terça-feira, 31 de maio de 2016

A pregação que não visa agradar pessoas!

05 de junho de 2016
3º Domingo após Pentecostes
Sl 30; 1Rs 17.17-24; Gl 1.11-24; Lc 7.11-17
Tema: Qual é o segredo da IELB para chegar aos 112 anos?
Sua pregação não visa agradar pessoas!


         A IELB está completando 112 anos. Qual é o segredo? A resposta correta a essa pergunta apresenta o verdadeiro DNA da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Nessa mensagem, bem como nas próximas do mês de junho, estarei abordando em rápidas pinceladas, breves linhas para uma resposta adequada a pergunta sobre o segredo para se chegar com vida, entusiasmo e cheia de planos aos cento e doze anos.
      A igreja não é empresa, mas convém louvar a Deus, afinal, por mais de 100 anos a IELB atua em terras brasileiras. 
   Quantas empresas chegaram aos 100 anos no Brasil? Apenas 0,1% das empresas no Brasil chegaram e passaram dos 100 anos. Das 14,5 milhões de empresas, apenas 190 chegaram aos 100 anos de atividade no Brasil. As causas são as mais variadas possíveis: crise, revoluções, mudanças na constituição, trocas de moeda. A IELB não é uma empresa, mas também enfrentou essas situações e mesmo assim continua vibrante, motivada e cheia de planos para o futuro.
     A igreja não é uma empresa, apesar de ser administrada com viés empresarial. Seu produto não é vendido, apesar de seus proclamadores receberem salário. Não é a venda e a compra que faz seu caixa possuir saldo, mas as ofertas voluntárias de seus adeptos. Não possui muitos associados, mas os poucos a mantém com amor e afinco, de maneira voluntária e alegre.
      A IELB celebra 112 anos em 2016, mas, o que de fato a mantém de pé, vibrante, ativa, motivada, atarefada é o poder e a autoridade de Jesus que também a enviou para fazer discípulos por todos os cantos do Brasil e do mundo.
     As mais variadas empresas surgiram de acordo com a demanda de determinado produto ter se tornado necessário. Muitas empresas, preocupadas em não serem devoradas pelo mercado e pela concorrência, formaram associações entre si. Muitas empresas investem uma grande parcela de valores em marketing. Oferecem produtos de qualidade e preços acessíveis. Tudo isso na expectativa de se manterem vivas, ativas e com renda.
      Para as empresas se manterem no mercado é necessário agradar ao público.
         O apóstolo Paulo não é contra agradar pessoas. No entanto, combate o fato de que muitos para agradar as pessoas o fazem distorcendo o verdadeiro ensino do evangelho, ao qual o apóstolo Paulo chama de “outro evangelho”. Alguns pregadores queriam agradar pessoas falando palavras agradáveis.
     Alguns pregadores na época do apóstolo Paulo ensinavam doutrina humana. Doutrinas aceitáveis e agradáveis a razão humana. Há pregadores que falam para serem aplaudidos (Mt 6.2; Jo 5.44). A tarefa de um pregador não é persuadir pessoas a seu favor, sua função e conduzi-los a Cristo.
        As consequências de buscar apenas agradar pessoas com um evangelho estranho ao próprio evangelho, é fazer fanáticos que matam cristãos achando que estão agradando a Deus.
       Quando ouvimos notícias como do dia 03 de abril de 2015, que dizia que o grupo da milícia islâmica Al Shabaad deixaram 147 mortos e 79 feridos na universidade no Quênia. Ou notícias que dizem que 100 mil pessoas por ano são mortas por um único motivo: ser cristão.
       Paulo sabia muito bem que o fanatismo era perigoso. Escreveu aos Gálatas que “seu proceder no judaísmo era tão fanático que perseguia a igreja de Deus e a devastava” (Gl 1.13). Ele imaginava que por seu fanatismo estava agradando a Deus, mas, não era bem assim. Sua perseguição à igreja cristã era por causa do seu zelo as tradições religiosas e não o verdadeiro cristianismo (Gl 1.13,14; Fp3.6).
       Da parte dos homens há muitos tipos de evangelho!
      Esses muitos evangelhos estão criando fanáticos que matam e destroem toda a verdade do verdadeiro evangelho. O evangelho verdadeiro é aquele anunciado pelo apóstolo Paulo, “não segundo o homem, porque eu não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.11,12).
     Qual é o evangelho revelado por Jesus ao apóstolo Paulo? Jesus disse a Paulo: “...Eu apareci a você para o escolher como meu servo, a fim de que você conte aos outros o que viu hoje e anuncie o que lhe vou mostrar depois. Vou livrar você dos judeus e também dos não-judeus, a quem vou enviá-lo. Você vai abrir os olhos deles a fim de que saiam da escuridão para a luz e do poder de Satanás para Deus. Então, por meio da fé em mim, eles serão perdoados dos seus pecados e passarão a ser parte do povo escolhido de Deus” (At 26.18).
         A mensagem é que só a fé em Jesus salva. Não se agrada a Deus através das ações somente (Hb 1.6). Jesus é quem foi o sacrifício agradável a Deus. Todo aquele que crê em Cristo, recebe a justiça de Cristo, “Pois o evangelho mostra como é que Deus nos aceita: é por meio da fé, do começo ao fim. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus”” (Rm 1.17).
       O apóstolo Paulo enfatiza que o mais importante não é o ensino humano, mas o ensino do evangelho, Gl 2.14. Só se pode ouvir a igreja se a mesma está de acordo com a Palavra de Deus.
       O apóstolo Paulo afirma que não foi chamado por merecimento. Na verdade o zelo a tradição do seus pais o cegava para a graça de Deus.
        Até onde nosso “zelo tradicional” está cegando para a graça de Deus?
       Deus por sua graça chamou Paulo e chama a cada um de nós. Corremos o risco de nos tornar piores do que éramos antes, sendo fanáticos e deixando de ser cristãos.
        O apóstolo Paulo na sua carta aos Gálatas ressalta que Deus o “chamou pela sua graça”. Com isso o apóstolo Paulo ensina que Deus o chamou não por aquilo que havia feito ou deixado de fazer. Não era ele o agradável a Deus. Deus o chamou “somente por sua graça”.
         O verdadeiro Evangelho revela o Filho de Deus.
       Parece ser fácil dizer que o Evangelho nada mais é que a revelação de Jesus Cristo. Mas, no conflito da consciência e na prática, certamente, é difícil crer nesse evangelho. Afinal, se o evangelho é a revelação de Jesus Cristo, certamente não requer obras, não ameaça com a morte, não apavora as consciências. Cristo é o objeto do evangelho. O evangelho apresenta a obra divina, doada a mim por mera graça. Esse dom eu recebo somente pela fé.
       O apóstolo Paulo não quer agradar as pessoas com um evangelho que elas queiram ouvir, mas insiste em mostrar a certeza de que seu Evangelho é a Palavra de Deus, a revelação de Jesus Cristo.
         Agradar as pessoas não é errado e nem sequer ruim, mas em matéria de pregação, não se pode querer anunciar o que agrada as pessoas, é preciso anunciar e proclamar a revelação de Jesus Cristo. Amém!

