terça-feira, 23 de setembro de 2025

Em quem confiar? (Sl 146)

 28 de setembro de 2025

Décimo sexto domingo após Pentecostes

Salmo 146; Amós 6.1-7; 1Timóteo 6.6-19; Lucas 16.19-31

Texto: Salmo 146

Tema: Em quem confiar?

 

Você já depositou confiança em alguém e essa pessoa te decepcionou?

Com toda a certeza a resposta é sim!

Seres humanos, por causa da sua pecaminosidade, são instáveis e decepcionam e algumas não são de confiança nenhuma.

As palavras do salmista “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 143.3) é um convite para uma reflexão profunda sobre onde se deposita a fé e a esperança. A Bíblia, em sua totalidade, reforça essa ideia de diversas maneiras, mostrando a fragilidade humana e a fidelidade divina.

A Bíblia está repleta de exemplos que ilustram por que a confiança em seres humanos é vã. Pessoas, por mais poderosas, ricas ou influentes que sejam, estão sujeitas a falhas, doenças e, por fim, à morte. A passagem de Isaías 2.22 ressoa: “Parem de confiar no homem, cuja vida não passa de um sopro em suas narinas. Que valor ele realmente tem?”. A história do rei Saul, que depositou sua confiança na força de seu exército em vez de em Deus, e a de Herodes Agripa I, que aceitou a adulação divina de seu povo e foi castigado por não dar glória a Deus, são exemplos claros da fragilidade humana.

O contraste do Salmo 146.3 é a confiança em Deus, tanto que no verso 5, o salmista escreveu: “Feliz aquele que tem o Deus de Jacó por seu ajudador; aquele cuja esperança está no Senhor, o seu Deus” (Sl 146.5). Enquanto os seres humanos são mortais e limitados, Deus é eterno, onipotente e fiel. Sua capacidade de ajudar não tem limites, e sua natureza não muda.

A confiança em Deus não é uma questão de otimismo cego, mas de fé naquilo que é imutável. Confiar em Deus é reconhecer que somente Ele pode dar a verdadeira paz, esperança e salvação. O profeta Jeremias resume essa dualidade: “Assim diz o Senhor: 'Maldito é o homem que confia nos homens... Bendito é o homem que confia no Senhor” (Jeremias 17.5, 7).

A mensagem do Salmo 146.3 não nos proíbe de pedir ajuda ou de valorizar as pessoas em nossas vidas. Pelo contrário, ela nos adverte a não colocarmos nossa segurança total e final em nenhuma pessoa. O conselho bíblico é para que nossas expectativas de salvação, segurança e propósito eterno sejam baseadas exclusivamente em Deus.

Isso nos liberta da decepção que inevitavelmente vem quando colocamos nossa fé em pessoas imperfeitas. Ao direcionarmos nossa confiança para Deus, podemos interagir com as pessoas de forma mais saudável, amando-as e servindo-as sem a pressão de que elas supram todas as nossas necessidades. A verdadeira paz vem de saber que, no final das contas, nossa esperança não está nas mãos de seres humanos, mas nas mãos do Criador.

As palavras “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 146.3), faz parte da história da nossa igreja.

C.F.C. Walther, Fundador e Primeiro Presidente do Sínodo de Missouri, teve uma grande decepção com a liderança humana. Isso o levou a reafirmar a única fonte de confiança: Deus.

Da mesma forma como o salmista se sentia “esmagado” e “prostrado”, Walther e sua comunidade estavam à beira do desespero após a queda de seu líder. O socorro não veio de um novo “homem importante”, mas do reconhecimento de que a fé não depende da perfeição de nenhum líder, e sim da fidelidade de Deus.

A situação histórica é conhecida como a “Crise de Stephan” ou o “Escândalo de Stephan”. Evento que marcou profundamente a vida dos imigrantes luteranos alemães que se estabeleceram em Missouri, EUA, em 1839.

Tudo começou quando um grupo de luteranos alemães, liderados por um carismático pastor chamado Martin Stephan, decidiu fugir da perseguição religiosa na Alemanha. Eles desejavam viver a sua fé sem a interferência do Estado e da Igreja oficial, que consideravam corrompida pelo racionalismo. Stephan era visto por eles como um profeta e um líder ungido, um “bispo” que os guiaria para a liberdade na América.

C.F.W. Walther, que na época era um jovem e promissor pastor, era um dos mais fervorosos seguidores de Stephan. Ele e outros pastores confiaram plenamente na liderança de Stephan, que os havia convencido a venderem seus bens e a seguirem-no para a América.

No entanto, logo após chegarem a Saint Louis, Missouri, a comunidade foi abalada por graves acusações contra Stephan. Descobriu-se que, enquanto eles viajavam e se estabeleciam na nova terra, Stephan estava envolvido em escândalos de má conduta sexual e financeira, além de exercer um poder autoritário sobre o grupo.

A revelação foi um choque devastador. A comunidade, que havia sacrificado tudo para seguir um líder que se mostrou um falso profeta, se sentiu desorientada e traída. Eles estavam em um país estrangeiro, sem recursos, e sua fé estava abalada. Era a beira do desespero.

Nesse momento de crise, C.F.W. Walther se destacou. Ele não negou o problema, mas, com base em sua fé, procurou uma solução. Walther convocou uma reunião histórica em Altenburg, Missouri, na qual confrontou a comunidade com a pergunta: “Afinal, o que nos faz uma igreja? O nosso líder humano ou a Palavra de Deus?

Essa crise serviu como um catalisador para a teologia de Walther. A partir dessa experiência amarga, ele enfatizou a importância de confiar apenas em Cristo e na sua Palavra, e não em líderes humanos. Foi a partir dessa crise que o Sínodo de Missouri se formou, com a clara convicção de que a verdadeira autoridade da Igreja reside nas Escrituras, e não na figura de um homem.

Ninguém, por mais importante ou talentoso que seja, está imune ao erro ou ao fracasso. A dependência excessiva de líderes, políticos ou figuras públicas pode levar à desilusão.

A fé genuína não se deposita em um ser humano, mas em Deus, que é o único que não falha e que tem o poder de nos salvar e guiar.

A resposta para o desespero e a decepção não está em procurar um novo “herói”, mas em voltar-se para o Evangelho, a única fonte de esperança e segurança, pois Jesus Cristo não é apenas um homem, mas o Deus que nos salva.

As palavras: “Não ponham a sua confiança em pessoas importantes, nem confiem em seres humanos, pois eles são mortais e não podem ajudar ninguém” (Sl 146.3) visa alertar para que não se confunda a fé em Deus com a confiança em seres humanos, por mais admiráveis que possam parecer. Amém.

Edson Ronaldo Tressmann

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seguir esse blog. Com certeza será uma bênção em sua vida.

Conserve vivo o dom de Deus (2Tm 1.6)

  05 de outubro de 2025 Décimo sétimo domingo após Pentecostes Salmo 62; Habacuque 1.1-4; 2.1-4; 2Timóteo 1.1-14; Lucas 17.1-10 Texto:...