terça-feira, 18 de junho de 2024

“Que homem é este?” (Mc 4.41)

 23 de junho de 2024

Quinto Domingo após Pentecostes

Salmo 124; Jó 38.1-11; 2Coríntios 6.1-13; Marcos 4.35-41

Texto: Marcos 4.35-41

Tema: Que homem é este?” (Mc 4.41)

 

O objetivo do evangelho de Marcos é transmitir “a boa notícia que fala a respeito de Jesus Cristo, Filho de Deus...” (Mc 1.1).

Depois de um longo dia, onde Jesus ensinou sobre o Reino de Deus contando a parábola do semeador; da semente; do grão de mostarda; era preciso que os discípulos tivessem uma aula prática sobre a vida no Reino de Deus. Em especial sobre quem é Jesus, o Reino de Deus.

Era momento do Reino de Deus ser espalhado para os gentios. Eles iriam até Gerasa (Mc 5.1), onde Jesus curou um homem possesso por um demônio (Mc 5.2-20).

Era preciso saber quem era Jesus. Os discípulos, escolhidos por Jesus, depois de terem presenciado e vivido uma forte tempestade e Jesus ter acalmado a mesma questionam: “Que homem é este...?” (Mc 4.40).

Esse questionamento é muito pertinente, afinal, os discípulos que chamaram Jesus de Mestre, estavam duvidosos disso. O Mestre soa como, que Mestre é esse, que nos abandona no momento mais terrível da nossa vida. Vamos ouvir como os três evangelistas descrevem as palavras dos discípulos.

Mestre! Nós vamos morrer! O senhor não se importa com isso?” (Mc 4.38).

Socorro, Senhor! Nós vamos morrer!” (Mt 4.25).

Mestre, Mestre! Nós vamos morrer!” (Lc 8.24).

Por um momento os discípulos entenderam o sono de Jesus como que voltado contra eles. Parecia que Jesus os estava negligenciando. É o grito de Israel: “Acorda, Senhor! Porque estás dormindo? Levanta-te. Não nos rejeites para sempre” (Sl 44.23).

Jesus censura seus discípulos: “Por que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” (Mc 4.40).

Essas palavras soam como que Jesus estivesse dizendo, caríssimos discípulos, me admira a covardia de vocês. Não estão comigo num projeto? Recordem-se que ser discípulo não é apenas querer sobreviver. O discípulo não está livre das tempestades só por ser discípulo. E essa lição foi aprendida pelos discípulos. João escreveu as palavras de Jesus: “...No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o mundo” (Jo 16.33). O apostolo Pedro registrou: “...no mundo inteiro os seus irmãos na fé estão passando pelos mesmos sofrimentos” (1Pe 5.9).

E tanto João quanto Pedro registraram que era importante saber disso, pois, era preciso estar firme para enfrentar o diabo em dias conturbados, pois, ele nos tenta para abandonar a fé em Jesus e João destaca que as palavras de Jesus trazem paz no momento da dificuldade. João, Pedro, Paulo, Bartolomeu, Mateus, Judas, Tiago, enfim todos os discípulos, aprenderam que quando a ansiedade e o medo dominam, se é tentado a esquecer quem é Jesus.

Que homem é este...?” (Mc 4.40).

Essa foi a exclamação após o alívio da tempestade.

Antes de ensinar aos seus os questionando sobre sua covardia, Jesus trouxe alívio diante de algo que estava gerando ansiedade e medo.

Observe um detalhe no texto: houve um grande temporal, uma grande bonança e um grande temor.

Alguém comparou como uma tripulação de um navio no qual Jesus está dentro. Todavia, diante das circunstâncias difíceis questiona como se estivesse sendo negligenciada e esquecida por aquele que nunca dorme.

O Salmista Davi enfatizou: “Se o Senhor não estivesse do nosso lado ... teríamos sido engolidos vivos ... a enchente nos teria coberto ... teríamos morrido afogados ...Demos graças ao Senhor, que não deixou que os nossos inimigos nos destruíssem. ... O nosso socorro vem do Senhor Deus, que fez o céu e a terra” (Sl 124).