M.S.T. Rev. Edson Ronaldo Tressmann


Bibliografia:
Martinho Lutero. Obras selecionadas, Vol. 10. Interpretação do Novo Testamento: Gálatas e Tito. Ed. Sinodal, Concórdia e Ulbra, São Leopoldo, Porto Alegre e Canoas, RS. 2008. pp. 76 - 94


Paulo F. Flor. Epistola aos Gálatas: um comentário. Ed. Concórdia: Porto Alegre, RS. 2009.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Casa de Oração!

2º Domingo após pentecostes - 29/05/2016
Sl 96.1-9; 1Rs 8.22-24,27-29,41-43; Gl 1.1-12; Lc 7.1-10
Tema: Casa de oração!

         O texto de 1Rs 8 fala sobre a dedicação do templo construído por Salomão. Os versículos 41 a 43 relatam um trecho da oração feita pelo rei na ocasião da dedicação do templo. 
         A oração é um pedido para que qualquer pessoa ao orar tenha sua oração respondida por Deus. Salomão, o rei, pede à Deus que faça tudo o que uma pessoa lhe pedir, assim, muitos iriam conhecê-lo e temê-lo.
         Deus ao criar um povo exclusivo tinha esse como seu objetivo. Ou seja, Deus queria que o povo de Israel fosse luz para o mundo. Deus desejava e deseja salvar outras pessoas pelo testemunho do seu povo escolhido (Ex 19. 5-6; 1Pe 2.9; Ap 1.6; 5.10).
         A oração feita por Salomão mostra que o desejo de Deus estava impregnado entre o povo. Salomão pede em favor dos gentios. Pede para que os gentios tenham suas orações atendidas.        Atualmente quando se dedica um templo, o mais importante é comemorar, festejar. No entanto, esse pensamento moderno, na época era algo supérfluo. O mais importante em si não era a festa, mas o templo e a sua utilidade: Lugar de adoração, lugar de oração, casa de Deus.
Como está nosso local de adoração e oração? Qual cuidado temos pela casa de Deus, pela casa de oração? Como está a nossa adoração? Como está a nossa vida de oração?
Salomão ensina que em dias festivos o importante é orar. Orar para agradecer e principalmente pedir pelos bens espirituais. Ao pedir que Deus atendesse as orações dos gentios, (pessoas que não faziam e não fazem parte do povo de Deus) é pedir por bens espirituais. É pedir que Deus seja conhecido entre as pessoas.
Quando se ora: Pai nosso que estás no céus, santificado seja o teu nome, venha o teu reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu... Pede-se por bens espirituais. Pede-se que Deus permita que o pastor pregue corretamente e que cada pessoa que ouve a pregação viva de acordo com a mesma. Pede-se que Deus dê o Espírito Santo para que todos possam crer. Pede-se que Deus impeça tudo aquilo que quer atrapalhar a pregação e vivência do evangelho.
Salomão ensina que a oração é importante e necessária. Martinho Lutero aconselha aos pastores, leigos, servas e aos jovens: oratio e meditatio, ... afinal, a oração, a meditação e a tentação fazem um teólogo.
A oração é a chave que envolve os pastores e as pessoas no evangelismo da paróquia. O apóstolo Paulo foi comissionado para o serviço da igreja em Antioquia com oração e jejum. Foi com oração e jejum que Paulo nomeou presbíteros em cada igreja para continuar a missão. O apóstolo Paulo constantemente pedia aos seus amigos que orassem por ele e pelo trabalho da propagação do evangelho. O apóstolo Paulo orava pelos seus colegas na missão. Tudo era feito através da oração.
A oração é um maravilhoso momento de comunhão com Deus. Enquanto se vive nesse mundo, cada pecador se encontra no estado natural de pecado e ira e assim, com muita facilidade foge de Deus. Devido a essa fuga de Deus, a vida de oração torna-se supérfluo. 
