígio é. Por isso Jesus lança um desafio: busque se humilhar e não se exaltar.

Humilhar-se significa colocar-se no seu lugar. Não querer apresentar-se como maior e melhor diante de qualquer pessoa por sua religiosidade. Ao dizer: “quem se engrandece será humilhado, mas quem se humilha será engrandecido” (Lc 14.11; 18.14; Mt 23.12), é um golpe no orgulho religioso que usava a lei de Deus não para adorar a Deus, mas, para criar uma hierarquia de méritos e superioridade diante das pessoas.

Por qual motivo você frequenta uma igreja?

Culto é uma reunião de “pobres pecadores” que, reconhece sua completa falta de mérito e por misericórdia recebe o perdão e a vida eterna como presente da parte de Deus em Jesus.

A igreja do eu isso e eu aquilo é farisaica e precisa atentar-se nas palavras de Jesus.

Caríssimos, quanto mais eu reconhecer meus pecados e a necessidade da graça de Deus, mais que quero estar na comunhão dos santos que são pecadores alcançados pela graça de Deus em Jesus. E eu particularmente, agradeço por vocês não saberem dos meus pecados, pois, acredito que não teriam misericórdia de mim. Louvo a Deus, pois em seu Filho Jesus foi e é misericordioso comigo.

Por fim, (Lc 14.12-14), Jesus se dirige ao fariseu que o convidou para o banquete no sábado e expõe o egoísmo que permeia as relações sociais.

Jesus lembra que os convidados são àqueles que podem retribuir com o mesmo convite. E o desafio é: convidar os que não têm a possibilidade de oferecer o mesmo convite.

Ao destacar o convite para os pobres, aleijados e cegos, é uma ilustração de Jesus sobre a natureza do Reino de Deus. O reino de Deus é um banquete para àqueles que não têm nada a oferecer em troca.

Graça só é graça por ser oferecida para os que não merecem. Eu sou alvo da graça de Deus em Jesus, pois, não mereço a salvação que a mim é alcançada.

Jesus apresenta aqui a essência do Evangelho. Pois, ainda hoje, Deus convida para o seu banquete àqueles que são espiritualmente pobres, incapazes de se justificar ou de merecer a salvação.

Jesus destaca um princípio essencial: não faça nada para receber algo em troca.

Precisamos cuidar e nos precaver do egoísmo das relações sociais. Nunca faça nada esperando retribuição. Faça por livre vontade, querendo fazer. Pois, se você fizer algo esperando algo em troca, isso mostrará seu egoísmo e lhe trará sofrimento, pois, dificilmente você receberá retorno daquela pessoa que você ajudou.

Infelizmente, muitos ainda agem e atuam apenas por interesse. Quantos religiosos ofertam, trabalham, fazem boas obras, esperando receber retribuição divina?

Jesus destaca que “...você será abençoado...” (Lc 14.14), fazendo de livre e espontânea vontade, sem interesse e egoísmo. Jesus conhece os corações e as mentes. Antes mesmo de dizermos uma palavra, ele já sabe o que vamos dizer (Sl 139). E é Jesus quem condena as ações e atitudes que apenas visam recompensa.

Caridade só é caridade quando realizada desinteressadamente. A caridade que apenas quer ser exposta nas redes sociais não é caridade, é orgulho, vaidade e egoísmo. Caridade não é um investimento com juros, é uma expressão de gratidão pelo amor que recebemos de Cristo. Amar e servir ao próximo sem esperar algo em troca é a prova de um coração transformado pela graça.

O episódio narrado por Lucas 14. 1-14, enfatiza que a religiosidade baseada em regras externas e nos méritos pessoais é uma forma de orgulho.

Jesus condena a religiosidade que visa apenas se colocar como “melhores” que os outros e que se esquece de que é pecador. Necessitamos da graça de Deus. E por essa necessidade estamos aqui hoje. Esse bebê que será batizado, nasceu pecador. Precisa, assim como eu preciso, da graça de Deus. E assim, como um bebê eu preciso receber a graça de Deus.

A graça de Deus não é dada por merecimento. É graça, e sendo graça, é oferecida sem mérito nenhum. E por graça, eu ainda sou convidado para o banquete celestial. Eu sei, que também não tenho nada para oferecer a Deus, por isso, no dia do meu batismo, Deus me concedeu o seu Espírito e como escreveu Paulo: “O Espírito Santo é a garantia de que receberemos o que Deus prometeu ao seu povo, e isso nos dá a certeza de que Deus dará liberdade completa aos que são seus. Portanto, louvemos a sua glória” (Ef 1.14).

Espiritualmente, todos nós somos os “pobres, aleijados e cegos” (Lc 14.13). Somos incapazes de nos justificar diante de Deus, por isso, o banquete é um convite de Jesus.

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Vivendo como criança desmamada!

 31 de agosto de 2025

Décimo segundo domingo após Pentecostes

Salmo 131; Provérbios 25.2-10; Hebreus 13.1-17; Lucas 14.1-14

Texto: Sl 131.2

Tema: Vivendo como criança desmamada!

 

...como a criança desmamada fica quieta nos braços da mãe, assim eu estou satisfeito e tranquilo, e o meu coração está calmo dentro de mim” (Sl 131.2).

 

Vivendo como criança desmamada!

Parte 1

A Inquietude do Descontentamento

Psicólogos elegeram Paulo como o homem mais feliz da terra, por causa de sua declaração: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4.13).

Vivemos num mundo de paradoxos. Há mais conforto, mais tecnologia e mais oportunidades do que em qualquer outro momento da história, e ainda assim, todos parecem descontentes. Exemplo disso, a Noruega, um país com alto índice de desenvolvimento, todavia, a prosperidade material não erradicou a tristeza, e isso está refletido em suas estatísticas de suicídio, 13 de cada 100 mil habitantes. Atualmente o dinheiro é o fator decisivo e não o ser humano.

