segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Servindo a Deus em tempos difíceis.

12º Domingo após Pentecostes – 31/08/2014
Sl 26; Jr 15. 15 – 21; Rm 12. 9 – 21; Mt 16. 21 - 28
Servir a Deus em tempos difíceis.
 
15.15 Então eu respondi: — Ó SENHOR, tu és que sabes. Lembra de mim e ajuda-me. Vinga-me daqueles que me perseguem. Não tenhas paciência com os meus inimigos para que eles não me matem. Lembra que é por causa de ti que eles me insultam.
15.16 Tu falaste comigo, e eu prestei atenção em cada palavra. Ó SENHOR, Deus Todo-Poderoso, eu sou teu, e por isso as tuas palavras encheram o meu coração de alegria e de felicidade.
15.17 Não tenho gasto o meu tempo rindo e gozando a vida junto com outras pessoas. Por causa do trabalho pesado que me deste, fiquei sozinho e muito indignado.
15.18 Por que continuo a sofrer? Por que as minhas feridas doem sem parar? Por que elas não saram? Será que não posso confiar em ti? Será que és como um riacho que seca no verão?

         Palavras duríssimas essas do profeta Jeremias. A resposta de Deus aparentemente é severa. Eu não ouso me comparar com Jeremias, pois seus sofrimentos foram bem maiores aos quais enfrento. E também eu não ousaria em fazer o que francamente fez Jeremias, xingar Deus.
         O versículo 15 diz que a paciência de Deus está acabando com Jeremias. É como se diz hoje: “é pra caba”.
         Jeremias prevê um castigo que não vem. O servo é quem sofre perseguição enquanto espera a ação de Deus.
         O profeta Jeremias recebe com muita alegria a mensagem de Deus (v.16). Mas, segundo o próprio profeta, a Palavra de Deus ingerida por ele, criou azia, o estufou. O profeta despejou, vomitou a ira de Deus sobre o povo. Esse vômito afetou o circulo de amizade do profeta. Ele ficou marcado, “carregador de más noticia”.
         A solidão e o abandono que Jeremias experimentou parecem ser intermináveis e incuráveis. Até mesmo Deus, que o havia encarregado de transmitir a mensagem, agora parecia tê-lo abandonado. O profeta diz que Deus sumiu, assim como a água de um pequeno ribeirão em tempo de seca.
 
15.19 O SENHOR respondeu: — Se você voltar, eu o receberei de volta, e você será meu servo de novo. Se você disser coisas que se aproveitem e não palavras inúteis, você será de novo meu profeta. O povo voltará para você, mas você não deve voltar para eles.
15.20 Farei com que você seja para este povo como um forte muro de bronze. Eles lutarão contra você, mas não conseguirão derrotá-lo, pois eu estarei com você para protegê-lo e salvá-lo.
15.21 Eu o livrarei das mãos dos perversos e o libertarei do poder dos violentos. Eu, o SENHOR, falei.
 
         Diante desse suposto sumiço e da inquietação do profeta Deus responde. A resposta não é para justificar-se, mas para chamar Jeremias ao caminho certo. “Dá a volta e olhe para mim”. Reoriente-se. Você está espacialmente perdido. Não vire o rosto de mim. Não siga esse povo.
         Comunicar a vida é viver em constante tensão. A tensão do ser ignorado, ser tachado, etc. Mas, jamais podemos virar as costas para Deus.
         Quando Deus chamou Jeremias (1.1-10) prometeu que o profeta iria resistir, mesmo na pior crise. Essa resistência só seria possível porque Deus estaria ao seu lado.
         Jeremias sofre não por causa da missão a qual Deus o havia enviado, mas por estar lidando com um povo rebelde.
         O lamento de Jeremias é um espelho do lamento de Deus. Deus está de luto! Deus não tem mais lar, família, alegria. Deus enfrenta uma enorme tensão, a tensão pela atitude que precisa tomar em relação ao povo que ama.
         Deus resiste à tensão, o profeta aprende que ser profeta de Deus é resistir a tensão. Mas essa resistência só se dará enquanto Deus a resistir.
         Essas e outras palavras (Jr 11. 18-12.6; 17. 14-18; 18.18-23; 20.7-18) são classificadas como confissões de Jeremias. Nessas confissões Jeremias fala em seu próprio nome. As confissões mostram que a vocação de profeta é vocação para o conflito. A mensagem do profeta é um mundo alternativo. Esse mundo alternativo gera conflito com esse mundo reinante.



