terça-feira, 9 de abril de 2024

Oração em tempos de crise (Sl 4)

 

14 de abril de 2024

Terceiro Domingo de Páscoa

Salmo 4; Atos 3.11-21; 1João 3.1-7; Lucas 24.36-49

Texto: Salmo 4

Tema: Oração em tempos de crise.

 

Sob o tema: Deus, meu defensor recebemos o Salmo De Davi. Escrito para o regente do coro – para instrumento de cordas.

A expressão “mestre de canto” ou “regente do coro” aparece em 53 dos 150 Salmos.

O Salmo 4 e o Salmo 3 são de Davi. Os títulos são idênticos. Só há uma mudança no final do Salmo.

Percebe-se como o salmista se dirige a Deus com intimidade e ousadia.

O regente do coro era o “ministro de louvor” encarregado de preservar os salmos no templo ou Tabernáculo (1Cr 6.31,32; 15.16-22; 25.1-7).

Robert Hawker (anglicano, 1803-1875) destacou que a palavra hebraica é traduzida por “mestre de canto”, a Septuaginta (tradução do hebraico para o grego) optou por Lamenetz em vez de Lamentzothpara o fim”.

Por esse motivo, os pais gregos e latinos passaram a destacar que todos os salmos que têm essa inscrição referem-se ao Messias, “o grande final”. Dessa forma, este salmo é endereçado a Cristo.

A expressão hebraica “negîynâh” significa “acompanhado por instrumentos de corda”, referindo-se à harpa e à lira (1Cr 23.5; 25.1,3,6).

Na tradição judaica, a intensidade da alegria era tal que recorriam à música para expressar os sentimentos mais profundos de suas almas. O uso da harpa e da lira visa destacar a adoração a Deus e não apenas uma manifestação emocional.

A referência a instrumentos de cordas com as mãos visa evocar a imagem poética de que somos instrumentos nas mãos divinas. Como afirmava Gregório de Nazianzo: “Senhor, sou um instrumento para tu tocares”.

Davi, autor do salmo, estava enfrentando uma situação delicadíssima em sua vida: adversidades e ansiedade. E, dessa forma, Davi busca pela justiça de Deus. Davi busca paz em Deus.

 

Ó Deus, defensor dos meus direitos, responde-me quando eu te chamar! Eu estava em dificuldade, mas tu me ajudaste. Tem misericórdia de mim e ouve a minha oração” (Sl 4.1).

 

Um clamor ardente e aflito de Davi: “responde-me”.

Deus, defensor dos meus direitos” – é uma recordação dos muitos livramentos de Deus.

dificuldade, angústia” – situação sem saída. Era como se Davi estivesse num lugar encurralado. Ideia de uma pessoa num lugar apertado e sem saída. Isso contrasta com a palavra “alívio” “ajudaste” que traduz um termo hebraico que transmite o sentido de “lugar espaçoso”. Davi é uma testemunha de Deus em meio a intimidação.

 

Homens poderosos, até quando vocês vão me insultar? Até quando amarão o que não tem valor e andarão atrás de falsidade?(Sl 4.2)

 

Palavra dirigida aos que se rebelaram, proclamando Absalão como rei.

Homens poderosos” – são os líderes corrompidos por Absalão que desviaram o povo. Davi conhecia a artimanha de Absalão para enganá-los.

Davi está descontente com o fato de pessoas terem trocado a verdade de Deus pela mentira. Pessoas que passaram a gostar de “coisas vazias”.

 

Lembrem que o Senhor Deus trata com cuidado especial aqueles que são fiéis e ele; o Senhor me ouve quando eu o chamo (Sl 4.3).

 

Deus cuida de modo especial dos seus. O apostolo Paulo chega a destacar na carta aos Romanos que da maldade tira o bem para favorecer os que ama.

 

Tremam de medo e parem de pecar. Sozinhos e quietos nos seus quartos, examinem a sua própria consciência(Sl 4.4)

 

Devido as intensas emoções, muitos dos que seguiam Davi estavam à beira de perder o controle. Por isso, as palavras de Davi oferecem instruções aplicáveis às situações contemporâneas em que a raiva nos ameaça.

Parem de pecar” – cuidado, afinal, a raiva pode levar a palavras e ações pecaminosas, inclusive homicídio (Mt 5.21-26).

Na carta aos Efésios (Ef 4.26) o apostolo Paulo cita as palavras idênticas a esse versículo, ressaltando que nem toda ira, raiva, é pecaminosa. Qual raiva não é pecado? A chamada raiva santa. A raiva contra o pecado.

Examinem a sua própria consciência” – é fácil apontar o pecado do outro e ficar indignado. E os nossos?