John D. Rockefeller, fundador da a Standard Oil Company, empresa de petróleo e óleo dos EUA, mesmo com sua imensa fortuna, desejava “só um pouquinho mais” é uma ilustração sobre o descontentamento mesmo possuindo muito.

Você é uma pessoa descontente?

Descontentamento é um sentimento de insatisfação ou desconforto em relação a uma situação, pessoa ou condição específica. A principal fonte de descontentamento é a discrepância entre expectativa e realidade.

Na busca incessante do ter mais, a sociedade moderna, e até muitas igrejas, acabam se perdendo. O apóstolo Paulo na sua carta para Timóteo anota que a verdadeira riqueza não está na busca por mais, mas no contentamento com aquilo que se possui (1Tm 6.6). O descontentamento, como apontado por Judas (Judas 16), é uma marca dos falsos mestres, que prometem prosperidade material em nome da fé.

Há uma busca frenética pela felicidade, no entanto, se está sempre descontente. Esse descontentamento se apresenta entre os cristãos, que trocam de igreja a medida em que descobrem que em determinado seguimento há mais prosperidade. Ao registrar: “É claro que a religião é uma fonte de muita riqueza, mas só para a pessoa que se contenta com o que tem” (1Tm 6.6), o apostolo Paulo enfatiza que a verdadeira riqueza é estar contente com àquilo que recebe de Deus.

Quando na leitura do Salmo, ouvimos a metáfora da “criança desmamada”, recebemos a ilustração vivida da verdadeira paz cristã. Essa paz não vem de uma busca vertiginosa por conquistas ou bens, mas da total rendição e confiança em Deus.

O paralelo é claro: a criança desmamada não chora e nem se agita por comida, pois aprendeu que sua mãe a nutre no tempo certo. A criança desmamada está nos braços da mãe por puro contentamento, segurança e afeto, não por necessidade física imediata. E sua paz vem da presença da mãe, não da satisfação de um desejo.

O cristão, pela fé, não vive a “ansiedade da busca”. Pela fé, o cristão descansa em Deus, sabendo que tudo o que precisa será provido. Sua satisfação não está nas “coisas grandes” ou nos triunfos da vida, mas na presença do próprio Deus, no qual sua alma está satisfeita e tranquila por ter sua esperança no Senhor.

A reflexão do salmista ao ilustrar-nos como criança desmamada ensina a abandonar a ambição desenfreada e o orgulho, que só traz agitação à alma. A criança desmamada é uma ilustração para a confiança total e a dependência completa de Deus que traz a verdadeira paz, um estado de espírito que é essencial para uma vida de fé genuína.

As palavras do salmista “...como a criança desmamada fica quieta nos braços da mãe, assim eu estou satisfeito e tranquilo, e o meu coração está calmo dentro de mim” (Sl 131.2) é uma das mais belas e profundas analogias sobre a fé. São palavras que revelam o significado sobre a natureza da relação com Deus, a jornada da fé e a verdadeira paz.

Pelo evangelista Mateus, recebemos o registro de que Jesus convida a não andar ansiosos (Mateus 6.26-30). Jesus pede para que se olhe para os pássaros do céu e os lírios do campo. Esses não semeiam nem colhem, mas são cuidados por Deus. Assim, Jesus transmite a certeza do seu cuidado. Essa é a certeza que o salmista quer transmitir ao nos descrever como crianças desmamadas. O salmista destaca a confiança de quem está nos braços de um Pai que nutre e protege.

A imagem da “criança desmamada” destaca uma criança que passou por um processo de crescimento. Representa alguém que superou uma fase de busca e agitação.

A criança desmamada repousa nos braços da mãe por conforto e segurança, não por necessidade de alimento. Ela aprendeu a confiar na presença da mãe, mesmo sem a satisfação imediata de uma necessidade.

O ensino do Salmo (Sl 131.2) destaca que o cristão não busca mais a Deus apenas pelo que Ele pode dar, mas pela paz de sua presença. A descrição da criança desmamada enumera a fé que não depende de bênçãos visíveis, mas da certeza de que Deus está no controle. A paz do coração do salmista não vem da ausência de problemas, mas da sua total confiança em Deus.

O Salmo 131.2 é uma antítese da ansiedade e da preocupação. São palavras para um coração inquieto pelo seu descontentamento e busca por mais e mais.

Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14.27). A paz que Jesus oferece não é a ausência de conflitos e problemas, é uma tranquilidade interna que reside na certeza de sua presença mesmo nos problemas e conflitos. Essa calma é descrita pelo salmista.

Vivendo como criança desmamada!

Parte 2

A Paz que Vem da Confiança e da Gratidão

Ao iniciar o Salmo escrevendo: “Ó Senhor Deus, eu já não sou orgulhoso; deixei de olhar os outros com arrogância. Não vou atrás das coisas grandes e extraordinárias, que estão fora do meu alcance” (Sl 131.1), Davi reconhecia que sua vida tinha limites. Apesar disso, esse limite não o impedia de ser grato e confiar em Deus.

Ser orgulhoso significa acreditar que não se precisa de Deus. É um sentimento de autossuficiência. Assim, ao escrever “...eu já não sou orgulhoso; ...” (Sl 131.1), Davi destaca que depende exclusivamente de Deus. Sem Deus nada sou e pôr mais que possua, não estou satisfeito. A criança desmamada encontrou paz e segurança em confiar no Senhor.