Deus enfrenta uma enorme tensão, a tensão pela atitude que precisa tomar em relação ao povo que ama.

Deus é paciente e amoroso...




         A tensão profética é – a mensagem é duríssima e muitas vezes arrasadora, mas Deus é paciente e amoroso. Muitas vezes o profeta espera que Deus aja com rigor, assim como o profeta comunica, mas o que se ganha, é apenas desprezo, Deus é paciente e espera mais um pouco.
         Nessa confissão de Jeremias é comunicado algo critico ao povo de Deus. Nem mesmo o mais fiel, corajoso mensageiro de Deus, entende o que está acontecendo. Nem mesmo o profeta consegue ver a presença óbvia de Deus. É aqui que está a mensagem de consolo, de conforto e de esperança aos que querem ser fiéis ao Senhor. Os conflitos fazem parte da vida cristã.



Os conflitos fazem parte da vida cristã.

Não é o nosso desejo que irá fazer a ação de Deus.


 
         As pessoas sentem falta da ação de Deus. Perdemos a paciência, mas Deus continua paciente conosco e com esse mundo. A cada situação somos convidados ao arrependimento, a mudar nossa mentalidade e voltar nosso rosto a Deus.
         O convite feito pela Palavra de Deus através de um cântico “Servi ao Senhor com alegria” (Sl 100.2), parece ser bastante oportuno quando as coisas vão de “vento em popa”. Mas, e quando surgem as tribulações? Os sofrimentos?
         A confissão de Jeremias e a resposta de Deus ao profeta nos ensina justamente isso. Deus está sempre ao nosso lado, basta voltar nosso rosto para ele. Sabedores de que Deus está ao nosso lado, podemos recomeçar e continuar com o mesmo entusiasmo do início, sem desanimar.
         Os que servem ao Senhor passam por grandes aflições. Não se deixe levar pela “lenda, fábula” (2Tm 4.4) de que a vida cristã não é uma vida de angústia. Paulo disse a Timóteo: "Portanto, não se envergonhe de dar o seu testemunho a favor do nosso Senhor, nem se envergonhe de mim, que estou na cadeia porque sou servo dele. Pelo contrário, com a força que vem de Deus, esteja pronto para sofrer comigo por amor ao evangelho. ... Como fiel soldado de Cristo Jesus, tome parte no meu sofrimento ... Mas você, seja moderado em todas as situações. Suporte o sofrimento, faça o trabalho de um pregador do evangelho e cumpra bem o seu dever de servo de Deus" (2Tm 1:8; 2:3; 4:5).
         O convite feito por Deus ao profeta Jeremias de voltar-se para Deus e estar diante dele é uma convocação à lembrança do dia em que foi chamado por Deus. Nessa ocasião, Deus já o havia prevenido da sua presença e da capacitação que lhe daria para que encarasse as dificuldades. Deus disse: "Escute, Jeremias! Todas as pessoas desta terra, isto é, os reis de Judá, as autoridades, os sacerdotes e o povo, vão ficar contra você. Mas hoje eu estou lhe dando forças para poder enfrentar essa gente. Você será como uma cidade cercada de muralhas, como um poste de ferro, como um muro de bronze. Eles não o derrotarão, pois eu estarei ao seu lado para protegê-lo. Eu, o SENHOR, falei" (Jr 1:18-19).
         Nossos dias são marcados por recompensas e castigos. Essa é a ação que esperamos de Deus. Mas, diferentemente de nós, Deus com amor e misericórdia, age ao seu tempo e modo. Muitos questionam: Porque os injustos e imorais prosperam? Assim, somos e caímos na tentação de abandonar uma vida honesta. Como os que não têm igreja tem uma vida tão feliz? Assim somos e caímos na tentação de abandonar a igreja. Porque sofremos? Assim somos e caímos na tentação de abandonar a Deus.
         Antes de uma de suas confissões, Deus disse ao profeta Jeremias: Se não consegue caminhar um quilometro, como irá correr uma maratona? A vida cristã é uma longa maratona. Mas, o estar e o correr essa maratona não é mérito nem conquista nossa. Deus nos chamou pelo Evangelho. Pelo Evangelho nos dá e aumenta nossas forças para que continuemos a correr a corrida que está marcada para nós. (Jr 12.5,6, 7-8).
         Durante a nossa corrida de fé rumo a linha de chegada, Deus não deixará que paremos de sofrer, mas a cada sofrimento, a cada angústia, estará fortalecendo nossa fé e mostrando como é preciosa a sua presença. Uma presença constante, basta olhar do lado, Jesus está contigo. Amém!
 

