27 de julho de 2025
Sétimo
Domingo após Pentecostes
Salmo
138; Gênesis 18. 20 – 33; Colossenses 2. 6 – 15; Lucas 11. 1 – 13
Texto:
Lucas 11.1-13
Tema:
Aprendendo Orar!
A palavra orar e
suas muitas variações ocorre 370 vezes na Bíblia.
Os evangelhos não
narram todas as vezes que Jesus orou. Todavia, pelos registros dos
evangelistas, há 25 ocorrências diferentes pelas quais Jesus orou.
Semana passada, ao
refletir sobre a lição de Marta e Maria, aprendemos que as distrações acabam
fazendo com que se perca o necessário. As distrações e as muitas demandas, tem
conduzidos muitos a tomarem o nome de Deus em vão, ou seja, muitos não tem
tirado tempo para orar.
Você
sabe orar?
Com
qual frequência você ora?
Um dos discípulos
de Jesus pediu: “Senhor, nos ensine a orar, ...”
(Lc 11.1).
Apesar de muitos
terem aprendido a oração do Pai Nosso desde criancinha, é preciso entender o
que oramos e o motivo pelo qual dizemos um sonoro amém para essa oração.
Dizer amém
significa que sim, da forma como oramos é para acontecer.
Dessa forma,
desejamos compreender o significado dessa oração ensinada por Jesus e assim,
poder novamente dizer, amém – sim, que assim seja.
A oração não era
algo desconhecido pelo povo de Deus. Temos muitos exemplos de pessoas que
oraram (Moisés, Josué, Abraão, Jacó, Isaque, Elias, Habacuque, Davi, Daniel,
Raquel, Débora, Ana, Ester...).
O profeta Isaías
apresentou Deus como sendo o Pai Nosso (Is 63.15-16; 64.7-9). Nas orações
feitas nas sinagogas, também se observava o costume de orar chamando Deus de
nosso Pai. Mas, na sinagoga, a oração não era em tom de súplica.
Ao ensinar a orar,
Jesus trouxe para o povo um modo de falar conhecido, no entanto, destacando o
que se precisa pedir e chamando a Deus de Pai Nosso, Jesus dizendo Abba enfatiza Deus como um Pai em quem se pode
confiar, um pai que está próximo.
Ao dizer, papaizinho
amado, Jesus quer nos incentivar a orar na certeza de quem é esse Pai.
Saber quem é esse
Pai é motivo para orar, sabendo que Ele concederá o melhor para seus filhos.
Por essa razão, Lucas apresenta as palavras ditas por Jesus: “... peçam e vocês receberão; procurem e vocês acharão;
batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todos aqueles que pedem
recebem; aqueles que procuram acham; e a porta será aberta para quem bate. Por
acaso algum de vocês será capaz de dar uma cobra ao seu filho, quando ele pede
um peixe? Ou, se o filho pedir um ovo, vai lhe dar um escorpião? Vocês, mesmo
sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está
no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lc 11.9-13).
A oração do Pai
Nosso nos foi deixada registrada duas vezes na Bíblia (Lc 11.2-4; Mt 6.9-13). Mesmo
sendo apresentada duas vezes, há uma pequena diferença entre Mateus e Lucas.
O evangelista Mateus
registra sete pedidos. O evangelista Lucas registra cinco
pedidos.
Mateus
6.9-13 |
Lucas
11.2-4 |
Pai
nosso, que estás nos céus, |
Pai, |
Santificado
seja o teu nome; |
Santificado
seja teu nome; |
venha
o teu reino; |
venha
o teu reino |
faça-se
a tua vontade, assim na terra como no céu; |
|
o
pão nosso de cada dia dá-nos hoje; |
O
pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia; |
E
perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores; |
perdoa-nos
os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo que nos deve; |
e
não nos deixe cair em tentação; |
E
não nos deixe cair em tentação. |
mas
livra-nos do mal |
|
O fato de Mateus
ter registrado sete pedidos é por causa do seu público. Para os
judeus, o número sete é o número da perfeição, da totalidade de Deus. Todavia, tanto
Mateus quanto Lucas preservam a estrutura sequencial da oração.