Esse mundo moderno está roubando a paz e o sossego das pessoas. As pessoas correm atrás de tudo para se apresentar como alguém de valor para a sociedade. Por isso, a busca desenfreada para se ter a melhor casa, o melhor carro, a melhor roupa, ...e mesmo que consiga isso, não se está satisfeito.

É preciso aprender a viver “...como a criança desmamada fica quieta nos braços da mãe, assim eu estou satisfeito e tranquilo, e o meu coração está calmo dentro de mim” (Sl 131.2). Contentamento e confiança andam de mãos dadas.

Contentamento é a base da felicidade. Contentamento é saber-se cuidado por Deus. Querer mais, acumular mais, não é pecado, todavia, sua grande contribuição é gerar desconforto e insatisfação. Ao contrário disso, o autor a carta aos hebreus destaca que o contentamento gera dois resultados: em relação a Deus e em relação ao próximo (Hb 13.15-16).

A paz não está no ter mais, a paz está na confiança naquele que sustenta. A calmaria de um coração tranquilo, como o de uma criança desmamada, é um presente de Deus.

Um mendigo pediu comida na casa de um homem rico e, recebeu muito mais que comida, recebeu acolhimento, pode assentar-se à mesa e fazer companhia ao hospedeiro, e chegou a ser convidado para morar nessa casa. Sua reação foi perguntar: “O que posso fazer por você?” E a resposta do hospedeiro foi de que ele poderia ajudar em qualquer atividade doméstica e familiar. Todavia, o convite não era para ele fazer algo, mas para ser amigo da família.

O que este mendigo poderia fazer? A única resposta era viver em gratidão. Não há nada que aquele pobre homem possa dar além de sua gratidão. Tudo o que ele tinha era o que o anfitrião possuía e dispensava para ele.

Como criança desmamada recebemos de Deus tudo o que precisamos e nisso nos contentamos. Por essa razão nosso coração está tranquilo e calmo. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

terça-feira, 19 de agosto de 2025

“Façam todo o possível para entrar pela porta estreita” (Lucas 13.24)

 24 de agosto de 2025

Décimo primeiro domingo após Pentecostes

Salmo 50.1-15; Isaías 66.18-23; Hebreus 12.4-24; Lucas 13.22-30

Texto: Lucas 13.22-30

Tema: “Façam todo o possível para entrar pela porta estreita (Lucas 13.24)

 

Há pessoas que fazem uma pergunta com intuito de causar constrangimento. O intuito não é aprender.

Jesus teve que lidar com muitas questões que apenas visava conseguir alguma prova contra Jesus.

Em uma das suas jornadas, Jesus é questionado por um homem: “Senhor, são poucos os que são salvos?” (Lucas 13.23). Pergunta que reflete uma preocupação humana comum, que muitos ainda têm hoje: a salvação é para poucos ou para todos? Essa pergunta soa como uma dúvida sobre a justiça e o amor de Deus.

A resposta de Jesus, no entanto, desvia o foco da pergunta. Ele não se detém em números, mas em uma exortação direta e pessoal: Façam todo o possível para entrar pela porta estreita (Lucas 13.24). A palavra original em grego para “façam todo o possível” é agonizeste, “agonizar”. Não se refere a um esforço humano para “merecer” a salvação, mas sim, um empenho total para permanecer no caminho de Cristo, que é a própria “porta estreita”.

A resposta de Jesus “Façam todo o possível para entrar pela porta estreita”, pode ser mal interpretada como uma Lei, ou seja, uma exigência que o ser humano deve cumprir para ser salvo. Se a salvação dependesse do nosso “esforço” ou mérito, a incerteza e o desespero seriam inevitáveis, pois nunca saberíamos se fizemos o suficiente.

A salvação não se baseia nas nossas obras ou esforço. Ninguém pode se salvar por meio da Lei. A Lei tem a função de mostrar que somos pecadores e que somos incapazes de nos salvar por nós mesmos.

O verdadeiro “esforço” de que Jesus fala não é uma tentativa de se salvar pelas obras, mas sim a luta diária para permanecer na fé, resistindo às tentações e confiando unicamente na graça de Deus. A porta estreita não é um obstáculo que precisamos superar sozinhos, mas sim o próprio caminho da fé em Jesus Cristo, que já cumpriu toda a Lei por nós.

A resposta de Jesus à pergunta “são poucos os que são salvos?” não é uma sentença de condenação, mas uma exortação para abandonar a ideia de salvação por mérito e abraçar o Evangelho. O problema não é que Deus não queira salvar a todos, mas que muitos se perdem por tentar entrar por outra porta — a porta das obras e da justiça própria —, em vez de pela porta estreita que é Cristo.

A salvação é um dom de Deus, recebido pela fé, e não uma recompensa por nossos esforços. A nossa única certeza e consolo estão no Evangelho: Cristo morreu por nós e nos salva pela sua graça.

O esforço que Jesus fala não é uma lista de tarefas ou um conjunto de rituais religiosos. Jesus não incentiva o tipo de dedicação que muitos fariseus tinham, como o homem que orou no Templo e se gabou de seus jejuns e dízimos (Lucas 18.11-12).

A porta estreita, não é um desafio de mérito, mas sim um convite à intimidade real com Jesus, onde a salvação não é conquistada, mas recebida pela graça. O esforço é, na verdade, a resistência a tudo o que o mundo oferece e que nos afasta de Cristo. É o esforço de não abrir mão da fé, de permanecer fiel mesmo em meio às aflições, como escreveu o salmista: “Se me chamarem no dia da aflição, eu os livrarei, e vocês me louvarão” (Sl 50.15).

