segunda-feira, 21 de julho de 2025

Aprendendo a orar! (Lc 11.1-13)

 27 de julho de 2025

Sétimo Domingo após Pentecostes

Salmo 138; Gênesis 18. 20 – 33; Colossenses 2. 6 – 15; Lucas 11. 1 – 13

Texto: Lucas 11.1-13

Tema: Aprendendo Orar!

 

A palavra orar e suas muitas variações ocorre 370 vezes na Bíblia.

Os evangelhos não narram todas as vezes que Jesus orou. Todavia, pelos registros dos evangelistas, há 25 ocorrências diferentes pelas quais Jesus orou.

Semana passada, ao refletir sobre a lição de Marta e Maria, aprendemos que as distrações acabam fazendo com que se perca o necessário. As distrações e as muitas demandas, tem conduzidos muitos a tomarem o nome de Deus em vão, ou seja, muitos não tem tirado tempo para orar.

Você sabe orar?

Com qual frequência você ora?

Um dos discípulos de Jesus pediu: “Senhor, nos ensine a orar, ...” (Lc 11.1).

Apesar de muitos terem aprendido a oração do Pai Nosso desde criancinha, é preciso entender o que oramos e o motivo pelo qual dizemos um sonoro amém para essa oração.

Dizer amém significa que sim, da forma como oramos é para acontecer.

Dessa forma, desejamos compreender o significado dessa oração ensinada por Jesus e assim, poder novamente dizer, amém – sim, que assim seja.

A oração não era algo desconhecido pelo povo de Deus. Temos muitos exemplos de pessoas que oraram (Moisés, Josué, Abraão, Jacó, Isaque, Elias, Habacuque, Davi, Daniel, Raquel, Débora, Ana, Ester...).

O profeta Isaías apresentou Deus como sendo o Pai Nosso (Is 63.15-16; 64.7-9). Nas orações feitas nas sinagogas, também se observava o costume de orar chamando Deus de nosso Pai. Mas, na sinagoga, a oração não era em tom de súplica.

Ao ensinar a orar, Jesus trouxe para o povo um modo de falar conhecido, no entanto, destacando o que se precisa pedir e chamando a Deus de Pai Nosso, Jesus dizendo Abba enfatiza Deus como um Pai em quem se pode confiar, um pai que está próximo.

Ao dizer, papaizinho amado, Jesus quer nos incentivar a orar na certeza de quem é esse Pai.

Saber quem é esse Pai é motivo para orar, sabendo que Ele concederá o melhor para seus filhos. Por essa razão, Lucas apresenta as palavras ditas por Jesus: “... peçam e vocês receberão; procurem e vocês acharão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todos aqueles que pedem recebem; aqueles que procuram acham; e a porta será aberta para quem bate. Por acaso algum de vocês será capaz de dar uma cobra ao seu filho, quando ele pede um peixe? Ou, se o filho pedir um ovo, vai lhe dar um escorpião? Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lc 11.9-13).

 

A oração do Pai Nosso nos foi deixada registrada duas vezes na Bíblia (Lc 11.2-4; Mt 6.9-13). Mesmo sendo apresentada duas vezes, há uma pequena diferença entre Mateus e Lucas.

O evangelista Mateus registra sete pedidos. O evangelista Lucas registra cinco pedidos.

Mateus 6.9-13

Lucas 11.2-4

Pai nosso, que estás nos céus,

Pai,

Santificado seja o teu nome;

Santificado seja teu nome;

venha o teu reino;

venha o teu reino

faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;

 

o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;

O pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia;

E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores;

perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo que nos deve;

e não nos deixe cair em tentação;

E não nos deixe cair em tentação.

mas livra-nos do mal

 

 

O fato de Mateus ter registrado sete pedidos é por causa do seu público. Para os judeus, o número sete é o número da perfeição, da totalidade de Deus. Todavia, tanto Mateus quanto Lucas preservam a estrutura sequencial da oração.