Certa vez num breve diálogo com uma mulher, constatei o seguinte. A mulher disse: - “Pastor, qual oração é mais poderosa? A do pastor ou a minha?
Ao que respondi: – Por que essa pergunta?
Sua resposta foi: - É que a sua oração é diferente da minha”.
Esse breve diálogo mostra o que muitas pessoas pensam. Há uma oração mais poderosa que a outra.
Há oração poderosa? Oração é oração!
Oração é falar com Deus. A oração não pode ser transformada em mérito humano. Expressões como: “ore com fé” fazem da oração algo que depende do tamanho da fé para que a mesma seja atendida. Oração não é feita por causa da muita fé, a oração é a transpiração da fé. Só ora quem tem fé. Bem disse Lutero: “A oração é um exercício especial da fé”; “...a oração é um ato raro que ninguém pratica senão os cristãos”.
... o que atualmente existe e persiste, tanto na esfera espiritual quanto na civil, naturalmente é preservado pela oração”.
Há pessoas que se julgam indignas para orar. Esse tipo de pessoa é explorada por líderes religiosos que se dizem detentores de orações poderosas. O slogan é conhecido: “dê-me o seu pedido de oração e as levarei ao monte Sinai”. Assim, inúmeros pregadores ajuntaram fortunas vendendo seu suposto poder de oração. Qualquer doação em dinheiro por uma oração. Pessoas cheias de dúvidas, como a mulher com quem conversei, se julga indigna e acaba doando na expectativa de que determinado pregador poderoso em oração irá levar sua oração a Deus e afará ser atendida.
Sinta-se alegre! Você não precisa de um intermediário de oração. Sem essa de “Rogai por nós junto a Jesus”. Você é agraciado por Deus em Jesus e pode falar diretamente com Ele em oração.
Por meio do Batismo e da Palavra de Deus, a fé verdadeira é operada na pessoa. Pela fé, pessoas são colocados na vida espiritual. Pela fé, há comunhão com Deus. Essa comunhão se apresenta pelo orar.
         Salomão pede em oração para que a casa de Deus seja uma casa de todos!
         O apóstolo João em sua primeira carta escreve: “E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1Jo 5.14). É da vontade de Deus que oremos. Ele prometeu ouvir e atender. Mas porque algumas orações são atendidas e outras não? A resposta encontramos no próprio Jesus Cristo que diz: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15.7). Deus atende o que for para o bem do orante, e aquilo que é agradável a Ele.
         Por isso, Jesus aconselha: permaneçam em mim. Ou seja, alimentem seu espírito na Palavra. A Palavra de Deus varre das nossas mentes todos os desejos egoístas. Na Palavra de Deus as nossas ideias cada vez mais são centradas em Cristo, na sua vontade.
         Deus pediu para que falássemos com Ele e prometeu nos ouvir. Jamais duvide que Deus lhe dará tudo o que você precisa e necessita, tanto para esta vida como para a eternidade. Lembre-se: somos seres mortais, pecadores, e inúmeras vezes o diabo nos tenta e nos faz duvidar das promessas de Deus. Por causa do Cristo vitorioso o pecador pode ter certeza de que Deus ouve as orações.
         Como está a tua vida de oração? Jesus incentiva cada cristão e cristã a orar fazendo um precioso convite: “Pedi, e dar-se-vos -á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos –á” (Mt 7.7); “Orai sem cessar” (1Ts 5.17).
         Ore com alegria! As promessas de Deus referentes a oração são maravilhosas. Amém!