Tribulações e angústias são algo inerente e inevitável na vida cristã. A vida cristã é como a maré, altos e baixos.

As tempestades são muito úteis em nossa vida. O profeta Naum anunciou: “O Senhor tem seu caminho na tormenta e na tempestade” (Na 1.3).

A palavra tempestade só aparece duas vezes na Bíblia hebraica (Na 1.3; Jó 9.17). Jó questiona: “Porque me quebranta com uma tempestade” (Jó 9.17).

Podemos dizer que encontramos Deus quando nos encontramos com a tempestade. Foi na tempestade que os discípulos encontraram Jesus a ponto de exclamarem: “Que homem é este?

No milagre realizado por Jesus, acalmando a tempestade, recordamos as palavras do profeta Naum e também a mensagem dada por Jó de que “só Ele anda sobre as ondas do mar” (Jó 9.8).

Tal como os discípulos é comum no momento da tormenta, concluir que Deus não está nem aí para nossos sofrimentos.

Chama a atenção que tanto para Jó quanto para os discípulos, não há uma resposta sobre o porquê da tempestade. Os discípulos são repreendidos e Jó é questionado 32 vezes por Deus, sem que Jó pudesse responder uma só questão.

Deus não se interessa em responder o porquê dessa e daquela tempestade, desse ou daquele sofrimento.

Deus utilizou-se de um redemoinho para falar com Jó. E não aparece no texto que Jó tenha duvidado de que era o próprio Deus quem falava.

Jó, ou algum dos seus amigos, não eram capazes de dar explicações corretas sobre o que estava acontecendo. Deus desejava saber o motivo do atrevimento em questioná-lo em meio as suas ações, possivelmente respondendo Eliú.

Em meio as questões de Jó, Deus o desafia a ensiná-lo (Jó 38.3). E sabendo que isso não era possível, de maneira irônica e sarcástica, temos aqui um lembrete amoroso de que Deus é criador. Deus é criador da terra, do mar, do dia e da noite (Jó 38.4-7,8-11, 12-15).

Amorosamente Deus estava anunciando para Jó. Já que você não é capaz de responder essas questões e nem entender se eu explicar, apenas confie.

Interessante que em meio ao diálogo de Deus com Jó, há uma ordem curiosa: “cinge, pois, os lombos” (Jó 38.3). Ou seja, prenda as vestes para que possa facilitar a realização de serviços físicos e possa se esforçar. Prepare-se para o trabalho.

Como, se o corpo de Jó estava coberto de feridas?

Provavelmente essa expressão significa que Deus estava anunciando a Jó que tudo já estava por terminar.

Do meio de um redemoinho (Jó 38.1), “searah” (tempestade acompanhada por ventos fortes, assim como em 2Rs 2.1,11; Is 40.24).

Essa manifestação mostra que Deus não é impessoal, ao contrário, é um Deus que se revela e fala com os homens.

É significativo que Deus tenha se apresentado numa tempestade (Jó 40.6). Afinal, a tempestade causou a morte dos seus filhos (Jó 1.19). Todavia, apesar do infortúnio de uma tempestade (Jó 9.17), triunfa a vitória de Jó. É como dizer a tempestade tirou e a tempestade deu.

Tanto Jó quanto os discípulos pensaram que Deus os havia abandonado. Eles não entendiam o silêncio de Deus.

Nossas perguntas não pressionam a Deus para uma resposta. Ouçamos o profeta Isaías: “os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e eu não ajo como vocês” (Is 55.8). Por essa razão, precisamos refletir na pergunta de Deus quando enfrentarmos as tempestades: “As suas palavras só mostram a sua ignorância; quem é você para pôr em dúvida a minha sabedoria?” (Jó 38.2). Também na observação de Jesus: “Por que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” (Mc 4.40).

Vivendo em meio as tempestades, na certeza de que “o nosso socorro vem do Senhor Deus, que fez o céu e a terra” (Sl 124.8). Afinal, Que homem é este?” É Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Amém!

 

Edson Ronaldo Tressmann

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