A oração é dirigida ao Pai; o seu nome deve ser santificado; se súplica pelo reino; pede por pão; súplica por perdão tanto na relação divina quanto humana; pede-se por livramento da tentação e das maldades.

Mateus parece indicar uma oração coletiva, por isso, faz uso do Pai Nosso. Estás nos céus remete a uma expressão judaica. Lucas, ao usar apenas Pai, coloca a oração em tom pessoal.

Ao acrescentar faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu, Mateus oferece uma explicação sobre a vinda do reino.

E por fim, quando Mateus enumera livra-nos do mal, seu intuito é enfatizar o que o apostolo Tiago desenvolve em sua epistola. Deus não é o autor da tentação.

Outra observação necessária é que Mateus destaca o pecado como sendo uma dívida (Mt 6.12). Mateus faz uso do termo grego τα όφειλήματα e Lucas usa o termo grego άμαρτίας. Mais uma vez, Mateus mostra-se ocupado com seu público judaico e referir-se ao pecado como uma dívida contraída com Deus é pensamento tipicamente judaico. Lucas que escreve para gentios sabe que seus leitores não estão familiarizados com a teologia hebraica e evita esses usos. Mateus deseja enfatizar o que Jesus de fato queria ensinar para que não ficasse numa interpretação judaica da oração e assim que seus leitores focassem no que de fato Jesus queria ensinar. Todavia, apesar disso, ambos, Mateus e Lucas relacionam o perdão ao perdão de uma dívida fazendo uso do termo grego όφείλοντι. E esse termo, bem como a oração destacam que o perdão brota da graça e Deus. Sem a graça de Deus não há perdão.

Um fato na oração do Pai Nosso é não querer destacar as diferenças da oração entre dois evangelistas como uma contradição, mas, recordar que essa oração ensinada por Jesus é possível orá-la de mil maneiras. Sempre destaco aos alunos de catecismo, é possível orar a oração do Pai Nosso todos os dias sem repetir suas palavras.

Esse é o intuito com essa mensagem. Aprender a orar assim como Jesus de fato ensinou a orar.

A oração de Jesus envolve minha vida com Deus; minha vida pessoal e minha vida com meu próximo.

 

Pai,

Santificado seja teu nome;

Venha o teu reino;

 

Esses pedidos se referem a minha vida com Deus.

Para os judeus o nome de Deus era considerado santo e não suportava impurezas. As impurezas causavam a morte de quem se aproximasse de Deus de forma impura. Dessa forma, pedir para que o nome de Deus fosse santificado, Jesus diz para que Deus nos santifique para assim nos aproximarmos dEle.

Deus nos santifica por sua Palavra. Nesse sentido, ao orar, santificado seja teu nome ora-se pela pregação da Palavra, pela existência da Igreja, pela capacidade de ouvir e entender a Palavra de Deus.

Deus nos santifica por sua Palavra pelo poder do Espírito Santo. Por essa razão, ao orar venha o teu reino o pedido é para Deus conceder o Espírito Santo para crer na Palavra de Deus.

Diante disso, quando ouvimos a sequência da oração registrada por Mateus: seja feita a sua vontade assim na terra como no céu; o evangelista Mateus visa enumerar que o perigo é ser impedido de ouvir e crer na Palavra de Deus. Assim, ao completar a oração santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a sua vontade assim na terra como no céu; aprendemos que ter uma vida com Deus eu preciso da Palavra de Deus. Corre-se o perigo de abandonar a pregação da Palavra. Com Maria e Marta aprendemos que as distrações tiram coisas necessárias da nossa vida, em especial o sentar-se aos pés de Jesus (Lc 10.38-42).

 

o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;

 

Jesus ao ensinar a orar a oração do Pai nosso, deseja enfatizar nossa vida com Deus, nossa vida pessoal e nossa vida com outras pessoas.

O pão é tudo aquilo que nos mantém vivos.