Edson Ronaldo Tressmann

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A verdadeira igreja.


11º Domingo após Pentecostes – 24/08/2014
Sl 138; Is 51.1 – 6; Rm 11. 33 – 12.8; Mt 16. 13 – 20
 
A verdadeira igreja

 

Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18)
 
Com preocupação trago a reflexão sobre a consequência inevitável da falta de convicção de que sou Luterano. Para muitos é indiferente a pessoas ser luterana, reformada ou católica.
           Mas o que está em jogo?
           Na verdade, essa mistura, que muitos não gostam que se fale, afinal, o teor ecumênico diz que devemos ter amor pelos outros, nos impede muitas vezes de esclarecer alguns pontos importantes.
            Com alegria, ainda vejo, mesmo que sendo pequeno o grupo, pessoas confessando, estando convictos de que as Sagradas Escrituras são a Palavra de Deus, que Jesus Cristo é o Filho do Deus vivo, que o ser humano é justificado diante de Deus por fé em Cristo somente. No entanto, a preocupação é quando esse pequeno grupo começa a dar as mãos para a destra e a comunhão com grupos maiores em detrimento do reducionismo ecumênico. Começam a cultuar como se “Deus” fosse igual em todas as denominações.
           O que todos buscam é paz entre as várias igrejas. Mas, como é possível viver em paz no meio de diferenças gritantes? Pela suposta paz, as confissões são subjugadas, afinal, são elas que atrapalham o progresso e a unidade cristã.
            No ano de 1817, 197 anos atrás, um homem chamado Claus Harms, escreveu 95 teses contra o racionalismo e a união das igrejas na Prússia. Aos defensores da união das igrejas, escreveu: “Vocês propõem que a pobre empregada, a Igreja Luterana, fique rica através de um casamento. Não façam isso sobre a sepultura de Lutero. Se fizerem isso, entrará vida nos ossos dele e então, ai de vocês”. Não era exatamente uma defesa a Lutero, mas um chamado à volta àquilo que Lutero havia descoberto e que era consolador e confortador. No entanto, bem, vamos ver.
           Os luteranos parecem ter despertado do sono espiritual quando ocorreu à união das igrejas na Prússia. Mediante essa união prussiana, recordaram que eram luteranos e se dispuseram a serem expulsos de suas casas, serem aprisionados, mas não abandonarem sua fé. A ressalva necessária é que mesmo dessa situação, não sobrou à verdadeira, a genuína igreja luterana. Os homens que queriam conservar a verdadeira igreja, não tinham mais o conhecimento claro e puro da verdade. Do racionalismo e indiferentismo eclesiástico e religioso, esses homens foram ao extremo do particularismo e uma tendência hierárquica antiluterana. Os que eram opostos à união das igrejas, mencionavam que a igreja luterana era a verdadeira igreja visível mencionada no terceiro artigo do Credo: “Creio...na santa igreja cristã, a comunhão dos santos...
           Com isso, passou-se a afirmar que só há salvação dentro da igreja luterana. Erro patético e fatal. Esse erro estava custando o tema central das Escrituras Sagradas que ensinam que o “pecador é justificado diante de Deus através de Cristo, somente pela fé”.
           As palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), são ditas a ouvidos que querem saber a resposta sobre a verdadeira igreja.
          Pessoas buscam as igrejas! Pessoas lucram com igrejas! Pessoas brincam de ser igreja! Mas, muitos se esquecem das palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
           A rocha é o próprio Jesus Cristo. Ninguém é membro da igreja verdadeira sem estar edificado sobre Cristo. Ser edificado sobre Cristo não é estar mecanicamente ligado, ou escrito no rol de membros de uma comunidade cristã.
           Estar edificado sobre a rocha que é Cristo é depositar a confiança em Cristo e esperar receber justiça e salvação apenas dEle.
           Igreja – um assunto delicado, um assunto que poucos querem se manifestar, afinal, é melhor se calar do ser criticado por falar. O movimento ecumênico em seu reducionismo diz que por amor aos outros, não se manifestar diante de erros grosseiros é a melhor saída para que haja unidade entre os cristãos.
            Disse Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
