segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Socorre-me mesmo que eu não mereça!

 27 de outubro de 2024

Vigésimo terceiro Domingo após Pentecostes

Salmo 126; Jeremias 31.7-9; Hebreus 7.23-28; Marcos 10.46-52

Texto: Mc 10.47

Tema 1: Socorre-me mesmo que eu não mereça!

Tema 2: Uma confissão de fé diante do chamado de Jesus!


Marcos, Lucas e Mateus registram o episódio desse homem que possuía a limitação da cegueira. Essa limitação o levou para a insuficiência da pobreza extrema a ponto de ter que mendigar.

Relatos históricos demonstram que esse homem chamado BartimeuBar – filho. Bartimeu – filho de Timeu. Esse Timeu era um general israelita aposentado.

Há fatos que a Bíblia não narra, todavia, a tradição auxilia. E pela tradição aprendemos que Timeu, o pai de Bartimeu, foi um general que serviu a Israel numa unidade militar. Após o serviço militar tornou-se um cidadão bem-sucedido e um comerciante.

O fato é que, com o domínio Romano na Palestina, seus bens foram confiscados e o soldo da aposentadoria cortado. Daí passou de um cidadão bem-sucedido a um cidadão rebelde. Por sua formação militar, liderou grupos de movimentos revoltosos contra os romanos e passou a ser classificado pelos romanos como uma pessoa de alta periculosidade.

Toda a família foi perseguida e Timeu foi preso, crucificado e morto. Seu filho Bartimeu passou a conviver com a perseguição a ponto de ter seus olhos perfurados pelos romanos. Os romanos furavam os olhos dos meninos com o objetivo de que não se tornassem um revolucionário.

Todos àqueles que eram contrários a ocupação romana, eram crucificados e seus familiares e seguidores perseguidos. Se caso o revolucionário tivesse filhos, os meninos eram feridos para se tornarem deficientes para que não seguissem os passos do pai. A pena mais comum era perfurar ou arrancar os olhos. Esse era o recado vivo dos romanos: “não sigam o exemplo do pai revolucionário”.

Jesus e seus discípulos iam desde as margens do Rio Jordão até Jericó na Judéia. Após uma caminhada de 8km, chegando em Jericó, nos é relatado mais um dos 38 milagres de Jesus.

Uma multidão seguia Jesus. Eram peregrinos indo até Jerusalém para a festa da Páscoa (Deuteronômio 16.16). Estavam a 30 km de distância de Jerusalém.

João Marcos descreve que quando Bartimeu: “... ouviu alguém dizer que era Jesus de Nazaré que estava passando, o cego começou a gritar: - Jesus, Filho de Davi, tenha pena de mim!” (Mc 10.47).

Observe que o simples fato daquele cego ouvir dizer que era Jesus de Nazaré, mesmo cego, o reconheceu como sendo o prometido da parte de Deus. Ele reconhece Jesus como Messias, por isso o chama de Filho de Davi.

Apesar de Filho de Davi ser uma crença amplamente divulgada entre os judeus daquele tempo, os líderes religiosos faziam questão de ignorar Jesus como Messias e o cumprimento das promessas de Deus em Jesus (João 1.11).

Bartimeu não perdeu a oportunidade ao ter ouvido que Jesus estava passando por ali. Ele gritou: “Jesus, Filho de Davi, tenha pena de mim!” (Mc 10.47).

Os judeus esperavam o descendente de Davi para libertá-los da opressão romana. Para os judeus, o Filho de Davi, traria fim a humilhação nacional, libertando Jerusalém e assumindo o cetro de seu governo. E é exatamente por isso que os judeus se recusavam e se recusam a crer e aceitar Jesus, o crucificado. O apostolo Paulo escreve sobre a obra redentora de Cristo na cruz na expectativa de comunicar aos judeus que o crucificado Jesus se tornou maldito em nosso lugar (Gl 3.13).

Na cruz, Jesus tornou-se o Messias não de acordo com as expectativas judaicas, mas de acordo com o plano elaborado por Deus.

Jesus, Filho de Davi, tenha pena de mim!” (Mc 10.47).

Que belo e necessário pedido! Tenha pena de mim!

Aquele homem vivendo todas as limitações humanas, só tinha uma súplica para fazer: misericórdia, compaixão.

Esse pedido demonstra o clamor de alguém que não tem o que apresentar diante de Deus. Era como se estivesse dizendo: Senhor, não tenho nada para te apresentar. Só clamo por misericórdia. Olha para mim com amor, mesmo sem que eu tenha realizado qualquer coisa para merecer sua ajuda.

Em Bartimeu encontramos um verdadeiro pequenino diante de Deus. “Deixai vir a mim os pequeninos...” (Lc 18.16).

Pequeninos são aqueles que não tem nada para apresentar a Deus. São aqueles que apenas esperam pela misericórdia divina. “Jesus, Filho de Davi, tenha pena de mim!” (Mc 10.47).

O clamor irritou a multidão que tentou impedir que o cego clamasse ou recorresse à Jesus. Todavia, esse homem, quanto mais era persuadido a se calar, mais gritava como que desesperadamente. Sabendo ser essa a sua única oportunidade.

Essa cena mostra o quanto o mundo tenta silenciar os que clamam e buscam a Deus mesmo em suas limitações e fraquezas. Temos que pensar em duas situações. A primeira, é quanto ao acolhimento dado a um pecador que adentra a igreja. A segunda é quanto a perseguição disfarçada que acontece na expectativa de silenciar os pequeninos. Quantas vezes os pequeninos, tal como Bartimeu são impedidos de se aproximar de Jesus.

Por um instante eu fico pensando na reação de Bartimeu.

Ao ser chamado por Jesus, Bartimeu joga sua capa de lado (Mc 10.50). Ele estava certo de que Jesus o iria curar.

A capa significa identidade. Era a capa que o identificava como mendigo e cego. A capa identificava sua miséria. Dessa forma, ao “jogar a capa para o lado” era uma confissão de que não era mais miserável e nem sequer cego. Por isso Jesus disse: “...você está curado porque teve fé” (Mc 10.52).

Outro detalhe: ao ser chamado, mesmo cego, Bartimeu corre até Jesus. Havia pressa e urgência e nada poderia atrapalhá-lo de ir até Jesus. E mesmo após curado, diferentemente de muitos, passou a seguir Jesus pelo caminho (Mc 10.52).

Houve outras curas e milagres, mas nem todos seguiram Jesus. Os milagres conforme o apostolo João era para que as pessoas cressem que Jesus era o Messias e crendo tenham a vida eterna (João 20.31). Os milagres, na Bíblia apenas 38 relatos, no entanto, houve muitos outros, visam levar as pessoas para fé.

Bartimeu, mesmo cego confessou sem ver o que muitos que viam não conseguiam confessar: Jesus é o Messias! Após curado, Bartimeu que agora enxergava, seguiu Jesus. Àquele que sempre estava na beira do caminho, à espera de alguém para ajudá-lo, agora segue pelo caminho que Cristo segue.

Ainda hoje há àqueles que apenas estão à beira do caminho e há àqueles que seguem pelo caminho.

Jesus teve, tem e sempre terá misericórdia dos pequeninos e seu desejo é colocá-los no seu caminho para sigam com ele até a cruz e seja salvo. Amém!


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Edson Ronaldo Tressmann

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