Assim como na época de Jesus, muitos hoje se apegam a privilégios ou tradições, pensando que estão salvos por fazerem parte de um grupo específico, como os judeus daquela época que se consideravam salvos por serem descendentes de Abraão. Jesus, contudo, alerta que muitos virão do Leste e do Oeste, do Norte e do Sul e sentar-se-ão à mesa no Reino de Deus (Lucas 13.29), enquanto àqueles que se consideravam os “primeiros” poderão ficar de fora.

Corre-se o risco sim de ouvir a frase “Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal” (Lucas 13.27). Isso não se aplica a quem falha, mas a quem escolhe viver uma vida de maldade, ignorando o convite de Jesus para crer nEle.

A salvação não é uma questão matemática, geográfica ou status social. É uma questão de crença e relacionamento com Jesus, que é a porta. O apostolo Paulo nos lembra que fomos escolhidos por Deus em Cristo antes da criação do mundo, por seu amor e vontade (Efésios 1.4-5). A salvação é um dom que recebemos por meio da fé, e nosso esforço deve ser o de entrar e permanecer nessa porta, que é o próprio Jesus.

Você já parou para pensar se o seu esforço se concentra em obras ou em uma relação genuína com Jesus?

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Ciclo de dependência e gratidão (Sl 50.15)

 24 de agosto de 2025

Décimo primeiro domingo após Pentecostes

Salmo 50.1-15; Isaías 66.18-23; Hebreus 12.4-24; Lucas 13.22-30

Texto: Salmo 50.15 e Lucas 13.24

Tema: Ciclo de dependência e gratidão.

 

A vida é uma sucessão de ciclos que moldam nossa jornada e nossa visão de mundo. Experiências passadas, sejam elas de alegria ou aflição, transforma e define quem se é.

No Salmo 50, Asafe, líder de louvor no tempo de Davi e Salomão, é um convite para refletir sobre um ciclo fundamental: ciclo da nossa relação com Deus.

O Salmo se inicia como uma teofania, uma manifestação grandiosa de Deus. Ele se assenta como Juiz, não para condenar, mas para corrigir a visão equivocada de seu povo sobre o culto. De um trono cercado por fogo e tempestade, Deus convoca o mundo inteiro para testemunhar um julgamento que tem como foco principal àqueles que, por meio de sacrifícios, tem uma aliança com Deus.

O problema, e Deus deixa isso claro, não era a falta de sacrifícios. O povo oferecia sacrifícios continuamente. A questão central estava na atitude por trás do ritual do sacrifício. Israel havia transformado um ato de adoração em uma barganha mecânica, como se Deus dependesse dos seus animais e sacrifícios e, assim tudo estava ok entre eles e Deus. Como critica a atitude dos hebreus, o salmista escreve o tom da ironia divina: “Pois os animais da floresta são meus e também os milhares de cabeças de gado espalhados nas montanhas... Se eu tivesse fome, não pediria nada a vocês, pois o mundo é meu e tudo o que nele há” (Salmo 50.10-12).

O sacrifício animal não foi instituído para suprir uma necessidade divina, mas para ser um símbolo de expiação e um ato de adoração sincera. Mas, devido à natureza pecaminosa, o povo, trocou o coração grato pela formalidade vazia.

Nesse contexto, Asafe, responsável pela adoração, sob a inspiração divina, apresenta o verdadeiro ciclo da adoração: “Que a gratidão de vocês seja o sacrifício que oferecem a Deus, e que vocês deem ao Deus Altíssimo tudo aquilo que prometeram! Se me chamarem no dia da aflição, eu os livrarei, e vocês me louvarão” (Salmo 50.14-15).

A correção divina aponta para a essência do culto, algo espiritual e interior, não apenas exterior. A gratidão é o verdadeiro sacrifício. Não é o ritual que salva ou protege, mas a confiança no caráter de Deus que cumpre sua promessa. O povo confiava em seus sacrifícios como se fossem amuletos, ignorando que o verdadeiro socorro vem de Deus, e não do ato religioso em si.

Nas palavras do versículo 15, Asafe revela um ciclo de dependência e gratidão: na aflição, clamamos a Deus, demonstrando total confiança em Deus; Deus nos livra por sua pura graça e não por mérito nosso; Nós o louvamos por ter socorrido.

Este ciclo nunca se encerra, pois, da aflição diária nos livre hoje. Deus ouve nosso grito de socorro no meio do clamor e nos socorre em meio a aflição.

O Salmo 50 é um sinal vermelho diante do formalismo religioso. Do que adianta aparência de piedade se o coração não confia em Deus?

Por mais bem intencionadas que sejam as obras, elas não são capazes de salvar ou garantir mérito diante de Deus. O convite do Salmo 50 não é: se esforcem mais, na verdade é, confiem. Aliás, esse é o sentido da frase dita por Jesus, registrada por Lucas: “Façam tudo para entrar pela porta estreita. ...” (Lc 13.24).

Façam tudo – (agonizeste) agonizar, significando um esforço que demanda energia. O verbo demonstra que não importa o que irei perder nesse mundo, mas, não posso perder a intimidade real com Jesus. É tal como passar por uma porta estreita, apertado e difícil, mas, vale a pena. A porta estreita significa intimidade real com Jesus, quer seja no momento de aflição (Sl 50.15) quer seja no passar por sofrimentos com louvores (Hb 12.7).

Tanto o livramento quanto a salvação são um dom, são uma manifestação da graça, não o resultado do mérito humano decorrente do sacrifício.

O Salmo 50 junto com as palavras de Jesus sobre a “porta estreita” é um maravilhoso chamado para a fé genuína. Salvação é um dom gratuito e isso torna o caminho, apesar de estreito, suportável. A confiança não está nos esforços, mas no Deus que livra em Jesus e merece todo o nosso louvor. Amém

Edson Ronaldo Tressmann

terça-feira, 12 de agosto de 2025

O martelo de Deus em um mundo do martelo de Thor (Jr 23.16-29)

 17 de agosto de 2025

Décimo Domingo após Pentecostes – Próprio 14

Salmo 119.81-88; Jeremias 23.16-29; Hebreus 11.17-31;12.1-3; Lucas 12.49-53

Texto: Jeremias 23.16-29

Tema: O martelo de Deus em um mundo do martelo de Thor.

