Vigésimo sexto Domingo após Pentecostes
17
de novembro de 2024
Salmo
16; Daniel 12.1-3; Hebreus 10.11-25; Marcos 13.1-13
Texto: Hebreus 10.25
Tema: Não deixemos de congregar
“Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns;
antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”
(Hb 10.25)
Quantas
vezes se faz um favor pensando em receber algum favor em troca?
Não
sei você, mas, muitas pessoas quando precisam de um favor, vão logo dizendo:
lembra aquela vez que te ajudei...
As pessoas agradam
a Deus, ou, seus deuses, na expectativa de receber favores.
A religiosidade em
todo o mundo é permeada da tentação de abster-se de algum alimento, de
determinada prática, para assim receber o favor de Deus ou de seus deuses.
A religiosidade da
retribuição pelo oferecimento de algo está muito impregnada nas pessoas.
Quem já não pensou:
“não pode uma pessoa que serve a Deus passar por
dificuldades”.
As pessoas buscam
tratar Deus bem e agradá-lo com a expectativa de que nenhum mal sobrevenha até
sua casa.
Jesus em seu
discurso de despedida, poucas horas antes de ser crucificado, disse: “No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o
mundo” (Jo 16.33). Para Jó, Deus perguntou: “Quem é para pôr em dúvida a minha sabedoria...”
(Jó 38.2).
Na época em que
foi escrita a carta aos Hebreus, o império romano ainda era dominante. Os
romanos tinham um panteão de deuses e esses precisavam ser agradados na
expectativa de evitar qualquer tipo de punição dos deuses. Ritos e sacrifícios eram
observados. Além dos romanos, os judeus também tinham seus rituais e suas
regras religiosas relacionadas a moralidade e costumes alimentares e por elas
se julgavam merecedores dos favores divinos.
Na época em que a
carta aos Hebreus foi escrita, o templo estava destruído, e os judeus se
questionavam sobre a necessidade de realizar sacrifícios e sendo necessário, onde
realizariam o mesmo. Em contrapartida, os novos cristãos, os denominados ex gentios
se questionavam: precisamos realizar sacrifícios
para agradar a Deus?
A carta aos
hebreus foi escrita para responder as dúvidas sobre os ritos e sacrifícios que
agradavam a Deus. Uma resposta dada pelo autor a partir da graça. Pela lente da
graça, nenhum esforço humano é suficiente para merecer os benefícios de Deus.
Deus em sua graça,
mediante Jesus Cristo, concede gratuitamente o que não merecemos e nem
conseguimos adquirir por nós mesmos.
A carta aos
Hebreus é uma orientação teológica para nortear a vida da comunidade a partir
da graça. A orientação é simples: “não deixemos
de nos congregar...” (Hb 10.25).
Por muitas vezes
esse versículo foi e é citado para que as pessoas não abandonem a igreja. Não
há problema em citar esse versículo para isso. Todavia, a orientação teológica
é que não as abandone a fé em Jesus Cristo. Afinal, a referida congregação é a
mesma a qual Jesus se refere e foi registrado por Mateus: “A grande trombeta tocará, e ele mandará os seus anjos
para os quatro cantos da terra. E os anjos reunirão os escolhidos de Deus de um
lado do mundo até o outro” (Mt 24.31).
Para estar nessa
congregação é preciso ser escolhido e o próprio Jesus disse: “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu
que os escolhi para que vão e deem fruto e que esse fruto não se perca. Isso a
fim de que o Pai lhes dê tudo o que pedirem em meu nome” (Jo 15.16).
Diante da velha
tentação de querer agradar a Deus para adquirir méritos diante dEle, somos
orientados pela graça, na carta aos Hebreus de maneira simples: “não deixemos de nos congregar...” (Hb 10.25).
Ou seja, não dê as costas para Jesus Cristo. Ao contrário, é preciso animar
para que mais e mais pessoas estejam, retornem e permaneçam em Cristo Jesus.
O autor a carta
aos Hebreus debate a superioridade de Jesus Cristo e sua obra em detrimento do
Templo, do sacerdócio e do sacrifício (Hb 7.1 até 10.39).
A carta aos
Hebreus é uma orientação teológica para que ninguém abandone a Cristo, o
sacrifício perfeito e agradável a Deus.
A orientação
teológica da carta aos hebreus é para que se fuja da lógica humana que
prescreve que o pecador é capaz de agradar a Deus e “fazer por merecer” seus favores.
Querido amigo e
amiga, não importa o que eu faça – Deus, em sua graça, concede a mim o que bem
lhe apraz. Ele faz chover sobre bons e maus. Não é merecimento, é graça. De
maneira especial, graciosamente eu fui chamado para Cristo desde o meu batismo.
De
onde vem a tentação de querer “fazer por merecer” os favores de Deus?
O ser humano busca
e quer garantias.
A partir disso, a religiosidade
criou uma série de regulamentações para garantir ao praticante que àquilo que
dá certeza de controlar a Deus. Se eu me abstenho desse dia, desse lazer, dessa
comida, terei determinado favor divino. O ser humano se ilude em suas
garantias. Romanos e judeus cumpriam ritos e sacrifícios na expectação de serem
abençoados por seus deuses e por Deus. Contra essa lógica apreciada pelas
pessoas, a carta aos hebreus indica apenas uma garantia: o sacrifício de Cristo.
Por essa razão, exorta: “Não deixemos de
congregar-nos, ...”, não deixe a única garantia que você tem de Deus
quanto a sua salvação.
Congregar é muito mais que pertencer a um grupo
religioso. Congregar
é estar em Cristo.
Jesus Cristo é o
único sacrifício que me torna agradável a Deus. Só por Jesus Cristo que eu
mereço a salvação de Deus. As regras e os sacrifícios humanos nada fazem em
relação a mim e a Deus.
Estar em Cristo não é uma obra humana!
Deus tomou e toma a iniciativa de aproximar-se do ser humano e hoje fará isso
através do Batismo. O Álvaro será congregado em Cristo.
Ao longo da sua
vida, ele será assediado para que abandone essa congregação. Ele assim como
muitos de nós, será assediado para as realizações humanas, as regras, os
sacrifícios, as abstenções, como garantia de algo em relação a Deus. Mas, o
sinal da cruz, no peito e na testa, é a garantia de Deus de que pela graça de
Cristo ele, e qualquer um é salvo.
Hebreus é uma
breve orientação teológica para o nosso viver diário: não deixemos de
congregar ... não deixemos Cristo, o sacrifício e a realização
de Deus para minha salvação. Amém.
Edson Ronaldo Tressmann