Consultai com o coração: É fácil indignar-se com os pecados alheios enquanto ignoramos os nossos próprios (Mt 7.1-5). Davi mesmo havia caído nessa armadilha (2Sm 12.1-7). Em vez de ser consumido pelas atitudes dos outros, devemos fazer uma introspecção, examinando se há pecados em nosso próprio coração que precisamos confessar.

Calai-vos: A reflexão sincera sobre o nosso coração não deve gerar inquietação, mas sim levar-nos a confessar nossos pecados ao Senhor.

 

Ofereçam sacrifícios como o Senhor exige e ponham a sua confiança nele (Sl 4.5)

 

Os sacrifícios não podiam ser oferecidos no deserto, mas era possível fazer promessas para oferecê-los quando retornassem a Jerusalém. Em contraste, Absalão ofereceu sacrifícios hipócritas para impressionar o povo, mas Deus não os aceitou (1Sm 15.12; Salmo 50.14, 15).

A mensagem de confiança no Senhor (5b) destaca-se. Absalão confiava em sua liderança, exército, estratégias astutas e popularidade. Essa falta de confiança condenou seu plano ao fracasso.

Davi, além de ser um grande rei e estrategista militar, era um pastor amoroso preocupado com seu povo. Ele desejava que andassem com o Senhor, reconhecendo que a situação espiritual era mais crucial do que habilidades militares. Sabia que o Senhor concede vitória àqueles que confiam e obedecem (Salmo 51.16-19).

 

Há muitas pessoas que oram assim: “Dá-nos mais bênçãos, ó Senhor Deus, e olha para nós com bondade” (Sl 4.6)

 

Os líderes de Davi comunicaram ao rei as preocupações e desânimo evidentes entre o povo. A pergunta recorrente era: “Quem nos mostrará o bem?” Isso expressava o anseio por algo positivo em meio à situação difícil. Davi percebe a repetição constante dessas palavras de desânimo, criando uma atmosfera tensa.

Davi tem uma perspectiva diferente do “bem” desejado. Ele busca o resplendor do sorriso de Deus sobre ele e seu povo, algo mais profundo do que meras circunstâncias externas. A referência à bênção sacerdotal em Números 6.24-26 destaca a busca de Davi pelo favor divino.

Mesmo sem um sacerdote presente, Davi confia que Deus responderá às súplicas do seu coração. Ele almeja que o Senhor transforme as trevas em luz, substituindo não apenas a escuridão ao seu redor, mas também o desânimo por alegria.

Esse desejo reflete, portanto, a compreensão profunda de Davi sobre o que verdadeiramente constitui um “bem” duradouro.

 

Mas a felicidade que pões no meu coração é muito maior do que a daqueles que têm comida com fartura (Sl 4.7)

 

É interessante notar que a alegria experimentada por Davi supera até mesmo a exuberância associada a ocasiões de festa, como casamentos e colheitas abundantes entre os israelitas. Isso ressalta que a alegria oriunda da resposta divina transcende as alegrias terrenas.

Aprendemos na Bíblia que a alegria proporcionada por Deus é mais profunda e duradoura do que qualquer contentamento derivado de circunstâncias temporais.

Essa alegria divina é um tema recorrente nas Escrituras, destacando a riqueza espiritual que Deus concede àqueles que confiam Nele. Essa alegria representa não apenas uma mudança nas circunstâncias, mas uma reviravolta no próprio estado emocional e espiritual de Davi.

 

Quando me deito, durmo em paz, pois só tu, ó Senhor, me fazes viver em segurança (Sl 4.8)

 

Neste versículo final, Davi expressa seu louvor a Deus pela paz que antecede a batalha, uma tranquilidade que Deus depositou em seu coração antes mesmo da luta. Essa paz não é apenas a ausência de conflitos, mas representa uma plenitude de vida e confiança. Davi reconhece que essa paz é um dom divino, um descanso proporcionado por Deus, seu escudo protetor.

A referência ao Senhor como escudo remete à imagem de proteção divina que acompanha Davi desde os tempos difíceis descritos em outros salmos. Aqui, antes da batalha, ele encontra repouso sabendo que Deus é seu defensor e guardião. A paz que antecede a luta é uma evidência da presença e cuidado contínuos de Deus na vida de Davi.

A relação próxima entre Davi e Deus é simbolizada por esse sentimento de paz, onde o coração do salmista está ancorado na confiança do Senhor, independentemente das circunstâncias externas.

Essa paz divina é, portanto, um tema recorrente na experiência espiritual de Davi, destacando a profunda conexão que ele mantém com o seu Deus.

 

Edson Ronaldo Tressmann

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