 

Na mitologia nórdica, o martelo do deus Thor, o deus do trovão, era uma das armas mais poderosas dos deuses. Esse martelo era conhecido por sua capacidade de esmagar montanhas, derrotar gigantes e sempre retornar à mão de seu dono. Além de ser uma arma de batalha esse martelo era símbolo de força, autoridade e resistência; o martelo era usado em rituais para abençoar casamentos, nascimentos e funerais, garantindo fertilidade e prosperidade; sua força é física e destrutiva, capaz de causar tempestades e nivelar a terra, sendo uma manifestação do poder de Thor sobre a natureza.

A minha mensagem é como fogo, é como a marreta que quebra grandes pedras. Sou eu, o Senhor, quem está falando” (Jr 23.29).

No livro do profeta Jeremias, o martelo é usado como uma metáfora para a Palavra de Deus. O contexto dessa passagem bíblica traz uma denúncia de Deus contra os falsos profetas que falam de suas próprias imaginações, oferecendo uma mensagem de paz e prosperidade quando na verdade, Deus pronunciava que seu juízo estava por vir.

O martelo de Deus (Palavra), muito mais poderosa que o martelo de Thor, protege e oferece ordem contra o caos, conforme escrito: “...toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver. E isso para que o servo de Deus esteja completamente preparado e pronto para fazer todo tipo de boas ações” (2Tm 3.16-17); o martelo de Deus (Palavra) oferece bênção e consagração. Pela Palavra de Deus, crianças são transportadas para o Reino de Deus (Cl 1.13); com seu martelo, Deus auxilia como uma arma na luta contra os poderes espirituais (Ef 6.13).

A minha mensagem é como fogo, é como a marreta que quebra grandes pedras. Sou eu, o Senhor, quem está falando” (Jr 23.29).

Por essa metáfora, o profeta Jeremias anuncia que quebra a dureza do coração humano e destrói toda arrogância dos que resistem a verdade da Palavra.

- A Palavra de Deus expõe doutrinas falsas e destrói mentiras dos falsos profetas que enganam o povo anunciando-lhes uma mensagem que agradam os ouvintes.

- A Palavra não pode ser contida e nem sequer ignorada. Por si só alcança o objetivo que é salvar.

- O martelo de Deus não é uma arma de destruição, apenas quebra o orgulho humano para que esse se arrependa e receba a salvação.

O profeta Jeremias foi o profeta que mais teve que lidar com falsos profetas. Sofreu forte oposição de falsos profetas. Amparado pela Palavra de Deus, foi firme e fiel na pregação. Tanto que o trecho bíblico (Ir 23.16-29) é uma poderosa condenação dos falsos profetas que não estão transmitindo a mensagem de Deus. Os falsos profetas desde sempre expressam suas próprias imaginações. Dizem às pessoas o que elas querem ouvir, transmitindo uma mensagem de “paz” quando na verdade Deus quer transmitir coisas que muitas vezes as pessoas não querem, mas precisam ouvir, com intuito de que se arrependam e sejam salvas.

Nesse breve trecho, Jeremias 23.16-29, é possível destacar:

1 – O contraste entre a Palavra verdadeira e os sonhos falsos que conduzem a interpretações equivocadas.

A Palavra de Deus é comparada a um fogo que purifica e um martelo que esmiúça a rocha (Jr 23.29) enquanto as palavras dos falsos profetas são como palha, inútil (Jr 23.28). A Palavra de Deus, ante a palavra dos falsos profetas, oferece vida, pois é comparada ao trigo.

2 – A Onipresença de Deus.

Eu sou o Deus que está em toda parte e não num só lugar” (Jr 23.23).

3 - A responsabilidade pessoal.

A passagem implica que as pessoas têm a escolha de ouvir o verdadeiro profeta ou se deixar ser enganada por falsos profetas.

O texto de Jeremias 23.16-29, especial e atualíssimo, nos conecta aos desafios da nossa época. Afinal, continuamos rodeados por falsos profetas. Esses continuam ensinando doutrinas que não se baseiam na Bíblia, todavia faz sentido para a razão humana, agrada o sentimento e cai no gosto popular.

O texto de Jeremias 23.16-29 pode ser utilizado na defesa da “doutrina pura”, ou seja, na defesa do ensino claro da Escritura Sagrada. O mensageiro não diz o que quer, mas deixa Deus falar. A Palavra purifica, esmiuça e oferece vida.

Com base no texto de Jeremias 23.16-29 podemos observar um dos princípios do Luteranismo desde sua fundação. A Escritura Sagrada, o martelo de Deus é a única autoridade da Igreja. A autoridade máxima da Igreja não é o Papa, nem sequer o Bispo, pastor ou apostolo, ou mesmo Martinho Lutero. A nomenclatura evangélica em si já nos ensina que a última e única Palavra é o evangelho, é a Palavra de Deus.

Precisamos preservar a Autoridade das Escrituras – aliás, o que mais é atacado e combatido pelo diabo que anda em derredor para devorar é justamente a autoridade das Escrituras. Quando a Bíblia deixa de ser a Palavra de Deus, tudo a respeito de Deus passa a ser ignorado.

A Bíblia, que esmiuça, restaura e dá vida, é a única fonte e norma para a fé e a vida cristã. Não há revelação fora das Escrituras Sagradas. Só um falso profeta é capaz de dizer: Deus me revelou fora das Escrituras.