Suplicamos por vida, saúde, trabalho, comida, bom governo, bons amigos, carreira, ...

Recordemos a importância desse pedido. A partir da queda em pecado, Deus disse: “Por causa do que você fez, a terra será maldita. Você terá de trabalhar duramente a vida inteira a fim de que a terra produza alimento suficiente para você. Ela lhe dará mato e espinhos, e você terá de comer ervas do campo. Terá de trabalhar no pesado e suar para fazer com que a terra produza algum alimento;” (Gn 3.17-19).

Ter o necessário para o corpo e a vida é algo divino.

Para ter o que temos contamos com a graça de Deus, que governa esse mundo. Sem Deus, não haveria a semente, a chuva, o sol, a luz, as estrelas, as estações. Não dependemos apenas do nosso esforço e dedicação.

Ao orar: o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; reconhecemos que somos criaturas de Deus e que necessitamos do seu sustento. Orar, o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; é confessar que Deus é tudo o que eu tenho.

Observe um detalhe no texto de Lucas. O evangelista enumera que após ensinar a orar, Jesus enfatizou que: “Por acaso algum de vocês será capaz de dar uma cobra ao seu filho, quando ele pede um peixe? Ou, se o filho pedir um ovo, vai lhe dar um escorpião? Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lc 11.11-13).

Nós somos os filhos que suplicam e Deus é o nosso Pai. E mesmo se algum filho, seja tal o filho pródigo, que esteja longe de Deus. Ele não deixa nada faltar.

Se Deus concede bens apenas aos que estão na igreja, fácil seria saber quem está com Deus e quem não está.

 

e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixe cair em tentação;

 

Dívida ou pecado são sinônimos. Quem peca e como alguém que não paga uma dívida.

O perdão é uma graça divina e por essa graça, proveniente do nosso Pai atuamos para viver bem com nosso próximo. Deus deseja que tenhamos uma vida com ele e uma vida com nosso próximo.

Dessa forma, quando Lucas termina a oração de Jesus com a súplica: e não nos deixe cair em tentação; aprendemos que corremos o perigo de perder essa vida com Deus que nos é dada pela Palavra pelo poder do Espírito Santo e nossa vida de gratidão a Deus e a nossa vida com nosso próximo pela falta de perdão.

E o acréscimo do evangelista Mateus: mas livra-nos do mal o intuito é enfatizar que Deus não é o autor da tentação, pelo contrário, nos livra de todas as coisas provenientes da tentação.

Ao encerrar a oração, explicando que a tentação não é de origem divina, o evangelista Mateus enfatiza as palavras do apostolo Tiago: “Quando alguém for tentado, não diga: “Esta tentação vem de Deus.” Pois Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo não tenta ninguém. Mas as pessoas são tentadas quando são atraídas e enganadas pelos seus próprios maus desejos. Então esses desejos fazem com que o pecado nasça, e o pecado, quando já está maduro, produz a morte. Não se enganem, meus queridos irmãos. Tudo de bom que recebemos e tudo o que é perfeito vêm do céu, vêm de Deus, o Criador das luzes do céu. Ele não muda, nem varia de posição, o que causaria a escuridão” (Tg 1.13-18).

Deus, o nosso Pai, o Pai Nosso, é autor de todas as bênçãos espirituais, pessoais e sociais. Precisamos ser livrados do maligno e das maldades todos os dias.

Recordemos que o acréscimo posterior: “[Pois teu é o Reino, o poder e a glória, para sempre. Amém!]” (Mt 6.13), elucida que esse Pai Nosso age e atua nesse mundo, pois possui todo o poder e o louvor é todo para ele.

Amém – tudo isso é verdade e que assim seja orado e realizado.

 

Edson Ronaldo Tressmann

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Bibliografia

LUTERO, Martim. Catecismo Menor. Versão popular. 13° edição atualizada. Sinodal, 2008.

 

BIANCHI Enzo. Jesus: a enciclopédia. Petrópolis: Vozes, 2020.

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