           Como saber qual é a igreja verdadeira?
         Na carta do apóstolo Paulo aos cristãos da Ásia menor está escrito: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois a família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para a habitação de Deus no Espírito” (Ef 2. 19 – 22). Assim, uma das resposta é que a verdadeira igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, isso quer dizer, estar na mesma fé inabalável em Jesus. A verdadeira igreja não está edificada sobre terras contaminadas, a exemplo de mega templos no coração financeiro do Brasil. Aliás, pior do que estar edificada sobre terras contaminadas, é estar contaminado interiormente, com suas vendas de indulgências através dos utensílios supostamente sagrados. 
A verdadeira igreja não está numa basílica ou catedral onde o comércio é intenso e os famintos que estão ao seu redor morrem de fome. A verdadeira igreja não está em velhos barracões onde sua confiança está nos supostos milagres de uma almofadinha, lenço, azeite, água do Jordão, etc. Não adianta mega templo, basílicas e grandes barracões quando a pedra angular não está no edifício. A verdadeira igreja está onde Cristo e seu sacrifício na cruz reluzem como ouro, joia e tesouro inestimável.
            Jesus Cristo é o noivo da verdadeira igreja. Todo aquele que não está noivado com Cristo não é membro e nem está na verdadeira igreja, independente da placa denominacional que segue.
            Jesus Cristo é o cabeça da verdadeira igreja. Só é membro da verdadeira igreja aquele que recebe luz, poder e graça da parte desse cabeça.
           O apostolo também compara a igreja a um corpo. Aqui está onde muitos do passado e ainda hoje erram, ou seja, pensam que a verdadeira igreja é visível. O ponto não é a visibilidade da igreja, mas um organismo vivo que é constituído por pessoas das quais flui a fé verdadeira em Jesus. A verdadeira igreja não é visível, por isso, muitos querendo vê-la não conseguem. Muitos estão buscando a verdadeira igreja visível, mas não conseguem e ficam perdidos em busca de uma igreja e supõe não encontrar a verdadeira. Sem encontrar a verdadeira igreja, que para muitos teria que ser visível, perambula como ovelha sem pastor, buscando pastagem e água, mas não encontram.
          Jesus denomina sua igreja como rebanho. Ninguém é membro da verdadeira igreja sem que seja ovelha, apascentada e guiada por Jesus. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27).
           A verdadeira igreja não é visível, não pode ser vista por olhos humanos. A igreja verdadeira só é vista e conhecida por Jesus. Ele é o único que conhece e sabe quem faz parte da igreja verdadeira. Mas, a igreja atuante nesse mundo, a igreja criticada exacerbadamente pelas pessoas, segundo Jesus externamente é comparada a um campo onde trigo e joio cresce junto; é como uma rede que apanha peixes bons e ruins; é como uma festa de casamento, onde comparecem virgens prudentes, e alguém sem os trajes adequados teve acesso.
             A igreja externa, atuante nesse mundo, é vista e criticada por causa do joio, dos peixes ruins, do que não está trajado adequadamente. Mas, é assim que Jesus disse que seria, enquanto nesse mundo.
             A verdadeira igreja, invisível aos nossos olhos e visível aos olhos de Jesus, é composta apenas pelos verdadeiros crentes em Jesus, mas, enquanto aqui nesse mundo, essa comunidade cristã se apresenta não apenas com seus membros verdadeiros, mas também com os ruins. A igreja nunca esteve e nem estará durante sua existência nesse mundo corrompido pelo pecado livre dos hipócritas e dos ímpios. Até podemos ver quando e quem vai para a igreja, mas não somos capazes de determinar quem de fato pertence à igreja.
            Para o mundo a igreja é invisível, a verdadeira igreja só é visível para Deus, pois ele conhece nosso coração e sabe em quem depositamos toda a nossa confiança.
