05 de outubro de 2025
Décimo
sétimo domingo após Pentecostes
Salmo
62; Habacuque 1.1-4; 2.1-4; 2Timóteo 1.1-14; Lucas 17.1-10
Texto:
2Timóteo 1.6
Tema: Conserve
vivo o dom de Deus
“Por isso quero que você lembre de conservar vivo o dom de
Deus que você recebeu...” (2Tm 1.6)
Embora seja uma
conotação tipicamente cristã, a palavra reavivamento (despertar espiritual) aparece
nas cinco grandes religiões: cristianismo, hinduísmo, budismo, islamismo e
judaísmo.
Muito se fala,
quer seja em palestras, reuniões, redes sociais, sobre o despertar espiritual,
ou, reavivar algo.
Casais querem
reavivar seu relacionamento!
Igrejas buscam
reavivar os congregados!
Empresas buscam
reavivar seus colaboradores!
Reavivar
é uma palavra que está na moda.
O apóstolo Paulo escreveu
para o pastor Timóteo “reavivar a chama do dom
de Deus” (2Timóteo 1.6). Esse não é apenas um conselho pastoral, mas
uma chave para entender a vida cristã e o ministério sob a ótica da justificação pela graça mediante
a fé.
O “dom de Deus” que Timóteo recebeu não era uma
habilidade ou um talento humano, mas a própria fé e a vocação para o
ministério. O dom é a graça de Deus que o elegeu e o capacitou, e essa graça
não é algo que ele conquistou. O dom é puramente uma dádiva divina, um presente
que não pode ser merecido por obras, busca ou esforço.
O dom ao qual o
apóstolo Paulo se refere aqui pode ser vista como uma união de dois elementos: o ofício pastoral e a fé genuína. O evangelho o capacitou para
cumprir esse ofício pastoral e lhe concedeu a fé.
A exortação para “reavivar” traduzido como “conservar vivo” na nova tradução na linguagem
de hoje (NTLH) decorre de uma palavra grega anazōpyrein que significa
“atiçar o fogo” e não significa fazer
algo para ser aceito por Deus. É um chamado para que Timóteo se apegue e
utilize o dom que já lhe foi dado pela graça. Reavivar ou conservar vivo significa que há algo vivo
nele. Algo que lhe foi dado.
A Palavra de Deus
é a lenha que alimenta o fogo que ela mesma acendeu.
Exegetas destacam
que a exortação do apóstolo Paulo é uma resposta direta para Timóteo diante dos
seus medos, tal como a timidez o podia sucumbir. Reavivar o dom
nesse sentido significa confiar no dom que Deus concedeu, ou melhor, pare de
olhar para si mesmo. A obra é divina, e foi Deus quem acendeu e mantém acessa
esse dom.
O “dom de Deus” em si é a fé em Cristo e o
ofício pastoral concedido pela graça de Deus.
Isso é algo que o cristão recebe.
Acredito que
muitos de vocês já ouviram a frase atribuída a Martinho Lutero: “oração, meditação e tentação fazem um teólogo”.
Pensamento capturado da famosa frase em latim: “Oratio, Meditatio,
Tentatio faciunt Theologum”.
Um verdadeiro
teólogo não é apenas alguém com conhecimento acadêmico. Teologia não é uma
ciência abstrata, mas uma disciplina vivida, moldada pela experiência pessoal e
espiritual.
A oração é o
primeiro pilar. Oração não é uma formalidade, mas um diálogo constante com
Deus. Por mais que estudemos, não podemos entender as verdades espirituais por
nossa própria força. A Bíblia, por si só, pode ser um livro fechado sem a
iluminação do Espírito Santo.
A oração abre o coração
e a mente para a voz de Deus, permitindo que sua Palavra ressoe para nós e não
seja apenas um texto morto. É na oração que o estudo se torna uma experiência
de adoração. Por essa razão, Jesus ensinou a orar: santificado
seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a sua vontade assim na terra
como no céu...
“Oração, meditação e tentação fazem um teólogo”.
Meditação não é
esvaziar a mente, mas enchê-la com a Palavra de Deus. Meditar sobre as
Escrituras significa ir além da leitura superficial: é mastigar, digerir e
refletir sobre cada palavra. É um processo de ruminação onde a verdade bíblica
se infiltra em nosso ser, transformando nossos pensamentos e ações.
“Oração, meditação e tentação fazem um teólogo”.
É surpreendente saber que a tentação, provação, aflição faz
parte do processo do reavivamento do dom. As provações da vida, as
dúvidas, os sofrimentos, as perseguições e os conflitos espirituais, são
essenciais para o amadurecimento teológico.
Na tentação a fé é
testada. A tentação se dá quando o conhecimento acadêmico se mostra frágil
diante da dor real. Na luta se é forçado a se apegar à Palavra de Deus não como
uma teoria, mas como a única rocha sólida. Na tentação aprendemos a depender
totalmente de Deus, revelando nossa própria fraqueza e sua fidelidade
inabalável.
Reavivar o dom de Deus não é um
exercício meramente intelectual, é uma jornada espiritual e existencial. Se é forjado no fogo da oração,
enraizado na meditação da Palavra e amadurecido nas provações da vida.
Reavivar o dom é um convite para ser
mais do que um mero estudioso da Bíblia; é um desafio para viver a fé que se
professa. A vida cristã autêntica não está nos livros, mas numa vida vivida
diante de Deus e de suas promessas.
Reavivar o dom de Deus não é uma busca
para ganhar a aprovação de Deus. É um lembrete para Timóteo de que se apegue
firmemente à fonte de toda sua força e dom: se apague a graça de Deus que é
manifestada e nutrida através da Palavra de Deus, tanto na pregação, estudo e
nos sacramentos.
O “reavivar a chama” é a vida de fé ativa que se
sustenta na Palavra de Deus e se manifesta na pregação e no ministério fiel.
O dom é a capacitação do Espírito Santo para o
ministério. Reavivar o dom,
significa voltar-se para a graça de Deus diante dos desafios do ministério. Na
época da escrita, Timóteo poderia incorrer na vergonha do apóstolo Paulo que
estava preso e se tornar ainda mais tímido diante da pregação.
O fato é que na
sociedade greco-romana valorizava-se a honra e abolia a vergonha. Dessa forma,
Timóteo poderia se envergonhar da prisão de Paulo, haja visto ele Timóteo ser
filho de pai grego.
Levando isso em
consideração, o apóstolo Paulo lembra sobre o sofrimento na perspectiva do
evangelho, onde o sofrimento deixa de ser desgraça e passa a ser participação
no poder de Deus que traz vida da morte (2Tm 1.10).
Evangelho não é apenas uma mensagem. Evangelho é a
manifestação do poder de Deus.
O apóstolo Paulo
ao escrever essa carta para Timóteo, deseja encorajá-lo para que continue
apesar dos pesares, ser um ministro fiel e destemido enraizado na graça de Deus
em Jesus.
Eis uma exortação muito
importante para nossos dias, afinal, quantas situações decorrentes da atividade
pastoral que envergonham e intimidam muitos na proclamação. “Por isso quero que você lembre de conservar vivo o dom de
Deus que você recebeu...” (2Tm 1.6).
Recorde-se, que: conservar vivo indica
que há algo vivo em você. Algo lhe foi dado para o exercício do ministério. E o
ministério está nas mãos de Jesus (Ap 1.18-20). Amém
Edson
Ronaldo Tressmann
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