A oração é
dirigida ao Pai; o seu nome deve ser santificado; se súplica pelo reino; pede
por pão; súplica por perdão tanto na relação divina quanto humana; pede-se por
livramento da tentação e das maldades.
Mateus parece
indicar uma oração coletiva, por isso, faz uso do Pai Nosso. Estás nos céus remete a uma expressão judaica.
Lucas, ao usar apenas Pai, coloca a oração em tom pessoal.
Ao acrescentar faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu,
Mateus oferece uma explicação sobre a vinda do reino.
E por fim, quando
Mateus enumera livra-nos do mal, seu
intuito é enfatizar o que o apostolo Tiago desenvolve em sua epistola. Deus não
é o autor da tentação.
Outra observação
necessária é que Mateus destaca o pecado como sendo uma dívida (Mt 6.12). Mateus
faz uso do termo grego τα όφειλήματα e Lucas usa o termo grego άμαρτίας. Mais uma
vez, Mateus mostra-se ocupado com seu público judaico e referir-se ao pecado
como uma dívida contraída com Deus é pensamento tipicamente judaico. Lucas que
escreve para gentios sabe que seus leitores não estão familiarizados com a
teologia hebraica e evita esses usos. Mateus deseja enfatizar o que Jesus de
fato queria ensinar para que não ficasse numa interpretação judaica da oração e
assim que seus leitores focassem no que de fato Jesus queria ensinar. Todavia,
apesar disso, ambos, Mateus e Lucas relacionam o perdão ao perdão de uma dívida
fazendo uso do termo grego όφείλοντι. E esse termo, bem como a oração destacam
que o perdão brota da graça e Deus. Sem a graça de Deus não há perdão.
Um fato na oração do Pai Nosso é não querer destacar as
diferenças da oração entre dois evangelistas como uma contradição, mas,
recordar que essa oração ensinada por Jesus é possível orá-la de mil maneiras.
Sempre destaco aos alunos de catecismo, é possível orar a oração do Pai Nosso
todos os dias sem repetir suas palavras.
Esse é o intuito
com essa mensagem. Aprender a orar assim como Jesus de fato ensinou a orar.
A oração de Jesus envolve minha vida com Deus; minha vida
pessoal e minha vida com meu próximo.
Pai,
Santificado seja teu nome;
Venha o teu reino;
Esses pedidos se
referem a minha vida com Deus.
Para os judeus o
nome de Deus era considerado santo e não suportava impurezas. As impurezas
causavam a morte de quem se aproximasse de Deus de forma impura. Dessa forma,
pedir para que o nome de Deus fosse santificado, Jesus diz para que Deus nos santifique
para assim nos aproximarmos dEle.
Deus nos santifica por sua Palavra.
Nesse sentido, ao orar, santificado seja teu nome ora-se pela
pregação da Palavra, pela existência da Igreja, pela capacidade de ouvir e
entender a Palavra de Deus.
Deus nos santifica por sua Palavra pelo poder do Espírito
Santo.
Por essa razão, ao orar venha o teu reino
o pedido é para Deus conceder o Espírito Santo para crer na Palavra de Deus.
Diante disso,
quando ouvimos a sequência da oração registrada por Mateus: seja feita a
sua vontade assim na terra como no céu; o evangelista Mateus visa
enumerar que o perigo é ser impedido de ouvir e crer na Palavra de Deus. Assim,
ao completar a oração santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja
feita a sua vontade assim na terra como no céu; aprendemos que ter uma vida com
Deus eu preciso da Palavra de Deus. Corre-se o perigo de abandonar a pregação
da Palavra. Com Maria e Marta aprendemos que as distrações tiram coisas
necessárias da nossa vida, em especial o sentar-se aos pés de Jesus (Lc
10.38-42).
o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;
Jesus ao ensinar a
orar a oração do Pai nosso, deseja enfatizar nossa vida com Deus, nossa vida
pessoal e nossa vida com outras pessoas.
O pão é tudo
aquilo que nos mantém vivos.
Suplicamos por
vida, saúde, trabalho, comida, bom governo, bons amigos, carreira, ...