            Precisamos cuidar para que as placas institucionais não sejam o caminho para a salvação. Afinal, “placa de igreja não salva ninguém”. No entanto, é preciso ressaltar que desde os tempos dos apóstolos nenhuma igreja teve a doutrina pura em tal proporção como nossos pais tiveram. Mas, não se pode afirmar que Lutero, antes de se tornar luterano, não tinha a fé verdadeira. A salvação não depende da filiação a esta ou aquela igreja. O que salva é a  fé em Jesus Cristo. As palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18) alertam contra o abominável fanatismo tão crasso em nossos dias.
           Todo aquele que crê em Jesus é membro da igreja verdadeira.
           No entanto, é preciso que observemos e nos lembremos de algo muitíssimo importante e necessário. Não é porque a filiação a uma igreja não é sinal de salvação, não posso simplesmente deixar de me congregar com outros irmãos na fé. É das comunidades locais que há uma única igreja invisível aos nossos olhos e visível aos olhos de Deus.
            Há cristãos na igreja reformada, entre os metodistas, entre os católicos, etc. Só para exemplificar, a igreja papista ainda confessa que Jesus Cristo é o Filho de Deus e que ele morreu na cruz para redimir o mundo. Isso em si já é verdade suficiente para que alguém chegue ao conhecimento da salvação. O evangelho é claro: “Crê no Senhor Jesus Cristo!” a lei apenas confronta e põe uma série de exigências para que se alcance a salvação.
           Então, se em qualquer igreja, posso continuar fazendo parte da igreja invisível aos nossos olhos e visível aos olhos de Deus, qual é a razão e o sentido de ser membro da igreja Luterana? O fato é simples: quero permanecer ao lado da verdade. Mesmo que reconheçamos que haja salvação em outras igrejas, mas sabendo que há entre elas erros doutrinários grosseiros, é preciso abandoná-la. Isso fez Lutero. Sei que o mesmo tinha fé mesmo antes de se tornar luterano, mas não pôde coadunar com os erros doutrinários grosseiros.
            Dizer que é possível que haja salvação dentro de outras igrejas não pode me conduzir a achar que é possível ter comunhão com os mesmos. Mas, como é possível, mesmo com alguns erros pessoas obterem a salvação? A salvação se dá por meio da fé em Jesus inconscientemente do erro da igreja a qual pertence. Há os que erram por ingenuidade e ignorância. Mas, se há ciência dos erros e dos equívocos, é preciso alertar, em concordância com o erro, em permanência no erro, corre-se o risco de ir ao inferno. Como luteranos não condenamos ninguém que está em erro quanto a algum artigo do Credo, mas condenamos aqueles que sabem do erro, mas preferem continuar no erro. Nossa esperança é que quando as pessoas são instruídas na doutrina e conseguem ver o erro pela orientação do Espírito Santo, aderem à verdade contida na Palavra de Deus. Os luteranos não condenam ninguém, a não ser aqueles que condenam a si mesmos pela resistência à verdade conhecida nas Sagradas Escrituras. Quando condenamos os reformados, católicos, o fazemos àqueles que conhecem a verdade, mas dela não querem saber. Não condenamos os católicos e reformados em geral, pois infelizmente, muitos estão lá na simplicidade de seus corações. O próprio Lutero disse: “...muitas coisas eu sei agora, Deus seja louvado! Eu não sabia naquele tempo. Eu venerava por causa do costume e do uso estabelecido”.
            Jesus disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Que nossos ouvidos estejam atentos ao ouvir que Jesus é a rocha. Só na rocha tenho a salvação. Só na rocha não serei abalado.
            Ao ouvir Jesus dizer: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), posso afirmar que a igreja luterana possui a doutrina pura e que continua firmada sobre a rocha que é Cristo.
            Quando Jesus disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18) estava se opondo ao que é ensinado por muitos ainda hoje. Há os que dizem: “não importa o que a igreja ensina, vocês precisam ouvir a igreja”. Na verdade, precisamos ouvir Jesus. E em algumas igrejas, Jesus não fala. Lembre-se! Jesus é a rocha. Jesus é a pedra angular na qual muitos estão tropeçando.
            Como igreja luterana, não somos a única igreja que salva, mas possuímos a pura e inadulterada verdade e por isso, eu amo ser luterano. Sou luterano por que nessa igreja, eu ainda continuo firmado na rocha que é Jesus, pois “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Amém!
 