Além de preservar a autoridade das Escrituras, é urgente combater a Religião Centrada no Homem. Há muitos ensinos que se concentram na experiência, nas obras ou nos sentimentos humanos. Isso é algo realmente destrutivo, pois leva ao perigo de se desviar da graça de Deus oferecida em Jesus Cristo. Essa era a condenação do profeta Jeremias ao combater os falsos mestres e suas mensagens baseadas em sonhos (Jr 23.28).

Cuidemos para não agir como os falsos profetas da época do profeta Jeremias e cuidemos para não passar a dar ouvidos aos falsos profetas. Atentemo-nos em usar o martelo de Deus (Palavra) para oferecer a verdadeira paz que é dada ao pecador arrependido dos seus pecados. Atentemo-nos em ouvir com atenção tão somente a Escritura Sagrada, pois “...é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver. E isso para que o servo de Deus esteja completamente preparado e pronto para fazer todo tipo de boas ações” (2Tm 3.16-17).

O martelo de Deus é a própria Palavra poderosa e ativa de Deus.

Cuidemos para não ser como um dos três porquinhos que buscou se abrigar numa casa de palha. Os falsos profetas oferecem “palha” (Jr 23.28), Deus por seus profetas, pela sua Palavra oferece “trigo” (Jr 23.28), ou seja, vida e salvação.

Só a Palavra de Deus oferece e dá o que o ser humano tanto necessita: arrependimento, perdão e fé.

Num mundo que se ilude na esperança mitológica de um Martelo de Thor, Deus oferece seu martelo para dar e oferecer a verdadeira esperança.

Cuidado com àquilo que os falsos mestres possuem em comum: “Dizem coisas que eles mesmos inventam e não aquilo que eu falei” (Jr 23.16). Eles ignoram o que Deus disse por aquilo que eles querem dizer e retiram a única coisa que nos é oferecida gratuitamente: a salvação.

Por seu martelo, Deus primeiro nos esmiuça, ou seja, denuncia nossos pecados para depois nos encher com o perdão de Deus em Jesus. Amém

Edson Ronaldo Tresmann

 

Bibliografia

Carl Friedrich Keil (1807 – 1888) and Franz Delitzsch (1813 – 1890).

Editorial CLIE, 2019.

 

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Fé: a senha do wi-fi e a conexão com Jesus.

 17 de agosto de 2025

Décimo Domingo após Pentecostes – Próprio 14

Salmo 119.81-88; Jeremias 23.16-29; Hebreus 11.17-31;12.1-3; Lucas 12.49-53

Texto: Hebreus 11.17-31;12.1-3

Tema: Fé: a senha do wi-fi e a conexão com Jesus.

 

A fé é a chave que nos conecta à esperança e às promessas de Deus, transformando nossa jornada diária. Muitos heróis bíblicos nos ensinam que viver pela fé não é impor nossa vontade a Deus, mas sim nos curvar à vontade dEle. Há uma grande diferença entre viver com fé e viver como se quer, justificando as escolhas em nome de Deus.

O capítulo 11 de Hebreus, conhecido como o "capítulo da fé" é uma poderosa galeria de personagens do Antigo Testamento. Abel, Enoque, Noé, Abraão, Moisés, Sara — todos são exemplos de como a fé se manifesta em ações concretas. A vida deles nos mostra que a fé não é uma crença abstrata, mas uma convicção que molda decisões e sustenta, mesmo quando as circunstâncias parecem contradizer as promessas divinas.

Os personagens do Antigo Testamento foram citados em Hebreus 11 como modelo de perseverança para os cristãos. Era necessário citar esses, pois os que ouviriam e leriam a carta enfrentavam perseguição intensa e eram pressionados a abandonar a fé em Jesus e voltar ao judaísmo e suas muitas imposições religiosas. A citação de Abraão e Sara visava destacar justamente que ambos não retornaram à sua terra natal para não voltar a uma religião que não oferecia a redenção completa dos pecados.

A fé desses heróis, que caminharam com Deus e viram parte das promessas se cumprirem, era uma inspiração para que os fiéis continuassem firmes.

A intenção do autor, ao listar esses nomes, não era exaltá-los acima de outros, mas sim reforçar a importância de viver pela fé diante das adversidades. A fé, um dom de Deus (Ef 2.8), é o elemento essencial na nossa relação com Deus. A fé nos capacita a tomar decisões com confiança.

Abel mostrou sua fé com um coração alegre e grato, e sua oferta foi aceita por Deus.

Noé, em um tempo de descrença total, construiu a arca pela fé.

Abraão, cercado por idolatrias, ouviu o chamado de Deus e, pela fé, partiu de sua terra.

Sara, já idosa, teve um filho pela fé.

Moisés, pela fé, liderou a libertação do povo de Israel da escravidão.

Em cada um desses exemplos, vemos que a fé não é passiva. A fé é ativa, prática e dá sentido à jornada, permitindo avançar e obedecer mesmo quando tudo parece dizer o contrário.

A história de Abraão no sacrifício de Isaque mostra a lógica da fé que vai contra a lógica humana. Diante da ordem de Deus para Abraão sacrificar o filho prometido, Abraão não duvidou. A fé o levou a raciocinar que Deus, sendo fiel à sua promessa de uma grande descendência, teria poder até para ressuscitar Isaque. Não foi uma obediência cega, mas uma fé baseada na compreensão do caráter de Deus e na total confiabilidade de suas promessas.

A história de Moisés ressalta o poder da fé como uma escolha consciente. Ao renunciar à glória de ser “filho da filha de Faraó”, Moisés demonstrou que sua fé o fez valorizar a “desonra por causa de Cristo” acima de todos os tesouros e prazeres passageiros do Egito. Ele olhou para a recompensa eterna, e não para as glórias do mundo.