Rev. Edson Ronaldo Tressmann

terça-feira, 17 de maio de 2016

Sabedoria de Deus!

Santíssima Trindade (1º após pentecostes) - 22/05/2016
Sl 8; Pv 8.1-4,22-31; At 2.14ª,22-36; Jo 8.48-59
Tema: Sabedoria de Deus!

         Há textos bem complexos, e por sua complexidade são evitados nas pregações. Provérbios é um exemplo. Em especial o texto de Provérbios 8. Este texto sempre esteve envolvido numa das maiores controvérsias sobre a divindade de Jesus Cristo que culminou na confissão da igreja cristã denominado: Credo Niceno.
         As teorias sobre quem de fato é a sabedoria a qual se refere Provérbios 8 é antiga, e muitas teses foram propostas ao longo da história do cristianismo. No século II, muitos viam a sabedoria como sendo o Espírito Santo. No século III, essa interpretação deu lugar a uma generalizada identificação com Jesus Cristo. Sobre esse tema, em pleno século XXI, ainda há os que discutem se a sabedoria realmente é uma companheira, ou seja, um ser distinto, ou uma característica (atributo) do Senhor na sua obra criadora.
         No século IV a igreja estava envolvida numa discussão acalorada em torno do seu princípio monoteísta, a unicidade de Deus, e em torno do seu princípio cristocêntrico, “a divindade do Filho”. Houve propostas que comprometiam um ou até mesmo os dois princípios, bem como a negação de ambos ou de um desses. O Credo Niceno surgiu por causa dessa discussão. O Credo Niceno mostra a insistência no princípio cristocêntrico, afinal, a divindade do Filho não poderia, nem pode ser comprometida.
         A difícil questão a ser respondida na época, século IV era, Jesus Cristo é nosso criador ou uma criatura? A resposta a essa questão tem grande impacto para nossa salvação.
         A igreja cristã sempre entendeu Provérbios 8 como uma referência a Jesus Cristo. A igreja primitiva identificava a Sabedoria exposta no texto de Provérbios 8 como sendo o Filho de Deus. O apóstolo João, no evangelho que leva seu nome, ressalta que a Sabedoria é Deus.
         O Credo Niceno confessou a divindade do Filho dizendo que o “ser gerado” não significa “ser criado”. O “ser gerado” denota um tipo de relacionamento com o Pai. Ao confessar que Jesus Cristo é Deus, da mesma forma como o Pai, a igreja cristã confessa a sua salvação em Jesus Cristo. Negar a divindade de Jesus Cristo é negar a salvação por meio da sua obra na cruz.
         Provérbios 8 antecipa a identidade de Jesus Cristo, a sabedoria de Deus (Cl 1.15; 2.3; 1Co 1.18, 24 e 30). Jesus Cristo é a sabedoria revelada de Deus.
         O novo testamento identifica Jesus Cristo como sendo igual a Deus Pai, e coeterno junto com ele (Fp 2.6-11; Cl 2.8-9; Hb 1.2-3).
         Se no início da igreja cristã a questão sobre Jesus Cristo ser nosso criador ou uma criatura em si já era difícil de ser respondida, a mesma o é em nossos dias. E justamente por isso, junto com a igreja cristã, confessamos nas palavras do Credo Niceno que Jesus Cristo é “de uma só substância com o Pai”. E se como igreja cremos nisso, como igreja somos chamados a falar sobre isso. Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Jesus é a sabedoria de Deus! Ele é nosso salvador. Amém!