Recordemos a
importância desse pedido. A partir da queda em pecado, Deus disse: “Por causa do que você fez, a terra será maldita. Você
terá de trabalhar duramente a vida inteira a fim de que a terra produza
alimento suficiente para você. Ela lhe dará mato e espinhos, e você terá de
comer ervas do campo. Terá de trabalhar no pesado e suar para fazer com que a
terra produza algum alimento;” (Gn 3.17-19).
Ter o necessário
para o corpo e a vida é algo divino.
Para ter o que
temos contamos com a graça de Deus, que governa esse mundo. Sem Deus, não
haveria a semente, a chuva, o sol, a luz, as estrelas, as estações. Não
dependemos apenas do nosso esforço e dedicação.
Ao orar: o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;
reconhecemos que somos criaturas de Deus e que necessitamos do seu sustento. Orar,
o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;
é confessar que Deus é tudo o que eu tenho.
Observe um detalhe
no texto de Lucas. O evangelista enumera que após ensinar a orar, Jesus
enfatizou que: “Por acaso algum de vocês será
capaz de dar uma cobra ao seu filho, quando ele pede um peixe? Ou, se o filho
pedir um ovo, vai lhe dar um escorpião? Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar
coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o
Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lc 11.11-13).
Nós somos os filhos
que suplicam e Deus é o nosso Pai. E mesmo se algum filho, seja tal o filho
pródigo, que esteja longe de Deus. Ele não deixa nada faltar.
Se Deus concede bens
apenas aos que estão na igreja, fácil seria saber quem está com Deus e quem não
está.
e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos
aos nossos devedores; e não nos deixe cair em tentação;
Dívida ou pecado são
sinônimos. Quem peca e como alguém que não paga uma dívida.
O perdão é uma
graça divina e por essa graça, proveniente do nosso Pai atuamos para viver bem
com nosso próximo. Deus deseja que tenhamos uma vida com ele e uma vida com
nosso próximo.
Dessa forma,
quando Lucas termina a oração de Jesus com a súplica: e não nos deixe cair em tentação; aprendemos
que corremos o perigo de perder essa vida com Deus que nos é dada pela Palavra pelo
poder do Espírito Santo e nossa vida de gratidão a Deus e a nossa vida com
nosso próximo pela falta de perdão.
E o acréscimo do
evangelista Mateus: mas livra-nos do mal
o intuito é enfatizar que Deus não é o autor da tentação, pelo contrário, nos
livra de todas as coisas provenientes da tentação.
Ao encerrar a
oração, explicando que a tentação não é de origem divina, o evangelista Mateus
enfatiza as palavras do apostolo Tiago: “Quando
alguém for tentado, não diga: “Esta tentação vem de Deus.” Pois Deus não pode
ser tentado pelo mal e ele mesmo não tenta ninguém. Mas as pessoas são tentadas
quando são atraídas e enganadas pelos seus próprios maus desejos. Então esses
desejos fazem com que o pecado nasça, e o pecado, quando já está maduro, produz
a morte. Não se enganem, meus queridos irmãos. Tudo de bom que recebemos e tudo
o que é perfeito vêm do céu, vêm de Deus, o Criador das luzes do céu. Ele não
muda, nem varia de posição, o que causaria a escuridão” (Tg 1.13-18).
Deus, o nosso Pai,
o Pai Nosso, é autor de todas as bênçãos espirituais, pessoais e sociais. Precisamos
ser livrados do maligno e das maldades todos os dias.
Recordemos que o
acréscimo posterior: “[Pois teu é o Reino, o
poder e a glória, para sempre. Amém!]” (Mt 6.13), elucida que esse
Pai Nosso age e atua nesse mundo, pois possui todo o poder e o louvor é todo
para ele.
Amém – tudo isso é verdade e que assim
seja orado e realizado.
Edson Ronaldo Tressmann
SE
desejar fazer um pix solidário, agradeço
edsonronaldotre@gmail.com
Bibliografia
LUTERO, Martim. Catecismo
Menor. Versão popular. 13° edição atualizada. Sinodal, 2008.
BIANCHI Enzo. Jesus:
a enciclopédia. Petrópolis: Vozes, 2020.
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