Os exemplos do Mar Vermelho, das muralhas de Jericó e de Raabe ensinam que a fé nos impulsiona à ação, mesmo diante de obstáculos gigantescos. A fé de Israel e de Raabe não se basearam em uma lógica militar, mas confiança nas ordens de Deus. O caso de Raabe é especialmente inspirador, pois mostra que a fé não está restrita a um único povo. A fé está disponível a todos.

 

- Abraão, Sara, Isaque, Jacó e José apontaram para o reino vindouro;

- Moisés revelou o Redentor prometido;

- A celebração da Páscoa indicou o cordeiro de Deus que dá a vida pelo mundo;

 

A fé nos faz escolher o melhor caminho, mesmo que isso custe renúncias e sofrimentos. A fé nos sustenta na esperança. A fé nos permite continuar agindo mesmo sem resultados imediatos. A fé nos ajuda a manter os olhos em Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé.

A fé permite avançar e obedecer mesmo quando tudo parece indicar que não vale a pena obedecer.

A fé dá sentido para a caminhada.

A fé faz ouvir o chamado de Deus.

A fé sustenta a esperança.

A fé faz perseverar durante a peregrinação nesse mundo temporário.

A fé permite continuar atuando mesmo sem resultado imediato.

A fé faz escolher o melhor caminho, mesmo que isto custe renúncias e sofrimentos.

A fé ajuda a olhar para Cristo, autor e consumador da fé, mesmo quando se é tentado a desviar esse olhar.

A fé é a certeza de que eu tenho futuro, quer seja aqui no mundo, mas principalmente o futuro eterno em Cristo.

A fé nos dá a certeza de um futuro, tanto nesta vida quanto na eternidade com Cristo. Eu tenho um amanhã.

Ao meditar sobre os heróis da fé, percebemos que eles enfrentaram medos e desânimos semelhantes aos nossos, mas pela fé foram sustentados pela fé. Essa lista de “heróis” pode se estender a muitos pais, amigos e familiares que, pela fé, permaneceram firmes em sua jornada.

O capítulo 12 de Hebreus nos convida a aplicar as lições dos heróis da fé em nossa caminhada. Eles são a "nuvem de testemunhas" (Hb 12.1). Observe que não são observadores, mas exemplos poderosos do que a fé pode fazer. Eles nos encorajam a correr a corrida da fé com perseverança, livrando-nos de todo peso e pecado que nos atrasa. Muitos desses personagens citados poderiam ter deixado a caminhada de lado. Abraão poderia ter preferido ficar com sua família. Moisés poderia ter optado em viver no luxo. Raabe poderia ter confiado no exército e não nos espiões.

Continuemos a orar: “seja feita a sua vontade, assim na terra como no céu” e assim pedindo o auxílio do nosso querido Pai celestial para não nos deixarmos levar por coisas e fatos que nos afastam da caminhada cristã.

A perseverança nessa jornada não depende da nossa própria força, mas de manter os olhos fixos em Jesus, que é a fonte e o destino final de nossa fé.

Jesus não é apenas um exemplo. Jesus é a razão de ser da fé.

Jesus suportou a cruz e a vergonha não por resignação, mas por um propósito: a alegria que o esperava. A alegria de Jesus foi cumprir a vontade do Pai e ver a nossa salvação. Essa alegria nos encoraja a focar na recompensa eterna em vez de desanimar pelas dificuldades temporárias. Olhar para Jesus é a chave para não desanimar na "corrida da fé". Amém.

Edson Ronaldo Tressmann

 

Bibliografia

LAUBACH, Fritz. Carta aos Hebreus: comentário Esperança. Tradução de Werner Fuchs. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2000.

 

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico: Hebreus e Tiago. Casa publicadora Paulista, 2023.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Sob os cuidados do Pai Celestial (Lc 12.22-34)

 Dia 10 de Agosto 2025

Mensagem dia dos Pais

Salmo 33.12-22; Gênesis 15.1-6; Hebreus 11.1-16. Lc 12.22-34

Texto: Lucas 12.22-34

Tema: Sob os cuidados do Pai Celestial 

É complexo o papel de pai. Tentar definir a paternidade é complexo, afinal, qual pai que não possui falhas e virtudes? Muitas vezes sentimos vergonha do pai que temos, pois, muitas vezes ele destaca mais suas imperfeições que suas qualidades. O mais difícil é quando numa discussão com outra pessoa, a mesma, tendo conhecido as imperfeições do seu pai, logo diz: você é igualzinho seu pai.

Ao ensinar a orar, Jesus desejando destacar que o Pai Celeste oferece e dá coisas boas aos seus filhos, disse: mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos (Lc 11.13). A única paternidade perfeita é a divina!

Mesmo o pai humano, sendo imperfeito e por isso, muitas vezes mau, sabe dar coisas, muito melhor, nos concede o Pai celestial.

A transição da pericope de Lucas 12.13-21 para o texto de Lucas 12.22-31 é salutar. E é um complemento entre ambas pericopes. No texto da parábola (Lc 12.13-21) Jesus alerta sobre o perigo da avareza.

Qual a periculosidade da avareza?

A avareza, amor ao dinheiro, não é um pecado financeiro. Na verdade, é uma espécie de idolatria. Minha vida se torna refém do dinheiro.

Certa vez Martinho Lutero escreveu que a pessoa gira ao redor de si. A comida que foi criada por Deus para servir à vida, a vida passou a servir a comida. As roupas que foram dadas por Deus para servir o corpo, o corpo passou a servir às roupas.

Tem pais tão ricos que nunca ofereceram tempo aos filhos por causa da avareza e tem filhos que só lembram dos presentes.