Rev. Edson Ronaldo Tressmann
cristo_para_todos@hotmail.com

terça-feira, 10 de maio de 2016

Pentecostes - Aula de Pregação!

Dia de Pentecostes - 15/05/2016
Sl 143; Gn 11.1-9; At 2.1-21; Jo 14.23-31
Tema: PentecostesAula de pregação!

         Em minha ainda curtíssima carreira de pregador, muitas vezes fui surpreendido ao final do culto com a afirmação: Pastor, você disse algo maravilhoso. Tocou em meu coração
         Muitas foram as vezes em que após pregar, refletindo novamente sobre tudo o que disse, duvidei de ter dito o que disse. Quantas vezes de maneira espantada, reagi: Não acredito que disse isso!
         Por mais que se tenha um sermão escrito, (os tenho sempre um ano antes de proclamá-lo) a pregação falada proporciona um momento único. Durante a proclamação sempre se acrescenta uma frase que não está escrita. E é justamente aí que acontecem as surpresas: não acredito que disse isso!
         2016 marca meu 12º ano de pregação da Palavra de Deus. É o quinto ano que público as mensagens semanalmente no blog http://sermoescristoparatodos.blogspot.com. De acordo com a série trienal C, é a quarta vez em que me dedico ao texto de Atos 2.1-21. Devido a metodologia de escrever e publicar os sermões, me veio a mente que o apóstolo Pedro dá através dessas palavras uma belíssima aula de homilética.
         Há uma bela lição nesse episódio. Qual?
    Merece destaque o fato do texto (At 2.1-21) em si não dizer expressamente o que a igreja, ou, o povo de Deus precisa fazer. Mas, mesmo assim, o Espírito Santo através dessas palavras faz uma implicação e aplicação missionária. Lucas, o médico, registrou o sermão do apóstolo Pedro (Atos 2.1-21) para enfatizar que o Espírito Santo é quem move a igreja a dizer em muitas situações o que ela por si ainda não sabe e nem vivenciou.