Edson Ronaldo Tressmann

 

Bibliografia:

Walther, Carl Ferdinand Wilhelm. A correta distinção entre Lei e Evangelho. Edição completa. Tadução: Marie Luize Heimann. Porto Alegre: Ed. Concórdia,2005. pp. 291 - 298

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Encontro de dois mundos

10º Domingo após Pentecostes
Sl 67; Is 56. 1, 6 – 8; Rm 11. 1 – 2ª, 13 – 15, 28 – 32; Mt 15. 21 - 28
Tema: Encontro de dois mundos
          Jesus em suas andanças ultrapassou barreiras humanas de raça, religião e preconceito. Um dos exemplos disso é o episódio lido no evangelho de Mateus 15. 21 – 28, onde é contado um relato sobre o encontro entre dois mundos diferentes. O encontro foi de uma mulher cananeia e Jesus; uma mulher cananeia e os discípulos de Jesus; um encontro entre os discípulos e Jesus.
         Nesse encontro tão diversificado, o que podemos aprender?
         O encontro aconteceu numa cidade chamada Tiro.
         Essa cidade está ambicionada pelo domínio e pelo poder. Desde sua origem até o período romano, havia uma luta do povo fenício sobre as terras da Galileia. Tiro pode ser considerada uma cidade rica e economicamente estável. Mas, ao lado desta realidade, também há pobreza. Tiro é a mesma cidade cujos reis haviam feito uma aliança com Davi e Salomão. Neste acordo eles forneceriam madeira e hábeis artesões para Israel, que por sua vez enviaria ao rei Hirão e seus sucessores, mantimentos que a população de Tiro necessitava (1Rs 5; At 12.20).
         Hoje, de acordo com os relatos bíblicos, sabemos que as consequências colaterais deste acordo comercial foram terríveis para a nação israelita.
         A partir da cidade de Tiro a adoração de Baal se introduziu em Israel e lhes causou muitos males, o maior deles, os cativeiros Assírio (reino do Norte) e Babilônico (reino do Sul).
         A outra cidade narrada no episódio que marca o encontro de dois mundos é Sidom. Essa cidade sempre foi famosa pelo seu intenso comércio e por sua grande riqueza. Tornou-se um centro das artes e das ciências. Era o mais antigo mercado dos fenícios. A moderna cidade de Saída, no Líbano, assinala o local da antiga cidade, a 32 quilômetros ao sul da moderna cidade de Beirute.
         Tanto Tiro como Sidom possuíam baías naturais, o que lhes proporcionavam excelentes defesas naturais. A Fenícia, que circundava quase que totalmente o norte da Galileia estava anexada à Síria. Esta proximidade fronteiriça tornava natural que um viajante da Galileia, Jesus e seus discípulos, atravessassem o território de Tiro.
         Tanto Tiro como Sidom estavam localizadas ao norte da Galileia, aproximadamente entre 65 e 95 quilômetros de Cafarnaum e fazem parte da história desde antiguidade, quando os fenícios dominavam o mundo da navegação.
         Jesus está caminhando nesse território considerado pagão. Encontrar uma mulher cananeia é comum. Todos os moradores dessa região não eram semitas, não eram israelitas, nem seguiam a religião judaica.
         Sob este pano de fundo apresentado pelo texto de Mateus, é apresentado o encontro de dois mundos. Mundos completamente opostos entre si.
         Nesses mundos opostos, onde ninguém jamais suporia imaginar, uma mulher cananeia clama: "Filho de Davi".
         Parece que não há nada de estranho nesse clamor, mas é justamente esse clamor que ressalta uma confissão. Esse é o título messiânico israelita por excelência.
         Era um momento crítico no ministério terreno de Jesus. Seus adversários, vindos a mando das autoridades eclesiásticas de Jerusalém, acusavam Jesus de transgredir a tradição dos anciãos. Jesus, segundo a acusação não cumpria a lei de Moisés. Os discípulos eram acusados de serem imundos e profanos, afinal, não observavam as leis cerimoniais, tais como o lavar as mãos para as refeições.
         Diante de todas essas acusações Jesus prefere sair da região da Galileia, assim como já havia feito anteriormente ao deixar a Judeia. Nada de anormal em sair da Galileia, o problema era refugiar-se em território gentílico. Ainda mais, num local, de onde supostamente surgiu toda a desgraça provinda sobre o povo de Israel.