Para contrastar a avareza, Jesus passa a falar com seus discípulos (Lc 12.122ss) e lhes anuncia: “não se preocupem com a comida que precisam para viver nem com a roupa que precisam para se vestir” (Lc 12.22)

Aqui não é um mandamento para agir preguiçosamente. É um convite para confiar em Deus e não se deixar conduzir pela avareza que faz a pessoa ser consumida pelo excesso de futuro. Excesso de futuro apenas gera ansiedade.

Jesus passa a falar para que os seus não se preocupem com as coisas que o mundo busca avidamente.

Tanto a avareza quanto a ansiedade se alimentam da fraqueza da fé.

Por ansiedade não falo sobre a doença que acomete milhões de pessoas, sendo o Brasil o país com maior porcentagem de pessoas que sofrem desse mal (9,3%).

Ansiedade em Lucas 12 é o oposto da avareza. Enquanto a avareza é a busca em querer acumular muitas coisas para si mesmo, a ansiedade é medo de perder o que se tem.

A palavra grega para “ansiedade” (μερμναω) e significa uma preocupação excessiva. É uma mente dividida entre a fé em Deus e a confiança nos próprios recursos ou nas circunstâncias.

No Salmo 33.16-17 somos lembrados que a segurança não se encontra em poder militar, riqueza ou sabedoria humana. Essas seguranças são uma ilusão. Nesse ponto recordo-lhes que a polarização política, que está causando enormes estragos até mesmo dentro da igreja, deve-se a crença de que esse homem presidente ou outro homem presidente é o melhor. Quando o salmista escreveu: “Feliz a nação que tem o Senhor como o seu Deus! Feliz o povo que Deus escolheu para ser dele!” (Sl 33.12), sua intenção é destacar que o melhor que temos é ter Deus como Senhor e, seja qual for a bênção, ela provém de Deus. Quantas pessoas idolatram determinado governante? 

Ao escrever: “É o Senhor Deus quem protege aqueles que o temem, é ele quem guarda aqueles que confiam no seu amor. Ele os salva da morte e nos tempos de fome os conserva com vida.” (Sl 33.18-19), o salmista reforça a ideia de que dependemos exclusivamente de Deus.

Por essa razão, para nosso consolo e exortação, ouçamos a pergunta feita por Jesus: “Qual de vocês pode encompridar a sua vida, por mais que se preocupe com isso? Portanto, se vocês não podem conseguir uma coisa assim tão pequena, por que se preocupam com as outras?” (Lc 12.25-26).

Jesus diz que a preocupação é inútil. Nossos esforços humanos, por mais intensos que sejam, não alteram o curso da vida.

A preocupação exagerada com o futuro, o medo constante de não ter como sobreviver amanhã, é um esforço fútil que nada produz, apenas perde-se a alegria e a paz que Cristo oferece.

Para reforçar seu argumento do quanto a ansiedade, a preocupação excessiva com o amanhã, roubam a paz e o sossego, Jesus pede para que prestemos atenção aos corvos e as flores, destacando que se Deus cuida de criaturas tão insignificantes diante do todo, “...Então é claro que ele vestirá também vocês, que têm uma fé tão pequena!” (Lc 12.28).

Deus cuida! O fato é que a avareza, o desejo de acumular e a ansiedade, preocupação e medo do futuro, conduz a dúvida do cuidado de Jesus. Pelas palavras de Jesus, aprendemos que a ansiedade, a preocupação excessiva com futuro, é prova de uma fé fraca.

Nesse sentido, Abrão (Gn 15.1-6) nos dá uma importante lição. No início do capítulo 15 de Gênesis, Abrão, já velho, se mostra angustiado por não ter um herdeiro direto para que a promessa de Deus seja cumprida. Abrão se via sem força, estéril e impossibilitado. Ao ouvir a resposta de Deus: “Olhe para o céu e conte as estrelas se puder. Pois bem! Será esse o número dos seus descendentes” (Gn 15.5), Abrão creu na promessa de Deus. A fé de Abrão é dirigida para a promessa.

O Deus que promete é o Deus que provê.

A resposta de Jesus para a ansiedade não é se preocupar menos. Jesus propõe mudar o foco da vida. Onde está seu foco? Se o foco é acumular, chegará o ponto em que viverá preocupado até sobre o motivo das pessoas se aproximarem de você. Se o foco é precaver-se com medo de perder o que se possui, deixará de viver o hoje.

O foco que Jesus propõe é buscar o reino de Deus. Minha prioridade é o amanhã eterno e não somente o amanhã material.

Recorde-se da frase cheia de ternura dita por Jesus de que você faz parte do seu pequeno rebanho (Lc 12.32).

Ao destacar sua igreja como pequeno rebanho, Jesus afirma que assim como o passarinho, pequeno, mas cuidado por ele, assim como a flor, pequena e frágil, mas esplendida, o mesmo, se dará sob o pequeno rebanho, ao qual Deus agradou em dar o seu Reino, ou seja, o bom pastor Jesus.

Sobre o verdadeiro foco, Jesus transmite uma advertência prática: “...onde estiverem as suas riquezas, aí estará o coração de vocês” (Lc 12.34).

A ansiedade, a preocupação exagerada quanto ao futuro, decorre de um coração apegado as coisas materiais. O foco é crer e manter-se sob os cuidados de Cristo. Amém

 

Edson Ronaldo Tressmann

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Conserve vivo o dom de Deus (2Tm 1.6)

  05 de outubro de 2025 Décimo sétimo domingo após Pentecostes Salmo 62; Habacuque 1.1-4; 2.1-4; 2Timóteo 1.1-14; Lucas 17.1-10 Texto:...