         Por ocasião do dia de Pentecostes, o apóstolo Pedro fez uma pregação aproveitando-se do pensamento do povo de que todos os discípulos de Jesus estavam bêbados. Entre suas palavras, a frase: “...derramarei o meu Espírito sobre toda a carne;...” (At 2.17), mostra que Pedro disse isso pelo poder do Espírito Santo e não por si mesmo.
         Convido todos a se surpreenderem com um fato interessante. No capitulo 10, ou seja, algum tempo depois de ter surpreendido a todos com seu sermão, Pedro estava com dúvidas com respeito aos alimentos puros e impuros.
         Em Atos 2, observa-se um apóstolo Pedro com sua boca livre pelo poder do Espírito Santo, enquanto que em Atos 10, vemos um apóstolo Pedro preso a lei cerimonial da sua época.
         O que com a boca, pelo poder do Espírito Santo, o apóstolo Pedro havia confessado, “...derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; ...” (At 2.17), precisava pelo poder do Espírito Santo viver. Atos 10 mostra que aquilo que Deus em Jesus torna puro não é mais impuro.
         Um sermão é uma amostra viva do poder do Espírito Santo. Afinal, o Espírito Santo age no falar e no ouvir. Foi assim como o apóstolo Pedro em Atos 2 e Atos 10. O apóstolo Pedro foi surpreendido pelo poder do Espírito Santo em seu sermão no dia de pentecostes. Foi surpreendido no episódio de Atos 10. Foi também surpreendido pela pregação do apóstolo Paulo em Antioquia da Síria (Gl 2.11-21). 
         O sermão pode ser escrito por determinado pastor, mas, toda sua ação, pesquisar, escrever, publicar, proclamar, é uma ação inteira do Espírito Santo. O apóstolo Pedro em seu sermão proclamou o cumprimento da profecia anunciada pelo profeta Isaías e Joel, “...derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; ...” (Is 44.3; Jl 2.28). Após proclamar esse sermão, teve o privilégio de viver esse cumprimento levando o evangelho até os confins da terra (Atos 10).
         O verdadeiro professor de homilética e o verdadeiro pregador é o Espírito Santo.
         Inúmeras vezes, os pregadores dizem algo que não vivem, ou que ainda não aprenderam na prática. Mas, um verdadeiro sermão é falar o que o Espírito Santo diz e que está registrado na Bíblia, o livro de sua autoria. Livro em que para escrevê-lo usou homens. Em nenhum momento ressaltou qualidades humanas, mas, revelou as imperfeições humanas e aquele que as cura.
         O pregador não é enviado, não é chamado apenas para pregar o que entende através das pesquisas. Pregador não é uma profissão, é uma vocação, dada a poucos, assim como a vocação de mãe não é dada a todas as mulheres. Pregar é falar o que muitas vezes não se compreende.
         O dia de Pentecostes traz uma mensagem sublime. Deus derrama o seu Espírito sobre as pessoas através da pregação, por mais louca que a mesma pareça ser naquele momento.
         O poder da atuação do Espírito Santo é tão incrível que se for analisar o antigo testamento, o Espírito Santo é raramente mencionado. Aparece em especial na proclamação do profeta Isaías e Ezequiel. Assim, jugando pelo antigo testamento, muitos concluem que a “operação” do Espírito Santo é algo especial e não universal. Através dessas pouquíssimas ocorrências, pode-se dizer: o Espírito Santo age, mas não quer ser o centro. Na verdade, ele aponta para o centro
         O evento denominado Pentecostes é muito mais do que um simples dia dentro do calendário litúrgico eclesiástico. Pentecostes é a marca de que a obra do Espírito Santo é universal e voltada a todas as raças. Afinal, em Jerusalém, judeus, homens piedosos, romanos, gregos, etc, ouviram e ficaram perplexos com a mensagem do Espírito Santo. 
         Pentecoste marca o real autor, motivador e causador da missão, o Espírito Santo.
         A mensagem de Pentecoste anuncia que o Espírito Santo é o evangelho derramado para as pessoas.
         A mensagem de Pentecoste anuncia que todas as raças, classes sociais, recebem o Espírito Santo.
         O Espírito Santo não concede um dom apenas à um seleto grupo. O Espírito Santo concede o maior de todos os dons, a FÉ, a todos que são atingidos pelo poder da sua Palavra.
         Pentecostes marca o alvo do Espírito Santo: a salvação das pessoas! Amém!

Rev. Edson Ronaldo Tressmann

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segunda-feira, 2 de maio de 2016

Apocalipse! Recheio do bolo! Parte 6 Perigo das previsões humanas!

7º Domingo de páscoa - 08/05/2016
Sl 133; At 1.12-26; Ap 22.1-6,12-20; Jo 17.20-26
Tema: Apocalipse! Recheio do bolo! Parte 6
Perigo das previsões humanas!