         O evangelista Mateus ressalta que justamente nesse local improvável acontece um maravilhoso encontro Nesse encontro as visões de mundo serão refeitas e a lição de que a fé não é algo restrito a um lugar e a uma raça.
         Com detalhes, o evangelista Mateus descreve o gradativo clamor da mulher e as diferentes reações de Jesus e dos discípulos a esse clamor.
         A mulher clama conhecendo a compaixão de Jesus. Jesus, num primeiro momento fica em silêncio e nada responde (Mt 15. 23). Os discípulos reagem com indignação pelo fato da mulher os incomodar com seus gritos, "Despede-a, porque vem gritando atrás de nós" (Mt 15.23).
         Jesus dá a resposta conforme a mentalidade judaica da época: "Eu não fui enviado senão para as ovelhas perdidas de Israel" (Mt 15. 24). Os judeus em seu mundo eram exclusivistas. A salvação pertencia somente a sua raça. Jesus, o verdadeiro Messias, seria enviado somente a Israel.
         Aqueles que acusavam Jesus, os líderes eclesiásticos da época, iriam aplaudir a resposta de Jesus e diriam que ele havia entrado nos eixos.
         Mas, o encontro de dois mundos diferentes ainda está acontecendo e não terminou, grandes lições ainda hão de vir.
         A mulher, não semita, não israelita, chama e confessa Jesus pelo seu titulo messiânico: "Filho de Davi". E Jesus iniciando uma conversa com ela insiste no seu messianismo israelita respondendo que: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas de Israel" (Mt 15.24). Jesus havia sido enviado a um povo pequeno, para realizar uma esperança limitada nos seus termos – Jesus é o Messias de Israel.
         Essa resposta dada por Jesus não é de rejeição a outros povos, afinal, Jesus Cristo foi enviado para todos, Cristo é para todos. Sua resposta, que apresenta a visão de um mundo, mundo israelita era uma provocação para analisar onde estava sua confiança.
         De maneira insistente, a mulher dobra seus joelhos e implora: "Senhor, ajuda-me" (v. 25), "Não fica bem tirar o pão dos filhos para atirá-lo aos cachorrinhos" (Mt 15. 26).
         O encontro de dois mundos apresenta um mundo que acusava Jesus de impostor e se considerava filho de Deu e dizia que os estrangeiros não eram dignos da bênção divina e o outro mundo onde uma mulher desprezada, assumia sua condição de "cachorrinho" com grande esperança.
         Observemos que a mulher cananeia não apelou para suas qualidades ou obras. Ela simplesmente creu no amor de Deus manifestado na pessoa de Jesus. Esse amor fora representado pelo fato de deixá-la comer das migalhas que caiam da mesa de Israel.
         Naquela época os cachorros não tinham direitos. Se o cachorro quisesse comer, deveria aproveitar bem as migalhas caídas da mesa do seu dono. E a mulher cananeia ao se reconhecer como um cachorrinho, quer aproveitar das migalhas que estão caindo naquele momento.
         Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). A mulher cananeia se aproximou de Jesus por crer em seu amor e misericórdia. Apela para sua misericórdia e clama apenas pelas migalhas.
         Como estamos nos aproximando de Deus? Será que estamos exigindo que Deus ouça nossas orações por causa daquilo que estamos fazendo? Será que nos julgamos melhores que outros só porque estamos dentro de uma igreja?
         Deus nos recebe pela fé em Jesus. “Pois o evangelho (a boa noticia) nos mostra como é que Deus nos aceita: é por meio da fé, do começo ao fim” (Rm 1.17).
         A mulher cananeia é um modelo de súplica humilde e perseverante, mas não são nossas súplicas humildes e perseverantes que levam a Deus nos atender. Deus nos atende por causa do seu amor e da sua misericórdia, mesmo que na nossa visão de mundo tudo aponte para outros fatos.
 
Edson Ronaldo Tressmann

Em Jesus - uma nova aliança!

  17 de março de 2024 Salmo 119.9-16; Jeremias 31.31-34; Hebreus 5.1-10; Marcos 10.35-45 Texto: Jeremias 31.31-34 Tema: Em Jesus -  um...