         No ano de 1563, o teólogo luterano David Chytraeus (1530-1600) escreveu num comentário sobre o livro de Apocalipse um cálculo sobre a data da segunda vinda de Cristo. Chytraeus foi aluno de Lutero e teorizou o seu entendimento do livro de Apocalipse e seu significado para a igreja da época. Ele sabia que determinar uma data ao juízo final é incorrer num grave erro. No entanto, Chytraeus cedeu a tentação e após uma série de cálculos matemáticos determinou uma data. Segundo sua matemática, acreditava que o anticristo havia sido revelado a partir do ano de 1520, ano da bula papal excomungando Lutero e assim, seu cálculo quanto ao dia do juízo final o levou ao ano de 1695.  
        Analisando os sinais preanunciados por Jesus como sinais dos fins dos tempos, se é tentado a calcular uma data próxima a nós como sendo o dia da segunda vinda de Cristo. Afinal, vive-se a expectativa do retorno glorioso de Jesus Cristo. 
         A tentação de prever um dia certo do retorno de Jesus Cristo tem como consequência conduzir pessoas ao desespero e a incredulidade. As primeiras previsões sobre o dia do Juízo Final datam de 389 a.C. e associavam o término do mundo à derrocada de Roma. A última data previa 21 de dezembro de 2012.
         Já houve cerca de 90 previsões a respeito do juízo Final e todas falharam. Há ainda outras 4 previsões: 13 de abril de 2029 ou 13 de abril de 2036, também pode ser em 2050 ou 2060. Só tenho uma certeza nessas quatro previsões: se alguém estivesse realmente certo do dia exato não haveria outras previsões. E se alguém acertar, como vai comemorar?

         Buscar prever o dia do juízo final é especular algo sobre o qual o próprio Jesus advertiu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade” (At 1.7).
      As previsões sobre o fim do mundo conduzem pessoas ao desespero. Milhares de pessoas cometeram suicídio, como da atriz Sharon Tate (1969). Houve ainda suicídios coletivos. As previsões com respeito ao fim do mundo conduz a incerteza e leva muitos a duvidar desse dia. Afinal, se tantos já erraram, será que haverá realmente o fim?
         Para responder as dúvidas causadas pela curiosidade humana, o apóstolo João descreve a pedido do Senhor Jesus Ressuscitado: “...Estas palavras são fiéis e verdadeiras...” (Ap 22.6). Quais palavras?...as coisas que em breve devem acontecer. Eis que venho sem demora. Bem aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro” (Ap 22.6-7).
         Todas as previsões foram equivocadas por um único motivo: todas elas são humanas. O próprio filho de Deus, Jesus, não arriscou e nem sequer deu uma data precisa para tal acontecimento.
         O ser humano racional acredita nas previsões humanas pelo motivo das mesmas estarem fundamentadas em cálculos matemáticos. A verdade é que ainda se vive como Tomé, sabe da ressurreição, mas se crê só naquilo que é racional.
         Ao apóstolo João foi mostrado e a nós revelado pelas palavras escritas em Apocalipse: o jardim do Éden restaurado. O povo de Deus vai morar com Deus no novo céu e na nova terra, sustentado pela “rio de água da vida” (Ap 22.1). A queda em pecado barrou o homem ao acesso à árvore da vida, mas, no novo céu e na nova terra, o homem terá novamente acesso. O novo céu e a nova terra é ocupar o lugar que Adão e Eva já tiveram o privilégio de ocupar.
         Juízo Final, Céu, Vida Eterna, são assuntos de fé. Em assuntos de fé, a razão não tem espaço. E por causa disso, há tantos temores, dúvidas e enganos.
         Jesus, o Ressuscitado, transmite ao apóstolo João e ao anjo que, toda a profecia de Apocalipse é verdadeira e que sua vinda será sem demora, mas, não revela a data para tal evento.
         O convite é para que se olhe para o novo céu e a nova terra.   A situação dos cristãos do século XXI é difícil! Não só por causa da perseguição, mas principalmente por que vivem na certeza da ressurreição e ascensão de Jesus, mas, as previsões fracassadas sobre o fim os conduz ao pessimismo e as dúvidas com respeito a volta de Cristo. E é justamente por isso que Deus deixou registrado a visão do novo céu e da nova terra. Essa visão é um convite para que o cristão mantenha sua expectativa e esperança na fé em Jesus Cristo. Amém!


Rev. Edson Ronaldo Tressmann
cristo_para_todos@hotmail.com

Bibliografia: Vem, Senhor Jesus. Apocalipse de João. Johannes H. Rottmann. Ed. Concórdia, 1993. pp. 307 - 317


Irena Backus, Reforma Leituras do Apocalipse: Genebra, Zurique, e Wittenberg (Oxford: Oxford University Press, 2000).

Não creia em todo espírito (1Jo 4.1)

  27 de abril de 2024 Salmo 150; Atos 8.26-40; 1João 4.1-21; João 15.1-8 Texto: 1João 4.1-21 Tema: Não creia em todo espírito (v.1) ...